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Relatório de Missão

Para: Rosane Cristina Acácio

De: Eduardo Trelles


PRODOC BRA/04/051

Data: 12/04/2010

Assunto: Espaços Mais Cultura

1. Agenda da missão:
A missão teve o objetivo de participar de reuniões com especialistas em espaços cênicos,
edificações sustentáveis e acústica arquitetônica.

Dia 25/03/2010, às 10:00h: Encontro com a Coordenação do Centro Técnico de Artes Cênicas da
FUNARTE.
Participantes:
FUNARTE
Abílio Henriques: coordenador e especialista em iluminação cênica;

MinC – SAI – Programa Mais Cultura


Eduardo Trelles - arquiteto, consultor
Lívia Silveira de Menezes - arquiteta, consultora

Dia 26/03/2010, às 14:00h: Encontro com a Lourdes Zunino para consultoria técnica em
edificações sustentáveis e acústica arquitetônica.

Participantes:

Lourdes Zunino: Professora da UFRJ, doutora em edificações


sustentáveis e consultora em acústica arquitetônica;

MinC – SAI – Programa Mais Cultura


Eduardo Trelles - arquiteto, consultor
Lívia Silveira de Menezes - arquiteta, consultora

2. Resultados / propostas concretas:


Reunião com a FUNARTE

A reunião teve início com a apresentação das propostas dos modelos de Cineteatro que estão
sendo propostos para o programa Mais Cultura. Esse ponto de partida da reunião visava a

Relatório de Missão
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posterior discussão dos aspectos positivos e negativos do projeto, bem como o levantamento das
dúvidas relativas à arquitetura que haviam surgido até então.

As principais observações dos especialistas da FUNARTE referem-se a questões funcionais e


técnicas específicas à tipologia do teatro.

Cada uma das partes que compõe teatros e espaços cênicos possui especificidades quanto a seu
funcionamento. Durante a conversa, visamos definir um esboço de programa de necessidades
adequado ao Cineteatro dos espaços Mais Cultura.

Nesse sentido, as funções essenciais que devem estar presentes no CineTeatro foram:

a) Foyer
Deve existir um espaço capaz de abrigar o público que assistirá o espetáculo antes de seu início e
durante seus eventuais intervalos. Esses espaços devem ser dotados de sanitários públicos
dimensionados conforme as normas relativas a espaços públicos.

Esse espaço deverá ser dimensionado de acordo com a capacidade da platéia.

O foyer poderá ser diminuído ou retirado se existir um espaço contíguo ao teatro, que possa servir
a essa mesma função de estar e recepção para o espectador.

b) Platéia
Os projetos de Cineteatro Mais Cultura (CMC) apresentados possuíam platéias com capacidade
para 150 e 300 pessoas sentadas.

A FUNARTE defende que esses dimensionamentos não representam diferenças significativas na


relação custo-benefício e sugerem que o teatro maior tenha 400 lugares.

Para teatros até 450 lugares é recomendável que a distancia entre o inicio da palco e a última fieira
de cadeiras não ultrapasse os 15m..

O projeto CMC apresentava desníveis de 25cm entre cada fileira de cadeiras. A Funarte considera
esta medida mais do que necessária, entretanto o CMC irá atender as necessidade de um cinema.
Para teatro desníveis de 12cm são suficientes.

c) Administração e Bilheteria
A FUNARTE concorda com a disposição da administração e da bilheteria tal como foi apresentada
pelo projeto do MinC, ou seja, dispostos de forma a serem adjacentes e conectados com os
bastidores por um corredor.

Sugere-se que a bilheteria tenha aberturas para o foyer e para o exterior, se possível. Esta
condição é atendida pelo CMC.

d) Palco
O palco do projeto apresentado pelo MinC possuía uma área de 80m², excluindo-se as áreas de
coxias, sendo uma boca de cena de 8m com profundidade de 10m1.

A FUNARTE recomenda um palco de 10x12m, mas considerou que as dimensões propostas são
razoáveis dentro do escopo do projeto Mais Cultura e da vocação que o CMC terá enquanto teatro
do bairro.

A propósito dos materiais e técnicas a serem empregados na construção do palco, a FUNARTE


ressaltou que certos princípios devem ser tomados como medidas recomendadas para um bom
projeto, tais como:

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Esses valores não tomam em consideração a área de coxias.

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- Piso:

O piso deve ser realizado em madeira. Esta deve ser escolhida segundo suas
propriedades de elasticidade, densidade e sua durabilidade.

Algumas razões impõe essas especificidades: a necessidade de absorção de


impactos durante apresentações de dança, possíveis desgastes causados pela
manipulação de cenários que se apóiem sobre piso (visibilidade dos arranhões e
rachaduras), facilidade de utilização de pregos (muito comum na montagem de
espetáculos). Madeiras com características próximas ao cedro, módulo, pinho ou
freijó são apontadas pela FUNARTE como sendo adequadas para pisos de palcos.

Quanto à forma de construção, o piso deverá ser montado sobre uma estrutura – a
quartelada – devendo ser removível em toda a sua área, ou, caso não seja possível,
ao menos em alguns trechos. Deve-se considerar a possibilidade de construir um
porão. As tábuas deverão estar perpendiculares à boca de cena, evitando assim a
visualização das juntas e desníveis sob a luz.

-Urdimento:

O urdimento é o espaço volumétrico aonde se desenvolve a maquinaria cênica.


Nele, encontra-se a grelha - uma estrutura de barras dispostas a cada 30cm nas
quais são suspendidos cenários, barras de iluminação, reguladores verticais e
horizontais e demais dispositivos mecânicos necessários às apresentações.

O urdimento deverá ser ocultado acima da boca de cena. Seu dimensionamento


deverá tomar em conta o tamanho de um cenário quando erguido sobre o palco e o
espaço para uma passarela técnica. Assim, para um palco de altura X, o urdimento
deverá ter 2X+ 4,5m.

e) Coxias
As coxias são limitadas pelas pestanas e devem ocultar a passagem lateral do palco. O projeto
CMC tem 1m de pestana e 1m de corredor lateral, limitado por uma parede. Caso sejam reditadas
as pestanas, a dimensão máxima do palco seria, logo, igual a 2m (coxia lateral)+10m (boca de
cena) + 2m (coxia lateral).

A FUNARTE considerou esta medida satisfatória dentro das características desejadas para o teatro
em questão.

f) Camarins
Camarins, bem como espaço para circulação dos artistas nos bastidores e sanitários com
chuveiros, são dependências essenciais ao bom funcionamento de um teatro. É interessante que
existam camarins coletivos bem como individuais. O teatro CMC possuía 3 camarins, sendo um
coletivo. A FUNARTE considerou este dimensionamento suficiente e não condena a possibilidade
de manter apenas um camarim coletivo e um individual.

Dentro dos camarins, devem existir espelhos iluminados com iluminação similar à iluminação do
espetáculo. O mobiliário é composto de cadeiras, bancadas, araras para pendurar as fantasias.
Considerou-se a inclusão de escaninhos para os artistas na lista de mobiliários, idéia que foi bem
recebida pelos consultores da FUNARTE.
g) Sala de som e luz

A sala de som e luz deve ser localizada no fundo da sala de teatro, com nível de visão elevado
em relação à platéia. Nela o técnico deverá ter visibilidade total em relação ao palco e,
preferencialmente platéia.

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Os dimers podem ficar tanto na sala de luz e som quanto próximo ao palco. Mantendo o
equipamento próximo às barras de luz, apenas um cabo será levado dos dímers à sala de som
e luz. Caso contrário, todos os cabos deverão ser levados isoladamente até a sala de luz.
Assim, a instalação mais econômica deverá prever local para os racks que comportam os
dímers o mais próximo possível das barras de luz.

Uma passarela técnica ligando a sala de luz às barras de iluminação por cima do forro é
conveniente para facilitar o trabalho de afinação dos equipamentos, bem como facilitar o
manuseio durante os espetáculos em caso de pane. Essa demanda não é obrigatória, embora
seja positiva.

Reunião com Lourdes Zunino

A reunião teve início com a apresentação dos dois assuntos principais a serem tratados com a
especialista: as questões ligadas à sustentabilidade e as especificidades que um teatro demanda
em relação à acústica arquitetônica. Neste sentido, as propostas dos modelos CNC foram
apresentados, colocando em foco a intenção de regionalizar os materiais e técnicas construtivas
através do uso do solo-cimento e da madeira.

A questão acústica

Segundo Zunino, algumas medidas construtivas intrínsecas ao partido são essenciais para o bom
isolamento acústico da sala de espetáculos.

A primeira destas é o tratamento de todas as superfícies limítrofes da sala de forma que sejam
igualmente isolantes. Assim, tanto paredes como tetos deverão possuir uma mesma capacidade de
redução da intensidade sonora, mesmo se forem construídos com materiais diferentes.

No caso do CNC apresentado pelo MinC, previa-se o uso de tijolos de solo cimento como vedação
tanto quanto como estrutura. Zunino atentou ao fato de o material apresentar frestas se assentado
sem argamassa, fato que arruinaria o isolamento da sala. Neste sentido, ela sugeriu não apenas o
uso de argamassa em toda a alvenaria, mas também que estas paredes fossem duplas e
separadas entre si por 5 cm. Essa separação serve para resguardar o recinto não apenas da
transferência de som, mas de impactos e baixas freqüências, que dependem de meio sólido para
serem transmitidos de um ambiente ao outro.

Ainda no projeto apresentado, previa-se o uso de telha termo-isolante, com capacidade de redução
de 30db. Essa redução não seria suficiente, segundo Zunino, e deveria ser conferida por caçulo e
adição de maior massa isolante para reduzir ainda mais a passagem de ruídos para o interior,
através do teto.

A segunda questão tratada no âmbito da acústica da sala foi o uso e disposição de materiais
absorvedores e reflexivos na sala. Segundo a especialista, devem ser utilizados materiais
reflexivos nas paredes laterais e teto, de forma a projetar o som até o fundo da sala. O chão e o
fundo da sala, ao contrário, devem ser revestidos de materiais absorvedores, a fim de evitar ecos.

Sustentabilidade

Zunino afirmou que a regionalização dos materiais é a melhor maneira de guardar um caráter
sustentável da edificação. Assim, para a especialista, apenas a madeira e o solo-cimento que não
passa por uma complexa logística para seu tratamento e distribuição poderiam ser considerados
sustentáveis nesse sentido. Visto que a sugestão de ambos visa tal regionalização, julgou as
técnicas adequadas aos objetivos propostos nesse quesito.

Lourdes relembrou que não apenas os materiais interferem na questão da sustentabilidade, mas
que o projeto pode, por si só, apresentar medidas que sejam capazes de diminuir o uso de ar
condicionado e o consumo de luz elétrica. Ao passo que ambos parecem inevitáveis na sala de
espetáculos, em outros ambientes dos espaços mais cultura tais medidas se apresentam como

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pontos factíveis, desde que definidos anteriormente. A pesquisadora vê o uso de um modelo único
para todas as regiões e implantações do país como um ponto negativo para o aspecto da
regionalização. No entanto, ela compreende a necessidade de adotar tal partido, bem como
acredita que as questões ambientais possam ser bem solucionadas apesar das diferentes
condições climáticas e de implantação às quais os projetos serão expostos em diferentes sítios.

3. Recomendações e ações futuras:

Com base nas informações levantadas nas reuniões com a FUNARTE e com Lourdes
Zunino, foi possível realizar um balanço sobre as questões que permearam até o momento
os projetos do MinC para os Espaços Mais Cultura.

Essas observações tem impacto sobre todos os projetos realizados, com ênfase em
particular sobre o projeto de modelo para teatros, devido às especificidades inerentes à
esta tipologia.

De posse das informações discutidas, as seguintes alterações se mostraram necessárias


nos projetos:

Auditório
- Anteriormente ao projeto era prevista uma separação entre coxias e camarins. Esta
separação revelou-se desnecessária.
- Segundo a FUNARTE, a entrada de serviço poderia ser mais larga do que os 2m que
haviam sido inicialmente previstos.
- Será prevista a possibilidade de ligação por passarela sobre o forro entre a sala de Luz e
Som e as barras de luz.
- A caixa cênica deverá ser aumentada para atingir a proporção mínima de 2x+4,5m,
mencionada anteriormente neste relatório.
- Será indicado a título de especificação técnica o preenchimento com areia dos blocos de
solo-cimento da sala de espetáculos. Estes deverão constituir uma parede dupla, com vão
e 5cm entre elas. Essas medidas visam o perfeito isolamento acústico, fazendo uso de
recursos simples e pouco onerosos.
- O mesmo cuidado deverá existir em relação aos revestimentos, que serão escolhidos
segundo apontado por Lourdes Zunino na consultoria : absorvedores no fundo da sala e no
piso, e refletivos nas paredes e teto, posicionados de forma a melhorar a propagação do
som através do controle de seus ângulos de incidência.

Núcleo Mais Cultura e Biblioteca

- A escolha do solo-cimento bem como da madeira se mostra como fator positivo no


quadro do projeto, estimulando a construção regionalizável e com menor impacto
ambiental.
- Uma vez definidos estes materiais, deverá ser exigido dos responsáveis pela execução
dos projetos todo o controle necessário para evitar o uso de material indevidamente
extraído da natureza ou em débito com as questões fiscais relacionadas à sua extração.
- Os projetos serão reavaliados do ponto de vista da eficiência energética, visando a
definição de elementos protetores das fachadas e propícios à circulação de ar nos
ambientes internos.

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Assinatura

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