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ATERCEIRARDADE Estudos sobre Envelhecimento Be ae ue es Ot Port Presidente do Conselho Regional siren Dee Pee en arcs Se Poke oer ere ne ea cy ecu eran eit Ferrera ed pave) Reet co een ee el Reeders AAdriese Castro Pereira, Celina Dias ee uw sy Brasileiro, Fernanda Fiatho, Francis Marcio Alves Manaoni, Lourdes ee eee Rogers eke aera a reeks Peo eeta ai? eee es Cees eet Cree an Pree er cars eerie ee es eee hc ety Pee eer Dieta oot Nota: As opinides e afirmagées contidas fem artigos e entrevista publicadas Pe eee reece) ees eee eg Bice eee at te Sites rece Servigo Social do Comércio come Cee crac bo eet Ro eee ere eco ees eee ey eer ny eee ee eee) ene ee tony Doce ee ee ee coe ee cet ee Ce Peco Pe epee ey end 20 302.604 ee ra Seg te thet) ea) Se eee er! Pea Cee ere tiary a Sumario Empowerment e idosos: uma reflexio sobre programas de educaciio fisica Claudia F. dos S. Ronqui Pinheiro e Maria Luiza de Jesus Miranda Os meios de comunicacio social e 0 empoderamento da 3' Pedro Celso Campos 0 idoso como protagonista social José Sterza Justo, Adriano da Silva Rozendo, Mariele Rodrigues Correa Falas sobre a velhice: entre 0 perceber e o ser idoso Vera de Fatima Gomes de Assis e Denise Martin Reflexes sobre o “Projeto 3° idade” do Tribunal de Justica do Ceard, que regulamenta o direito de prioridade processual Alexandre de Oliveira Alcantara Entrevista com o esportista Wlamir Marques 0 idoso como protagonista social JOSE STERZA JUSTO ‘ADRIANO DA SILVA ROZENDO: [MARIELE RODRIGUES CORREA? RESUMO SS © envelhecimento da populacdo traz consigo nao apenas demandes bs eecet tna Especiais de servigos piblicos e de investimentos. Traz, sobretudo, pro- Social pela UCSPe ine decent om gs fundas modificacdes nas representacdes da cultura, nas prticns sevens fe Dosenctrienes 4 ny fascere © nas formas e figuras de subjetivacdo. 0 Brasil, habituado a se ve, sob: Saeco verann Jovialidade, comegou a se defrontar com as crescentes ima, geanaean Phos gens de idosos, espelhando seu 33 FOL (Unesp), Asis tinha 0s jovens como protagonist: Proprio envelhecimento, De pats que Gusts 2 pola 'as principais, passa a ser protagoniza- Coes Hate do também pelos mais velhos. 0 cendrio social eas histories que at Sat desenrolam passam a contar COM esses outros atores nos quais as marcas eel eo tempo se aprofundam, antes completamente destitudos de quetsuee “pn Palco, visibilidade ou Protagonismo social. Este artigo teve como ob- ae iowa Jstive enfatizar a importancia do idoso como protagonista, ancticanda _ EGE nate Sar tao or oe tTes Baa 2 construcdo da grande narativa que interiga Senses todos 0s atores sociais. Para tanto, buscamos mapear a forma como o Seek tease eee, Icoto § tratado e sua participacto no centri social, na legisache c feaeeens Urey nos Consethos do Idoso. Contudo, a Populacao idosa, convocada = ser rozendoadriano@aol.com Protagonist de sua propria vida, muitas vezes sio reservados papéie ax foes. Personagens secundaros. See Palavras-chave: Protagonismo, participacéo social, empoderamento, ae ‘grupos de direitos e cidadania, sareleconengbolcon br $40 Paulo | 24m. 48 |, 36-53 jul 2010 a TeRceiea wave 39 ABSTRACT ,, ——— The ageing of the world population not only creates demands for special public policies and investments, but also causes deep changes fn cultural representations, social practices and subjectivity forms and figures. Accustomed to identify themselves as a youthful people, Bra- zilians are increasingly being exposed to images of elderly people as a result of the aging of the Brazilian population. In the past, Brazi’s main protagonists were young people. Today, elderly people have become co- protagonists of a new culture. Elderly people are now incorporated into the social dimension and their lives are no longer deprived of visibility or social relevance. This article aims to emphasize the importance of elder- ly people as social protagonists, analyzing how they contribute for the construction of the great narrative that interconnects all social actors. To this end, we sought to map out how elderly people are treated by so- ciety and how they participate in the social arena, as well as in the legal system and in senior citizen councils. However, despite these changes, elderly people are often relegated to positions of secondary importance. Keywords: protagonism, social participation, empowerment, rights and active citizenship. INTRODUGAO Ao se falar da velhice, hoje, lugar-comum se evacar 0 estiramento da longevidade e o aumento da proporcao dos mais velhos na piramide populacional como indicadores do peso e da importancia desse segmento no cenario social. Indubitavelmente, o aumento da propor¢ao dos mais vethos na piramide populacional foi o fato desencadeante da visibilidade social da velhice, mas o impacto maior dessa alteracdo demografica sao as mudancas qualitativas que inevitavelmente desencadeiam. Mais do que um contingente populacional que passa a onerar o sis- tema previdenciario, os servicos de saiide e outros setores da sociedade e do Estado, a ascensio dos mais velhos traz outra forma de olhar a vida e 0 mundo, outras praticas sociais, ritmos, valores, crencas, simbologias que modificam profundamente a cultura, a economia, a politica e demais di- So Paulo |v 21 | n.48 |p 39-53 Jul rercerma wane 41 mensées da sociedade. 0 Brasil, um pats habituado e se ver e De som GRADO OU NAO, A a agir como jovem, seguramente sofreré um impacto profundo CULTURA BRASILETRA TERA DE dessa inevitével revisao de si com a infiltracéo no seu interior INCLUIR A FIGURA BO T00S0 de imagens ligadas & velhice, sejam elas quais forem. NO CENARIO DO PROTAGONISMO 0 pais que se via como jovem, e por isso mesmo se re- SOCIAL, ATE ENTAO DOMINADO FELA —presentava como pats do futuro, da vitalidade, do dinamismo, PERSONAGEN 00 JovEN. Esta da criatividade e assim por diante, teré agora de assimilar ‘A DISCUSSAO QUE PRETENDEMOS _outras caracterfsticas e imagens trazidas pelo espectro do seu REALIZAR AQUT: FOcALIZAR _envelhecimento. Terd de integrar a velhice como parte de seu 1s IMPLICACOES DA INsERGKO _fetTato, como parte do delineamento de suas feicdes e como 0s MAIS vELHos como aTones _Participe da construgéo de seu destino, De bom grado ou nao, soctars, 2 cultura brasileira teré de incluir a figura do idoso no cenério to protagonismo social, até entdo dominado pela persona- gem do jovem. Esta € a discussao que pretendemos realizar aqui: focalizar as implicagées da insergzo dos mais velhos como atores sociais. Para levar adiante 0 propésito deste artigo e discutir 0 papel © a fungio social do idoso na atualidade, vamos operar com o conceito de protagonismo, bastante utilizado ultimamente em substituicdo & nogio de sujeito. Por que protagonismo € nao subjetivacao ou outro conceito que permita pensar 0 idoso como parte ativa do processo social? Protagonista e protagonismo so palavras comumente utilizadas no campo da literatura, empregadas para se referir a personagens de uma historia e que sdo responsaveis pelo desenrolar do enredo. No campo das Ciencias Sociais, essa palavra tem sido usada como uma variante do termo “sujeito” para designar grupos ou conjuntos de atores que desen- cadeiam acdes, que se colocam ativamente na construgao da historia (MINAYO, 2001). [A propria expresso “atores sociais” esta sendo amplamente usada também no lugar do antigo “sujeito”, numa referencia clara ao entendi- mento de que a sociedade se caracteriza como um cenério de aconteci- rmentos parecido com o de uma pega de teatro. Essa linguagem que tende a tomar emprestados alguns termos das artes dramaticas e da literatura nao o faz por acaso. Pertence a teorias do campo da Sociologia ou da Psicologia que privilegiam a linguagem e a narrativa na constituicdo do homem e do seu mundo. 42 a reRctIRA IDADE io Paulo | v.24 |n. 48 | p 38-53 | jl 2010, 0 construcionismo social pode ser tomado como exemplo [AS PALAVRAS DISPOSTAS NO dessas epistemotogias que colocam a linguagem e a producso de sentido no centro da mundanalidade (GERGEN, 1982). Desa TEMPO E NO ESPACO, DENTRO DAS perspectiva, a realidade como algo independente e apartado _CONVENGDES DE UMA LINGUA, do homem falante, se existe, no pode ser conhecida, 0 ho- FORMAN AS NARRATIVAS PELAS ‘mem no mantém contato direto com as coisas que 0 afetam QUAIS 0 HOMEM SE APREENDE COMO ou com uma reatidade extralinguistica. O homem é investido e TAL € APREENDE SEU MUNDO. revestido pela linguagem de tal forma que seu contato com 35 — coisas € um cantato inevitavelmente mediado pela linguagem. Tal como enfatiza Merleau-Ponty (1999), até mesmo a mais elementar percepcao vem acompanhada de significacdo, sem a qual o objeto nao seria recortado e discriminado de um conjunto indiferenciado de coisas, como tal incapaz de ser capturado pelos éraaos do sentido. © organismo, portanto, nao age e reage aos estimulos que chegam a le com suas propriedades fisicas, mas sim reage ao sentido e 0 sentido depende da relagdo estabelecida entre ambos. Alegoricamente poderia- ‘mos dizer que o homem reage a conota¢do das coisas e néo & sua denota- fo, ou seja, o homem é, sobretudo, o ser da subjetividade, esta entendi- da como um proceso de apreensdo, elaboracéo e devolugdo daquilo que transita no seu relacionamento com as coisas ou com os outros. 0 universo do homem, como universo de signos ou da linguagem, coloca como tarefa primordial a organizacéo das palavras no tempo e no espaco ~ base fundamental da experiéncia humana -, ou seja, a producao de narrativas. As palavras dispostas no tempo e no espaco, dentro das convencées de uma lingua, formam as narrativas pelas quais 0 homem se apreende como tal e apreende seu mundo. Os mitos antigos so os exemplos maiores de grandes narrativas que davam inteligibilidade a0 proprio homem e ao seu mundo. Formavam a base do conhecimento, transmitida de geracdo em geracao e preservada tendi- como fonte primordial de orientacio dos povos no seu tempo e espaco, htect- sem a qual a vida ndo seria possivel, vende Tal como enfatizam Goolishian & Anderson (1996), constituimo-nos ratura ¢ habitamos um mundo de narrativas, de historias que nos dao a refe- ou da réncia de quem somos, de nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Bo do Segundo o autor, apreendemo-nos pelas historias que contam sobre nés e pelas historias que nés mesmos registramos em nossas vidas. A convi- vvéncia com outros os inclui como participantes de nossas historias, das ‘Sto Paulo | v.21 | n. 48 |p. 39-52 | jul. 2000 a TERCKIRA DADE 43; narrativas sobre nés, da mesma forma que participamos das narrativas constitutivas dos outros. podemos pensar a vida como uma histéria, a semelhanca dessas cria~ das pelos escritores em seus romances ou até mesmo daquelas criadas por diretores de novelas de televisdo. Estamos no mundo como personagens ide uma grande histGria, como atores de um drama ou de uma trama. Ex tem aqueles, tal como o diretor, que detém um grande poder de escrever ou determinar 0 enredo, outros que podem exercer alguma influéncia ¢ quem ocupa, na trama, 0 mero lugar de figurante. —_—_ - ‘A nogéo de protagonismo surge como consequéncia do ‘entendimento do mundo como construfdo na produgao de sen- tido que emerge das relagSes sociais estabelecidas nos enre- dos e nas narrativas que os homens vo construindo ao longo de suas vidas. 0 mundo, como grande cenario de acontecimen- SENTIDO QUE EMERGE DAS RELACDES tos que ora se tangenciam, ora se cruzam ¢ ora se compéem SOCIAIS ESTABELECTOAS NOS numa grande narrativa - como 2 de uma revolucio ~, ganha tneoos € NAS NARRATIVS QUE mais sustentabilidade quando o relacionamos com a crescente os HOMENS vio ConsTRUINDO AO presenca das midias na atualidade. LONGO DE SUAS VIDAS. ‘As narrativas so criadas e circulam com grande facitida~ ena chamada “sociedad da informaco", impulsionada pela sofisticacao das tecnologias de comunicaggo. As midias cres~ com em escaladas vertiginosas, intertigando praticamente todo o planeta fem tempo real; a producSo de linguagem e a producao simbélica expan- dem-se abruptamente multiplicando e diversificando suas fontes. ‘A cultura & fortemente afetada pela explosdo das tecnologias de produgio e difusto simbélicas. As fronteiras da arte slo profundamen- te abaladas ¢ os polos de produgio de sentido so descentralizados pulverizados. Pela internet todos podem veicular suas criagdes de qual- quer natureza (msicas, videos, performances, desenhos @ outras), muitos ‘conseguindo alguma notoriedade pelo ntimero de acessos. ‘A Noho DE PROTAGONISMO SURGE COMO CONSEQUENCIA 00 ENTENDIMENTO DO MUNDO COMO oNsrRufoa NA PRODUGKO DE 'A visibitidade € 0 fundamento do sujeito, por isso mesmo a cele- bridade, como assinala Bauman (2007), € a expresséo maior do sujeito contempordneo. Neste mundo midiatico-espetacularizado, podemos nos Situar como coadjuvantes, figurantes, submetidos ao enredo dado, ou po- ddemos tentar, como protagonistas, participar da narrativa, da construglo da histéria ou do seu desenrolar. AA. a vemcetRn DADE Séo Paulo |v. 21 | m8 | 39-53 | jt 2010 0 protagonismo social pressupde que o ator nao é capaz de atuar ou desempenhar seu papel sozinho (MACEDO e BON- 0 EstaruTo po Toso € Mais UNA FIM, 2003). Ele precisa dos outros para contracenar. Criar um PEMONSTRACKO DO RECONHECIMENTO papel ou imprimir alguma singularidade a um papel j4 dado SOCIAL DA WECESSIDADE DE SE caracteriza 0 protagonista, nao como personagem principal, _RETIRAR 0S 100505 D0 LIMBO, D0 mas como aquele que, com outros protagonistas, € capaz de _ESQUECIMENTO € 0 SILENCIO E agit sobre a narrativa e dar a ela uma direcao a partir do lugar DAR A ELES UNA CONDICAO SOCIAL e da funcao que ocupa na histéria. wars ausTA, O idoso como protagonista ‘Aquela imagem do idoso trancafiado em um asilo ou recluso nos es- pagos domésticos, as vezes sendo até escondido pelos familiares, esté ce~ dendo lugar para outras imagens, nas quais os idosos aparecem nas ruas, no comércio, nos clubes, saldes de danca, em caminhadas, academias de ginastica, excursées, viagens de turismo, nas universidades abertas & Terceira Idade e em tantos outros lugares. (0 aumento da proporcao de idosos ja & notado nos espacos pabli- cos e nas familias. A visibilidade esté avancando rapidamente nos mais diferentes espacos sociais, até mesmo naqueles antes completamente ve~ tados aos mais velhos, como 0 popular programa de televisao Big Brother cs Brasil. As politicas pablicas e os programas de atencao voltados para os jdosos sao outra importante mostra da visibitidade adquirida pelos lon- gevos. 0 Estatuto do Idoso é mais uma demonstracdo do reconhecimento social da necessidade de se retirar os idosos do limbo, do esquecimento © do siléncio e dar a eles uma condicéo social mais justa. xpan- as de amen dos gual- nuitos, A visibilidade e o envelhecimento da populago abrem possibilida- des para que os idosos nao sejam vistos e tratados como personagens secundarios, necessitados de apoio, ajuda e complacéncia, mas para que se insurjam como protagonistas, como personagens capazes de exercer autonomamente papéis no cenério social e nos enredos que ai se desen- poate: rolam. eto Pcs impute Sedo dds ua ques Woes ena 3 ‘0 desvio dos asilos estao cada vez mais intensos. Dedicar-se aos afazeres domésticos e serem vovozinhos cuidando dos netos ja nao representam ‘0s ideais dos idosos. E possfvel localizar nas cidades lugares frequentados Du po- truco ‘to Paul |v 22 | n. 48 |p. 39-53 | jul 2000 a Tenceima Dave 45) ———_—_ mmajortariamente por idosos: associagbes, cubes © outras oF- Tprore reno eh QUE 05 OVENS ganfzagBes que funcionam como espaco de enconio de con- qusktam WUDAK @ HUNDD E SE vivéncia , eventualmente, de organiza¢30 politica. SENTIAM COM FORGA PARA 1550 No entanto, ainda resta muito para que a visibilidade e Haat, a 2UvENTUDE ENCONTRA-SE — presenga dos idosos no teatro socal se transforme em prota- io wa o70sigho, MAS SIM NA gonismo. Ainda paira sobre eles ume atitude de benevoléncia usrentagio oe TODO 0 SISTEMA e tolerdncia extremamente desqualificadora e despotencializa- conowrco, SOCIAL € PoutTico. dora, Tal atitude coloca-os N palco social como personagens agraciados por uma benevolancia e caridade daqueles due €- wrandam a cena, num auténtico processo de desculpabilizasBo- 0 protagonismo social dos idosos & extremamente importante © necessé- tie porque nele que pode Fluit, por mais paradoxal que Posts parecer, lima critica radical da sociedade e agbes de mudanca mais contundentes. 13s fot 0 tempo em que os jovens queriam mudar o mundo © © sentiam “Jom forca para iss0. Hoje, a juventude encontra-se n30 02 oposigao, mas sim na sustentacao de todo o sistema econémico, social € politico. 0s jovens ndo representam mais uma force de mudang2, 80 contrario, estéo aria Gon represents ssnegimemaee SOs CUSaT as Nao for toa que uma ousada propaganda de sandalias, divulgada pela tele- visao em 2009 e breverente retirada do ar, fez essa perspicaz inversio ie papeis no dislogo entre uma av6 e sua neta. A av6 sugers a neta que Gever'a ser muito bom ficar com um formoso gale a neta [he responde que talvez nem tanto porque se casar com ume celebridade deve ter um Sito prego. A av6, entzo, com ar de surpresa, diz para a neta ae ela nao ctova ne referndo a casamento, mas si somente 2 fazer 36x01 Esse comercial de TV foi retirado do ar por protestos do pablico, que 0 considerou inapropriade por incentivar um liberatismo sexual a partir do conselho de uma senhora. Tal atitude do piiblico mereceria um enhecimento melvot, pela suspeita de que talver 0 desagrado nao tenha sido provocado pela exaltaggo da sexualidade, mas justamente porque @ ‘yaltacgo partiu de um fdoso, mais ainda, de ume senhora, Se fosse 2 jovem neta que tivesse proferido a frase ‘escandatizadora talver nd0 vyesse provocado nenhuma reac3o, justamente orgie © figura do jovem ja nfo representa qualquer rebeldia ov, s¢ subsiste algum resquicio de w belgia infundido aos jovens, 8 no representa qualquer ameaca. 05 jo- vyens encontram-se de maos atadas pelo forte agenciamento do consumo, fu pela pressio da competitividade pare & sobrevivencia, expressa m2 (AG n-enceiRa19ADE Sto Ful |v. 21 | n48 |. 39-535 290 disputa acirradissima por um curso superior ou por um emprego. Eles nao querem mais se confrontar, querem sim é entrar no frenesi das ofertas de Prazer e das sensacdes extremas, num mundo que cultiva 0 excesso © a superacao de limites. No entanto, os idosos nao assimilam com facitidade a logica da aceleragao do tempo, da efemeridade e do fugidio, incrustadas no consumismo, que tornam os personagens pas- sageiros no palco, nao thes dando qualquer possibilidade de duracdo e permanénci ‘APESAR DE TODA A SEDUGAO DO NERCADO QUE SE PODE OBSERVAR NOS 1D0S0s, sosRETUDO NAQUELES DE MAIS IDADE, SUBSISTE Qs idosos ndo querem nem podem acompanhar a acelera- a0 exacerbada do tempo na atualidade. Neste sentido, repre- sentam um poderoso freio para as pretensdes da sociedade do consumo ou do mundo de producao toyotista. Apesar de toda a seducéo do mercado que se pode observar nos idosos, sobretu- do naqueles de mais idade, subsiste uma certa precaugo com 0 endividamento e uma certa resisténcia ao consumo. Ainda vivem a légica da poupanga, da acumulacao, da redugao de gastos que traduz mais pro- fundamente uma experiéncia do tempo e do espaco diferente da que est sendo disseminada. Apreciam a durabilidade das coisas e a permanéncia, demonstrando uma preferéncia por um tempo cadenciado e por um espaco que possa ser habitado como um lugar, no qual seja possivel fincar algu- ‘mas raizes e produzir fixagao ou se criar territérios identitarios. UMA CERTA PRECAUGAO COM 0 ENDIVIDAMENTO € UMA CERTA RESISTENCIA AD CONSUMO. A rrecusa & compressio do tempo e do espaco, que torna a vida ace- lerada e desterritorializada, talvez seja angustiante para os idosos porque no viveram assim na infancia e na adolescéncia, mas, mais ainda, pelo ‘temor diante da percep¢ao da iminéncia da morte. Para quem a morte se aproxima nao interessa acelerar 0 tempo, nem se expor aos perigos da transumancia ou dos destocamentos constantes de um lugar a outro. Entre tantas outras subversdes possiveis de se imaginar pela via do protagonismo dos idosos, a subversao da experiéncia do tempo @ do espaco, tal como esta dada na atualidade, 6 a mais contundente e radi- cal, Somente deles pode partir 0 brado da bandeira da desaceleracao do tempo e da identitarizacéo do espaco, fundamental para a retomada das rédeas da vida e do mundo. 0 protagonismo social precisa tomar como foco 0 controle do tempo e do espaco considerando que 0 poder, hoje, reside no controle dessas duas dimensoes basicas da vida e do homem, como enfatiza Viritio (1993, 1996). S50 Paulo | v.21 |r. 48 |p. 38-53 jul 2000 a TerceiRa tape 47 4 Segundo Andrade (2007), no ha um ico rodeo de conselho, pos podem sire quarto 3 omposiie, 2 fora de selec de seus membros, as suas competéncias, entre ‘outros aspects, Conforms 23 autor os conslhas poser ser clssfcados em res categoria. A prinela formada por aguales que io vinulados a programas e servicas governamentais espectins, tls come ede cities de Alimentos, de merends scolar e de aletamerto, cu 2 uniades prestadoras de servos, ais como os Consolos de Unidades Hospitaaes. A segunda ompost plas conslhos ‘tmmiticos, que cobrem temas expecfcns, cone, por exemplo, a defesa de iitos ds idoss, das rulers, cos portadores de caciénca ee. A terclra Gs consehas setoras, que esto voltacos para a formularzo, 2 implementagio ¢@ hionitoramento de potiticas publics presetes nas {its eserae do federagto (Unido, estados © ‘muriipios), com os Conselos de Sade de ducacao e de Asistencia Seca. ‘As possibilidades de exercer 0 protagonismo social pelos idosos, além das que foram enumeradas, também passam pela questo juridica, na garantia da exequibilidade de leis ja instituidas e na luta e participa- io para garantia de outros direitos, tal como seré discorrido adiante. 0s Conselhos do Idoso: protagonismo ¢ controle social? ‘Assim como 0 “protagonismo”, o tema “controle social” tem sido bastante abordado por varios pesquisadores das Cincias Sociais no Brasil, principalmente ao tratarem da democracia. As Ciéncias Sociais definem 0 termo “controle social” como participaco da sociedade na formulacéo, no acompanhamento e na verficacao das politicas piblicas (STOTZ, 2006; ANDRADE, 2007). 0 assunto também entrou na agenda do Estado, sendo destacado como tema principal da VII Conferéncia Nacional de Assistn- cia Social, realizada no periodo de 30 de novembro a 3 dezembro de 2009 em Brasilia, intitulada “ParticipacSo e Controle Social no Sistema Unico de Assisténcia Social’. Dentro da abrangente tematica “controle social”, os conselhos* sur- gem como o principal canal democrético para o exercicio da democracia, da cidadania, do protagonismo e da participacdo social. De acordo com Luz (2000), © controle social do cidadao ficou garantido por meio de sua participacdo nos conselhos, nas diferentes esferas da administrago pblica. Segundo Andrade (2007), os conselhos passaram a representar uma nova forma de interaco entre Estado e Sociedade Civil, atendendo a “uma antiga demands dos movimentos sociais que lutaram durante os anos de 1970 pela restituic30 dos direitos civis e politicos, pela amplia- Gao dos direitos sociais e pelo direito de participar na administragao da sociedade” (ANDRADE, 2007, p. 16). Na atualidade, os conselhos, tal como 0s Conselhos do Idoso, s40 compreendides como espagos de de- mocracia alternativos aos da representacdo formal que ganham crescente legitimidade pelo potencial de aumentar a transparéncia da gestdo das politicas sociais (ANORADE, 2007). (0 Conselho Nacional do Idoso foi criado pela Let Federal no 8.842, de 4 de janeiro de 1994, intitulada Politica Nacional do Idoso ~ PNT. A referida lei, entre outras providencias, estabeleceu diretrizes sobre a composi¢a dos Conselhos do Idoso em todas as esferas da administracdo pablica: 48 A vERCEIRA IDADE io Paulo |v. 21 n.48 |p. 39-53 jul. 2010, Art. 6° = Os consethos nacional, estaduais, do Distrito Federal e muni- Cipais do idoso serdo érg3os permanentes, paritarios e deliberativos, compostos por igual namero de representantes dos érgaos e entidades piiblicos e de organizagdes representativas da sociedade civil ligadas 2 rea. (BRASIL, 1994) ‘A composigao dos Conselhos do Idoso, dada pela PNI, & um bom objeto de andlise. Como se pode observar no artigo 60, assim como nos demais artigos da PNI, nao hé mengéo, ou garantia, acerca da participa¢ao dos proprios idosos nos Con- selhos em questéo. Seguindo as diretrizes da PNI, os referidos Consethos acabam se constituindo como érgaos de gestdo da velhice, de controle sobre ela e de tantas outras possibilida- des que no coadunam com o significado do termo “controle social”, proposto pelas Ciéncias Sociais, que deveriam ser efe- tivados nos Consethos do Idoso. Ao excluir os mais velhos da gestéo dos seus préprios in- teresses, deixando-os de fora dos Conselhos do Idoso, o Estado ‘Ao EXCLUIR OS MAIS VELHOS DA GESTAO OOS SEUS PROPRIOS INTERESSES, DEIXANDO-OS DE FORA Dos ConsELHOS 00 Tooso, 0 Estapo acasou REVELANDO SUA SUBESTIMACAO DAS TDADES AVANGADAS DA VIDA, ENXERGANDO-AS COMO LIMITADAS E DEPENDENTES, RELEGANDO-AS A PASSIVIOADE E RESIGNAGAO. acabou revelando sua subestimagao das idades avangadas da vida, enxergando-as como limitadas e dependentes, relegan- do-as a passividade e resignacao. ‘Alguns Conselhos do Idoso criaram seu proprio regimento interno e passaram a criar cotas para garantir a participacdo de longevos, como é 0 caso do Conselho Estadual do Idoso de Séo Paulo. Todavia, essas reservas, nna pratica, muitas vezes acabam sendo ocupadas por idosos represen- tantes das classes dominantes, ou ainda por membros de instituicdes e 6rgaos pablicos diretamente envolvidos na prestacdo de servicos. Muitos desses consetheiros, apesar de idosos, privilegiam interesses pessoais e/ou institucionais em detrimento de interesses da populagao idosa em geral. Desse modo, a participacdo dos mais velhos nos Consethos do ido- 50, quando raramente ocorre, acaba sendo motivada e determinada por fatores sociopolitico-econdmicos. Outro problema, em relagio aos Consethos do Idoso, foi abordado por Andrade (2007). Segundo a autora, a criacio de espacos participati- os por iniciativa do governo tem originado diversas criticas, por serem espagos criados de cima para baixo, chamados de invited spaces (espacos «@ convite). Com isso, existe o risco de excessiva burocratizacao da parti- ‘Sto Paulo | v.21 |n. 48 |p. 39-53 | jul. 2000 a TeRceIRA DADE 49) cipacdo nesses espacos assim como 0 risco de deslegitimacao de outros espacos participativos espontaneamente criados por dada comunidade (ANDRADE, 2007, p. 38). Talvez a criagdo de espacos espontaneos e in- dependentes, como aponta a autora, sem intervengao politica ou estatal, seja a garantia mais vidvel para o exercicio da cidadania e do controle social pela Terceira Idade. Assim, poderiamos comegar a construir novas formas de protagonismo com os proprios idosos ocupando a agenda de discussdes e reivindicacdes coletivas da categoria, atuando como atores politicos no cendrio social. Porticipacio socal e protagonismo previstos no Estatuto do Idoso © Estatuto do Tdoso, Lei no 10.741, de 1 de outubro de 2003, as- sume um papel fundamental na maneira como a velhice é tratada e vista na sociedade brasileira. A pesquisadora Anita Neri publicou, em 2005, na revista A Terceira Idade, 0 artigo, intitulado “As politicas de atendimento a0s direitos da pessoa idosa expressas no Estatuto do Idoso". Nesse tra- balho, Neri fez um amplo levantamento hist6rico das politicas pablicas para idosos no Brasil, mapeando concepgées “negativas” sobre a velhice, no passado e no presente, na figura do Estatuto. [A fim de mapearmos as formas de participacio e o protagonismo social nas idades avancadas da vida, realizaremos uma breve analise do Estatuto do Idoso. Para realizarmos a tarefa proposta, fomos buscar, na referida legislacao, palavras e termos que tratassem do assunto em ques- tio. [apesar de a palavra “protagonismo” nao ser mencionada no Estatuto do Idoso, a pratica do protagonismo pode ser considerada garantida pelo Artigo 10: Art. 10 E abrigacio do Estado e da sociedade assequrar a pessoa idosa a liberdade, o espeito e dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, politicos, individuais e sociais, garantidos na Constitui- do e nas leis. (BRASIL, 2003) J4 a palavra “participacao”, que poderia ser considerada homéloga a0 termo “protagonismo", foi bastante utilizada no Estatuto, conforme destacamos a seguir: participagio, ocupacio e convivio do idoso com as demais geracées (Art. 3, inciso IV); participagao na vida familiar 50 A TERCEIRA IDADE Séo Paulo |v. 21 | n. 48 | p. 39-53 | jul 2010 @ comunitaria e participacao na vida politica, na forma da lei (Art. 10, inciso Ve VI; Art. 49, inciso VI); participagao dos idosos em atividades culturais e de lazer ~ mediante descontos de pelo menos cinquenta por cento nos ingressos para eventos artisticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais (Art. 23); participacao do idoso no custeio de entidade de atendimento, de no m&ximo setenta por cento do valor total de qualquer beneficio recebido pelo idoso (Art. 35, pardgrafos 1° 2°) (BRASIL, 2003). Como podemos observar, nos trechos acima extraidos do Estatuto, 0 termo “participacdo”, na maioria de suas ocorrén- cias, tem um cardter de cuidado e protecdo. A participacao do idoso na vida familiar e comunitaria, no convivio com as demais geragées, em atividades de lazer e culturais com des- contos nos ingressos e acesso preferencial, ou a participacao _INDEPENDENCIA FISICA E do idoso asilado nos custos da instituicao. Estas concepcdes ECONOMIA, A TOMARHOS AS de participacao denotam uma velhice bastante limitada, digna _REDEAS DE NOSSA PROPRIA de cuidados e de tutela. YIOA E IMPORTANTES DECISOES, No DESENROLAR DA ExISTENCIA HUMANA, SOMOS INCITADOS A Nos DESENVOLVER, A ADQUIRIRMOS E certo que devemos celebrar as muitas conquistas assi-_SEJA NO AMBITO FESSOAL OU naladas no Estatuto do Tdoso. No entanto, muitas vezes essa COLETIVO. Tuo 1IsS0 FAZ PARTE legislacéo acaba por tolher e minimizar a participagdo © o DE UM PROJETO DE CONSTRUGAO DA controle social dos idosos, invertendo a légica democrética SUBJETIVIDADE E 00 TORNAR-SE que a fundamenta. 0 Estado, por intermédio do Estatuto do suserro. Idoso, pretende, assim, exercer 0 controle sobre os longevos ——— mediante a tutela e a propagagio de concepcdes da velhice como uma fase da vida bastante fragilizada e dependente, Condusio No desenrolar da existéncia humana, somos incitados a nos desen- volver, a adquirirmos independéncia fisica e econdmica, a tomarmos as rédeas de nossa propria vida e importantes decisées, seja no ambito pessoal our coletivo. Tudo isso faz parte de um projeto de construcao da subjetividade e do tornar-se sujeito. No entanto, percebemos que, na atualidade, essa mesma sociedade que nos incita a sermos protagonistas de nossas proprias histérias acaba, muitas vezes, por nos atribuir 0 papel de personagens secundarios. Isso acontece quando delegamos ao outro o poder de tomar as decisdes por So Paulo | v.21 |n. 48 |p. 3953 ju. 2000 A TencEIRA DADE 51 65, ou quando nos omitimos diante de importantes questdes sociats ¢ fambém pessoais, ou, ainda, quando um personagem ou uma classe se sobrepde 8 outra, E certo que, ao vivermos em Sociedade, devemos aprender a respé ‘ar e conviver com diferentes papéis e protagonistas do cendrio social. Mas em muitas situagdes esse idesrio de existancia e convivencia deixa 4 ddesejar. No caso dos idosos, essa questio & bastante elucidativa, Hoje, assistimos a um momento muito singular na histéria de nosso pals, com 0 crescente envelhecimento da populacto. No cendtio atual, femos a forte presenca de atores sociais idosos, contribuindo com o for. talecimento da economia brasileira, com a renda familia, participando no mercado de trabalho e em Conselhos municipais, atuando em progra- imas ¢ atividades para essa faixa etaria e contribuindo em tantas outras situagées, A Tercelra Idade entra em cena e comeca a mostrar suas méltiplas faces e papéis. Mas precisamos, ainda, escutar mais a vor desses atores SScisis, que protagonizaram tantas histérias de vida imersas na vivéncia do tempo. Hoje, € tempo propfcio para inaugurar ngo uma simples “idade de curo da velhice”, mas para abrir espaco para 0 palco da vida onde caiba a Subversdo da velocidade dos dias atuais, a partcipacéo ativa no cenérie das preocupagdes sociais do momento, a possibilidade de experimentar Alferentes formas de envelhecer, desde as mats arrojadas até, Por que ‘No, as mais comezinhas, REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS a ANDRADE, GA dindmica de prtinacto de Sociedade Civil em Conelas de PoticasSo- as no Municipio de Piet. 2007. (Doutorado em Saude Pibies) - Fiocun Ro da Janeiro, 184p, BAUMAN, Z. Vidas desperdicadas. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. BRASIL. Politica Nacional do Idoso, Bras: Pesidéncia da Repiblice, 1996, ~ Estotuto do dos. Brasilia: Presidncia da Replica, 2003, GERGEN, K. 3. Toward transformation in social knowledge. 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