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“DESPACHO INTERNO” e FICHAS DE AVALIAÇÃO ILEGAIS

O “despacho interno”, de 7 de Abril do corrente ano, assinado pelo Secretário


de Estado Adjunto e da Educação (Jorge Pedreira) quer passar por cima do E.C.D.
(Dec.-Lei 15/2007, de 19/01) e do Sistema de Avaliação (Dec. Reg. nº2/2008, de 10/01).

1-As “Fichas de Avaliação” que constam dos anexos II, III, V, VI, VII, VIII, X, XI, XII, XIII e XIV, do
“despacho interno” de 7 de Abril do corrente ano, assinado pelo Secretário de Estado Adjunto e
da Educação (Jorge Pedreira) não podem ser consideradas letra de lei.

O conteúdo deste “despacho interno” contraria o definido:


1- No Artº 45º do Decreto-Lei 15/2007, de 19 de Janeiro (Estatuto da Carreira Docente);
2- Nos artigos 17º e 18º do Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro (Sistema de
Avaliação de Desempenho);
3- Nas “Recomendações sobre a elaboração e aprovação pelos conselhos pedagógicos de
instrumentos de registo normalizados previstos no Decreto Regulamentar nº 2/2008”; assinadas
pela Presidente do Conselho Científico para Avaliação de Professores, em 25 de Janeiro de
2008.

Este “despacho interno”, não pode impor alterações ao Sistema de Avaliação dos Professores.
Cá está UMA DAS SUAS ABERRAÇÕES (ponto 6 do seu Anexo XVI): “Para efeitos de
classificação, podem os agrupamentos de escolas e as escolas não agrupadas, por decisão do
presidente do conselho executivo, sob proposta dos conselho pedagógico, agregar, combinar ou
substituir os itens ou indicadores de avaliação, sem prejuízo da realização da avaliação da
função ou actividade a que se referem e do respeito pelas ponderações dos parâmetros
classificativos”.
Ora, de acordo com o E.C.D. sabemos que quem constrói e aprova os instrumentos de
avaliação dos docentes é o Conselho Pedagógico.

OUTRA ABERRAÇÃO deste “despacho interno” pretende ir além daquilo que é definido na lei.
Veja-se, a título de exemplo, a inclusão, no Anexo XIII, de itens de avaliação das
“compensações”, das “permutas” e da “preparação das substituições”.
As "compensações" extravasam aquilo que é a competência/dever do docente.
As “permutas” já são avaliadas na “assiduidade”.
A “preparação das substituições” nem sempre é viável, nomeadamente quando o docente não
prevê faltar.
Acresce ainda o facto destes novos itens de avaliação contrariarem o estipulado no artº 103º do
E.C.D., pois retiram-lhe efeito útil. A título de exemplo: um docente ao repor uma falta por greve,
anula o objectivo da mesma; além disso irá trabalhar sem receber.

Os parâmetros de classificação dos docentes estão definidos na lei. Os docentes, através dos
seus representantes no Conselho Pedagógico, participam na elaboração das suas fichas de
avaliação, como refere o artigo 6º, ponto 2 do Decreto Regulamentar nº 2/2008 de 10 de Janeiro:
“os instrumentos de registo (…) são elaborados e aprovados pelo Conselho Pedagógico
(…) tendo em conta as recomendações que forem formulados pelo Conselho Científico para
Avaliação de Professores”.

NOVA ABERRAÇÃO: a escala de classificação quantitativa de cada uma das menções


qualitativas das fichas de avaliação não é congruente com a que é apresentada no ponto 2 do
artigo 46º, do Estatuto da Carreira Docente (Decreto-Lei 15/2007 de 19 de Janeiro) e no ponto 2
do artigo 21º, do Decreto Regulamentar nº 2/2008 de 10 de Janeiro.

O Sr. Pedreira faz letra morta das recomendações dadas pela Presidente do Conselho
Científico para Avaliação de Professores (CCAP), a qual escreve: “(…) formulo, na qualidade
de Presidente do Conselho Científico para Avaliação de Professores algumas recomendações
gerais (…) destinadas a apoiar o processo de concepção e elaboração dos instrumentos de
registo previstos no nº 2 do artigo 6º do Decreto Regulamentar nº 2/2008 (…). Caberá a cada
agrupamento de escolas ou escola não agrupada no quadro da sua autonomia, interpretar
estas recomendações, tendo em conta a sua realidade concreta e os objectivos e metas que
se propõem atingir, bem como definir o número e a natureza dos instrumentos que melhor
se adeqúem ao seu caso específico”.

Segundo o Decreto Regulamentar nº 4/2008, de 5 de Fevereiro (Definição da Composição e do


Modo de Funcionamento do Conselho Científico para Avaliação de Professores), no que diz
respeito às suas atribuições, diz no seu artigo 3º: “No âmbito da sua função consultiva o
Conselho Científico para Avaliação de Professores formula recomendações, orientações,
pareceres e propostas (…)”.

O Sr. Pedreira mata os esclarecimentos dados pelo “BOLETIM DOS PROFESSORES“


(número 10 de Abril de 2008) elaborado pela Secretaria-Geral do Ministério da Educação, o qual
foi distribuído, nas escolas, a todos os professores. Este boletim, relativamente às questões:
“Quem elabora os instrumentos de avaliação? Quem controla a qualidade das fichas?”,
responde o seguinte: ”Os instrumentos de registo para efeitos da avaliação do desempenho
docente são elaborados e aprovados pelos Conselhos Pedagógicos das escolas, tendo em
conta as recomendações que forem formulados pelo Conselho Científico para a Avaliação de
Professores. Cada escola e o conjunto dos seus professores têm, por isso, autonomia para
definir o que é observado e avaliado. A qualidade das fichas é controlada pelos
professores no Conselho Pedagógico”.

Assim, não cabe ao Sr. Pedreira criar regras rígidas, impor decisões sobre os instrumentos de
avaliação dos docentes, quando a lei e as orientações do CCAP permitem abertura,
elasticidade, e adaptação à realidade de cada escola/agrupamento.
Isto é, temos leis e orientações da tutela que permitem a construção dos instrumentos de
avaliação de forma participada, no entanto o Sr. Pedreira quer impor as “suas regras”, as quais
estão carregadas de incongruências.

Aqui vai MAIS UMA ABERRAÇÃO: As fichas de avaliação deste “despacho interno”, assim
como as da Presidente do CCAP, confundem “Nível de Assiduidade”, isto é, percentagem de
aulas dadas, com “Cumprimento do Serviço Distribuído”, isto é, grau ou nível de execução das
tarefas e funções atribuídas ao docente.
Assim, pretendem avaliar, em simultâneo, dois parâmetros que dizem respeito a aspectos
distintos.
O número 1, do artigo 18º do Decreto Regulamentar nº 2/2008 de 10 de Janeiro diferencia muito
bem estes parâmetros: “Na avaliação efectuada pelo Órgão de Direcção Executiva os
indicadores de classificação ponderam o seguinte:
a)- Nível de assiduidade - aprecia a diferença entre o número de aulas previstas e o número de
aulas ministradas;
b)- Serviço distribuído - aprecia o grau de cumprimento de serviço lectivo e não lectivo atribuído
ao docente, tendo por referência os prazos e objectivos fixados para a sua prossecução”.

Quem pretende dar orientações sobre a avaliação de docentes tem de estar imbuído de espírito
democrático, possuir conhecimento técnico, ouvir os professores, ouvir os especialistas na
área, amadurecer ideias, experimentar e avaliar os modelos.

Podemos dar crédito a um “despacho interno” que contraria a legislação e os esclarecimentos


e orientações dadas pelo Ministério da Educação em documentos informativos.

Podemos dar crédito a um “despacho interno” que contraria e desautoriza a própria Ministra da
Educação nas entrevistas dadas à comunicação social sobre a simplificação de processos e
autonomia das escolas/professores na concepção dos instrumentos de avaliação.

Podemos dar crédito a um “despacho interno” que contraria o “entendimento” com a Plataforma
Sindical?

Podemos dar crédito a um “despacho interno” que contraria o projecto-lei, já aprovado em


Conselho de Ministros, que formaliza o “entendimento” com a Plataforma Sindical?
Estamos num estado de direito. Sabemos que é inconstitucional um “despacho interno”
alterar as directrizes e orientações de um Decreto-Lei e de um Decreto Regulamentar.

- ESTÁ NA HORA DAS ESCOLAS E OS DOCENTES DESPACHAREM ESTE “despacho

interno”.

- COMO?

- SIMPLESMENTE IGNORÁ-LO.

Carlos Pereira (Braga, 5-5-2008)

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