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A Origem das Espécies por Meio de Selecc¢ao Natural ou a Preservaciio das Variedades* Favorecidas na Luta pela Vida Charles Darwin Prefacio de Michael Ruse Traducao de Vitor Guerreiro Verbo Capitulo XIV Recapitulacdo e Conclusdo Recapitulagdio das dificuldades levantadas a teoria da selecgdo natural. — Recapitulagdo das eircunstancias gerais e especiais a seu favor — Causas dacrengageral na imutabilidade das espécies — Até que ponto se pode alargar a teoria da selecgdo natural ~ Efeitos da sua adopcao no estudo da historia natural — Comentarios fina. ‘Uma vez que todo este volume é um longo argumento, talvez seja conve~ niente para o leitor recapitular breverente os principais factose inferéncias. [Nao nego que se pode levantar muitas objeogoes de peso contra a teoria da descendéncia com modificacdo por meio de selecgao natural, Esforcei-me por apresenté-las na sua formulago mais robusta. Nada a principio pode parecer mais dificil de acreditar que 0s érgios e instintos mais complexos tenham sido aperfeigoados, nfo por meios superiores, embora andlogos, & razio humana, ‘mas pela acumulagio de inumerdvels pequenas variacGes, cada uma boa para 0 individuo que a possui. Ainda assim, embora esta dficuldade parega insupera- velmente grande & nossa imaginagfo, ndo pode ser considerada real se admit mos as seguintes proposigBes, nomeadamente, que as gradagdes na perfeigdo de qualquer érgio ou instinto que possamos considerar ou existem hoje ou pode ram ter existido, cada qual boa para 0 seu tipo; que todos os brgios e instintos so, ainda que ligeiramente, varisvels; e, por fim, que hé uma luta pela exis- téncia que leva & preservacio de cada desvio vantajoso de estrutura ou instinto. enso que a verdade destas proposigoes ¢ incontestavel, i sem diivida extremamente dificil sequer conjecturar por meio de que sgradagdes muitas estruturas foram aperfeicoadas, mais especialmente entre ‘grupos fragmentados e em declinio de seres orgiinicos; mas observamos tantas gradagées estranhas na natureza, como proclama o enone «Natura non facit 389 AOrlgern das Espécies saltum>, que devemos ser extremamente cuidadosos ao afirmar que qualquer {érgio ou instinto, ou qualquer ser inteiro, no poderiam ter chegado ao seu es tado presente através de muitas etapas graduais, Tem de se acmitir que hi casos de especial dificuldade na teoria da selece20 natural; e um dos mais curiosos & a existéncia de duas ou tres castas definidas de operrias ou fémeas estérefs na ‘mesma comunidade de formigas; mas procurei mostrar como se pode dominar esta diftculdade. No que se refere & quase universal esterilidade das espécies quando cruza das pela primeira vez, a qual forma um contraste t2o notvel com a quase uni- versal fertilidade das variedades quando cruzadas, tentio de remeter 0 leitor & recapitulagio dos factos apresentados no final do Capitulo VIII, que me parecem ‘mostrar conclusivamente que esta esterilidade ¢ tanto uma dotagdo especial como o é a incapacidade de duas érvores para serem mutuanente enxertadas; ‘mas que depende de diferengas constitutivas nos sistemas reprodutivos das es pécies entreeruzadas. Vemos a verdade desta conclusto na vasta diferenca de resultado, quando as mesmas duas espécies séo reciprocamente cruzadas; isto é, quando uma espécie € primeiro usada como pai e entio como mie A fertilidade das variedades quando entrecruzadas e da sua prole mista nio pode ser considerada universal; t4o-pouco a sua muito geral fertilidade € surpreendente quando relembramos a improbabilidade de uma ou outra das suas constituig6es ou sistemas reprodutivos terem softido modificagoes profundas, Além disso, a maior parte das variedades com as quais se fez ex- periéncias foram produzidas sob domesticagio; ¢ como a domesticagdo apa- rentemente tende a eliminar a esterilidade, nao devemos esperar também que produza esterilidade A esterilidade dos hibridos é um caso muito diferente da esterilidade dos primeiros cruzamentos, pois os seus érgios reprodutivos so mais ou menos funcionalmente impotentes; enquanto nos primeiros cruzamentos os érgios de ambos 0s lados se encontram numa condigio perfeita. Como vemos continua- mente que 0s organismos de todos os tipos se tornam em maior ou menor gra estéreis por as suas constituig6es terem sido perturbadas por condigées de vida novas ¢ ligeiramente diferentes, nao temos de nos surpreender por os hibridos terem algum grau de esterilidade, pois dificilmente as suas constituigdes nto terdo sofrido perturbagdes por serem compostas de duas organizagdes distin tas, Este paralelismo é sustentado por outra classe de factos andloga, mas di- rectamente oposta; nomeadamente, que 0 vigor € fertilidade de todos os seres orginicos aumentam com mudangas ligeiras nas suas condigdes de vida, e que 360 Recapitulaglo e Conclusto a prole de formas ou variedades ligeiramente modificadas adquire maior vigor € fertilidade por serem cruzadas. Assim, por um lado, mudangas consideriveis nas condigdes de vida e cruzamentos entre formas muito modificadas diminuem 4 fertilidade; e, por outro lado, mudangas menores nas condigdes de vida e cr zamentos entre formas menos modificadas aumentam a fertilidade Passando & distribuicdo geogréfica, as dificuldades encontradas na teoria da descendéncia com modificagio so suficientemente graves. Todos os indi~ ‘viduos da mesma espécie e todas as espécies do mesmo género, ou mesmo de ‘um grupo mais elevado, tém de descender de antecessores comuns; ¢, portanto, por muito distantes ¢isoladas que sejam as partes do mundo onde se encontram hoje, tém de ter passado, no decorrer de geragdes sucessivas, de uma parte para as outras, Nio raro somos totalmente incapazes sequer de conjecturar como {sto se poderia ter efectuado, Porém, como temas razAo para crer que algumas espécies retiveram a mesma forma especifica durante perfodos muito longos, extraordinariamente longos se medidos em anos, nao se devia dar demasiado ‘peso a ampla difusio ocasional das mesmas espécies; pois durante periodos de ‘tempo muito longos haverd sempre uma boa oportunidade para uma ampla mi- gracio por muitos meios. Uma distribuigio fragmentéria ou descontinua pode por vezes se explicada pela extingio da espécie nas regides intermédias. Nao se pode negar que somos ainda muito ignorantes da amplitude total das mudangas climaticas e geogréficas que afectaram a Terra durante os periodos modernos; € tais mudangas terdo obviamente facilitado muito a migragiio. Como exemplo, procure mostrar quo poderosa foi a influencia do periodo glacial na distribui- ‘sdo em todo o mundo das mesmas espécies e de espécies representativas, Somos ainda profundamente ignorantes de muitos meios ocasionais de transporte. No que se refere a espécies distintas do mesmo género que habitam regides muito distantese isoladas, como o processo de modificagao foi necessariamente lento, todos os meios de migraclo terio sido possiveis durante um periodo muito lon- 0; ¢ consequentemente a dificuldade da ampla difusdo de espécies do mesmo género ¢ atenuada até certo ponto, ‘Como segundo a teoria da selecgto natural tem de ter existido um nidmero {intermindvel de formas intermédias a interligar todas as espécies em cada grupo por gradagdes tao subtis como as nossas variedades no presente, pode-se per ‘guntar por que razo nao observamos em todo o lado, & nossa volta estas formas conectantes? Por que razio nfo estio todos os seres orgénicos misturados num ‘ca0s inextricével? No que se refere as formas existentes, devemos relembrar que nada nos permite esperar (excepto em casos raros) descobrir entre eles elemen- 61 AOriger das Bspécies tos directamente conectivos, mas apenas entre cada um e alguma forma extinta suplantada, Mesmo numa drea ampla, que permaneceu continua durante um Jongo periodo, onde o clima e outras condigdes de vida muda imperceptivel- ‘mente ao passar de uma zona ocupada por uma espécie para outra zona ocupa- ‘da por uma espécie intimamente préxima, nada tts permite esperar encontrar frequentemente variedades intermédias na zona intermédia. Pois temos razao para crer que apenas poucas espécies sofrem modificagées num dado period «todas as modificagbes se efectuam lentamente, Mostrei também que as vatie- dades intermédias que a prinefpio terdo provavelmente existido nas zonas in- termédias sero susceptiveis de ser suplantadas pelas formas préximas num ou noutro lado; ¢ as iltimas, por existirem em grande mimero, serio geralmente ‘modificadas e aperfeigoadas a um ritmo mais veloz do que as variedades inter ‘médias, que existem em menor miimero; pelo que as variedades intermédias, a longo prazo, serdo suplantadas e exterminadas. Segundo esta doutrina do exterminio de uma infinidade de elementos co- nectivos entre os habitantes vivos e extintos do mundo, e em cada perfodo su~ cessivo entre as espécies extintas ¢ ainda mais antigas, por que razio nto esté cada formagao geolégica carregada com tais elementos? Por que razio cada co lecgio de vestigios fésseis ndo proporciona indicios ébvios da gradagio e muta~ «fo das formas de vida? Nao encontramos quaisquer indicios semelhantes, ¢ esta a mais dbvia e persuasiva das muitas objeccdes que se pode levantat contra a ‘minha teoria, Por que razo, mais uma vez, grupos inteiros de espécies préximas parecem, ainda que por vezes certamente se trate de uma falsa aparéncia, ter surgido subitamente nos diversos estigios geoldgicos? Porque niéo encontramos _gtandes pithas de estratos sob o sistema siluriano, providos com os vestigios de progenitores dos grupos silurianos de fésseis? Pois certamente que segundo a ‘minha teoria tais estratos tém de ter sido algures depositados nestas épocas an- tigas e completamente desconhecidas na hist6ria do mundo. ‘86 posso responder estas questdes e objeccdes graves sob o pressuposto de que o registo geoldgico € muito mais imperfeito do que acreditam a maioria dos ‘ge6logos. Nao se pode objectar que nfo houve tempo suficiente para qualquer quantidade de mudanga organica; pois o intervalo de tempo foi tio grande ao ponto de ser completamente inabarcével pelo intelecto humano, O niimero de espécimes em todos os nossos museus ¢ absolutamente como nada comparado ‘com as incontiveis gerag6es de incontaveis espécies que certamente existiram. ‘io serfamos capazes de reconhecer uma espécie como a antecessora de qual- quer uma ou mais espécies se as examinassermos (20 meticulosamente, a menos 362 Recapitulagio e Conchusio ue tivéssemos também muitos dos elos intermeédias aos seus estados no passa- do, ouantecedentes, eno presente; edficilmente poderiamos esperar descobrir estes muitos elos, devido A imperfeigio do registo geoldgico, Poder-se-ia nome~ ar numerosas formas duvidosas existentes, que provavelmente slo variedad ‘mas quem imagina que em épocas futuras se descobrirao tantos elosfossels, que ‘5 naturalistas serio capazes de decidir, segundo a perspectiva comum, se es tas formas duvidosas so ou nao variedades? Na medida em que se desconheca a maior parte das clos entre quaisquer duas espécies, se se descobrir qualquer lo ou variedade intermédia, este ser simplesmente classificado como outra espécie distinta. Apenas uma pequena porgio do mundo foi geologicamente explorada, Apenas seres orgdnicos de certas classes podem ser preservados em, condligdo féssil, pelo menos em qualquer niimero considervel, As espécies am- plamente distribuidas variam mais ¢ as variedades sto frequentemente locais de inicio — ambas as eausas tornam menos plausivel a descoberta de elos in- termédios. As variedades locais nao se propagarao para outras regides distantes, antes de se terem modificado e aperfeicoado consideravelmente; e, quando se propagam, se forem descobertos numa formagio geoldgica, parecerfio a ter sido subitamente criados e serdo simplesmente classificadlos como novas espécies. A maioria das formagoes foram intermitentemente acumuladas; e tendo acrer que ‘sua duracio foi mais curta do que a duragio média de formas especificas. AS formagées sucessivas esto separadas entre si por enormes intervalos de tempo ‘vazios; pois as formagées fossiliferas suficientemente espessas para resistirem & degradacio futura s6 podem ser acumuladas onde hé muita deposicao sedimen- tar, no leito do mar em subsidéncia, Durante os periodos alternados de elevagio € de nivel estacionsrio, o registo ser um espago em branco, Durante estes tl- timos periodos, haverd provavelmente mais variabilidade nas formas de vida; e ‘mais extingto durante periodos de subsidéncia. No que se refere a auséncia de formagdes fossliferas sob o8 mais baixos es- tratos silurianos, posso apenas recorrer & hipdtese dada no Capitulo IX. Todos, concordardo que o registo geoldgico ¢ imperfeito; mas poucos se disporao a ad- mitir que € to imperfeito como afirmo. Se olhamos para intervalos de tempo suficientemente longos, « geologia afirma inequivocamente que todas as espé- cies se modificaram; e modificaram-se da maneira estabeleeida pela minha teo- ria, pois modifcaram-se lenta e gradualmente. Vemos claramente isto no facto de os vestgios fésseis de formagbes consecutivas serem invariavelmente muito ais intimamente proximos entre si do que os f6sseis de formagoes distantes entre sino tempo. 263 ‘AOrigem das Espécies Tal éasoma das diversas objecgdes e dificuldades fundamentals que se pode razoavelmente levantar contra a minha teoria; e recapitulei brevemente as res postas e expicagdes que se hes pode dar. Sent estas dificuldades com demasia~ dda gravidade durante muitos anos para duvidar da sua importancia, Mas é espe cialmente digno de nota que as objeogbes mais importantes se relacionem com questdes sobre as quais somos confessaclamente ignorantes; t20-pouco sabemos até que ponto somos ignorantes. Nao conhecemos todas as gradacdes transicio- nais possiveis entre os ros mais simples eos mais perfeitos; no se pode fingir ‘que conhecemos todos os variados meios de dstribuigao durante o longo inter- valo deanos, ou que sabemos até que ponto ¢imperfeitoo registo geal6gico, Por ‘muito graves que sejam estas dficuldades, em meu entender elas nao desalojam a teoria da descendéncia com modificagio. Passemos agora a0 outro lado do argumento. Sob domesticagio, observa- ‘mos muita variabilidade, Isto parece-me sobretudlo dever-se & eminente sus- ceptibilidade do sistema reprodutive a mudangas nas condigées de vida; pelo que este sistema, quando nao se torna impotente, ¢ incapaz de produzir des- cendentes exactamente como a forma antecessora, A variabilidade é regida por rmuitas leis complexas — pela correlagao de crescimento, pelo uso ¢ desuso, € pelaaegao directa das condigées isicas de vida, E muito diffeil averiguar quanta rodifieagdo sofreram as nossas produgées damésticas; mas podemos segura- ‘mente inferir que foi uma grande quantidade e que as modifteagées podem ser herdadas durante periodos longos. Enquanto as condigées de vida permanecem, as mesmas, temos razdo para crer que tima modificagio que ¢jé herdada hd mui- tas geragdes pode continuar a ser herdada por um ntimero quase infinito de ge- ragdes, Por outro lado, temos indicios de que a varibilidade, uma vez que tenha entrado em jogo, nao cessa totalmente; pois as nossas produgSes domeésticas mais antigas ainda produzem ocasionalmente novas variedades. (© homem nao produ efectivamente variabilidade; apenas expée de forma flo intencional os seres organicos a novas condigées de vida, e, entdo, a natu reza actua sobre a organizagio e causa a variabilidade. Mas o homem pode e de facto selecciona as variagoes que a natureza Ihe dé, ¢ assim as acumnula de uma ‘maneira desejada. Adapta assim animais e plantas para o seu pr6prio beneicioe prazer. Pode fazé-lo metédica ou inconscientemente, preservando os individu- os que lhe sio mais utels no momento, sem sequer pensar emalterar a linhagem, certo que pode influenciar imenso 0 caracter de uma linhagem ao seleccionar, em cada geracio sucessiva, diferencas individuais tio ligeiras ao ponto de serem 364 Recapitulagto e Conelusio completamente inaprecidveis por um observador sem preparagio, Este proces- s0 de seleegio tem sido o grande factor na produgao das mais distintas etteis linhagens domésticas. O facto de muitas das linhagens produzidas pelo homem {erem em grande medida o caricter de espécies naturais mostra-se nas diividas inextricdveis sobre se muitas destas slo variedades ou espécies aborigenes. Nio ha qualquer razao dbvia pela qual os prineipios que agiram tio eficien- temente sob domesticagdo nto devessem agir em estado de natureza, Na preser~ vagio de individuos e variedades favorecidas, durante a sempre recorrente uta pela existencia, vemos os mais poderosos e sempre activos meios de selec. A luta pela existéncia deriva inevitavelmente do elevado ritmo geométtico de crescimento, que € comum a todos os seres orgtnicos, Este elevado ritmo de crescimento é provado por célculo, pelos efeitos de uma sucessto de estagoes Peculiares, ¢ pelos resultados da naturalizaglo, como foi explicado no Capit lo IH. Nascem mais individuos do que os que tém possibilidade de sobreviver. © mais pequeno factor poders determinar que individuo vive e que individuo ‘morre — que variedade ou espécie aumentara numericamente e qual diminui- +4, ou se extinguiré por fmm, Como os individuos da mesma especie entram em todos os aspectos na mais cerrada competigao entre si, luta serd geralmente ils severa entre eles; a severidade sera praticamente igual entre as variedades dda mesma espécie ¢ ligeiramente menor entre as espécies do mesmo género. Mas a luta seré frequentemente muito severa entre seres muitissimo afastados nna escala da natureza. A mais ligeira vantagem num ser, em qualquer idade ot , que cada novo acréscimo ao nosso conhecimento 367 ‘A Origem das Espécies parece tornar mais estritamente correcto, é simplesmente inteligivel com base nesta teoria, Podemos ver nitidamente a raziio por que a natureza ¢ prédiga em variedade, embora avara em inovacio. Mas ninguém consegue explicar porque seria isto uma lei da natureza se cada espécie tivesse sido independentemente criada, 1H muitos outros factos que me parecem explicdveis com base nesta teoria, ‘Como é estranho que uma ave, sob a forma de um pica-pau, tivesse sido criada para predar insectos no solo; que os gansos-de-magalhiies, que nunca ou rara~ ‘mente nadam, tivessem sido criados com pés membranosos; que um tordo ti- vesse sido criado para mergulhare alimentar-se de insectos subaquiticos; eque tum petrel tivesse sido criado com habitos e estrutura adaptados a vida de uma torda-mergulheira ou de um mergulhio! E de igual modo numa interminavel sucessiio de casos. Mas na perspectiva de que cada espécie procura constante- ‘mente crescer numericamente, com seleccao natural sempre pronta a adaptar os descendentes lentamente varidveis de cada espécie a qualquer espago natural desocupado ou imperfeitamente ocupado, estes factos deixam de ser estranhos ou poderiam talvez até ter sido antecipados. Como a selecgo natural age através da competigdo, adapta os habitantes de cada regito apenas relativamente ao grau de perfeicao daqueles a quem esta associado, nao temos de nos surpreender perantea derrota e subjugacao dos ha~ bitantes de qualquer regio, apesar dena perspectiva comum supostamente te- rem sido criadas ¢ adaptadas especialmente para aquela regido, pelas produgdes, naturalizadas vindas de outra regido. Tao-pouco nos deverfamos maravithar se todos os apetrechos na natureza ndo sto, tanto quanto sabemos, absolutamente perfeitos; e se alguns deles sio abomindveis segundo os nossos padres de ade- ‘quagdo, Nao temos de nos maravilhar perante a morte da abetha causada pelo proprio ferrao do animal; perante a produgio de zangios em tao vasto miimero ‘para um tinico acto, sendo depois massactados pelas suas irmas estéreis; pe- rante 0 surpreendente desperdicio de poten pelos nossos abetos, perante 0 édio instintivo da abelha rainha pelas suas préprias filhas férteis; perante as vespas fenéumones que se alimentam dentro dos corpos vivos das lagartas; ¢ perante outros casos semelhantes. A maravilha est, na verdade, segundo a teoria da selecgdo natural, em ndo se ter observado mais easos de ausencia de perfeigto absoluta, {As leis complexas e pouco conhecidas que regem a variaglo slo as mesmas, tanto quanto podemos ver, que as que regeram a produgfio das chamadas «for- ‘mas especificas». Em ambos 0s casos, as condigbes fisicas no parecem ter pro Recapitulaglo.e Conclusto duzido senzo um pequeno efeito directo; porém, quando as variedades entram «em qualquer 2ona, adquitem ocasionalmente alguns dos caracteres das espécies proprias dessa zona. Nas variedades como nas espécies, 0 uso e o desuso pare- cem ter produzido algum efeito; pois é dificil resistir a esta conelustio quando olhamos, por exemplo, para o pato-de-asas-curtas, cujasasas nao Ihe permitem voar, quase na mesma condigao que no pato doméstico; ou quando observamos o escavador tuco-tuco, que por vezes é cego, ¢ entio para certas toupeiras, que siio normalmente cegas ¢ tem os olhos cobertos de pele; ou quando abservamos (os animais cegos que habitam as cavernas escuras da América e da Furope. Nas variedades como nas espécies, a correlacio de crescimento parece ter deser- penhado um papel muitfssimo importante, de modo que quando uma parte é ‘modificada, as outras partes so necessariamente modificadas. Nas vatiedades ‘como nas espécies ocorrem reversdes a caracteres hd muito perdidos, Como € inexplicdvel, com base na teoria da criagao, 0 aparecimento ocasional de listras ‘no ombro e nas pernas de diversas espéeies do geénero equino e nos seus hibri- dos! Como é simples a explicagio deste facto se acreditamos que estas espécies, descendem de um progenitor lstrado, da mesma maneira que as diversas linha gens domésticas de pombos descendem do pombo comum, azul riscado. 'Na perspectiva comum de que cada espécie fol criada independentemente, por que Fazao os caracteres especiticos, ou aqueles em que as espécies do mesmo género diferem entre si seriam mais variveis do que os caracteres genéricos, em que todas concordam? Por que razsio, por exemplo, seria a cor de uma flor ‘mais susceptivel a variar em qualquer espécie de um género, se as outras espé- cies, que se supde terem sido criadas independentemente, tém flores diferen- temente coloridas, do que se todas as espécies do género tivessem as mesmas flores coloridas? Se as espécies sto apenas variedades bem marcadas, cujos ca~ racteres adquiriram um grau elevado de permanéncia, podemos compreender este facto; pois tém jé variado desde que se afastaram de um progenitor comum, cemcertos caracteres, pelos quais vieram aser especificamente distintas entre si; ¢, portanto, ha maior probabilidade de estes caracteres serem ainda mais vari- Aveis do que os caracteres genéricos que foram herdados sem variagio durante ‘um periodo enorme. Einexplicivel, com base na teoria da criagio, por que razio ‘uma parte desenvolvida de uma maneira muito incomum em qualquer espé- cie de um género e, portanto, como podemos naturalmente inferir, de grande importancia para a espécie, ser eminentemente susceptivel a variagio; mas, do ‘meu ponto de vista, esta parte sofren, desde que as diversas especies divergiram de um progenitor comum, uma quantidade incomum de variabilidade e modifi- 369 AOrigem das Espécies ‘ago, e portanto poderiamos esperar que esta parte geralmente fosse varive. ‘Mas uma parte pode desenvolver-se da maneira mais ineotaum, como a asa de um morcego, ¢ ainda assim nao ser mais variével do que qualquer outra estru- tora, sea parte for comum a muitas formas subordinadas, isto é, se foi herdada Gurante um periodo muito longo; pois neste caso ter-se-4 tornado constante por meio da selece30 natural a longo prazo. Olhando de relance para os instintos, apesar de alguns serem maravilhosos, nio levantam maior difculdade do que a estrutura corporal segundo a teoria da selecciio natural de modificagies sucessivas, ligeiras, mas vantajosas. Podemos assim compreender por que razdo a natureza procede por etapas graduais 20 dotar diferentes animais da mesma classe com os seus diversos instintos. Pro- ccurei mostrar a que ponto o principio de gradagao esclarece os admitaveis po- deres arquiteeténicos da abelha operdria. O hébito sem diivida entra por vezes «em jogo a0 modificar os instintos; mas certamente nio ¢ indispensével, como vimos, no caso dos insects assexuados, que nto deixam progénie para her- dar 0s efeitos do habito prolongado. Na perspectiva de que todas as espécies do ‘mesmo género descendem de uma antecessora comurn e herdaram muito em comum, podemos compreender como certas espécies préximas, quando colo- cadas em condigdes de vida consideravelmente diferentes, seguem ainda assim (0s mesmos instintos; por que razio 0 tordo da América do Sul, por exemplo, reveste o seu ninho com lama, como a nossa espécie britanica. Na perspectiva de 6s instintos terem sido lentamente adquiridos através da selecgdo natural, nfo ‘temos que nos maravilhar perante a aparente imperfeigio de alguns instintos ¢ ‘sua suseeptibilidade aos ettos, e perante o facto de muitos instintos causarem sofrimento a outros animais. ‘Se as espécies sto apenas variedades bem marcadas e permanentes, pode- ‘mos de imediato ver por que razdo a sua prole cruzada seguiria as mesmnas leis complexas nos seus graus tipos de semelhanca que tem com os seus pais ~ 20 serem absorvidos entre si por cruzamentos sucessivos e noutros aspectos seme lhantes —, como a prole eruzada de variedades reconhecidas. Por outro lado, tals factos seriam estranhos se as espécies tivessem sido criadas independente- mente eas variedades produzidas por leis secundérias. Seadmitimos que oextremo graude imperfeigao do registo geolégico, ent8o 0s factos como os que este nos proporciona sustentam a teoria da descendéncia com modificagao. Novas espécies entraram em cena lentamente ¢ a intervalos sucessivos; ¢ a quantidade de mudanca, apds intervalos de tempo iguais, difere amplamente em grupos diferentes. A extinglo de especies e de grupos inteiros a7 Recapitulagto e Gonelusto de espécies, que desempentou um papel to conspicuo na histéria do mundo, orginico, decorre quase incvitavelmente do principio de selecgdo natural; pois, as formas antigas serdo suplantadas pelas formas novas aperfeigoadas. Nenhu- ‘ma espécie isolada nem grupos de espécies reaparecem uma ver. que a cadeia da geracio ordinaria tena sido quebrada. A difusto gradual de formas domi- nantes, com a lenta modificagio dos seus descendentes, faz. que as formas de vida, apés longos intervalos de tempo, paregam ter mudado simultaneamente em todo 0 mundo, O facto de os vestigios fésseis de cada formagdo serem até certo ponto intermédios em caréeter 20s fOssels nas formagoes acima e abalxo dessa explica-se simplesmente pela sua posigio intermédia na cadeia de des- cendéncia. 0 importante facto de todos os seres organicos extintos pertence- rem a0 mesmo sistema que 0s seres recentes, subsumindo-se ou nos mesmos, ‘grupos ou em grupos intermédios, decorre de os seres vivos e extintos serem a prole de antecessores comuns. Como os grupos que descendem de um progeni- tor antigo geralmente divergiram em carcter, o progenitor € 0s seus primeiros descendentes sero frequentemente intermédios em cardcter, por comparagio ‘com os descendentes mais recentes; ¢ assim potlemos ver por que razdio quanto mais antigo é um fossil, mais frequentemente este é, em maior ou! menor grat, intermédio a grupos existentes e préximos, As formas recentes sio geralmente consideradas, num sentido vago, superiores as formas antigas ¢ extintas; e s40- no na medida em que as formas mais recentes ¢ aperfeigoadas conquistaram 08 seres orgnicos mais antigos e menos aperfeigoados na luta pela vida. Finalmen- te, a lei da longa persisténcia das formas préximas no mesmo continente ~ dos ‘marsupiais na Austrélia, dos edentados na América, e outros casos semelhantes ~ € inteligivel, pois numa regido eircunserita, as recentes e as extintas serio naturalmente préximas por ascendéncia, Clhando para a distribuigéo geogréfica, se admitimos que houve no longo decorrer das eras muita migragao de uma parte do mundo para outra, devido a mudancas climsticas e geogrificas anteriores e a muitos meios ocasionais e desconhecidos de dispersio, ento podemos compreender, segundo a teoria da descendéncia com modificagdo, a maior parte dos factos mais importantes acer- ca da distribuigio. Podemos ver por que razo haveria um paralelismo to im- pressionante na distribuigio dos seres organicos através do espaco, e na sua su- cessio geoldgica através do tempo; pois em ambos os casos os seres esto ligados pelo vinculo da geracio ordindria, eos meios de modificacio foram os mesmos. ‘Vemos o pleno significado do facto maravilhoso, que tem de ter impressionado cada viajante, nomeadamente, que no mesmo continente, sob as mais diversas an AOrigem das Espécies condigdes, no calor e no frio, na montanha e na planicie, nos desertos € nos pintanos, a maioria dos habitantes em cada grande classe sao nitidamente apa- rentaclos; pois geralmente descenderdo dos mesmos progenitors e colonizado- 163 primitivos. Segundo este mesmo principio de migracao anterior, combinado nna maioria dos casos com a modificagio, podemos compreender, com a ajuda do perfodo glacial, a identidade de algumas plantas e a intima proximidade de ‘uitas outras nas montanhas mais distantes, sob os climas mais diferentes; ¢ também a intima proximidade de alguns dos habitantes do mar nas zonas tem- peradas setentrionais ¢ meridionais, embora separadas por todo 0 oceano in: tertropical. Embora duas éreas possam apresentar as mesmas condligdes fsicas de vida, no temos de nos surpreender perante a ampla diferenga dos seus ha~ bitantes, se estiveram durante um longo per‘odo completamente separados uns dos outros; pois como a relagio de organismo a organismo é a mais importante das relagdes, ¢ como as duas Areas terao recebido colonizadores a partir de uma terceira fonte ou uns dos outros, em varios periodos e em diferentes proporgdes, ‘opercurso de modificacdo nas duas areas seré inevitavelmente diferente. Segundo esta perspectiva da migragio, com modificagio subsequente, po- demos ver por que razio seriam as ilhas oceanicas habitadas por poucas espé~ ‘cies, embora destas muitas sejam peculiares. Podemos ver claramente porque os animais que no conseguem atravessar amplas extensdes oceanicas, como as ris os mamaferos terrestres, ndo viriam a habitar as ilhas ocednicas; e por que ra~ 240, por outro lado, novas e peculiares espécies de morcego, que podem transpor © oceano, seriam to frequentemente encontradas em illhas muito distantes de qualquer continente. Factos como a presenga de espécies peculiares de morcegos ‘ea auséncia de todos os outros mamfferos em ilhas ocedinicas so inteiramente inexplicdveis com base na teoria dos actos de criagao independentes, ‘A existéncia de espécies intimamente proximas ou representativas em quaisquer duas areas sugere, segundo a teoria da descendéncia com modifi- cago, que as mesmas antecessoras habitaram outrora ambas as dreas; e quase invariavelmente descobrimos que onde quer que muitas espécies intimamen- te préximas habitem duas dreas, existe ainda alguma espécie idéntica comm, a ambas, Onde quer que ocorram muitas espécies intimamente préximas mas distintas, ocorrem também muitas formas e variedades duvidosas da mesma ¢5- pécie, E uma regra de elevada generalidade que os habitantes de cada drea sio aparentados com os habitantes da mais proxima fonte provavel de imigrantes. ‘Observamos isto em quase todas as plantas e animais do Arquipélago das Ga- ‘épagos, de Juan Fernandez, ¢ de outras ilhas americanas, serem aparentadas da Ed Recapitulagie Canclusto maneira mais impressionante com as plantas e animais do vizinho continente americano; e as do Arquipélago de Cabo Verde e outrasilhas africanas com as do continente africano. Tem de se admitir que nao se obtém qualquer explicagio para estes factos com base na teoria da criagio. © facto, como vimos, de todos os seres orginicos do passado e do presente constituirem um grandioso sistema natural, com subordinagio entre grupos, sendo 0s grupos extintos frequentemente intermédios aos grupos recentes, inteligivel com base na teoria da seleegao natural, com as suas contingencias de cextingao e de divergéncia de carcter. Segundo estes mesmos prinefpios, vemos como as afinidades mtituas das especies e géneros em cada classe sio tio com- plexase sinuosas, Vemtos por que rizio certos caracteres fo muito mais teis do ue outros para a classificagto; por que razio os caracteres adaptativos, embora tenham a maior importancia para o ser, dificilmente tém qualquer importancia na classifieagso: por que razio os caracteres derivados de partes rudimentares, embora nao fenham qualquer utilidade para o ser, tém amitide um elevado valor classificativo; € por que raz4o os caracteres embriol6gicos sd0 0s mais valiosos de todos. As afinidades reais de todos os seres organicos devem-se. hereditarie~ dade ou & ascendéncia comum, O sistema natural é uma ordenagio genealégica nna qual temos de descobrir as linhas de ascendéncia através dos caracteres mais permanentes, por muito ligeira que seja a sua importéncia vital. Sendo aestrutura éssea a mesma na mo de um homem, naasa de um mor- ceego, na barbatana de um roaz.e na pena de um cavalo, — 0 mesmo mimero de vértebras que formam 0 pescoco da girafa eo do elefante e inumerdveis fac- tos semelhantes explicam-se a si préprios imediatamente com base na teoria dda descendéncia com lentas ¢ ligeiras modificagdes sucessivas, A similaridade de padrdo na asa e perna de um morcego, embora usadas para finalidades tio diferentes, nas mandibulas e pernas de um caranguejo, nas pétalas, estames € pistilos de uma flor, é também inteligivel com base na perspectiva da modifica- 40 gradual de partes ou érgios, que eram semelhantes no mais antigo progeni- tor de cada classe. Segundo o principio de as variagdes sucessivas nem sempre sobrevirem numa idade tempora e serem herdadas num period de vide cor- respondente, intempordo, podemos ver claramente porque os embrides de ma- miferos, aves, répteis e peixes seriam to intimamente semelhantes e as formas, adultas tao diferentes. Podemos deixar de nos maravilhar perante 0 facto de o ‘embrigo de um mamiero ou ave aerdbios terem aberturas branquiats e artérias ‘que descrevem percursos sinosos, como as de um pelxe que tem de respirar 0 ar dissolvido na gua, com a ajuda de brinquias bem desenvolvidas. a3 ‘A Origem das Espécies © desuso, auxiliado por vezes pela selecgdo natural, tenderd frequente- mente reduzir um érgao, quando este se tornou intl por habitos modifieados ‘ousob condigdes de vida modifteadas; e podemos claramente compreender com base nesta perspectiva o significado dos drgiios rudimentares, Mas 0 desuso ¢ a selecgdo actuardo geralmente sobre cada criatura, quando atinge a maturidade tem de desempenhar o seu papel integral na Iuta pela existénecia,e assim teré pouco poder de acco sobre um drgio durante a vida inicial; pelo que o érgio no ser4 muito reduzido ou tornado rudimentar nesta idade tempor’. O vitelo, por exemplo, herdou dentes, que nunca rompem as gengivas da maxila supe- rior, de um progenitor antigo que tinha dentes bem desenvolvidos; e podemos acreditar que os dentes no animal adulto foram reduidos, durante geragées su- cessivas, pelo desuso ou por a lingua e o palato se terem adaptado por selecca0 natural a pastar sem a sua ajuda; enquanto no vitelo a selecgdo ou 0 desuso dei- xaram intocados os dentes, e segundo o principio da hereditariedade em idades correspondentes foram herdados desde um perfodo remoto até aos dias de hoje. Como ¢ inteiramente inexplicivel, na perspectiva de cada ser orginico e cada . No capitulo subsequen- te, discuto as complexas e pouco conhecidas leis da variagao e correlagao de ‘erescimento, Nos quatro capitulos seguintes, apresenta-se as dificuldades mai evidentes e graves da teoria: nomeadamente, em primeiro lugar, as difculdades das transigbes, ou de compreender como um ser simples ou um 6rgao simples se podem modificar e aperfeicoar até se tornarem um ser altamente desenvolvido ‘ou um 6rgio elaboradamente construfdo; em segundo lugar, o tema do instinto, ‘ou dos poderes mentais dos animais; em terceiro lugar, o hibridismo, ou a in- fertilidade de espécies ea fertilidade de variedades quando entreeruzadas; ¢ em quarto lugar, a imperfeicao do registo geoldgico. No capitulo seguinte, conside- rarei a sucesso geoldgica dos seres organicos ao longo do tempo; nos Capitulos Xe XII, a sua distribuigfo geogréfica no espaco; no Capitulo XIIL, a sua clas~ sificagdo ou afimidades mituas, na maturidade como em estado embrionsiio. No uiltimo capitulo, farei uma breve recapitulagao de todo o trabalho e algumas observacies finais. Ninguém se deveria sentir surpreso perante muito do que fica por explicar a respeito da origem das espécies e variedades, tendo em devida consideragio a nossa profunda ignordncia acerca das relagdes mituas de todos os seres que viivem a nossa volta. Quem pode explicar a razdo por que uma espécie tem uma distribuicio ampla e é muito numerosa e outra espécie préxima tem uma distri- buicdo mais limitada e ¢ rara? Contudo, estas relagies sto da mais elevada im- portancia, pois determinam o bem-estar presente e, segundo cteio, 0 sucesso e rodificagio futuros de cada habitante deste mundo. Menosainda sabemosacer- ca das relagdes muituas dos inumerdveis habitantes do mundo durante as mui~ tas épocas geoldgicas decorridas na sua historia, Apesar da grande obscuridade «que permanece e permanecers durante muito tempo, nio me restam quaisquer iividas, depois do estudo mais cuidadoso ¢ do jufzo mais imparcial de que sou 28 A Origem das Espécies ‘capaz, de que a perspectiva adoptada pelos naturalistas na sua maioria, e que adoptei antes — nomeadamente, a de que cada espécie foi independentemente criada —, é errénea. Estou plenamente convencido de que as espécies nio sto imutaveis; pelo contrério, os membros daquilo a que chamamos «os mesmos _gGneros» sio descendentes directos de outras espécies, geralmente extintas, da rmestna maneira que as variedades reconhecidas de qualquer espécie stio des~ cendentes dessa espécie, Além disso, estou convencido de que. selecgao natural ‘tem sido o instrumento principal, embora no exclusivo, da modificagao. 2»

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