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O canto do Sabá

Encontro-me cercado de chuva


Fina e constante, gélida sobre a face
Mitigante por sobre a capa
Encontro-me na eira da curva
Na beira do abismo me vês mendace
Cortado, errante, goteira da lapa
Corpo outorgado, visão turva

Sente o fogo o sabor da compaixão


Queimam os inimigos, esfumaçam
Ardem c’as dores da água
Que me cortam, caído no chão

Ai o ã do cão, o cal da lisura


Ai o im do marfim, marcado em brasa
Ai o or do vapor, de Tirésia a visão

O círculo está pronto


A punção está feita
O Lete que te denota
Derrubou o maestrim

Sente-se livre, criatura?


Roda sem que os pés te segurem
Amarra-te nos calcanhares, se prudente fores

Esse é o sabá
Que encanta a virgem
E a torna mundana

Esse é o sabá
A exclamação dos sentidos
Do rim a água, do peixe o arpão

Esse é o sabá
Orgasmo fúnebre do canto das bruxas
Do canto dos odres
Vagos de água, cheios de fúria.

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