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thos alternativos. Acreditamos tamt do tema Mulher como central 20 potti BRUNA FRANCHETTO MARIA LAURA. C. CAVALCANTI MARIA LUIZAHEILBORN ‘dezembro de 1980, Bruna Franchetto Maria Laura V. C. Cavalcanti Maria Luiza Heilborn ANTROPOLOGIA E FEMINISMO, ‘Algumas vezes, durante discussBes em 0 segundo sexo ito pode de novo desc iante, de mane s2r 0 de implicar sempr como condi de sua Lévi-Strauss, em IntrodueSo a obra de Marcel Mauss ‘Mulher esté na ordem do dia. Sua presenga nas estantes das , fo programa des mesas-redondas, nos meios de comunica- ‘40 de massa, no debate politico, no marketing e na academia atesta Seu sucesso. Mas por que essa explosio? Se é possi responda & necessdade de ampliaglo do campo pr bel i, alguns aspectos da produgo algumas reflexes sabre o femi rica sobre a mulher, ¢ mo. Na verdade, ele ropondose a pensar a tual qt démica @ pritica politica. Trabelharemos a reflexive, como ade um Janos voltéido para acompanha, selecionando alguns aspectos dessa da \Veiamos em primeiro lugar essa produego intelectual. De ime- diato, a questio que se impde é: qual a espec! ‘mulher como objeto de estudo? Podemos identiticar duas possibili dades de recorte que, embora diferenciéveis, muitas vezes se rela- am @ se imbricam. A se simplesmente em sua {os quadros e problemiticas de sua contextualizaggo num horizonte lado, a produgéo intelectual feminista recorre — ¢ diferentes éreas de saber exist maior, por outro A questo em jogo é a dos processos cor ‘campo de saber..Defrontamo-nas com um uni ‘mamente complexo para qual convergem dive as, cientificas e polfticas. No se pode pensar a cons teoria feminista sem recorrer 4s questies da sexualidade, libido ¢ re- Presséo cuja discusséo coube a psicandlise instaurar. No apenas nos termos em que Freud as eolocou, mas em seus desdobrementos através de herdeiros e/ou contestadores como Reich e Marcuse.' Iqualmente indispensével & a referéncia 3s categorias de alienagfolconsciéncia, revolucdo que, de modo particula iste e existencialista. Os problemas debate sobre prazer e revolucdo que singularia a tradigdo ra da década de 1960, tigo, contudo, via especificamente acompanha do jé mencionado dislogo entre a antropologia e o fe cconstrugio da categoria central desta producdo teéri ++ ther. A intengio & desnaturalizéa, através de dois procedimentos: circunserevendo sei! signiticadé nas andliso afetuadas ¢ situando-a * uum contexto histérico preciso PRIMEIRA PARTE Para os limites deste texto, varnos considerar 0 feminismo enquanto T "Marcuse, H. 1879 Eror e eivilzapto, 79 ed, Rio, sero. oS: 1 ‘Afirmam-se como sexo, mas em tua singularidade her se descobre ou se quer, como suisito de seu pré 8, econdmicas, culturais, 5 mulheres um espaco exclusive de seus interesses percebidos como aspeciticos. cujo ponto de partida & a afirmacdo da identidade de género como lum dado fundamental.> O crivo da identidadi de gnero’opara em dois forma de classificagio social a ser investigada, como enquanto dado co da identidade do sujeito da pesquiss. Repousa sobre {este Gltimo ponto uma das mais vigorosas contribuigBes criticas das ientistas sociais feministas —.a denincia do male bias. Se a identida- de do pesquisador sempre implica o privilegiament 3¢ mesmo movimento que parte da afirmagdo da importéncia da identidade de género defronta-se com a questi crucial do que é, ‘em da feria, da propriedade privads ¢ do Estedo, o 1886, ‘enquento humenidede © homem enquanto set demonstra o envalzamento ¢crstalizasdo cult. "ais cesto acultamento do feminina que « dendncia vem apontr. is; sua importancia é percebida como central tanto como . im suma, 0 que & ser mu: atura procura responder. de seu objeto de estudo slteridade, embora percebida, & anulada. O evalucionismo, método e ‘teoria que entéo domina, é uma gigantesca tentativa de dar conta da diversidade dat culturss em sociedades humanas, reduzindo as dife- gas entre estas. Ao tomar como unidade de andlise o Homem, as ferentes sociedades so vistas como apenas momentos distintos da Pouco a pouco, sobretudo a partir do momento em que entra fem cena a pesquisa etnogréfica detalhada, que permite a-teconstr E Tylor, €. 1870 origins oF culture. Gloucester, Pater Smith © Ver nara uma dicusséo mais detainada deste coneaito na antropologia 0 artigo de Vetho, G. @ Vivato de Castro, te humano e percebe-se qi ‘sta humanizario sempre se realiza numa forma de humanidade teul a qual as mulheres parecem defrontar-se é a da regra constante de sua su- bordinaco ou opressia." Dito de outro modo, em toda a cultura conhecida a muther seria de algum modo inferior ao homem, quer quer em termos de poder efetivo. roblemética — ada universa- ‘comecado a surgir uma ‘a mulher. Ao mesmo tempo, tudo dos primitivos Finalmente iluminaria as origens da espécie huma- ‘na contribuiré de maneira substancial para colocar a questéo do por- ‘qué da condi¢éo feminina a um s6 tempo antes ¢ dentro da histéria, De um lado, universalidade da opressio feminina, de outro, & variedade dos dados etnograticas sobre a mulher eo método evolu- § LéviStrau 1976 Antropologie estrutura I. Petropolis. Vozes. Ver Geortz, C. 1973. imerpretacdo das culturas. Rio, Zahar, © Lavi Strouse 1974 introdugdo" 8 ob cionista marcam os comecos do dislogo da problemética feminista ‘com a antropologia. Falar de uma questo feminista conduz necessariamente a 0 segundo sexo, de Simone de Bezuvoir."! Apresentaremas aqui tucintamente “sud agumentacdo nedéa Obra que estabelece os pardmetros norteado- res deste campo de rflexso, Para essa autora, © singulridade ituagdo da mulher em Essa opressfo 6 também ig80 dos individsos nassa ‘mulheres por sua estrutura mesinafisio- légica, hé mulheres em todas as camadas e classes socials, elas sempre ral, 0 que permite quest bsoluto dessa opressio. Nel © caréter nio-absoluto desse dado exige logicamente uma explicacdo do porqué desse estado de coisas. Nesse quadro de raciocinio, afir- mar a possibilidede de um fim exigir a explicago de um comeco. biidade de um destecho, de um ponto ial netsaNstta de fe bordinacdo. 2 af uma ordem de problemas: @ subordinacdo 6 ou Ultima insténcia fisioldgica, heres. Assim, na busca de respostas & questo da opressio 6 recorrente tanto a utilizagfo do ido a subordinacio la biologia aparece , reinterpretado a partir de da mulher. Esse dado aparentement na maior parte das vezes complexiti ‘outros quadros teéricos. rnuangas, dessa perspactiva, Selecionamos trés autoras: Simone de Beauvoir, pelos motives acima mencionados, Shulamith Firestone e Evelyn Reed, feministas Norte-americanas, em razio da expressiva divulgaedo de suas obras."* Com elas acreditamos poder car dessa producio, No exame dessas ncede aos dados biologicos um papel essencial ‘na medida em que o corpo ¢ um instrumento de prise cur le monde. Entretarito, esses dados s6 existem revestidos 2 tendéncia & transcendéncia ~ justificagto da existéncia através de ‘Yiuseu Necionel, UPR, no segundo semestre ce 57 Em sue diacusslo com a pslcandis, om particular Fraud, Simone cle Henu- Voir incorpora @ qua considera sua continuo mate signifiative: a noglo de ‘que tado fator que Invervém na vide psiqulea ext revetio de uma sgniftes- 2 tendéncia a alienaeio — angdstia de sus liberdade — leva 0 i rocurar nas coisas; a tendéncia 4 dominaeo do Outro. ‘A subordinago da mulher & uma das realizagdes dessa Ultima pre- tolégica, uma conseqéncia do “imperialismo da mente desse raciocinio compreende-se que, como toda duali- jade entre os sexos manifesta-se em conflito. Mas, ue foi 9 hoimem que ganhou? Por que este mundo sempre perten- ‘seu aos homens ( A resposta prové-se do ol fade ‘vas, Das caracterfsticas atribuidas aos tizam 0 argumento em jogo: a) have criangas, “a fecundidade absurda da ativamente do crescimento dos recursos ao passo que ela criava inde- finidamente novas necessidades"” b) némades,essas sociedades no ‘poderiam forjar nenhuma idéia concreta da permanéncia: “a mulher ‘que engendra no conhece o orgulho da criaeSo, sente-se 0 joquete «,assivo de forgas obscuras”.2 Sua argumentagéo 6 entéo a seguinte: 4 espicie humana 6 inerente a crisei0, no apenes a repeticlo da Vida. Ao transcender a Vida pela existéncia, o homem cria valores, forja 0 futuro. Na criac#o de um projeto, ele encontra a cumnplicida- smbém habitada pela necessidade de transcendén- ntretanto, “sua infelicidade 6 a de ter sido biologicemente desti~ jada a repetit a Vida". A fémea humana foi do mesmo tempo uma peta da espécie e doshomens. =~ ‘Assim para Simone de Beawolr, a opressfo feminine orgina-se do fato de a mulher reproduzir, her, ao deriver sua subordinagéo dint ‘a, nfo daria conta de sue singulardeds 18 Beauvoir. op. cit.p. 24 masculina qu valor, venceu as fa, tubjugou 2 Naturez mulher" sobre essa base, elaborou-se ao longo dos tempos a subordi- ‘naga feminina.® nee E, Reed vatiantes da mesma reconstrucSo de uma relagBes entre os sexos. Em Reed, que reproduz a argumentagio de Engels de partida da épressfo esté dentro da hist6ria, com o surgimento da do Estado, Em suma, a con- BU ih, ii, pp. 111, 113. 7 Engels, Eoop, eit temas de parentesco, ‘2companhando a visSo de mundo das ciéncias¢ da fi Postulado a existéncia histérica do matriarcado. Bachof ‘um esquemia 6volutivo que vai da promiscuidade, quando re 08 sexual, a0 patriarcado, apresentando como forma interme luma fase matriareal, Nela, ocorre a passagem da Natureza & ‘ue ¢ atriburda as mutheres, pois apenas elas teriam condighies, natu- ralmente dadas, de estabelecer uma descendéncia, o que thes conferia ‘automaticamente poder. Da “ginecocracia”, “poder ¢ controle nas méos das mulheres”, passa-se a0 patriarcado, quando se aperfeicoa ainda mais o-controle sobre a animalidade do instinto, pela regula- mentagdo da descendéncia por via masculina: er ° 2 Com o surgimento do pat ram das aparéncias naturals terno 0 homem qi smo e ‘olha pare o alto, para as maximas regides do cosmo. No entanto, @ teoria do matriarcado comepou a ser contestada Jépor contemporineos de Bachofen, como ‘entavam demonstrar como @ descend 2 mais primitiva, nfo comportava poder fe te, grande mimero de etnografias sobre sociedodes scabaram por levantar novamente @ questio da uni Je Bachofen, JJ. 1861 Das Mutrerrecht. Estocards. 28 tg, ibid Be XVI 3 Maine, HS. 1861 Ancient law. Londres MeLenne, JE. 1865 Primicive ‘marriage. Ediiburgo. ‘de J. Bamberger ("The myth of ‘hy man rule I primtive society", na utopia do futuro, € o presente que excepcional, marcado por signo negativo. 5. Firestone ¢ E. Reed slo expressivat fontes da construgdo do que chamamos “mit topias”” do feminismo. Os termos mito @ utopia nfo tm aqui qualquer contacto negativa do senso comum, ‘como acontece quando os identificamos como sonho, mistficaeSo ‘ou false consciéneia, A posigdo social de um grupo ou de um movi- mento determina 0 contaido do discurso sobre si mesmo. No caso ddas mulheres, procede-se & reconstrucdo de um passado que te quer hist6rico como meio ccusarthe validade cienti de verdade que resid ‘ta em que tempo ocor heim, #® na medida em que, expres- rae, transcende o presente. eado havia menos desigualdade mis das mulheres do que no presente. Assim, o present paroxismo uma desigueldade perene. J6 fara E. 4 uma excepcionalidade radical, pois para ela na 35 wot at eich) ta colts Rr, RA. thropology of women. Monthly Review Press 0s at ‘the South of France: public and também chama “democracia primitiva") as mulheres tinham tanto Desaparecimento da autodeterminago e recimento da. “cul ho real. ‘que qualquer outra transformario de bi suas mito indigenes s3o proprl ‘idade como um todo; todavis, algo novo aparece quando o mito te torns utopia exclusiva de grpes de mulneres que vind valde ‘¢fo da cultura, @ até a propria reorganizagSo da Natureza... se for mulheres na década d conhecida no seio da ‘magical spells”. Si etapa da produgo sobre a mulher, agora circunscrita pela abordagem jngon retomam ¢ problematizam a determinag3o. i¢fo feminina através de sua discussdo sobre a assi- Bao, p.12- as auto- 1 @ sim 0 de-assimetria Esse concel- ietria sexual entre os ilongot dat Filipinas, Como veremor, izam 0 termo opress 2 pensar uma relagio entre dois pélos, no caso homern/ ue #30 definidos de maneira diferente, sem que a diferenga 'a¢do, j4 a proposta de Rubin & {0 apressio, bem como a de sua provével universalidade. 1. Segundo Rosaido © Atkinson, a distineSo hierarquizada entre o mas- cculino e 0 feminino elaborada pela cultura jlongot pode ser encontra- da com variagdes mais ou menos evidentes em grande parte das sociedades tribais, ___As formulas migicas dos i/ongot marcam postivamente 2 ati- vidade de caca masculina e negativamente as atividades femininas de cultivo e colheita. As autoras tentam explicar por que a experiéncia © 05 signiicados que definer esses dominios Ihes conferem umn sen» tido oposte e hierarquizado. —~A resposta ut 8 oposigio entre dois concei F & vida). O primeira det rhino e 0 segundo © masculino, Oar a vida através do parto 6 uma fungdo natural do corpo da mulher, sua marca biolégica, sobre @ ‘qual s¢ exerce pouco ou nenhum controle, As muiheres, menos dis- esentadas como produto: ‘incapaz de transcender ‘assim como ontologicamente incompativeis erarquizados: dar a vida como condigSo de ser dentro 1 vida como criagio cultural sob 0 controre Gayle Rubin, partindo das formulardes de LéviStrauss em Estrutu- ras elementares do parentesco,32 elabora através do, conceito de sis tema sexo-ginero a questo da opressi da mulher como sociaimente ‘construlda. Esse-coriceito, cujas formas empiricas observéveis +80 jeferese & producdo cultural das identi- dadas de género, englobando os fatos da biologia, Sua hipbtese ¢ ‘a de que a subordinagdo feminina deve ser explicada como produto das relagBes pelas quals os sistemas sexo-género so produzidos © ‘organizados, Em sua obra, LéviStrauss retoma a tese, desenvolvida por Mauss em “Ensaio sobre a dédiva”,®? de que o significado da dédiva iagdo ou teafirmagdo de lacos de reciprot Para LéviStrauss 9 casamento sinteti ca de troca, pois pela dipia regra do tabu de fs grupos humanos obrigam-se a entrar em relagio, o que ¢ através da circulagdo de mulheres, Na leitura de Rubin, 2 muthe ‘como bem trocado, ver posigdo que ocupa esse sistema, po: imios as regras do jogo”. Ou seja, mésmo'detando uma pos vilegiads no conjunto dos bens trocades, erigida em signo simbolo da luta do homem contra a Netureza, a mulher 9s dédiva trocada entre grupos masculinos ¢ sob a tutala dos quai tanto antes quanto depois do catamento. ‘Assim, embora enquanto género, tanto homens quanto mu ccatagorias socialmente construdas, a tese de Rubin & ‘a de que as mulheres na qualidade de bens transacionsdos, sd0 antes ‘condutores do.que parceiras na relagio que se fora. E aos homens ‘que cabe 0 poder e o prestigio do estabelecimento do vinculo social ‘hs relagdes desse sistema so tais que as mulheres no esto erm con- ddigdes de realizar os beneffcios de sua propria circulago, Segundo BT UarSvaus, C. 1976 Extruturas elemantares do parentesco, Petr6nols, Vorss. 32 ass, M. 1974 “Ensaio sobre 2 déciva, in Sociologia @ antropotog’s. '. Paulo, Ed. Pedagégica Univer Rubin, 0 termo lévi-straussiano “troca de mulheres” expressa 0 fato de que as relagdes socials de um sistema de parentesco etpecificam do social em LéviStrauss ¢, para Rubin, uma teoria ime ‘opressio feminina fi nsagrou, o da ralativizagdo das catagorias de lise. Voltaremos a esse ponto brevemente. Por sua vez, Gayle Rut acatando 0 ponto de vista feminista — 0 de opressio a sua luz, uma das mais importantes tecrias sobre a das pela antropologia. Nv. Gostariamos de propor um balango critica dessa producio. Enquan- to antropétogas, mulheres, feministas, temos procedido aqui a uma bem como, através da comparago entre estas, aprender € problematizar suas constantes. Uma dettas constantes 6 a gene: , ralidede, evidente, de um de relagio assimétrica enti, homem @ et, cormiplementar ¢ hierarquicamente valorizada no . ave, sem divide, permanece como um problema _ candente, _ OF mits produzides pelo fem 30, vistos como visées do 4 procura da identidade de um novo sujeita soci ‘2 mulher parti ‘cular ¢ as mulheres enquanto grupos. 7 ‘SEGUNDA PARTE Agora, trata-se de fazer a antropologia pensar 0 feminismo enquanto ‘movimento social, procedendo a uma anilise das relagdes do fem 3 eso a drminaco bcegca dos pa seuss fi M6 mut on- bloga Margaret Mead, em especial Sexo temp Paulo, Perspectiva, 1969; « Macho e fémea lem nso com o quacro geral de representaydes onde el ie Pag le nasce. Nac se trata mais téosomante das questGes intelectual afns, ra contingent de valores com 0 qual el caloge, mas do que isso, que « exnuua, Ese tipo de rocedmeto pode uscitar alguna res de que o feminism, como ovtrot alscursos, @ arr0- para si uma rupture téncia am raZi0 nério produz unte demarcada, fe 2 seus antecedentes feque- 10 hd 15 anos? Ou ainda, ties atu ‘pelas nossas quest adquirissem “consciéncia” da ra que as mulheres consideragies de natureza im intuito escamoteado de roubar-the quer no seu inte ritos de transformagao soc! “ Bee deta ne Como foi dito, poderiamos ee ee atte ee aie cece sa denominaeéo. Aqui nasce uma primeira definicio passive! para feminism reivindica ‘ser traduzide no rebelar fovado a um sexo, 10 cas0 0 "segundo 5X 1s de ordem proptem uma autonomia d ‘saxo fominino a autor meridians. fo 6, entretanto, compartthado por todos 05 SUpOe vo no cdmputo geral das sciedades conhecidas rio foi essa a I6gica que dominau. ‘A, nocd de igualdade como representagdes que se denomina it igo algumas das consideracéas de Lou's ‘Dumont,27 que desenvol- sobre esse sistema de representacdes COMO 0 i nant sociedades modernat. Esse detalhame reoe-nos im portante por fundamentar & interpretagso ac jinismo..como, um desdobrame Mot 9 demonstra, uma das principals caracteri wo & conceber a génese do social derivade da um sistema de 1s dese concaito se prand ts conatacSet onde a representacio da totalidade mitantemente com o aparecimento da agente normative das instituigBes, fesse sistema mademo toma pelo deslocamento da representagio de totalidade para o individuo, agencia uma continua fragmenta ‘80 do todo social em dominios crescentemente autdnomos. Daf que, para Oumont, falar em instincias como politico, econdmico, ideo: logico, psicolagico so ¢ possivel em so tratando de sociedades que pracederam a autonomizacio dessas esferas, as sociedades modernas, Essa concepedo moderna de individuo, sua relago com @ sociedade, bem como as realidades que produz, esto em con- tinua elaboragio. Assim, 0 individualismmo do século XX’ tem suse particularidades frente ao do século XIX.°_Dumont pretendeu, em vérios trabaihos, ratracar a trajetéria de afirmacio dessa ideologia como dominante. Os prinéipais eventos que falam de sua consoli- dagéo seriam 0 Luteranismo, a Declarago dos Direitos do Hom 36 Rhauis, Marcel 1974 "Uma categoria do erpite humane: a nogéo de pet- ‘0a, @ nosio de wu", in Sociologia # Antropologie. So Paul , destacamos a Declaracdo dos Diteitos do Homem, ‘que melhor serve a0s nossos propésites, Nela firme-se uma ick dade de homem que é livre, igual nesta humanidade ¢ que porsui Gireitos que dever ser respeitados, donde o prinetpio de represen- taeio politica e a consagrada formula da divisio dos poderes, aseg- ‘mentago do poder. Desde 0 momento em que o indi © corpo de representagées dominantes, levando em consideragio 0 quo problemétice ¢ a sua localizacdo historica precisa e 0 grau do generalidade implicado, esté em processo uma continua, ifcessante fragmentacio, autonomizagio de esferas. No nosso caso, aquele que 4 representacio de/da mulher nas lismo se aficma como ‘Dumont na valarizecéo social dda hierarquia como relopdo ageneladora de hermonia social. feria, Qutra face dessa mesma autonomia etd conta nos chama- {40s movimentos de liberasio homossex ibtracfo da sex de 8 familia e& sua constituigde enquanto dom/nio auténomo, ‘autores, como Dumont, ‘20 século XVI como o momento da génese sentido que se pode -58 um campo para os eventos do sexo = ovidade histériea, a oposicio entre Privado e pablico camo dominios que se exciuem. Sob 0 nome de revolucio ou It xual presencia-te hd = de‘autonomizacéo da explicitando-os como uma tensso, Ineres ¢ expressio desse conflit soxualidade que t0.quer regular a si prép prescrig faritia. Trata-se, portanto, de um novo momento do que Foucault ‘sentido da autonomizacio aqut, como nos demsit exemilot mencions- ‘40 proceso de disolucdo dos releces socials que deta po do seu desenvolvimento histérico, impae. No feminata grils dela conetitutiva. * aside, P. 1978 Histdrie social ca crianga@ da tem 38 nuclear nasce pela autonomizagao" tinha demonstrado como a oposicio entre o dispositi ‘que focaliza o grupo e o dispositive da sexval o individuo, iro. A postulagio da ividuo ver questionar a sua alocagdo exclusiva no do- Strauss, das sociedades “méquinas-evapor” 1. Passamos agora a examinar alguns aspectos do movimento fe pola extenso Ys mulheres dos direitos reservados aos homens. Assim, feminino (quando as sufragistas habil ‘no texto da Declarago dos sobre 03 eédigos que sancionam a posicgo subordinada 8 do homem, no interior da familia (por exempio, 0 direito de decisfo sobre o patrimdnio familiar); e mesmo igualdade moral. Nao seria esse 0 caso dos recentes acontecimentos | _ ia dos assassinatos de a defesa da honra, orgo capaz de revelar a presenea © operdncia de uma série de relages hie- rarquizadas na sociedade moderna, ¢ ganha nesse movimento uma forga e poder de transformacio efetivos, Ha entre as lutas polfticas feministas aquelas que postulam, mo interesse exclusive ax mulheres, concernent ica Através destas, dinagéo_incondi espécie — uma das origens, como vir apontadas para dar conta da sua opressio, Néo é acidental qui ‘tone, uma feminista radical, acabe por propor como solucdo os be de provera, O slogan “livre apropriaglo do corpo’ e suas vati ‘cam que se deseja que a decisio sobre a concepeo sela do li twio das mulheres. Nees firma-se a dimensio individual como 0 pélo ido frente as ingeréncias da ardem social. Observa-e aqui o lado. Focalizase agora lade € reprodugio, que a contracepeio eo eborte separar. A légica que postula que as mulheres delegagio da fala, critica 4 constituicio de liderancas © hierarquias. Tomase, portanto, a mecinica democré tica — todas as mulheres falam — como paradigms realizével. © feminismo foi historicamente o herdeiro de uma signficativo talvez seja o debate distingdo de uma estrutura partie interior do movimento sobre sua tas pode ser percebida também ignificativo, politicamente relevante, 0 consideradas como pes: expressa-se na estrutura celu- d6 movimento: of Consciousness-Raising Group, ou Grupos de Reflexio, nome adotado no Brasil, onde se procade 3 urna socialize 0 entre mutheres das vivéncias pessoais.** Ora, mas é justamente res", flearam conhecidos como "ss picharSes feminites” ~ titulo de matéria 4 Joma! do Brat! am 25 de setembro de 1980, p. o caderna 8, ‘4 Seguidamente as andlaes sobre esse modo ferninista de experimntacgo da Viéneia pasta em grupo compsram-no oot glupes de haturera trapsutica, fm razéo da importéncisstribuida & subjetvidade e 0 pseoldgica, Una dite: cexderno e convacona ‘Aquilo que parecia ser pessoal res se agudizava em razio da dicotor essa visfo totalizadora astd dada a sua condipfo @ a sua forga de fazer politica. Nossa preoc:packo neste artigo foi acompanhar, tanto a0 nf- politica das mulheres 1 relagdes do feminismo com cunscrever historicamente as quest6es que coloca bem coma: tes que dal podem surgir. Acreditamos ter alcancado o objetivo que ‘nos propusemos, qual seja o da desnaturali ‘elativizago da categoria mulher A questio feminist instauragéo do di muther que the pe critieamente as formas atuais ¢ anterioras.de ser mulher, quant da, conduz a sua universalizac#o, produzindo-se uma humanidade ‘Tenge marcante reside na auséncia neses grupos de ratloxSo da figura de auto- fide do terapeuta. ‘de um sistema de valores alheio a estas. Coloca-se como problema lum certo comprometimenta etnocéntrica do discurso, apandgio que ‘nfo 6 exciusivo do feminismo. Se, como vimos, Wata-se de uma iam as mulheres de determinadas insergdes representagio de individuo as mais sens{- que ele prope & realiza sobre os valores de determinada sociedade ‘opera no sentido de garantir espacos sociais para a atuago das mu- sua inspiracio que as mulheres tudo, a mulher, como suj dade homogénea ¢ moni ‘diferencas socials e cultur Aids, Philippe Bachoten, J. ‘Board, Mary R. Beauvoir, Simone do Seon, Elana Berger, LP. @ Luckmana, Th Cadernos da Associagfo de Mutneres, 3 cenM ‘Chester, Phys umont, Louis Engote, Firestone, Shutamith BIBLIOGRAFIA Histéria social da evlanga @ da familia. ‘Muttorroche. Estocarda, Woman as force in history. Londres, Mac- shers. deuxiéme sexe. Paris, Gallimard. (Ed. segundo saxo. 4 06, SHo Paulo, ifu- So Europa do Limos 370 1978. 0 detcondicionamanta de mur. Petropo- lin, Vores. 1978. A consru soci de raided, Peépots 1972, Homo hiararchicut. Londret, Pledin. 1977. Homo sequal. Pals, Galierd, Foucault, Michel Freud, S. 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