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Extudos de Sociologia, Rev. do Prog, de Pée-Graduace am Sociologia da UFPE, Vol. (1), pp 35-54/1995 A CULTURA POLITICA DO PATRIARCALISMO Paulo Henvique N. Martins RESUMO: Por mais justo que seja.a tentativa de resgatar a obra de Gilberto Freyre na ampla discussio atual sobre a modemnidade brasileira, é imposslvel se negar 0 comprometimento deste autor com a estratégia de modemizagfo conservadora, habilmente desenhada nas primeiras décadas republicanas. A partir desta preo- capagdo o autor do artigo procura demonstrar que 0 modemismo constituiu um movimento que também teve importantes raizes no plano politico, pois ele estava condicionado por uma certa cultura politica patriarcal inspirada nos valores hierirquicos e racistas do recém-eliminado sistema escravista. Esta cultura moldava uma estratégia de que recusava eolocar na mesa do debate os temas da emancipagao da socie- dade civil e da universalidade dos diteitos referentes & igualdade e liberdade - que so os fundamentos mo- demos da cidadania. Palavras-chave: patriarcalismo, modemismo politico, Gilberto Freyre, intelectuais. 4 atualmente uma certa preocupagio nos meios académicos de se resgatar Gilber- to Freyre como uma das grandes expressdes intelectuais brasileiras nos planos nacional iternacional. Este resgate faz justiga a Freyre sob dois aspectos: de um lado, desfaz © carater s6rdido dos que tentavam estigmati- zé-lo como um homem de "direita" e, por conseguinte, diminuir 0 valor cientifico e lite- rario de sua obra. De outro lado, a restaura- go de sua contribuigdo _sociolégico- antropolégica nos presenteia com anilises finissimas sobre temas da atualidade como raga, género, cotidiano entre outros. Temas que permitem uma vasta compreensio do modo como a cultura nacional brasileira mol- durou sua especificidade num mundo moder- no comprometido desde sua fundagio com a logica secular da globalizacaio, que tem como uma das suas principais expressdes, como nos esclarece Giddens (199la), a possibilidade de generalizacdo da experiéncia do Estado naci- onal. Este merecido resgate nao ¢ suficien- te, porém, para liberar 0 sociélogo pernam- bucano da acusagdo de ser um intelectual conservador ¢ um estrategista politicamente comprometido com um pacto modernizador que esti na base do que conhecemos hoje como exclusio social. E isto que tentaremos demonstrar neste artigo, ao situarmos o autor pernambucano no debate relativo & constitui- *0 autor ésocidlozoc pesquisadordo Programa de Pbs-Graduag8o x» Sociologia laUniversidade Federal de Pemambuco 36 Paulo Henrique N. Martine ¢4o de um Poder Nacional Brasileiro, desta- cando-o como artesiio e produto de uma cul- tura politica que selou as primeiras décadas da Republica com a marca de uma légica de poder patriarcal largamente influenciada pe- los valores do escravismo. Esta cultura politi- ca impregnou visceralmente o imaginario in- telectual e politico da Primeira Republica, ¢ os rumos coneretos das atividades culturais mais significativas como 0 movimento mo- demnista dos anos vinte, Nesta perspectiva, a discussio sobre © moderismo como movimento de exaltagao © fetichizagdo do novo (Léfebvre, 1969, p.198), ndo se restringe, a nosso ver, aquelas atividades culturais, artisticas ¢ literérias da década de vinte conhecidas como movimento modernista, na medida em que suas raizes adentram-se no pensamento autoritirio re- publicano representado por nomes como Al- berto Torres, Oliveira Viana, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, entre outros. Se ampliar- mos com uma lente grande angular nosso olhar sobre 0 modernismo, observamos que 0 debate sobre a cultura brasileira esta direta- mente comprometido com uma tradigdo inte- lectual autoritéria que jA preparava desde as décadas imediatamente anteriores, 0 projeto de organizagio da sociedade nacional via fortalecimento do poder estatal. Neste senti- do, poderiamos dizer que 0 modernismo poli- tico brasileiro presente j nas primeiras déca- das do século XX nao deixa de ser uma certa "exaltagdo do novo", ja que o debate intelec- tual visava reorganizar a sociedade politica dentro do contexto de uma ordem republicana ¢ democritiea nova, quando comparada com a ordem escravista anterior. O problema, como tentaremos demonstrar a seguir, é que este modernismo politico, que preparou a efervecéncia cultural dos anos vinte, esta condicionado por uma cultura politica patri- areal que reproduz a légica tirdnica da Tradi- gto. Por tris da produgdo intelectual das primeiras décadas, estava 0 esforgo de viabi- lizagdio da modernizacdo conservadora e da criagiio de uma estratégia centralizadora pela qual a sociedade moderna poderia vir a se instalar sem uma ruptura perigosa com a an- tiga estrutura de poder herdada do sistema escravocrata, Assim, debate cultural de en- to girava em torno da idéia de criagdo de uma cultura nacional brasileira, considerada como necessiria para legitimar a instituigao de um sélido poder nacional. Face as amea- gas de inviabilidade da ordem constitucional pelos movimentos separatistas e pelas rea- Goes oligdrquicas; a sociedade civil em for- magio sentiu-se atraida, compreensivelmen- te, pelo debate sobre a modernizagiio da soci- edade ¢ pelas.possibilidades de realizagio da unidade da lingua, dos costumes, da raga e da religiio no interior do territério nacional. Um debate que ambicionava a construgao de um tipo. brasileiro, i.e., de uma personalidade essencialmente nacional que seria vista como necessiria para produzir simbélica e politi- camente a sociedade nacional brasileira, Dada a heterogeneidade — socio- econémica e cultural do Brasil naquele perio- do ea dominagao de uma ordem patrimonial conservadora, compreende-se que estas idéias no estavam centradas nas bandeiras moder- nas da liberdade e da igualdade dos individu- os. Estas bandeiras eram assumidas pela Declaragao dos direitos do Homem ¢ do Ci- dadio" redigida pelos revolucionarios france- ses como sendo 0 primeiro compromisso do movimento: "Art 1:Os homens nascem livres © iguais em direitos, As distingdes sociais apenas podem ser fundadas sobre a utilidade comum" (Gauchet, 1989). No caso do Brasil, cuja estrutura de poderapenas tinha se libe- A CULTURA FOUNCX DO PATRIARCALISMO 37 rado frouxamente do trabalho escravo, a dis- cussio sobre universalidade de direitos era vetada por um imaginério historico que ape- nas absorvia a possibilidade de constituigdo de uma identidade étnico-cultural que servis- se para fundir os diversos tipos raciais e étni- cos existentes. No Brasil, explicava Viana, os direitos nao eram universais como preconiza- vam os iluministas na Europa porque os ho- mens negros no podiam cultivar as mesmas aspiragées superiores do branco: ‘Os negros, logo que sao sujeltos a dis: ‘iplina da senzala, podem ser assimilados a raca superior desde que sejam submetidos por seus mestres a certas'praticas de moralidade e de sociabilidade. No entanto, quarido eles foram entregues a seus proprios destinos no momento da abolicéo da escravatura, eles tomaram 0 camino da decadéncla até se encontrar na si tuagéo degenerada que constatamos hoje” (Viana, 1933, p.188) Segundo ele, a possibilidade de cria- ¢4o de mestigos superiores dependia das oli- garquias: ‘Isto pode parecer paradoxal, mas numa democracia como a nossa, as oligarquias sem pre foram nossa felicidade. Nosso grande pro blema, nao & de eliminar as oligarquias. mas ances de transformar e de os fazer passar da condicao de oligarquias brutas para oligarquias esclarecidas” (Viana, 1933, pp, 173-74) Assim, 0 pensamento autoritério cul- tivava a hipotese de um Estado forte dirigido por uma elite conservadora mas capaz de administrar a heterogeneidade racial, assim ‘como tinha sido feito durante séculos pela or- dem patriarcal a0 manter sob controle man- donista a ordem social e politica. A nosso ver, este aspecto esta subjacente ao debate modernista se 0 encararmos no ngulo politi- co aqui sugerido. Por conseguinte, uma com- preensiio mais ampla da obra de Freyre exige que 0 seu discurso sobre raca e identidade sejam localizados no imagindrio de uma or- dem patrimonial-oligdrquica desejosa de criar novos mecanismos de regulago do poder ca- pazes de eliminar os riscos do conflito politi- co ¢ social. As possibilidades de renovagao deste pacto oligarquico dependiam, assim, da elaboragdo de um arco institucional que mi- nimizasse os problemas politicos postos pela administragdo de um territério nacional de grande dimensio tisica. Neste artigo, procu- ramos, logo, situar 0 debate sobre 0 nacional € o regional nos limites dos condicionantes sécio-histéricos da modernizag4o conserva- dora, i.e, uma modernizagao que mobilizava a discussdo cultural e politica da unidade naci- onal a partir de uma leitura conservadora e racista do carater histérico do individuo brasi- leiro. Esta leitura, conforme foi salientado, ndo correspondia absolutamente aos ideais de liberdade politica proposta pela modernidade européia e norte-americana, cujas substancias . iltimas no entender de Arendt eram devidas a existéncia de um espago piblico comum num mundo politicamente organizado onde os homens podiam se encontrar para exercer a palavra e a aco (Arendt, 1972, p.192). Consideramos interessante, para de- limitar a singularidade da cultura politica re- publicana que reproduz as contradigdes da modemizagio conservadora, —_confrontar Freyre com Torres. Destacaremos por esta via as diferengas entre a vertente urbano-nacional = que na falta de expresso mais apropriada denominaremos de modernismo politico na- cionalista e j4 presente em Torres - e uma outra, agrario-regional .- representada por Freyre, que chamaremos de modernismo po- litico regionalista. Se a primeira, a naciona- lista, traduzia a inquietagao da sociedade civil em formagdo nos grandes centros, a segunda, a regionalista, exprimia os interesses de pre- servagdio da ordem patriarcal, que eram mais visiveis em provincias tradicionais como as do Sul e do Nordeste do Brasil. Freyre nao 38 Paulo Henrique N. Martins constitui 0 centro deste artigo, mas sim a cultura politica que 0 envolveu e determinou © seu imaginario intelectual. Pensamos que este enfoque pode contribuir para melhor si- tuar o sentido do debate académico que pro- cura resgatar a obra do Mestre de Apipucos no interior da modernidade brasileira A modernizagio oligarqui As instituigGes republicanas, sabe-se, foram fortemente abaladas por algumas fortes tensdes no primeiro periodo republican. De um lado, as tenses produzidas pelos movi- mentos de centralizagio/descentralizagio do poder politico, de outro, aquelas geradas en- tre os novos atores urbanos desejosos de par- ticiparem da vida politica e as oligarquias tradicionais, que repeliam a possibilidade de surgimento de uma esfera publica indepen- dente. A Primeira Repiiblica brasileira pagou, entio, 0 preco das contradigdes de um Estado que alardeava o ideal ocidental da moderni- dade sem romper radicalmente com a trad Go escravagista, i.e., introduzindo um mode- lo constitucional democrata numa sociedade ainda fortemente marcada pelo antigo poder patrimonial-oligérquico, As manifestagdes politicas e culturai sobretudo nas décadas de dez ¢ vinte sinal zavam, por conseguinte, para uma saida bu- rocratico-autoritaria ja que os movimentos organizados da sociedade civil eram impoten- tes face as resisténcias impostas pelas oligar- quias econémicas ¢ pela burocracia estatal Estas projetavam uma modernizagao econé- mica nacional que nao rompesse com a légica particularista tradicional, 0 que foi obtido pela ampliagdo do papel do Estado, de modo geral, e do Poder Central, de modo particular, na organizagiio da sociedade nacional. A 16- gica desta intervengo era dada pela prix: clientelista que, sem abandonar os elementos centrai da cultura doméstica patrimonial, foi parcialmente adaptada I6gica econémica e industrial, ao longo do processo. Esta estra- tégia permitiu as elites tradicionais guardar 0 controle politico sobre as tendéncias auténo- mas do mercado em expansio, facilitando uma acumulagio de riqueza "sem riscos" para os grandes proprietérios de terras (incluindo-se aqui o risco que estes conhece- riam ao presenciarem o eventual sacrificio da onipoténcia patriarcal em beneficio da insti- tuigdo da cidadania). Revelavam-se, assim, as ambigtlidades de uma sociedade em processo de urbanizagio na qual os s ignos efetivos do moderno se defrontavam com a resisténcia frontal da sociedade agrario-oligarquica aos novos padrdes politicos e culturais que cult vavam a liberdade e a igualdade dos indiv: duos na organizagao do espaco piiblico, pa- drdes que Tocqueville (1981) considerava fundamentais para o sucesso da democracia americana, Este esforgo de criagio de uma sociedade modema, que no destruisse a an- tiga estrutura dé poder, ultrapassava os tes do campo politico-partidirio ¢ da ordem doméstica tradicional, ja que sua significagao simbélica apenas podia ser produzida no campo intelectual, Por conseguinte, o debate, ao mesmo tempo que foi condicionado pelas injungdes histéricas da _modernizagio conservadora, contribuiu para dar uma coeréncia discursiva a uma ordem politica fraturada pela presenga de duas légicas de poder contraditérias: a pa trimonial-oligarquica ¢ a utlitarista-burguesa A primeira, a légica hierarquica e particula- rista prépria ao poder patrimonial, era conti- nuamente ameagada pela segunda, a indivi- imi- dualista. mercantil, denominada por Caillé (1989) de "utilitarista generalizada", e que havia sido importada do hemisfério norte através do pensamento liberal. Nao é surpre- A CULTURA POLtnCA DO PATRIARCALISMO 39 endente, pois, verificar que esta produgao in- telectual da primeira parte do século revela 0 prestigio de certos intelectuais que reuniam a9 mesmo tempo os status de homens politi- cos ¢ de burocratas articulados. A propria forma piramidal desta sociedade contribuia, ¢ continua a contribuir, para reforgar 0 poder de certos "homens da ciéncia", o que as vezes é dificil de ser compreendido por um obser- vador europe acostumado com a distancia regulamentar entre a Academia ¢ as institui- ‘G6es politicas. A formulagao doutrindria e politica da modernizagao conservadora e de um Esta- do centralizador dependeu significativamente destes homens. No campo simbélico, o ideal de uma modernizagdo respaldada por um po- der central forte e com tragos de onipoténcia & explicado pela heranga autoritéria de uma cultura patrimonial pré-moderna. Esta cultura conhecia apenas parcialmente, no plano imaginario, 0 assassinato do Pai pelos filhos que Freud (1965) considerava como 0 ato fundador do social, ¢ que Barus-Michel (1991) mesmo concordando com a hipétese, procura restringir sua validade para a funda- ¢4o da cultura ocidental moderna. Ou seja, numa sociedade como a brasileira da época, recém-saida do escravismo, a fundagdo do social permanecia como uma iniciativa pre- caria na medida em que as forgas do agraris- mo e do patriarcalismo inibiam as tentativas emancipatérias da ordem urbano-industrial. Assim, culto de um Estado centralizador aparentemente moderno tornou-se_possivel pela adaptacdo progressiva, no campo sim- bilico, da mitologia européia contemporinea (0 Estado, a Nagdo, a Patria, 0 Povo, 0 Pro- gresso, etc.) aos contetidos axiolégicos e referéncias institucionais da antiga ordem patriarcal. Consequentemente, a auséneia de uma ruptura histérica de grande porte, na passagem para a ordem pés-escravagista no momento de inaugurag4o da Republica, limi- tou politicamente 0 debate sobre os direitos do cidadio ¢ as condigdes de seu exercicio, independentemente de raga, sexo ou situagiio social. Ao contritio, 0 continuismo favore- ceu a sobrevivéncia da figura arcdica do Pa- triarca - ou Mestre - que nas revolugdes mo- demas foi obrigada a se desmembrar numa série de campos institucionais relativamente auténomos, e.g., os da economia, do politico, da arte e da ciéncia. A figura do Mestre tem correspondéncia na mitologia tradicional com aquela de Cronos-Saturno, que possui uma significado bipolar: & positiva quando ex pressa 0 Pai-guardido, protetor dos filhos e da Casa; é negativa quando representa o pai de- vorador. “O reflexo negativo desse lado fenomeno- légico do arquétipo, lembra Stein; & uma cons ciéncia submersa em convencées e habitos, ¢ um respeito ao dever definido pelas normas colett vas prevalecentes, Um dilivio gastrico de valo- res, padroes de pensamento, gostos, dispasicdes, atitudes e opinides da cultura predominante dis solve qualquer traco da experiéncia individual e ide reacao espontanea” (Stein, 1979, p.83) Nas sociedades modernas européias, como o sugeriu Freud, 0 cardter dominador e tirdnico deste Pai que monopolizava todas as mulheres teria sido eliminado pela reagdo coletiva dos irmaos, que o assassinaram e cri- aram a sociedade. No caso de sistemas como © brasileiro onde é acentuado o peso da tradi- ¢4o patriareal, pode-se avangar na hipétese que a forga simbélica do Patriarca continua a reger em larga escala as relagdes domésticas © organizagao da vida piblica. Claro, com a organizagao dos Estados Nacionais, a buro- cracia dirigente assume muitos dos papéis que antes eram exercidos pelas oligarquias agririas locais. Mas os processos transferen- 40 Paulo Henrique N. Martins ciais_vividos pelo: de uma ordem h ‘arquica rigida continuam a ter como objeto os simbolos tradicionais en- carnados nas instituigdes do Estado, no corpo dirigente ¢ nos grandes intelectuais, Na sociedade brasileira desta época, a referéncia mitica era objeto ainda de dois tipos de desejos: um, o de prestar um culto ao Mestre personalizado = por exemplo o culto aos lideres oligrquicos carismaticos -, outro, © de louvar o Mestre nao personalizado - cuja representagio mitica se aproxima d: ras burocraticasmodernas tal como foram de- senhadas por Weber (1964). Se, no primeiro caso, a presenga do Pai simbélico reforga o espirito comunitirio e a forga dos patriarcas, € antes de tudo a expressio da liberdade poli- tica vigiada do individuo andnimo que favo- egundo. O debate intelectual e poli- tico que culminou com 0 movimento moder- nista revelou, logo, 0 contexto assimétrico da sociedade brasileira pés-escravagista, onde um poder oligérquico ¢ patrimonial bem es. rece ao s truturado realizava uma disputa desigual com 08 fracos movimentos sociais que reivindica- vam a criagdo de uma esfera publica. A mo- dernizagio urbana contrariava_permanente- mente a tentativa de se mitificar a Tradigo, e de se justificar a ideologia racista que v no embranquecimento da populagio negra a sai- da vidvel para organizar o carter nacional brasileiro. Deste modo, o ideal integracionis ta do pensamento conservador - o ideal da mestigagem racial - continuava a aparecer para este pensamento como uma formula atraente para se fundar uma sociedade “cordial” que no ameagasse 0 dominio patri- arcal. As elites apostavam que a expansio urbana ¢ industrial poderia reforgar a estra- tégia corporativa hegeménica, através da qual © privilégio da liberdade e da igualdade per- maneceriam restritos ao: “brancos" que fre- quentavam o circulo estreito de um poder pa triarcal normalizado pelas referéncias perso- nalizadas, pelos nomes de familia e pelos titu- los e condecoragdes. O fortalecimento do Po- der Nacional Superior através da centraliza- do das fungdes do Estado « politicamente vi- de 1930-¢ a adaptago dos mecanismos de controle cl entelistas as novas exigéncias politicas per- abilizado com os acontecimentos mitiram, na pritica, a realizagao desta primei- ra grande tentativa de atualizagio da ordem dominante tradicional no periodo republica- no, Esta tentativa implicou o esforgo de regu- lamentagio, ao nivel das elites, dos imagin- rios oligarquicos e burgueses. Porque a uni- dade de um poder nacional forte deveria ne- cessariamente resultar da conciliagio de to- dos os interesses dominantes em tomo de um planejamento espacial ¢ setorial das ativida- des econémicas, administrativas e fiscais, evitando a generalizagio da contestagio poli- tica, Tais tensdes contraditérias alimenta ram 0 trabalho intelectual de adaptagio 4 or- dem patriarcal tradicional do mito moderno da Nacao, cujo sentido etimolégico esti liga do a idéia de "nascimento". Fazer nascer na jovem Repiblica brasileira uma nova solids riedade politica capaz de satisfazer, ao mes mo tempo, o orgulho do Mestre de escravos e os sentimentos rebeldes dos jovens desgarra- dos, eis 0 desafio com que se depararam os moderistas politicos, estes artesdes do traba- Iho de criagdo do Estado Nacional conserva- dor!!! A simbélica Brasil No plano imaginario, a representagio da modernizagio patrimonial foi ordenada a partir da sintese produzida pelo fortalecimen- to do sistema simbélico Brasil ao conciliar as A CULTURA POLtnCA DO PATRIARCALISMO 4 forcas de modermizagio e de conservagio. Brasil constitui, logo, a sintese de uma arqui tetura simbélica que justificou a renovagio do poder patrimonial colonial ¢ de suas fim- ges de coordenagio politico-administrativa do territério nacional com vistas a preservar 0 monopélio do Mestre sobre os recursos cole- tivos, em particular as terras produtivas. O Brasil pode ser visto, assim como uma sign ficago simbélica particular que da sentido histérico & instituigdo do Estado nacional, a0 forcar os signos modernos a se adaptarem a logica tradicional. A fusio das légicas con- traditérias de modernizagio e de conservacio em tomo de um mesmo projeto politico, foi concretizada pelo fortalecimento de uma tra- ma onde os paises industrializados passavam a ser vistos como os principais obsticulos emancipagdo econémica nacional. Esta proje- cdo sobre os "inimigos externos", a0 mesmo tempo que escamoteava os conflitos sociais internos - como foi provado repetidas vezes a0 longo do século atual -, contribuiu para re~ forgar a moderizagio das elites brasileiras. Desta maneira, a legitimidade ideolégica do simbolo Brasil se vé ligada a vagos sentimen- tos de emancipagao patriética que aparecem e se orientam no émago da trama modernizado- ra internacional, Devido reagio conserva- dora, porém, estes sentimentos nao consegui- ram plantar sementes sobre aquilo que Cas toriadis (1975) considera central para a insti- tuigdo da modernidade: 0 desejo de institui- Go auto-reflexiva da sociedade através da emancipagao dos individuos que a constitu- em, como lembra Elias (1991), os quais sto frutos dessa mesma sociedade. O discurso aparentemente progress: ta veiculado pelos grandes intelectuais duran- te 0 trabalho de constituigao do mito Brasil da organizagio simbélica do Estado-Nagio como instituigio sécio-histérica foi util para esconder a falta conereta de um espaco de 1 berdade politica fora do territério de poder das elites, e animado por uma sociedade civil autonomizada e organizada. A presenga das forcas tradicionais no jogo da modemnizagio e a consequente marginalizagio daquelas mais progressistas foi assegurada pela disposigio em forma de pirimide do poder patrimonial, que serve para restringir até hoje 0 acesso ao Estado e garantir a distribuigao particulariza- da dos recursos piiblicos. Por esta via, os grupos oligarquicos agrarios mais conserva- dores conseguiram preservar o controle poli- tico de grande parte dos organismos piiblicos criados pelos governos estaduais e pelo go- verno federal para assegurar o planejamento da modernizagio econémica, o que é saliente nas areas mais pobres. Esta pressdo conser- vadora sobre a modernizagao do Estado brasi- leiro foi legitimada pela imagem do tradicio~ nalismo e do saudosismo colonial, o que explica porque a simbélica republicana do Brasil esté desde os primeiros tempos, ¢ so- bretudo a partir da década de trinta, fraturada entre 0 progressismo e 0 conservadorismo A “instituigo imaginaria" do Nordes- te - trabalho que tem lugar efetivamente a partir dos anos vinte - respondeu a esta ne- cessidade de passagem do conservadorismo do plano do simbélico ao plano do institucio- nal, (O Nordeste, primeiro como sistema sim- bolico e depois como sistema cultural, politi co ¢ administrativo, resultou do esforgo de se cultivar 0 orgulho coletivo em tomo das idéi- as e das priticas tradicionais e seculares. Trata-se de um simbolo que foi forjado a partir da reago conservadora as pressdes de modemizagio institucional (organizacional, econdmica, juridico-politica, social, cultural, ete.), ja que € proprio das sociedades mais tradicionais a reagdo ao novo ¢ ao imprevisi- 42 Paulo Henrique N. Martins vel, que s reai as instituigdes estabelecidas. Por conseguinte, a incapacidade da Tradigao de se questionar, de se refletir e de criticar suas préprias cren- gas e dogmas explica as resisténcias da poli- tica local a um processo de secularizagio do poder temporal, vista por Berger (1993) como ligada necessariamente & liberagdo ¢ & auto- nomizagio dos processos io absorvidos como ameag: econdmicos ¢ por Lefort (1986) como vineulada 4 autonomiza- G40 do Direito e do Politico com relagdo ao poder do Principe. A modernizagio conservadora tendeu a privilegiar alvos externos que servissem para afastar as diividas.€ os questionamentos sobre a organizagaio do poder temporal patri monial, Ao mesmo tempo, contribuia para mobilizar a comunidade na visualizago do inimigo externo e na defesa de uma ordem politica submetida aos cédigos de valores e & logica de poder oligérquica. Num momento inicial, o da Primeira Repiblica, 0 alvo exte- rior era definido em fungdo dos interess mobilizados a partir de um grupo referente. No plano mais geral, 0 inimigo exterior era 0 imperiali mai es mo mercantil, enquanto no plano restrito - 0 das oligarquias periféricas brasileiras -, 0 inimigo era o capital paulis tensdes e conflitos po- liticos neste segundo plano foi central para o desfecho da crise de 1930, Assim, ao lado da dependéncia exterior, o imaginario oligarqui- co brasileiro era nutrido por ressentimentos em tomo de uma certa dependéncia interior que fixava de um lado, a tensio geogrifico- populista criada entre 0 governo federal e as unidades estaduais, e, de outro, a expansio da economia de mercado no Sudeste do pais, ge- rando uma nova divisio territorial do trabalho com important (Castro, 1975). s repercussdes no plano social Nes mos dizer que Sao Paulo como um sistema simbélico que referenciou 0 do Nordeste também foi referenciado pela Tradigao, re- a perspectiva de anilise, pode- produzindo no seu processo de institucionali- zagio as fraturas origindrias produzidas pelas tensdes de mudanga e de conservagdo. Assim, Sao Paulo, no plano simbélico, aparece igualmente como uma consequéncia da ne- «i ssidade da ordem patrimonial de afirmar seu discurso modernizador. Esta representa- go simbéli duas "progressista" legitimou-se de a partir da _polarizagao “imperialista" no plano internacional e a par- tir do geogrifico-populista no plano interno. A dualidade simbélica complexa que criou 0 mito da Nacao-Brasil ao longo das primeiras décadas deste século é por conseguinte, a ma que serve de base a instituigao do po- der do Estado, enquanto poder nacional ¢ po- der regional. Um e outro sio manifestagdes ambigtias de um mesmo poder nacional su- perior, ie. as representagdes— Bra- sillNordestelSo Paulo e nacional/regional, maneiras mes so expressdes simbélicas coneretas de um tema mitico de origem européia adaptado e implantado num espago controlado tradicio- nalmente pelo Mestre. A reflexdo sobre os Nordes- te ¢ Sao Paulo na construgio de uma simbé- lica nacional conservadora é decisiva para si imbolos se compreender a trama da insergiio dos interes- ses arcaicos na constituigio de um Poder Nacional, que se propunha reformador. As sim, a complexidade do projeto modernizador deve-se ao fato de conciliar de maneira pro- blematica e no satisfatéria, impulsos contrd- ios de fransformacdo e de conservacao da sociedade. © impulso de transformagio ¢ 0 a constituigio de uma sociedade moderna aberta em principio a participagdo das mas urbanas no processo politico. Neste sentido, S A CULTURA POLtnCA 00 PATRIARCALISMO 43 todas as iniciativas tomadas pelo regime re- publicano para a regularizagdo juridica do trabalho e para a criagdio de mecanismos de organizagao e de participagao politica univer- sais, na Primeira Repiiblica, mostram a dis- tancia que separa este regime da sociedade escravagista do século XIX. Aqui, a questo de identidade individual era secundaria pois a ordem clinica submetia os membros do gru- po ao uma légica patriarcal que reproduzia com punhos de ferro 0 escravismo. O pensa- mento conservador republicano, diferente- mente, propde uma outra cultura politica pela qual 0 poder tradicional fosse obrigado a re- organizar-se sobre novas bases politicas para viabilizar a formagio do Estado-Nagao. O fortalecimento do Poder Central resultou deste esforgo de constituigo de uma unidade nacional complexa e capaz de articular a grande variedade de micleos locais de poder que no periodo escravista e na primeira fase republicana insistiam em desafiar a autorida- de politica maxima. O problema maior da preservagdo da natureza hierarquica deste po- der foi administrado parcialmente pela am- pliagao do sistema de clientelismo e da coop- tagdo, pela valorizagao de uma ideologia in- tegracionista sob 0 ponto de vista cultural, ¢ pelo reforgo das fungdes repressivas do Esta- do, quanto ao controle do territério. a. Alberto Torres e © modernismo politico nacionalista Uma das personalidades mais impor- tantes desta vertente foi Alberto Torres, mixto de politico, de jurista e de jornalista, cujas teses sobre a organizacdo nacional in- fluenciaram 0 debate intelectual ¢ politico legitimador de uma opinido piblica ativa, que se mostrava largamente articulada nas gran- des cidades brasileiras durante a Primeira Repiiblica. O prestigio deste intelectual junto a certos atores que tiveram importéncia na crise do final dos anos vinte pode ser avalia- do pela influéncia que exercia sobre os jovens militares "tenentes". Estes Ihe prestaram ho- menagem, dando seu nome a associago das militares revolucionarios criada em 1932 (Associagaio do Amigos de Alberto Torres). O diagnéstico de Torres sobre a con- juntura esta centrado sobre a identificagdo de dois problemas cujas eliminagdes seriam ne- cessirias, a seu ver, para permitir 0 retorno a normalidade: um, a dominacao politica dos interesses econémicos ligados & exportacao do café. 0 outro. o sistema politico descen- tralizado (a federagao oligarquica), igualmen- te controlado pelas classes cafeeiras. Suas criticas a0 comércio exportador foram influenciadas pelas imagens do merea- do colonial e do imperialismo mercantilista: “nds somos atraides pelo desenvolvimento comercial sem nos darmos conta que este desen volvimento' representa a conquista, a succdo, a drenagem de nossas riquezas arrancadas Violen ‘ameme da terra para 0 lucro de nossas metré poles econdmicas" (Torres, 1978, p.94) Para ele, esta politica de fa- vorecimento dos interesses estrangeiros era facilitada pelo sistema federativo republica- no: Toda nossa circulago econ dmicaficticla € 0 produto de uma federado de feltorlas con troladas pelos estrangelros, desde 0 mercado local até as sociedades de exportacao e impor tacdo, passando pelos caminhos de ferro, as usinas, © comércio e os brancos. Estes estran ‘gelros s6 fazem enviar a seus patses quase todos 20s frutos de nossa terra sob forma de produtos, de lucros comercials, industrials © bancdrios ¢ de rendas de natureza diversa" (Tortes, 1978, pp. 16-7) Para eliminar esta influéncia engana- dora na vida politica do pais, Torres propds a elaboragdo de um pensamento brasileiro que nao fosse inspirado nem "da filosofia revo- lucionaria do preconceito igualitario. de Jean Jacques Rousseau, nem do materialismo his 44 Paulo Henrique NV. Martins t6rico de Karl Marx". Sua visio do homem mostra-se, logo, mais préxima daquela repre- sentada pelo homem selvagem de Hobbes que para acessar 0 dominio do justo necessitaria de um Estado poderoso (Hobbes, 1982). Ele acreditava que as forgas sociais eram reduzi- das, em ultima instancia, as vontades, aos atos e a i verificaveis e ob- s dizia, "obedecem a impulsos muitas vezes individualistas e ime- diatos ¢ quase sempre egoistas" (Torres 1978, pp.116-17). Em uma sociedade onde a liberdade e a igualdade politicas eram entio muito limitadas, como a brasileira na época, © apelo ideolégico a formagio da unidade nacional favorecia os impulsos de reforgo do mito de um poder superior onisciente. A des- centralizagao republicana encerrava, segundo ele, um oder explosivo perigoso: ‘O Estado (federativo) & no Brasil um fa- tor de dissolucdo. A influéncia dos interesses anti-sociais~ criados e alimentadas em torno do poder puiblico, desde as municipalidades até a Unido sobre a vida brasileira é um problema cujas conseqiiéncias nao foram ainda bem com- preendidas pelos observadores da causa puibli- ca. Este regime deye ser substituido por um ou- tro que passa bem orientar a responsabilidade da geracao presente em relacdo ao futuro do Brasil" (Torres, 1978, p.23) maneira particularmente aguda os sentimen- tos de uma certa juventude nacionalista, Destacava-se dentro desta os jovens oficiais das forgas armadas, que manifestaram em varias oportunidades seus descontentamento sobre 0 formato federativo da Repiblica, Com efeito, 0 discurso positivista de Torres, yagens tomada: da biologia, contribuiu para a formagio de um sentimento politico aparentemente ant algumas vezes inspirado em i oligérquico. "O homem, dizia ele, é uma energia viva e a sociedade é a soma de todas s". Ele diri antigas oligarquias sem, entre- tanto, conseguir firmar uma reflexio alterna- tiva sobre a ideologia industrialista: "Nosso nacionalismo néo é nenhuma aspi- ragdo sentimental, nem um programa doutrind- rio que pressupée uma idéia mais forte do sen- timento de espirito patristico. E um simples movimento de restauracao conservadora e reor- ganizadora" (forres, 1978, p.133). Contudo, este movimento nao podia se realizar sem a e laboracao das forcas armadas, pois “@ nacéio ‘que se ressente da falta deste orgao esta conde- znada a ser dissolvida e, se 0 momento ¢ favora- vel, @ ser conquistada por outros povos mais fortes, melhor governados” (Torres, 1978, p.ll?). Torres visualizava uma concepgio do nacionalismo que nutria as aspiragdes de um estado centralizador e suficientemente pode- roso para regenerar a sociedade doente ¢ proteger as massas urbanas angustiadas ¢ acuadas pela ordem tradicional. Um Estado capaz.de assegurar "a protego ao trabalho livre, da iniciativa individual, da pequena produgio e da distribuigao de riquezas". Esta nacionalidade, afirmava ele, a vida de um povo, estimulado pelo calor © a energia de um espirto, pela sauide de uma economia. Nos devemosfundar a economia de nossa patria revelando o espirito dessas ra- cas e tendo em conta sua natureza tropical. Por sso, 56 existe um caminho: aquele de tracar a politica desse espirito. Para tanto é preciso cri- ar uma consciéncia nacional” (Torres, 1978, p. 47) ‘A ambigiiidade do modernismo naci- onalista, enquanto projeto de modernidade para o Brasil, estava presente na heterogenei- dade de aliangas politicas que veiculavam S$ Vezes Opostas, €.£., as as entre civis, militares e oligarquias fundi arias tradicionais contra a burguesia cafeeira Estas contradigdes eram__provisoriamente compatibilizadas unicamente em louvor de alian- A CULruRA POLtncA 00 PATRIARCALI8MO, 45 um mito comum a todo: © Estado protetor, vivido imaginariamente pelos protagoni da época como um Pai s mente poderos mbélico suficiente- © para organizar a moderniza- cdo nacional. A: época condicionada por uma hierarquia de poder piramidal, fundada numa légica parti- cular ssim, a disputa politica era na ‘a ¢ excludente que interditava 0 apa recimento do principio da publicidade, que permitiu 4 burguesia européia, como lembra Habermas (1978), fazer face ao absoluti do Estado pré-moderno. A rigidez da l6gica_patrimonial- a que dominou os acontecimentos de 1930, nos esclarece porque a espada da re- volugo abateu-se justamente sobre as foras que entio veiculavam a mais forte dinamica econdmica no seio da sociedade brasileira da Primeira Republica: aqueles representada pelos produtores ¢ comerciantes de café no Sudeste, principalmente em Sao Paulo. Entre os que foram punidos pelos impulsos cegos da crise politico-militar, encontravam-se os industriais paulistas que pagariam o prego da smo es dependéncia politica frente aos cafeicultores ¢ da impossibilidade de defenderem uma ou- tra outra bandeira mais condizente com os interesses da indistria, Paradoxalmente, entre os vencedores se encontrayam as oligarquias provincianas econémicamente mais atrasa- das, que exigiam uma intervengio e uma protec mais vvidades agricolas tradicionais. Para melhor compre- ender 0 papel destes grupos que legitimam a ordem patrimonialista como um poder politi- co essencialmente conservador € preciso re- fletirmos sobre 0 que comporta o imagindrio do modernismo regionalista. O discurso de Freyre veiculado em algumas obras classicas de sua autoria (Casa Grande & Senzala, So- brados e Mocambo: tua Ordem e¢ Progresso) si- de um imagindrio tradicional fortemente atado ao patriarcalismo. Entretanto, é através do Mani- festo Regionalista onde ele procura atualizar © imaginario patriarcal como fundamento politico da organizagao nacional. - b. Gilberto Freyre eo modernismo politico regionalista O movimento intelectual co servador portadoras do Norte ¢ do Sul (¢.g., Rio Gran- de do Sul, Pernambuco e Bahia) que repre- sentavam, até a emergéncia internacional do café no século XIX da vida econdmica, cultural e politica do Brasil. A descentralizagao republ censio dos cafeicutores sobre a politica naci- onal nas primeiras décadas do atual século provocaram uma reagdo das oligarquias poli- ticamente marginalizadas na cena nacional, Estas tinham dificuldades com a experiéncia da autonomia decisional inerente & economia capitalista, e que era in- centivada pelas possibilidades dos estados federativos poderem até mesmo negociar di- retamente seus empréstimos com paises es- trangeiros, como atestou Dennis (1909). As sim, a reagio regionalista voltou-se para o fortalecimento das tradigdes culturais afim de provar a legitimidade suprema ¢ a atualidade do espirito regional e tradicional na constitu- igdo do verdadeiro homem brasileiro. Ai se encontra 0 elemento central que vai alimentar importantes referéncias sana e as de convivén © modernismo regionalista e a produgio do Nordeste como um mito importante para a construgio do Estado modernizador. Os principais problemas deste movi- mento sio aparentemente similares aos do modernismo nacionalista, como a critica A organizagio politica da Primeira Repablica e a recusa aparente da influéncia das idéias es trangeiras, que era considerada como um dos grandes fatores responsiveis pela instabilida 46 Paulo Henrique N. Martins de social e pelas dificuldades na criagio de uma verdadeira cultura nacional, Mas as coincidéncias desaparecem logo que se constata os fins que motivam um e outro mo- dernismos Apesar de cimplice da Tradigio, 0 modernismo nacionalista tina uma dinamica inovadora, uma cumplicidade com o urbano e com os novos estilos de vida. As pressdes das massas_urbanas estavam presentes no lado moderno da modernizagdo conservadora, O modernismo regionalista esteve, pelo contri- rio, voltado para o passado, e para a preser- vagdo das formas politicas patrimonias tais como 0 mandonismo, pregando a conserva- ¢Go dos simbolos culturais baseados sobre o agrario, sobretudo aqueles da escravatura e do "caudilhismo". Dai Freyre afirmar que tal como 0 nordestino, o narcisismo gaiicho the dava alegria "por contemplar um progresso que nio destruia sua personalidade regional" (Freyre, 1941, p.248). Sem exagerar, pode-se dizer que as duas vertentes do debate intelectual aqui as sinaladas usavam como estratégia de legiti- popular a definigdo de um mesmo inimigo externo que terminou sendo encama- do pelas classes cafeeiras. Também propunha uma representagdo autoritiria e conservadora (0 do patriar- smo ¢ tentar suprimir a questo da cida~ dania que implica, como (1993), em uma série de pr da Nagio, ao louvar a renové c lembra Tumer condigdes estru- turais ¢ culturais, e.g., uma cultura citadina, um trabalho de secularizagio, o declinio dos valores particularistas, a emergéncia da idéia de esfera publica e a erosio dos acordos pri- vados na gestio do Estado-nago. O veto oli- garquico 4 cidadania foi justificado, logo, pela elevagiio da questio racial ao cume do debate sobre modernizagiio e formagio da identidade nacional. Por tras do movimento regionalista, identifica-se, consequentemen- te, uma reag%io conservadora contra as trans- formagGes historicas da época, que eram tes- temunhadas pela expansio dos grandes cen- tros urbanos e pelas novas reinvidicagdes so- ciais. Esta reagdo oligarquca estava centrada sobre dois pontos: a dominacao politica cres- cente dos paulistas e 0 sistema politico des- centralizador. No seu Manifesto Regionalista, inspi- rado numa manifestagdo cultural de 1926, em Recife, Freyre conseguiu exprimir de uma maneira bastante clara os fundamentos do pensamento conservador e oligarquico. O ra- iocinio de Freyre apoiava-se em dois pontos: © primeiro fala da disputa politica direta entre as oligarquias tradicionais e os empre paulistas como de um problema importante mas secundario no contexto mais global da manuteng3o da ordem politica. Essas dispu- tas, dizia ele, seriam antes de tudo "nobres" ¢ se ai encontravam-se_ interes sto viria daqueles que queriam_o ‘estadualismo" (reinvidicagao dos paulistas) segundo ponto revela o desejo de isolar, a priori, todas as interpretagdes que podiam sugerir uma vontade politica separatis parte das provineias do "Norte": "A maior injustica que se poderia fazer a tum regionalismo como 0 nosso seria de con- fundie com 0 separatismo. o bairrismo. 0 anti internacionalismo, 0 anti-universalismo ou ain- da 0 anti-nacionalismo. Este regionalismo de clara-se contra todo 0 separatismo qualquer ‘que seja ele e por uma unidade ainda mais des- envolvida que a atual e precaria unidade bras Ieira; ele visa ultrapassar 0 estadualismo. Esse estadualismo, que fot infelizmente desenvolvido e certamente encarnado nesta Republica pelo separatismo, deve ser substiwide por um novo sistema mais flexivel. no qual as regides mais {importantes que o Estado considerado indivi dualmerte. completemse © se integrem ativa ‘mente e criativamente numa verdadeira organt: zacao nacional” (Freyte, 1966, p.32) ios A CULruRA POLtnCA DO PATRIARCALISMO a E a partir do "regional mo tradicio- nalista-modernista", expresso elaborada por Freyre para designar 0 movimento, que o Nordeste tomou-se um mito secular funda- mentalmente para a instituigdo do poder na cional. A idéia de Nordeste, tal como ele a formula, submete-se expressamente 4 de Na- 40 através de uma constelagio simbélica na qual o mito da Nagao ganha visibi vés de uma hierarquia de elementos, as Regi- dade atra- Ges, reveladora da unidade nacional. Freyre procura reforgar a leitura da Nacdo vendo-a como uma matriz cultural espacial, ie, 0 produto de uma soma de territérios regionais. Isto Ihe permitiu minimizar o problema da cidadania na obra da nago modema e de re- afirmar 0 imaginario patriarcal comunitario. Por esta operagdo intelectual, a tradigao cul- tural patrimonialistavalorizada _enquanto elemento importante de identidade nacional, enquanto outras varidveis propriamente reve- ladores do moderno, como as manifestagdes sociais auténomas, como nos lembra Godoy, foram deixadas em segundo plano (Godoy, 1984, p.23). "E 0 conjunto destas regides que formam verdadeiramente o Brasil", dizia o Mestre de Apipucos. ‘Nés somos um conjunto de regives antes de ser uma unio arbritéria de estados, uns maiores, outro menores, ocupados em se comdaterem neste momento, da mesma maneira que cortos Estados: a Bulgaria, a Sérbia e 0 Monte Negro. Estes estadas brasileiros se com portam como partides politicos - Sao Paulo ‘contra Minas, Minas contra Rio Grande do Sul « numa trama muito perigosa em favor da unida- de nacional” (Freyte, 1966, pp-32-3). Entre as Regiées, Freyre toma como exemplo o Nordeste devido a importancia que conheceu no pasado: “E provavel que nenhuma regio do Brasil ultrapasse 0 Nordeste por sua riqueza de tradi- cées ilustres e sua superioridade de caracteris ticas. Muitos valores regionals tornaram-se va lores nacionais, menos por sua superioridade econémica do agticar do Nordeste que pela se- ducdo @ a fascinagao estética destes valores. Como poderiamos explicar, entio, que nds, os {ilhos de uma regido tao criativa, abandonaria ‘mos agora as fontes e as raizes dos valores e das tradigdes das quais 0 Brasil inteiro se re- godija e se beneficia como valores basicamente rnacionais” (Freyre, 1966, pp.34-5) Entre estes valores, a autor nos lem- bra a presenga do homem mulato do Nordes- fe, como a expressio mais auténtica do ho- mem brasileiro, Freyre contribuiu decisivamente para uma definigio "cientifica" do Nordeste, que serviu para orientar a reorganizagio do poder oligarquico nas relagdes de forga presentes a0 nivel do poder central. As oligarquias tradici onais e periféricas declararam-se como forga nica sobre o plano nacional, legitimando-se pela nece tais do Nordeste perseguido, despojado in- justigado e abandonado pelos poderes publ dade de defesa dos interesses ge- cos. Assim, as oligarquias fundiarias conse- guiram se “atualizar" no jogo modernizador de um lado, reforgando as antigas formas de controle politico local e, por outro lado, neu- tralizando parcialmente as reagdes transfor madoras de lutas urbanas. E este mito brasileiro moderno in: tuido a partir da valorizagao da tradigao co- lonial que, por sua forga, orientou a ordem patrimonialista e legitimou as estratégias politicas das oligarquias tradicionais. A partir de 1930, com a criagdo de certos organismos pensados como meios de intervengao federal nas antigas provincias do Norte, como o IAA (Instituto do Agucar e do Alcool) e o DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca), 0 Nordeste comega a aparecer como simbolo de um Brasil "auténtico" que deveria ser preservado pelas politicas piiblicas que forcavam o planejamento de um novo Brasil (Martins, 1993) 48 Paulo Henrique N. Martins 0 Poder Nacional Brasileiro: algumas consideragoe E dificil para um observador do final do século XX compreender que a cidadania ndo era um tema central da modernizagio nacional na Primeira repiblica e que os direi- tos do homem nao ocupavam lugar privilegi- ado no debate cultural. Se aceitarmos, toda- via, que 0 imaginério social brasileiro encon- trava-se alicergado numa estrutura de poder comunitiria ¢ oligdrquica, legitimada pelos valores racistas herdados do escravismo, po- demos ao menos entender que estamos face a uma experiéncia histérica singular no contex- to da modernizagao mundial, A tentativa de supressio da questo social durante toda esta primeira fase republi- cana era explicada pela dificuldade da ordem politica absorver a simbélica do individuo ‘como um fundamento possivel para a edifica- do da sociedade modema. Pois 0 cariter re- voluciondrio da modernidade depende do fato da sociedade poder se instituir reflexiva e auténomamente através desses individuos por ela gerados (Castoriadis, 1975; Elias, 1983, Giddens, 1991b). Nesta ética, 1930 represen- tou um importante ponto de inflexao do poder patriarcal, na medida em que ele foi obrigado a aceitar as lutas sociais como fatores decisi- vos na regulagiio das atividades politicas Este fato apresentou desdobramentos no pla- no institucional, pois a maquina estatal teve que se adaptar ao fendmeno de complexifica- glo da sociedade civil cuja existéncia nao mais podia ser ignorada pelos governantes. A ctiagiio de um Ministério do Trabalho deve ser citada como um exemplo tipico dessas mudangas assinaladas. Até entdo, a modernizagiio econdmi- ca, politica e cultural ficava no mais das ve- zes restrita a um jogo intra-elites alimentada por um debate intelectual cujos horizontes eram condicionados pela questo da raga e dos territérios de poder dos "brancos". Le., a necessidade de criagdo de novos mecanismos de representagdo a nivel do Poder Estatal para conciliar os interesses oligirquicos heterogé neos terminava aparecendo como algo mais importante que a questo social, a qual, supu- nha-se, encontraria solugiio adequada pelas mios daqueles que'oliveira Viana denomina- va de "oligarquias esclarecidas”” As dificuldade da ordem dominante em aceitar a inscrigdo do texto constitucional republicano no cotidiano politico, era expli- cada pela resistencia dessas mesmas elites de abrirem mao de uma légica de poder particu- larista e inspirada no racismo - que excluia os negros (¢ também os indios) das possibilida- des de serem cidados de direito. Como os problemas da modernizagao nacional eram também o da criago de uma sociedade de- mocritica insinuada pelas lutas urbanas, a re- cusa de negociagdo politica ou da conciliagao arbitrada era muitas vezes seguida de uma repressio brutal e mesmo sanguindria, A aceitagdo do conflito social enquanto expres- sio legitima da sociedade dita modema era, deste modo, simbolicamente interpretada pela ordem patrimonial como a abertura de um precedente que amegava o poder instituido. De fato, o reconhecimento real ¢ ndo apenas formal dos direitos juridicos liberdade ¢ 4 igualdade politica de todos os brasileiros, implicaria mudangas culturais e politicas consideradas insuportiveis e desagregadoras para a unidade do grupo no poder. A questo nacional que motivou o debate cultural em tomo da constituigao da nagao brasileira encontrava-se, assim, cir- cunscrita pelos limites morais e politicos de uma sociedade, que havia optado pela manu- ACULruRA POLtnCA 00 PATRIARCALISMO 49 tengo dos mecanismos de exclusio herdados da tradigdo escravagista. Logo, no Brasil, a rede social ficou grosseiramente delimitada pela distncia que separava res 's superio- - superioridade racial, moral, estética, econémica do branco, - dos "outros" - a mai- oria da populagdo considerada cultural e bio logicamente inferior. O debate cultural ficou também amordacado pela reagao oligarquic ao processo. de modernizagio econémica que tomava a cena politica mai complexa pela entrada dos novos atores so- ciais e politicos. No plano intelectual, esta reagdo apontava para a centralizago do po- der estatal e para a criagio de novos meca- nismos de regulag3o que ndo expusessem em excesso o poder oligirquico as criticas da sociedade civil em formagio. sécio- A partir de 1930, a presenga do Esta- do forte e centralizador, arquitetado nas trés primeiras décadas do século, adquire duas ca- racteristicas marcantes: de um lado, abuse de um discurso politico suficientemente efi- caz para encantar € pos das m: ibilitar a cooptagio sas populares e, de outro, a absorgdo por parte dos anéis do poder estatal da hete- rogenidade ¢ instabilidade das forgas polit cas dominantes que compunham a unidade diretiva do. sis evidenciam a historicidade di refere saudosamente, no plano simbélico, a um Patriarca que continuava a sobreviver nos intersticios da nova ordem urbana. Por con- seguinte, 0 movimento moderista - na jiona- lista e regionalista - nos campos da politica e da cultura, reproduzia este tipo de inquietagao existente no seio das elites, sem que viessem a possuir um cunho efetivamente popular Daniel Pécaut observa que 0 novo formato do Estado produzido por esta reorde- autoritiria do poder dominante em 1930, exprime o desejo de uma autoridade sem limite e que guardaria como nica refe- réncia a organizacao. "Esta é a preservacio da sociedade no Estado e do Estado na socie- dade", Esta interpretagdo, continua ele, "nao se realiza da mesma maneira quer se trate das massas populares ou dos segmentos organi- zados da sociedade". No primeiro caso, 0 Estado deve civilizar e enguadrar: © autori- tarismo & a resposta a um anseio técito do povo que deseja que Ihe apresetado uma ima- gem de sua unidade . . . A organizago é en- io a relagdo, sem mediagio, do Estado com © povo, relagdio que confere ao Estado a pro- priedade de ser um Estado nacional e popu- ar. “No segundo éaso, dos segmentos organi: zados, © corporativismo se traduz por redes instiucionais através das quais os interesses variados so articulados pelos conselhos técni- cos e as elites, as mais diversas, obtém os meios de coexistir na esfera do Estado" (P écaut, 1989, pp-t-s) A crise de 1930 resolveu 0 debate modernista ¢ modernizador através de uma formula autoritéria pela qual a cidadania foi transformada numa questo de representagao profissional, 0 que levou Santos (1979, p.75) a sugerir © conceito de "cidadania regulada" para explicar este caso. Assim, Sao Paulo, base politico do interesse dos cafeicultores (mas também dos novos empresirios da in- diistria), foi atingido no corago pelo ardor golpista, sendo este estado federativo acusado por Vargas de ser o principal inimigo do movimento “Aqui, a divisao territorial oi fetta prati- camente de maneira arbitréria sobre 0 mapa Certos estadas nem mesmo possuiam as condi- ¢6es politicas para tornar-se estado. Durante anos, apenas certas provincias prosperaram. Nosso governo federal ficou sem controle, os ‘governos dos estados federais perderam sua ‘auloridade © ai que comecou a epoca dos dis- hirbios, das rebelides e de revolucdes que atin- 50 Paulo Henrique N. Martins giram seu ponto culminante sob 0 governo de Bernardes. A reforma constitucional praticada em 1924, da qual participei como lider do Rio Grande io Sul. tinka por objetivo reforcar 0 poder executivo Ihe dando capacidade de reagir contra a desordem... Foi uma reforma de ur- .géncia e nds no consultamas ag aspiracdes po- pulares do povo brasileiro. As inquietacées progrediram e a revolugao de 1930 explodiu" (peixota 1960, p.248), A representagdo do Estado como uma instincia institucional "neutra", fundada so- bre regras "racionais" e governada por um corpo de elites burocratas "competentes" nos planos técnico e politico, surgiu como formu- la ideolégica atraente para organizar a fratura politica intra-elites. Por isto, o Estado ganhou visibilidade como referéneia mitica importan- te na operacionalizagdo da modemizagio conservadora no Brasil, a partir da quarta dé- cada deste século, O Estado enquanto encar- nago politica do Patriarcalismo, supostamen- te dotado de todas essas qualidades: morai encontrava-se, em consequéncia, devidamen- te "legitimado” para coordenar a obra de constituigo da "Nagao" brasileira na passa- gem para uma ordem propriamente urbana e industrial. 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