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Novos bens para novos tempos: por uma teoria coerente e unificada dos bens 4 _______ sone enerue 1.A pretensa simplicidade dos conceitos basilares & Tes negociadominial: uma nova face para os bens. Geral do rete. 2. Alem de Ambito 1. A PRETENSA SIMPLICIDADE DOS CONCEITOS BASILARES, [A TEORIA GERAL DO DIREITO Segundo definigdo de Caio Mario da Silva Pereira, “bem € tudo que nos agrada: 0 finheiro & um bem, como o é a casa, a heranca de um parent, a faculdade de exigit uma prestacéo; bem & ainda a alegria de vver 0 espetéculo de um pOr-do-sol, um trecho musical ‘bem é onome do individuo, sua qualidade de iho, o direito 8 suaintegridadefisca e moral”! ‘adavia, conforme se apressa em advertir 0 eminente jurista, "se todos sao bens, nem todos s0 bens juridicos |.) {pois} escapam a sua configuragdo os bens moras, as solicitagées estéticas, 08 anseios espirtuais” ? Da ligdo exsurge que, a exemplo do que sucede em relacio ao rol de entes que devam ser reputados pessoas no ambito juriico, o direito néo se limita a apossarse tao-somente do conceito de bens, tal qual se acha engendrado no mundo fenomenclégico. Antes, «, através da 0 literal do “mento vetor wo &, nesse Jecrculagao >, percebe-se 2 8 distingao icularidades, sespreza seu diritoretira importancia les nas suas veservar seu. Jade juridica RrDC + VoL. 23 + JuLiser 2005 Embora no tenha 0 Cédigo Civil de 2002 repetido o preceito depositado no art. 69, do antigo diploma codificado, referente s coisas que estio fora do comérci, tal categoria perdura entre nés, visto que insita 8 qualificacdo conceitual dos bens. Esse artigo declarave ilidade jeto do évalida umana, que a >ropria- toda a Je, ndo or seu rads >rofl de RrDC « VoL. 23 + suLiser 2003 Poder de uso ou de troca. Nao preenchendo, portanto, o primeiro requisito antes elencado, ‘4 n30 poderiam ser reputados bens de todo modo. Ponderagées de igual natureza aplicam-se ao requisite da limitabilidade. Taduzindo esse ‘ sujeito tase 327 a dtiano 1.mas, snte-se agora, a mais usceti- » onto- RTDC + VoL. 23 « JuLser 2005 toaica soja considerada bem, importa que tenha algum valor, isto é, seje eputado juridica- mente relevante por seu valor exclusivamente de uso ou de troca au de ambos conjugados, ‘Assim, no serdé bem aquilo que seja inservivel ao homem, tal como um gro de areia, uma folha calda ou uma carcassa de peixe arojada 8 praia”? Nao influem nessa caractetizagso, 8 tangibilidade, a dimensio ou mesmo a obsolescéncia do bem, como, a contrario sensu, evidenciom, respectivamente, as energias, a pepita de metal precioso e a sucata.2° Ressalie S®. pot fim, as nodes de uso e de toca s8o utels ndo apenas para divimir as fungées Patrimoniais, mas, antes, para separar a pr6pria nogao de bem daquela de pessoe, A pessoa pode ser valorada sab diferentes angulagées, positvas ou negatvas, concernentes 3 estima, admiragao € ao conceito que se tem de sie dos outros: a ela ndo se pode, porém, imputar ‘qualquer valor de uso ou de troca, em termos juridicas Esta espécie de valoracdo &, portanto, exclusiva dos bens ‘Aexposicéo efetuada ¢reveladora do enorme descompasso entre as teories udidas para 05 elementos da relacao juridica: enquanto as pessoas e os fatos jurtdicos vem amparados or construcoes de refinado arcabouco doutrindrio, os bens carecem de uma teoria que thes harmonize o estatuto. Continuam a ser usualmente abordados por meio de um rasteito sistema classficatorio, que, embora essencial 30 manejo de diversas estruturas do Direito Obrigacional e do Direito das Coisas, nem de longe espelha, como vimos, as perpleridades que a categoria desperta Um primeiro passo para a reconsideracéo da teoria dos bens &, como vimos, romper com a infrutifera sinonimia que se the impoe com 0 objeto de direito. Depois, apartada a teoria 2 Cl. ASCENSAO. Direte., cit, p. 346, 39 FABIO UHOA COELHO. Curso de Dirito hiv. 1, S8o Pale: Srove, 2003, p. 265, entende que bers ave percem valor tornam-se coisas. A par da equivecidade cegistrads nos dversos ordenamentos Iwiticos entre os termos bem e coiso — dticuldade esta obviada pelos editores do Cécigo Civil de 2002 —nio julgamos apropriads a dsincBo proposte, na medida em que o autor emprega o vocsbuo valor (sentido meramente cologuia, de menos-al, divers, portanto, da sgniticaco fioesica aqui smoregade, Ademais, a thuo de curosiade, a revista Vj recentemente noticioy que "a demands por Produtos sdersrgicas ficou t80 forte ao longo de 2004 que o preco da sucata trplicou enti janelo e Sezembro nos Estados Unidos e no Bras. Cf. A vez do fero-velho,Vej,Sé0 Paulo 1.886, ano 38, 9-36, 5.1.2005, A aotéia expansdo das indastias de recidagem de materials apontam no mesmo sentido, evidenciando que tas produto, ainda que nto mais serves a seus pronésitos orgindvos, ‘eatinuam a possuir valor de tocs, que, como visto, pode até mesmo superar as expectalves de nossa sodedade de consumo, RIDE + Vou. 23 + suL/seT 2008 do objeto de direito, cumpre unificar 0 estatuto juridico dos bens, depurando o conceito de bem de todo e qualquer acréscimo cuja validade ndo seja referendads, em uma visso sistemica, por todo ordenamento juridico atual, E que se opere tal mudanga de maneita breve, sob pena de, em pouco tempo, ela revelar-se inservivel: para alguns visionétios, hd bens que, 1na viragem do antropacentrismo para o biocentismo, esto préximos a emancipar-se de sey valor de uso ou de troca, para galgarem a posi¢ao de sujeito de direitos... Para as realidades -atuais € para essas novas e desafiantes questoes, atente-se, pois, para a adverténcia: "Vinho novo se coloca em odres novos, e ambos se conserva” (Mt 9, 17).>" SIMONE EBERLE Mestre e Doutorands em Diteito Ci pla Universidade Feral de ‘Minas Gerais. Professora de Direito Civile Hermenéulice Judi m0 Urileste-MG. Ex-professora assstente de Dito Cie Dito Empresarial na Universidade Federal de Juiz de Fra, Tabelis de Protas 31 Biba do Peregrino, NT. Evangetio Segundo Mateus. Sto Paulo: Paulus, 2002, p. 2337.

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