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Capitulo V Aguas continentais de superficie Rios Generalidades. — As Aguas correntes que brotam nas fontes, mais as aguas de chuva que se escoam imediatamente, vdo forman- do pequenos cérregos, que se ajuntam, se avolumam, dando finalmente origem aos rios. Desta forma, a nascente de um rio & uma extensa regido cujas fontes todas ali- mentam um pequeno cérrego que se ajun- tard a outros mais adiante, indo finalmente formar o rio. Este, por sua vez, vai-se avo- lumando a medida que recebe novos afluen- tes, ¢ também a agua subterrnea, que mi- gra lentamente para baixo, seguindo a de- clividade do nivel hidrostatico. A configuragdo de um rio ¢ a sua veloci- dade dependem de diversos fatores, tais co- mo a topografia, que intervém na declivi- dade do terreno, o regime pluvial da area de drenagem, a constituigao litolégica das rochas erodidas pelo rio e 0 estadio erosivo do rio, assunto que serd abordado adiante, ao discorrermos sobre a erosdo fluvial. O gradiente dos grandes rios é geralmente pe- queno, variando de 30 a 40cm por km. O Amazonas, em territério brasileiro, cai ape- nas 2cm por km. Conforme a regido percorrida, um rio pode possuir um gradiente heterogéneo du- rante 0 seu percurso, isto é a velocidade pode variar com a maior ou menor inclina- io do leito do rio, Sendo aumentado 0 gra- diente, 0 aumento da velocidade das aguas faz com que 0 rio se torne mais raso, © a sua superficie obedecer as irregularidades do fundo, formando-se assim as chamadas corredeiras (v. fig. 5-1). As causas desta mudanga de gradiente podem ser varias. Mais comumente sio devidas a falhamentos escalonares. Podem também originar-se da diferenga litolégica, que determina uma ero- sfio mais intensa e conseqiiente abaixamento do leito do rio nas rochas menos resistentes As flexuras podem também determinar a formagio de corredeiras, Onde termina a corredeira ¢ se inicia o percurso de dguas mais trangiiilas com desnivel menor, ocorre uma subida do nivel das aguas como con- seqiiéncia do acimulo motivado pela dimi- nuigaio da velocidade. Verifica-se forte tur- buléncia no local onde muda repentinamen- te o regime de veloz para um movimento mais lento, como se vé na fig. 5-1, Nesta regido do rio as aguas possuem um movi- mento irregular, serpenteando e turbilho- nando no decorrer do seu percurso. Deno- mina-se eixo de um rio a regio de maior velocidade. Situa-se aproximadamente a dois tergos acima da base do rio, por ser o lugar de menor atrito. Nas curvas, a forga centri- fuga faz com que essa linha se desloque para a margem externa da curvatura, como se vé na fig. 5-2. Nas partes retas de um rio 0 95 Zona de turbuléncia Fig. 5-1 Gritico de um rio sem uniformidade de gradiente, a velocidade & diminuida gragas 4 menor declividade. Na zona 4B, onde a profundidade & maior, Na zona BC da corredeira a profundidade toma-se diminuida pelo aumento em velocidade © apés C ocorre grande turbuléncia, fazendo aumentar 0 depésito de seixos na zona CD, sendo grande a diferenga ma quantidade de seixos antes e depois da corredeira (seg. Gilluly er al.) Zona de turbuléngia maxim Zona de pequena Feeage pe etosao intensa iurbulencia Eixo dorio: | moderada velocidade maxima | Zonademaiorvelocidade — \ etsy capo (Sere Grete Zona Baeetosso Fig. Em cima ~ sego transversal da curvatura de um rio, mostrando as relagdes entre velocidade e turbuléncia, assim como 0 deslocamento do eixo do rio pela forga centrifuga. Embaixo — vista em planta, mostrando as zonas de erosio e de deposigio. Note-se o desloca- mento do eixo do rio (seg. Leighly ¢ Friedkin, mod.) eixo é situado de maneira simétrica. Como conseqiiéncia do maior atrito existente no fundo do rio, ai se localiza a zona de maior turbuléncia, onde o transporte € mais efi- ciente. 96 Una vez cessado 0 periodo das chuvas, os rios continuam por longo tempo a correr, abastecidos pela reserva de agua acumulada no solo ou nas rochas, que se vai escoando lentamente. Seo regime de estiagem for muito rigoroso, o nivel hidrostético passara a si- tuar-se abaixo do nivel dos rios. Com isto, a infiltragdo da agua seré invertida, passan- do do rio para a zona de saturacdo mais abaixo, tornando-o seco (fig. 5-4). Ha ca- sos em que os rios podem correr acima do nivel hidrostatico, se o seu leito for consti- tuido de rochas impermedveis. Freqiiente- mente, o leito de um rio seco fica atapetado de sais, geralmente carbonatos de magnésio e calcio, que ascendem a esse nivel pela capilaridade, precipitando-se na superficie. Este curioso aspecto € freqiiente nas regides semi-aridas do Nordeste brasileiro ¢ no Co- lorado, E.U.A. Em um clima de tal forma Arido, em que a evaporacdo seja maior que a precipitacaio, nao se verifica a drenagem para o oceano. Esta sera interna, como se da nos desertos, de um modo geral, ¢ também nos mares fe- chados da Asia. ‘As Aguas do oceano transportam-se para as partes altas dos continentes, gragas a evaporacdo e aos ventos, ambos provindos da energia solar, verificando-se com isso a armazenagem desta energia, tanto maior quanto maior for a altura e a quantidade de Fig. 5-3 Eroso fluvial diferencial de um gnaisse heterogéneo, rio Paraiba, Estado do Rio de Janeiro, gua acumulada. Tal energia sera entdo gas- ta parcialmente no préprio transporte da Agua e a sobra de energia seri gasta no transporte de material e também no traba- Iho erosivo. Erosfo fluvial. — No curso superior de ‘um rio, isto é, nas regides préximas das suas cabeceiras, onde predomina geralmente a atividade erosiva ¢ transportadora, ha gran- de quantidade de detritos fornecidos pela Agua de rolamento, os quais correm sobre as encostas ¢ se ajuntam aos detritos origina- dos da atividade erosiva do préprio rio (fig. 5-3). Nestas condigdes 0 rio aumenta seu leito em profundidade, determinando uma forma de vale que lembra a de V agudo. Sao Relacbes da superficie piezométrica com o rio. As partes es = ‘Superficie piezométrica Fig. 5-4 as em A, B @ C representam a zona de aeraedo, acima da superficie piezométrica, A e8— superficie piezométrica abaixo do leito do rio, e consealiente migracdo vertical da égua, Regiées éridas ou semi-dridas. C— superficie piezométrica acima do leito do rio, alimentado parcialmente pela dgua subterranea D — superficie piezométrica abaixo do leito do rio, mantido por uma camada impermeével (seg. Kuenen). 97 0s chamados vales em V. No seu curso mé- _deposigo dos fragmentos maiores, que vo dio, gragas 4 menor declividade, que implica agora proteger o fundo do rio contra o tra- diminuic&o da velocidade das aguas, dimi- _balho erosivo. Com o aumento da deposi- nui o poder transportador, ocasionando a ¢do de detritos nas regides de menor veloci- Fig. 55 Baeall Meandros do rio Paraiba, SP, onde se observam numerosos meandros abandonados (fotografia aérea Inst. Agrondmico, 1962). 98 Fig. 5-6 Estidios do desenvolvimento de _meandros encaixados. easo no se processe o fendmeno de rejuvenescimento (seg. Kuenen, mod.) dade verifica-se uma mudanga na configu- ragéio do vale, que passara a ter a forma de um V bastante aberto, de base muitas vezes maior que os lados. Tal configuragao decor- re da deposigio no fundo, ¢ da erosdio, que passou a ser lateral, A fig. 5-6 nos mostra, em A, um rio formando meandros; em G, notamos os meandros dentro dos seus pré- prios sedimentos, Os estidios A e G repre- 1, assim, a fase de plena senilidade. Em E e F nota-se a erosio lateral nas par- tes céncavas da curvatura do rio ¢ a depo- © vale tende a alargar-se cada vez mais, sigdo no lado oposto convexo. Os demais estadios serdo discutidos adiante. Se 0 processo da sedimentago for muito prolongado ¢ intensivo, o canal torna-se de tal maneira alargado e os meandros de tal forma complicados, que se formam por isso varios bragos mortos que mais tarde sfo atulhados de sedimentos finos geralmente argilosos (estadio G). A fig. 5-5 apresenta um exemplo brasileiro (Tremembé, Vale dé tio Paraiba, Estado de Sdo Paulo), onde se acham bem desenvolvidos varios bragos 99 mortos. Nestas circunstancias o rio trans- porta apenas detritos muito finos em sus- pensio. ‘A configuragio de um vale depende tam- bém da natureza e da posigado das rochas. E ébvio que, quanto mais dura e menos dia- clasada for a rocha, mais dificilmente sera erodida, determinando um vale em V nor- mal, de lados abruptos, se houver homo- geneidade litolégica. Havendo no leito uma rocha branda, embora a erosao linear seja mais rapida, dar-se-d o desgaste rapido lateral, determinando lados de declividade suave. No caso de haver heterogeneidade litolégica, o vale sera formado de rampas abruptas, correspondentes as rochas mais resistentes e de terragos formados pela erosio das menos resistentes. Se as rochas forem dispostas em estratos obliquos e se © tio os cortar no sentido perpendicular 4 queda dos estratos, havera da mesma ma- neira uma assimetria nos vales. O lado do vale voltado para a diregdo da queda dos estratos seré abrupto, tanto mais quanto maior for o angulo de inclinag&o com o pla- no horizontal. O lado oposto, onde a queda dos estratos coincide com a queda natural da rampa do vale, seré mais suave, como se vé na fig. 5-2. Pela erosdo fluvial o vale se ‘sesame NEE eae. eT aprofunda e pela pluvial a rampa torna-se cada vez mais suave. Deve ser lembrado que esta interdependéncia entre rocha e forma do vale verifica-se somente na fase de ju- ventude do rio. Fases de_um rio. — As diferentes fases de atividade de um rio dao-se as seguintes denominagdes: fase juvenil, a primeira, Aque- a que se caracteriza pelo excesso de ener- gia, que transporta e erode em profundi- dade, tipica das cabeceiras dos rios. Quan- do o gradiente for tal, que a energia seja suficiente apenas para o transporte, ndo ero- dindo mais o fundo, da-se 0 nome de fase madura. Com a deposigéo dos detritos mais grosseiros o vale tende a alargar-se, como ja vimos, Sendo muito pronunciado este alar- gamento, formando-se extensa planicie onde meandra 0 rio, diz-se que este esta em fase senil. Deve ficar bem claro que estas fases ndo tém obrigatoriamente relagdo alguma com a idade real de um rio. Trata-se de fases que ocorrem quase sempre simultaneamente, também sem relagao obrigatéria com a to- pografia, que também pode ser jovem, madura e senil. A principal razdo desta falta de interdependéncia citada ¢ a freqiiente possibilidade de mudanga na atividade ero- Fig. $7 Relagio entre nivel de base e 0 perfil de equilibrio, Os Angulos verticals acham-se exagerados no presente esquema (seg. Tarr ¢ Engelen), 100 [a siva de um rio, cujas razdes podem ser cli- miaticas ou tecténicas. Aumentando a plu- viosidade nas cabeceiras de um rio ou veri- ficando-se um movimento crustal, seja de basculamento, seja epirogenético positivo ou seja de falhamento, que eleve as cabeceiras ¢ provoque um aumento na velocidade do rio, este passar a erodir mais intensamente, dando-se assim 0 seu rejuvenescimento. A fig. 5-6, de A a D, mostra o fenémeno do rejuvenescimento, gragas ao qual os mean- dros se encaixaram.. As trés fases de um rio di-se 0 nome de ciclo de erosdo. Tendo um rio completado tal ciclo, isto é, quando a sua energia seja tal que permita apenas o simples escoamento das aguas, cujo poder erosivo é diminuido ao maximo, diz-se que este rio alcangou o seu perfil de equilibrio, esquematizado na fig. 5-7. A erosio progri- de muito lentamente apenas nas cabeceiras do rio, onde o gradiente ¢ mais acentuado, como se nota no diagrama citado. Denot na-se nivel de base o nivel onde cessa 0 trabalho erosivo. E evidente que o nivel de base de todos os rios que so drenados para © oceano € 0 préprio nivel deste. Se um rio desemboca em um lago, 0 nivel deste sei © nivel de base temporirio do rio em ques- to, porque o destino do lago é ser entulhado pela sedimentagdo continua, ¢ mais tarde erodido pelo proprio rio que o drena rumo aos mares. Cachoeira. — A principal causa da for- magdo de uma cachoeira é a diferenga na resisténcia 4 erosdo oferecida pelas rochas cortadas pelos rios. Falhamentos ou diques de rochas igneas mais resistentes podem se- cionar o curso de um rio e também dar ori- gem a cachoeiras. Estas, contudo, sio de duragao efémera, Em pouco tempo a erostio as reduz a simples corredeiras. O Salto de Itu, Estado de Sdo Paulo, tem a sua origem gracas ao contato do embasamento cristali- no granitico com os sedimentos palcozdicos menos resistentes. Muitas cachoeiras do in- terior do Estado de Sdo Paulo so formadas gracas 4 maior resisténcia dos basaltos que formam grandes derrames sobre arenitos menos resistentes 4 erosdo. A tendéncia des- tas cachoeiras é regredir, isto ¢, remontar tio acima, mantendo sempre o desnivel gracas ao solapamento da base menos re- sistente, como se vé na fig. 5-8. As célebres cachoeiras do Iguacu e Sete Quedas, na ba- cia do rio Parana, sao formadas desta ma- neira. Correm sobre o chamado “trapp” basiltico. Gragas a erosfo remontante auxi- liada pelo diaclasamento vertical formam-se quase sempre neste caso os chamados ca- nhées (do esp. cafion), que so sulcos pro- fundos deixados pela regressaio da cachoeira. Estes sulcos podem atingir varios quiléme- tros de extensdo, como se verifica nos gran- des canhées do citado salto de Sete Quedas e também na famosa cachoeira de Paulo Afonso, que se situa em rochas sieniticas in- tensamente diaclasadas no sentido vertical, © que deu origem A formacio da cachoeira e do profundo e extenso canhio que se segue a jusante. Um aspecto muito interessante originado pela erosdo fluvial é 0 das pontes naturais, formadas pela penetracéio e escoamento da 4gua em fendas situadas logo a montante de cachoeiras. Quando o alargamento das fendas aumentar a ponto de toda a agua fluir através delas, a erosao as alarga ainda mais, ¢ 0 antigo leito a jusante da fenda é abandonado e forma a ponte. Para isso ¢ necessirio que a fenda seja perpendicular 4 diregao do rio e seja intercomunicdvel com © nivel mais baixo, 0 que é dbvio. Outro tipo de cachoeira pode ser formado se a erosdo for mais intensa no vale prin- cipal de um rio do que no vale de um dos seus afluentes (as causas podem ser varias: tecténicas, litolégicas ou climaticas), que ficara entao em nivel mais elevado, forman- do os chamados vales suspensos. Outro aspecto curioso da erosdo fluvial é dado pela formagao dos caldeirdes e mar- mitas (fig. 5-9). Trata-se de verdadeiras perfuragées cilindricas, profundas, formadas pelo redemoinho das aguas, ao turbilhonar apés uma cachoeira ou em uma corredeira. 101 Derrame Arenito de basalto Botucatu Fig. 5-8 Tipo de cachocira comum na Bacia do Parana, onde os derrames de basalto se intercalam em arenits (Arenito Botucatu) rocha mais facilmente erodida. © diaclasamento vertical pronun- tiado do basalt é cm parte, responsivel pela verticalidade da cachocira. A direita notamos 2 deposigdo de fragmentos rochosos resultantes da desagregagdo das rochas de cima. Os seixos ai depositados, em seu movimento circular, desgastam a rocha segundo o for- mato descrito. No Salto de Itu, Estado de Sao Paulo, ocorrem belos caldeirdes, tendo um aspecto pitoresco junto ao polimento natural daquele granito réseo. O tempo que leva uma rocha para ser desgastada foi determinado em alguns casos; assim, para o gnaisse duro, 500 anos por metro em uma certa localidade do Nilo, no Egito, onde o rio forma corredeiras e ca- taratas. Para um folhelho argiloso, do rio Glan, Alemanha, determinou-se a razio de 630 anos por metro ¢ finalmente, para lavas do Etna, apenas 13 a 16 anos por metro (vide Pranchas 5 e 6). Transporte de material pelas correntes de dgua ‘As correntes de agua transportam subs- tancias de varias e diferentes maneiras: a) em solugdo verdadeira; ) em suspensio; 102 c) em suspensio coloidal; d) por arrasta- mento ou rolamento e, finalmente, e) por saltos. ‘Transporte de material em solugio. — A Agua, ao percolar as rochas, pode dissolver diversas substancias, que sio levadas aos mares ou aos lagos. Se as condigdes forem favoraveis @ precipitagdo deste ou daquele soluto, formar-se-Ao as respectivas rochas sedimentares de origem quimica. Estes solutos podem também constituir a matéria-prima para a formagao de esquele- tos ou carapacas de seres viventes, cujo actimulo nos fundos, apés a morte, deter- mina a formacdo de sedimentos bioclasticos, termo que significa detritos provindos de seres vivos. Anualmente os rios transpor- tam para os mares a massa considerdvel de 2,7 bilhdes de toneladas de sais dissolvidos, sendo uma grande parte precipitada pela atividade biolégica. A agua dos rios, de um modo geral, apresenta maior concentraciio Fig. 5-9 Leito seco polido do rio Sao Francisco, rico em caldeirdes escavados em rochas graniticas pré -cambrianas, entre Juazeiro e Petrolina (foto O Estado de S. Paulo). de sais na época de estiagem, porque na das chuvas a agua superficial predomina, diluin- do 08 sais provindos principalmente da agua subterrdnea, e aumentando, em compensa- go, a quantidade de detritos em suspensdo, gragas 4 maior velocidade das aguas avolu- madas pelas chuvas. Estudos realizados em Barra do Pirai, rio Paraiba, mostram claramente esta relagdo, como sé vé na tabela 5-2. A composicao , quimica do material em solugdo varia mui- to, dependendo principalmente da litologia da bacia de drenagem. Merece ser citado 0 trabalho de M. Szikszay, que dosou os ele- mentos maiores ¢ os elementos tracos da agua do rio Paraiba em diversas localida- des. Em Campos, que é 0 local mais a ju- sante, onde a quantidade total de solutos TAMELA 5 Quantidade média das substancias dissolvidas nas iguas dos lagos e rios de toda a Terra Concensragiio Jontes € substineias (mg por ) CO; Catt so, SIO, Cl Nat Mee (Al Fe),05 K NOs Torat 145.9 Segundo Arie Ponpervaarr, Special Paper, 62, Geol. Soe. of America, £. U. A. 1955. 103 € de 31mg por litro, foram dosados os se- guintes elementos maiores (valor expresso em mg por litro): Ca, 3,4; Mg, 3,8; Na, 48; K, 0,8; Si, 2,0; Fe, 0,06; Al, 0,02; Cl, 7,1. Quanto aos elementos menores, dosados por meios espectrograficos, citaremos os seguintes elementos (mg por litro): B, 0,1; Co, 0,0009; Cu, 0,001; V,0,0001 ; Ni; 0,0009; Ti, 0.001 Na bacia amazénica s4o encontrados de preferéncia 0 SiO, e bicarbonato de calcio, enquanto que no vale do Sao Francisco pre- domina o bicarbonato de calcio. O clima da regio, 0 tipo de solo atraves- sado pelos rios e 0 volume de agua so os principais fatores que determinam a quan- tidade e a qualidade dos sais em solugdo. Havendo maior contribuigdo de dguas de fontes mais profundas, a quantidade de sais sera maior. Por outro lado, se as Aguas per- colarem regides muito intemperizadas, de solo muito lixiviado, como so os lateriti- cos, o teor de sais sera evidentemente menor. ‘Nas épocas de maior pluviosidade o aumen- to das aguas determinard a maior diluicfo, diminuindo 0 teor de solutos, 0 que se acha elucidado na tabela 5.2. Por outro lado, os trios de regiées glaciais, alimentados pelo TARELA Materia! transportado por degelo das neves, possuem uma concentra- ¢do bem menor de solutos, como conseqiién- cia da pouca alteragdo quimica das rochas, preservadas do intemperismo quimico pelo frio. Em regides muito chuvosas predominam os carbonatos e nas regides semi-dridas so mais freqiientes sulfatos e cloretos entre os solutos das Aguas fluviais. ‘Transporte de material em suspensio me- cAnica ¢ coloidal. — A Agua corrente possui a capacidade de manter em suspensiio par- ticulas sélidas gragas 4 velocidade e, sobre- tudo, ao seu grau de turbuléncia. Quanto maior for a velocidade de um rio, tanto maior serd sua capacidade de manter e transportar particulas em suspensio, A ta- bela 5-3 mostra a variagaéo da quantidade e do tamanho das particulas transportadas pela Agua, conforme a velocidade da cor- rente. A causa do aumento da velocidade neste caso é a maior descarga, conseqiiente da maior pluviosidade. Além deste fator, a velocidade pode ser aumentada gragas ao maior gradiente do rio e, também, gragas a forma do canal. Assim & que 0 Amazonas possui a veloci- 52 alguns rios brasileiros Rio Paraiba, Barra do Pirai Rio Sto | Rio Amazo- | Rio Ama: Més de | Més de | Média | Francisco nas nas, na foz("*) agosto | janciro | estimada Obidos(*) Vazio em m‘ss, 600 250 1,000 100.000 170,000 Grams por m! em solugio 43 lo 37.2 25 54 45 Gramas por m' em suspensio 550 1.200 694 315 138 100 Tdidriaem solugio 21 604 803 2.160 466.500 635.000 T didria em sus pensao. TL 15.000 1.166.400 1.370.000 Tanualemsolugao 7 = 300.000 70 milhoes | 232 milhdes T anual em sus- pensio. — | 5.502.000 | 9.796.000 | 425 milhoes | 499 milhoes (*) Dados recalculados de Katzer, descontando-se (*) Segundo dados recalculados de R. J. Giszs — 1967. 104 Tapes 5-3 © tamanho de gros transportados conforme a velocidade do rio (Paraiba — Barra do Pirai) I a Tamanho dos g em suspensdo. 0.5mm. = 02mm 0,2 — 0,02mm. ", do total %, do total 43% 2 4 002mm Quantidade em sus- pensio-gramas bio de agua 1.200 0.5508 1 — Velocidade do 0,59m/s no més de agosto, i Velocidade do janeiro, no! rio: 1,05m/s no més de dade média, nas regides espraiadas, de 2,5km por hora, sendo esta velocidade du- plicada na regio de Obidos, onde 0 rio so- fre um estrangulamento, reduzindo a sua largura de quase 10km para apenas 1,6km. A quantidade de material sélido trans- portado durante as enchentes cresce consi- deravelmente com o aumento da velocidade das Aguas e com a maior contribuigio de detritos trazidos pelas enxurradas. Segundo estudos recentes realizados no rio Amazo- nas verificou-se uma diminuicio que varia de 30 a 50% na quantidade de material em suspensio medida nas épocas seca e chu- vosa, medidas estas tomadas sob as mes- mas condicdes de profundidade. A figura 5-2 nos mostra as duas regides de um rio: a de maior velocidade (eixo do rio) e a zona de maior turbuléncia. E nesta zona que © transporte é mais efetivo. Na tabela 5-4 observamos a variacdo granulométrica dos detritos transportados pelo rio Mississipi, sendo notoria a variagdo da quantidade re- lativa de seixos e de material argiloso num percurso de 1,600km. A montante, onde a velocidade do rio € maior, predominam os detritos mais grosseiros, verificando-se o contrario A medida que se caminha a jusan- te. As aguas véo-se avolumando e a veloci. dade vai-se tornando cada vez menor, di- minuindo assim a capacidade transporta- dora. O grifico da fig. 5-10 nos mostra a distri- buic&o dos tamanhos dos detritos nas dife- rentes zonas do rio Missouri. Vemos que as particulas argilosas, por serem finissimas, se distribuem homogeneamente nos diferen- tes niveis. Num outro extremo, vemos a quantidade pequena de areia grosseira pré- xima A superficie do rio e a quantidade grande, 20 vezes maior, no fundo do rio. A capacidade transportadora dos rios é impressionante. Dia apés dia, ano apés ano, as cotrentes de agua carregam detritos solutos para o mar, dilapidando a superfi- cie dos continentes. Se dermos uma densi- dade média de 2,5 ao material levado pelo rio Amazonas, o volume ocupado por estes detritos mais sais soluveis encheria num ano um gigantesco cubo de 620 metros de ares- ta. Um rio relativamente pequeno, como é TapeLa St Variagao granulométrica em porcentagem dos detritos transportados pelo rio Mississipi entre Cairo e 2 desembocadura. (Seg. C. NevIN.) kin a jusante de Cairo 160 480 800 1120 | 1440 | 1.600 Seixos” . 2 8 4 5 t. zero Areia gr0sst 9% sseseeee 30 2 9 8 1 zero Areia média %. 32 50 46 4 26 9 Areia fina Spenenesseseeses 8 19 28 41 70 « Silte % tragos te. 2 1 2 10 Agila % tragos t. 1 t. 1 10 105 Superficie do rio ral pés Altura em b Th o 100 partes por milhdo Leito do rio— Fig. 5-10 Variagdo da distribuigio dos detritos levados em suspensio segundo a altura acima do leito do rio Missouri, nas proximidades de Kansas City, em janeiro de 1930. Cada di ‘A argila distribui-se de maneira uniforme, isto é, corresponde a 100mg de detritos por litro. isio horizontal do fundo ao topo do rio o teor em argila na agua € de 0,lg por litro; o silte aumenta um pouco apenas nos primeiros 90cm ima do fundo: a arcia grosseira € bastante rara na superficie do rio e abundante na sua parte inferior (seg. L. G. Straub). © Paraiba do’ Sul, transporta diariamente, pela Barra do Pirai, a média de 15.000 to- neladas em suspensio, ou seja, 174kg por segundo. Quanto ao transporte de particulas coloi- dais, efetuado pelas Aguas correntes, devem ser citados como principais exemplos os hi- drdxidos de ferro (se as aguas forem bem arejadas, ricas em oxigénio, que oxidara os sais ferrosos, como carbonato, cloreto ou sulfato), hidréxidos de aluminio, argilas, si- lica € as vezes coldides orginicos. Alguns destes podem dar o carter salobro 4 agua, se a quantidade for apreciavel. 106 ‘Transporte de material por arrastamento e por saltos. - Gracas ao movimento das Aguas fluviais, verifica-se uma pressio hori- zontal sobre 0 leito do rio. Esta pressio au- menta com a velocidade ¢ com a viscosida- de da agua. Quando o leito for constituido de material incoerente, este sera movimen- tado pela forca da agua. Rochas maiores sdio empurradas ¢ freqiientemente tombam, enquanto que seixos menores rolam e pulam num movimento desordenado, obedecendo as irregularidades do movimento turbilho- nar da agua, tanto mais intenso quanto mais irregular for 0 leito do rio. No contato da Agua com o leito, a velocidade é bastante diminuida pelo atrito. Provavelmente se tra- ta de um movimento laminar, isto é, as par- ticulas aquosas movem-se lenta ¢ paralela- mente A direcéo da correnteza, enquanto que a poucos centimetros do leito a sua ve- locidade € consideravelmente aumentada. no movimento de tipo turbilhonar. Mais acima a velocidade se torna maior, porém mais regular quanto ao movimento. O trans- porte é, evidentemente, mais rapido na zona de maior velocidade, embora as particulas sejam de menor tamanho. Durante este mo- yimento, gragas 4 abrasdo ¢ ao impacto re- ciproco, os blocos e seixos perdem rapida- mente suas arestas ¢ transformam-se em sei- xos arredondados de formas esféricas, cilin- dricas, elipsdides ou discdides, dependendo da forma original do fragmento antes de sofrer a abrasdo. Assim é que os seixos de rochas metamérficas xistosas séo geralmen- te discdides, pela fraturag4o mais facil se- gundo planos paralelos ao da xistosidade. J4 com os fragmentos pequenos, geralmen- te inferiores a 0,2mm, pela sua pequena massa diminuida pela suspenso aquosa, 0 impacto € desprezivel e por este motivo no se arredondam, por mais que sejam trans- portados. Quanto maior for a particula, tanto maior sera a facilidade para o arre- dondamento. Durante o processo de desgaste, da-se, pois, gradual diminuiggo em volume, E Sbvio que, quanto menor for a resisténcia da rocha a abrasio, tanto mais rapido sera o desgaste. Desta maneira, verifica-se uma selecdo intensiva a favor das rochas e mi- nerais mais resistentes, que se acumulam nas regides favoraveis & deposigéo. Neste processo verifica-se nova selegio segundo a densidade do mineral, formando-se os de- pésitos aluvionarios de ouro, de cassiterita, monazita, diamante, etc. Tendo o diamante uma densidade elevada, € depositado junto a minerais também densos, denominados pelos garimpeiros de satélites ou cativos do diamante, pelo fato de circundarem a pre- ciosa gema no fundo da bateia. Para que se possa manter em movimento diferentes esferas de quartzo so necessarias as seguintes velocidade da correnteza da agua: Didmetro em mm Vetocidade mis 0, 02 1 03 lo 10 50 24 A velocidade para iniciar 0 movimento 6, certamente, maior do que a necessaria para manter o transporte da particula. Os dados ora apresentados variam bastante com © tipo de correnteza, se é turbulenta ou la- minar, com a forma dos detritos, com a temperatura da 4gua que modifica a sua vis- cosidade e principalmente com a densidade dos detritos em vias de transporte. A figura 5-I1 nos mostra diferentes substancias de tamanhos diversos transportadas simulta- neamente pela Agua corrente, como 0 quart- zo, corindon, monazita e ouro. A este poder de transporte de um rio da- se o nome de competéncia, que pode as ve- zes ser enorme. Nas ocasides de grandes chuvas em regides acidentadas, blocos de 3 metros de diémetro podem ser arrastados por longo percurso, Deve aqui ser lembrado que nem todos os grandes blocos encontra- dos nos leitos dos rios sao transportados. Na maioria das vezes, trata-se de matac6es formados logo acima do local onde se en- contram e caidos no Icito dos rios, fato observado no rio Jundiai, SP, entre Itupeva ¢ Itaici. Agua de escoamento imediato ‘As fguas de chuva ou degelo tendem a escoat-se para os pontos mais baixos da su- perficie terrestre, caminhando rumo ao mar. Iniciam-se como filetes de gua, denomina- dos filetes de rolamento, que fluem para as regides mais baixas, fazendo aumentar tem- porariamente o nivel dos cérregos ou dos 107 B Ouro D=193 Monazita D=5 Corindon D=4 ° Quartzo D=2,65 Fig. 5-11 ‘Tamanhos aproximados de esferas de alguns: minerais com diferentes densidades que so transportados sit multaneamente pela agua corrente. 4 — transportados em suspensio. B — transporiados por arrastamento, Conelui-se que uma pepita de ouro do tamanho visto na ilustragdo deve associar-se a seixos de quartzo bem maiores rios maiores. Logo apés ter iniciado seu mo- vimento, comega a sua atividade como agen- te geoldgico, arrastando material s6lido. Este provém normalmente do manto de intemperismo ¢ de fragmentos de rochas previamente desintegradas. A quantidade arrastada pelas aguas de rolamento depen- de de varios fatores. Quanto mais inclinado for o terreno, tanto maior a carga de de- tritos, dada a maior velocidade da agua corrente. Nas rochas pouco porosas ou pou- co fendilhadas o filete de rolamento é de 108 duragdio efémera. Quando a agua penetra apenas superficialmente € se escoa ao en- contrar uma zona pouco permedvel, forma- se o chamado filete subterrineo, cuja agéo crosiva pode ser intensa, dando origem as A citadas bogorocas. Tanto o filete super- ficial como o subterrneo, representam o agente mais importante na esculturagaio do relevo, gracas 4 quantidade clevada de de- tritos que é removida. J nos referimos ao importante papel desempenhado pelas ma- tas, que funcionam como verdadeiro freio as Aguas correntes, sendo, pois, minima a atividade erosiva, que € consideravelmente aumentada com a diminuig&o da vegetagio. A diteratura cita varios exemplos de regides chuvosas de solo arenoso profundo, propi- cio ao acimulo de Agua, e que no entanto so praticamente destituidas de rios perenes. Tal se deve a auséncia da vegetacdo, fator importante a penetragdo da Agua no solo. Nestas citadas areas as aguas de chuva sio de escoamento imediato. Infelizmente esse fenémeno vem nos afetando seriamente, ten- do em vista a devastagao das nossas matas, em pouco tempo transformadas em pastagens pobres c ja sulcadas e, em parte, inutilizadas pelas ameagadoras bocorocas e ravinas. Mais triste ainda é saber-se que as matas, jd ba: tante raras no nosso Pais, sao transformadas em carvao, A fig. 5-12 nos mostra a relagdo existente entre a quantidade de agua que cai e a per- centagem que vai formar o filete de rola- mento numa regitio semi-drida. Cada ponto representa a quantidade de chuva de um ano, de 1912 a 1931. Notamos que quanto menor for a chuva, menor serd a percenta- gem de Agua para a formacio do filete. Em outras palavras, as pequenas chuvas infil- tram-se solo adentro e evaporam-se na sua maior parte, enquanto que as chuvas maio- res jd permitem um escoamento de uma par- te da agua que cai, sendo a restante evapo- rada e infiltrada no solo ressequido. E inte- ressante notar-se que ha variagdes de ano para ano. Assim, no ponto a, dos 820mm de chuva, menos de 2% se escoaram, ao Fig, 5-12 Relagao entre precipitagio ¢ escoamento imediato da dgua, na bacia do rio Quixeramobim, Ceara, de 1912 2 1931 (seg, Francisco Aguiar). Cada ponto corresponde a um ano. Note-se a disere- plincia dos valores observados em a ¢ 6. Durante 0 ano a a precipitagio foi de 820mm, tendo-se escoado menos de 2%, enquanto em 6, se precipitaram 300mm ¢ quase 4% das aguas se escoaram imediatamente. passo que 0 ponto 6, dos 500mm caidos, se escoaram mais de 3%. Tal se deve a distri- buicdo das chuvas. Quando mal distribuidas, a infiltragao diminui. As chuvas finas sao as mais benéficas, as que mais penetram no solo. Assim sendo, observa-se no grafico que as chuvas maiores de 1.000 1.200mm. anuais, permitiram um escoamento de 12 a 16% do total caido. A constitui¢do litolégica do terreno é um fator decisive no desgaste promovido pela agua de rolamento. Rochas frescas ndo séo muito suscetiveis ao trabalho erosivo, en- quanto que rochas incoerentes e decompos- tas so facilmente transportadas. Muito ra- ramente uma rocha apresenta uma perfeita homogeneidade em seu conjunto. Ocorrem sempre zonas mais fracas, mais aptas a se- rem atacadas. Estas, mais freqiientemente, sfio as mais ricas em didclases, plano de fraqueza originado por rupturas, por onde podem circular as solugdes ativas no ata- que quimico. Muitas rochas de granulagdo fina e homogénea mostram um sistema de caneluras verticais provocado pelo desgaste mais intenso na regido da canelura. Nao é obrigatério, todavia, que a regido mais pro- fundamente atacada seja sempre mais fra- ca. Se se der um ataque mais intensivo (cujas razdes podem ser diversas) em de- terminadas partes da rocha, certamente esta sera mais profundamente afetada. No caso citado das caneluras verticais, aspecto comu- mente observado nas rochas alcalinas do 109 Itatiaia ¢ ilha de Sao Sebastiao, sp, prova- velmente se trata de um ataque quimico milenar promovido pelas aguas pluviais. Sedimentagaio fluvial Diminuindo a yelocidade de um rio, gra- cas a0 menor declive existente nas regides médias e inferiores, diminuiré também a sua capacidade transportadora, iniciando-se entio a sedimentagao do material transpor- tado. Deve ser lembrado que o diémetro dos detritos mais grosseiros, da mesma den- sidade, transportados por uma corrente, va- ria aproximadamente com o quadrado da sua velocidade, isto é, se a velocidade do- brar, 0 didmetro mdximo de um seixo que pode ser transportado ser em volta de qua- tro vezes maior. Esta rela¢o nao se aplica As particulas menores que as areias, cujo diametro é de 2mm no maximo. Os primeiros sedimentos fluviais formam- se geralmente no sopé das montanhas, re- cebendo a designagao de depédsito de pie- monte. Sio também chamados de cones ou Ieques aluviais, possuindo a forma aproxi- mada de um leque, pelo motivo de se espa- Jharem morro abaixo. Possuem, litologica- mente, as mesmas caracteristicas do talus, jé escrito anteriormente, com a diferenca de terem ja sofrido pequeno transporte pe- las Aguas correntes. Se este material for liti- ficado, receberé a denominacao de fanglo- merado. Em regiGes semi-dridas, gracas & auséncia ou quase auséncia de decomposi- cao quimica, pode assemelhar-se a um tili- to, também pela heterogencidade granulo- métrica dos constituintes e falta de estrati- ficaco. Nesta regifio pode haver matacoes de mais de 2 metros de didmetro junto aos depésitos de piemonte, caso haja, na regiio de transporte, um forte gradiente, além de varias outras condicdes para a formagdo de grandes blocos. Os maiores conhecidos atin- gem o diametro de 9 metros. Estes grandes blocos so transportados por correntes de lama, por vezes violentas ¢ catastréficas. E possivel que se dé o encontro de dois leques aluviais, formando-se pequenos lagos entre ambos. O tamanho dos detritos vai-se tor- 110 nando cada vez menor, quanto maior for a distancia das cabeceiras. Os depésitos de piemonte passam gra- dualmente aos de aluvides tipicos, formados nos vales dos rios. Na zona de deposigio acumulam-se inicialmente os seixos, geral- mente em forma de bancos, com os inters- ticios preenchidos de areia. De um modo geral, os sedimentos fluviais dispdem-se em camadas irregulares na forma e na espessu- ra. So lenticulares, variando quase sempre de modo abrupto a sua constituigao granu- lométrica, variagdo esta verificada tanto no sentido vertical como também no horizon- tal, como conseqiiéncia da variagdo répida das condigées de deposigdo. Esta variagdo resulta de mudangas da velocidade, que se verificam no tempo € no espago. Por este motivo, um rio ora destréi, ora deposita, podendo migrar e transformar-se em um Jago temporario, podendo repetir por mui- tas vezes tal ciclo. Na regido média de um rio, onde a velocidade é tal que permita um equilibrio entre erosdo ¢ deposiga0, isto & onde se verificam ambos os processos, dar-se-4 a deposigéio de detritos mais pesa- dos, de seixos. Se o rio atravessar zonas que contenham ouro, ou diamante ou qualquer minério de alta densidade, estes serdo con- centrados pelo trabalho seletivo das Aguas. ‘As particulas finais, que se poderiam ter sedimentado numa época de estiagem, sio levadas pela correnteza, verificando-se entdo a concentragao dos detritos mais pesados na zona de maior velocidade, que é a zona de erosio. Se o rio migrar deixara um depo- sito geralmente de forma alongada e curva de cascalhos. F neste tipo de depésito que devem ser procurados os minerais uteis de alta densidade. Muito freqgiientemente se formam marcas indicativas de deposigdo em aguas corren- tes, como os “ripple marks” ou marcas onduladas. Trata-se de uma ondulagdio que se forma nos sedimentos arenosos, podendo apresen- tar uma forma assimétrica, da qual € pos- sivel deduzir-se a diregdéo da correnteza. Outra caracteristica @ a estratificago cru- zada, que também indica a direcdo da cor- rente responsivel pela sua formagio (ver fig. 5-13). Esta estrutura forma-se também nos sedimentos arenosos, sendo ela impor- tante para a medida da diregio de varias camadas que apresentem esta peculiaridade, a qual representa valioso auxilio na deter- minagao da paleogeografia de uma forma- go sedimentar antiga, Outra marca fre- qiiente em sedimentos finos que estiveram expostos ao ar so as gretas de ressecagao, que podem também ser conservadas (fig. 5.14). A formagdo destas gretas faz com Arenito grosseiro que a estratificagio fique obliterada, haven- do um preenchimento posterior que facilita a conservagdo de tais fendas Embora as atividades biolégicas sejam intensas nestes tipos de ambientes, ocorre também intensa oxidagdo, gragas 4 peque- na profundidade e agitaglo das aguas, 0 que determina destruigéo de vestigios de vida. Por este motivo, so raros os fosseis em tal tipo de sedimento. Reconhecem-se dois tipos de depésitos fluviais, com caracteristicas diferentes, dada a variagdo de comportamento do tio nos diferentes ambientes. Um é 0 formado no Fig. 13 ‘Algumas caracteristicas dos sedimentos de aguas correntes: a flecha indica o sentido da cor- renteza, responsivel pela deposicao. A — Conglomerados e arenitos; nota-se que os seixos alongados se acham orientados ¢ imbri- cados segundo o sentido da correnteza. 1B ~ Fstsatificagao cruzada tipiea de deposigio fluvial; nota-se a variagio do sentido da cor renteza, como conseqiiéncia da divagagao do rio. C — Marcas onduladas (ripple marks) assimétricas, de cuja assimetria se infere o sentido da correnteza: fa distancia entre as cristas diz da profundidade das dguas: quanto mais rasas, menor seré esta distancia. 11 Fig. 5-14 Gretas de contragio em lama atual exposta ao ar. Formam-se gragas a perda de volume produzida pela evaporacio da agua, Represi Billings, Si0 Paulo (foto de S. Petri) vale propriamente dito, e 0 outro, no plano de inundagdo, ou “floodplain” dos ingleses. No primeiro ocorre nitida orientagdo prefe- rencial dos seixos e também das marcas que indicam deposigéo em aguas correntes, as quais j4 nos referimos. Predominam seixos e areias entre os detritos depositados. Ja nos depésitos do plano de inundagdo, gra- ¢as ao serpéntear irregular dos rios que mu- dam continuamente o seu curso, a orienta- cdo dos detritos sera varidvel, sem diregao preferencial alguma, sendo mais comum a auséncia de orientacdo dos fragmentos alon- gados, dada a menor velocidade da corren- teza. Sendo a velocidade das aguas conside- ravelmente menor, haverd conseqiientemen- te a deposig&o de particulas mais finas. Por este motivo formam-se os depésitos de argi- las e silte. Nas proximidades das margens 112 do rio da-se a deposigéo mais rapida dos detritos mais grosseiros, formando-se, assim, diques naturais e o lodo mais fino sera par- cialmente depositado nas varzeas do rio. Tais depésitos geralmente nao apresentam estratificagao nitida. Ja referimos que a variagdo das condi- des de deposigdo em um rio determina uma mudanga brusca na litologia, tanto no sen- tido vertical como também no horizontal, Formam-se, desta maneira, depésitos lenti- culares de espessura e extensio muito va- ridveis. Assim é que conglomerados se inter- calam entre lentes de argila ou de arenitos e vice-versa. Além da heterogencidade li- tolégica, ocorre também grande heteroge- neidade granulométrica, isto é, os sedimen- tos sio geralmente mal selecionados, signi- ficando a mistura de detritos de diversos didmetros, desde seixos até graos finissimos no mesmo sedimento. Por este motivo, os conglomerados possuem freqiientemente um certo teor de areia e argila, areias estas que incluem gros de tamanho muito variado. ‘A forma dos graos é normalmente arredon- dada até um diametro de 0.2mm; graos me- nores séo angulosos, porque o peso reduzi- do dos gros faz com que o impacto se re- duza a tal ponto, que ndo se verifica mais © arredondamento. Além disso, a propria Agua, pela sua viscosidade, protege 0 gréio contra o desgaste. Por este motivo os seixos de maior tamanho sio os primeiros a se arredondar. Havendo estédios lacustres temporarios no processo da sedimentagao fluvial, pode acumular-se grande quantidade de matéria organica. Em muitos sedimentos fluviais re- centes ¢ em parte nos antigos da-se a con- centragaéo de muitos minerais uteis. Ja di semos que 0 ouro, o diamante, a cassiterita e diversos outros minerais titeis pesados se encontram em jazidas secundarias, acumu- ladas milenarmente nas camadas de casca- lho fluvial. O ouro ainda esta sendo lavrado pela garimpagem em numerosos depdsitos aluviondrios do Brasil. O diamante ja se restringe a dreas limitadas, enquanto a cas- siterita € lavrada no tertitério de Rondénia, em Encruzilhada (Estado do Rio Grande do Sul), Sio Jofio del Rei e rio Aracuai (Minas Gerais) ¢ nos rios Araguari Amapari (Territério do Amap4). Sob o ponto de vista econémico, devem também ser citados os depésitos fluviais de casca- Thos, areias ¢ argilas, materiais indispensd- yeis 20 homem, que os utiliza em constru- oes e na indiistria ceramica. A fig. 5-14A mostra de maneira didética a complexidade da sedimentagao fluvial. A Depésito srenoso de Roches pré-existentes referida figura, na realidade, é uma simpli- ficagio do que se observa na natureza. Os antigos portos de areia dos rios Tieté e Pinheiros, nos arredores da Capital, eviden- ciavam a repeticio das camadas de seixos, areia, silte e argila, formando mais de 20 metros de espessura de sedimentos fluviais, depositados sobre gnaisses pré-cambrianos decompostos. Nas ocasides das grandes enchentes pode dar-se 0 rompimento do dique marginal, espalhando-se grandes leques de sedimentos Depésite elevado de barra de mesndro Canal fluvial Pd Fal Depésite arenoso de barre indro Depésito conglomerético de fundo de cansl Fig. 5-144 Principais sedimentos do ambiente fluvial. Observe-se a lenticularidade © a irregularidade na espessura dos diferentes estratos (Seg, Allen ¢ Kenitiro, modif.). 113 arenosos-siltosos sobre as argilas previa- mente depositadas, aumentando a comple- xidade da disposigfo dos estratos fluviai Quando os tios cortam regiées semi-éri- das, como € 0 caso do rio S. Francisco no Estado da Bahia, podem formar-se grandes dunas a0 longo do plano de inundacio do io, associando-se assim sedimentos edlicos aos fluviais. Deltas Quando 0 rio desemboca no mar ou num lago, dé-se a deposicao de grande parte da massa de detritos trazidos em suspensio. Nao havendo correntes marinhas que trans- portem os detritos trazidos pelo rio, forma- se um cone de sedimentagao, que avanca lentamente mar adentro. Pela semelhanca com a forma do D gre- g0, este tipo de depdsito recebe a denomi- naco de delta, sendo de muita importancia pela sua larga distribuicao, quer entre os depésitos do presente, quer do pasado. Gracas as freqiientes oscilagdes do nivel dos oceanos durante a época pleistocénica, puderam os deltas atingir grande 4rea. Sen- do a drea coberta pelas Aguas muito maior do que a area emersa, ¢ provavel que a area total dos deltas atuais atinja cerea de 5 mi Ihdes de km®. Os sedimentos depositados em ambiente deltaico possuem grande nti- Camadas Camadas fluyiats de topo (Topset) mero de caracteristicas, que podem servir para identificd-los como tal. Entre elas, a mais importante é a associagao de trés tipos de camadas que se formam em diferentes profundidades (v. fig. 5-15). A superior é conhecida como “topset”. Poder-se-ia deno- miné-la camadas de topo. E horizontal e possui caracteristicas litolégicas semelhantes as dos depésitos fluviais. Trata-se de am- bientes heterogéneos, pelo fato de poderem ser formados em ambiente subaéreo ¢ suba- quatico, apresentando ambos. caracteristi- cas diferentes. Nas camadas subaéreas ocor- rem com freqiiGncia muitos restos orgiinicos, sobretudo de origem vegetal, dispondo-se as camadas de maneira lenticular. Entre os fOsseis, podem ocorrer tanto os marinhos como os continentais. J4 no “topset” suba- quatico no ocorrem restos vegetais © os sedimentos de granulacdo mais fina, como silte e argila, sio mais abundantes. Em regides mais profundas as camadas dispdem-se de maneira obliqua, inclinadas no mesmo sentido da correnteza responsdvel pela deposig&io, recebendo a denominacio de “foreset”. Poderiamos chamé-las de ca- madas frontais. Os sedimentos desta regiiio de delta possuem caracteristicas de sedi- mentos marinhos, principalmente pela natu- reza dos fésseis. Finalmente, a camada mais profunda e mais distante da desembocadura do rio é chamada “bottomset”, ou camada de fundo, de caracteristicas exclusivamente de fundo (Bottom set) Fig, 5-15 Gritico do perfil de um delta, onde os Angulos esto aumentados, gragas ao exagero da escala Os termos que designam os trés tipos de camadas podem ser traduzidos em nosso ‘vernéculo como camadas superiores, camadas frontais ¢ camadas de fundo. vertical 114 marinhas, quer litolégicas, estruturais, quer paleontoldgicas, no caso de o delta set ma- rinho. Com o desenvolvimento do delta, que pode atingir espessuras considerdveis no caso de haver um movimento transgressivo do mar, estas trés diferentes camadas en- trosam-se de modo complexo, confundin- do-se também entre elas as camadas tipi- camente fluviais, formadas pelo eventual avango dos sedimentos fluviais. Com 0 cres- cimento irregular do delta e com a forma- cdo de barras, formam-se freqiientemente Tagos, do que resulta a formagdo de depési tos lacustres também entrosados junto as demais camadas do delta. ‘A formacdo de um delta pela entrada do rio no mar freqiientemente € perturbada ou impossibilitada pelas correntes marinhas, marés, ondas ou mesmo por um eventual abaixamento epirogenético da costa, fazen- do com que a desembocadura fique sub- mersa. 1885 O crescimento de um delta é muito va- ridvel. O Mississipi avanga até 80m por ano, como mostra a fig. 5-16. Como ocorre lento abaixamento de delta, este cresce bastante também em profundidade, devendo ter no minimo 600m de espessura, dado obtido por sondagens. Acredita-se, no entanto, que seja maior, pelo valor anormalmente baixo da gravidade, conseqiiente da pequena den- sidade dos sedimentos finos ainda nao com- pactados. Fato andlogo ocorre com o cé- lebre delta do Nilo (cuja forma caracteristi- ca deu a denominagao de delta aos demais depésitos semelhantes, como se vé na fig. 6-2) e também com o delta do Ganges, na India. O delta do Paraiba, com seus 60km de extensdo, formou-se, segundo LAMEGO, na época pleistocénica (fig, 5-17). Exemplo interessante é o da cidade de Adria, que era porto de mar hA 1.800 anos, situando-se hoje 22 quilémetros afastada da costa, gragas ao crescimento do delta do tio Pd. Neste caso a velocidade de cresci- 1935 _—— Fig. 5-16 Parte terminal do delta do Mississipi. Pela escala da planta verifica-se 0 rapido crescimento no espago de 50 anos (seg. Holmes) 115 Fig. 5-17 Vista aérea do delta do rio Paraiba, Estado do Rio de Janeiro (foto de O.H. Leonardes). mento é de 12 metros por ano, ou um metro por més. Também Ostia, porto da antiga Roma, foi porto de mar, situando-se hoje a 6km da desembocadura do Tibre. Pela au- séncia de correntezas nos lagos, estes séo propicios ao crescimento de um delta, Assim é que o delta do rio Terek, situado a oeste do mar Caspio, cresce 300m por ano, ou quase um metro por dia. A importancia geologica dos deltas é grande, dada a abundancia de sedimentos antigos que se formaram em ambiente del- taico, 0 que se sabe gracas as suas caracte- risticas estruturais e litolégicas. Calcula-se em cerca de 6 milhdes de quilémetros qua- drados a area ocupada hoje pelos sedimen- tos de antigos deltas. Além disso, impor- tantes estruturas acumuladoras de petro- leo podem relacionar-se a arenitos formados em antigos canais de deltas do passado, tal como ocorre em varios campos petroliferos do Texas, E.U.A. Por esse motivo, nestes Ultimos anos, a Petrobras vem levantando com pormenores todos os aspectos geold- gicos dos deltas dos trios Paraiba e Doce, a fim de conhecer © modelo das nossas condi- des atuais e compari-las com as do passado, dada a possibilidade da existéncia de depd- sitos deltaicos antigos eventualmente petro- liferos. 116 Denudagao Os agentes do intemperismo destroem as rochas, reduzindo-as a solutos ¢ a particulas pequenas, soltas e méveis, acessiveis ao tra- balho transportador das aguas ou dos ven- los. Assim sendo, a erosdo é mais ativa nas zonas mais afetadas pela destruigéo das ro- chas, que vao lentamente sendo dilapidadas, diminuidas em sua massa ¢ levadas aos oceanos ¢ As regides baixas dos continentes. A tabela 5-5 nos da uma idéia da quantida- de de material transportado por um tnico rio de grande tamanho, como ¢ o Amazonas. Dé-se 0 nome de denudagéo ao conjunto de processos que agem na remogao ¢ con- seqiiente abaixamento de uma superficie ek vada, pela interago de processos intempé- ricos e erosivos, podendo ser acompanhados da lixiviagdo, no caso de tratar-se de regides calcirias. Dependendo do clima e da rocha, havera a predominancia deste ou daquele fator. A gravidade, vencendo o atrito, ¢ o Sol. fornecendo continuamente a energia ne- cessiria ao processo, fazem com que os con- tinentes abaixem dia a dia de nivel, deposi- tando-se diariamente no fundo dos oceanos muitos milhdes de toneladas de detritos. Nao fora a instabilidade tecténica da nossa crosta, hi muito tempo ja teriam desapare- cido todos os continentes, como conseqiién- cia da denudagao, bastante acentuada na presente Epoca, como conseqiiéncia da ati- vidade humana, que, como jé dissemos, re- presenta um fator importante no desgaste do solo. Com o presente grau de denudagio, em apenas 25 milhdes de anos (tempo curto, geologicamente falando), todos os continen- tes seriam arrasados ao nivel do mar, se no se verificassem movimentos tecténicos compensatérios. A denudagdo, em seu trabalho continuc reduz assim as montanhas ¢ elevagées, aplai: nando as irregularidades até atingir uma su- perficie de erosdio de topografia quase pla- na, denominada peneplano, que significa quase plano (do latim paene, quase). AS rochas sedimentares sao as vezes formadas de bancos horizontais de resisténcia varid- vel. O intemperismo e a erosio avancam pre- ferencialmente nas partes menos resistentes, remodelando as rochas em formas muitas vezes caprichosas, como o arenito de Vila Velha, Ponta Grossa (Parana). Outro exemplo em maior escala ¢ 0 do pico do Jaragua, sp, elevacio determinada pela maior resisténcia 4 erosdo do quartzito, bem Tanita 5 como, 0 Pao de Agicar da Guanabara, constituido de gnaisses claros resistentes. As rochas adjacentes 4 elevagdo sio xistos e filitos de facil decomposigéo e remogéo. O trabalho principal é executado pelas aguas de rolamento. Também o deslize, o vento ¢ 0 gelo conseguem denudar o terreno em larga escala. O vento ¢ o gelo agem efeti- vamente, mesmo em regides de pequeno desnivel. A velocidade da denudacio é ge- ralmente maior nas areas de topografia mais acidentadas e menor em terreno relativamen- te plano, tendo grande importancia a vege- tagdo e o-clima. Sabemos que este ultimo fator é decisivo no tipo e intensidade de in- temperismo, que, por sua vez, fornece o ma- terial a ser trabalho pela denudagdo. ‘A tabela 5-5 nos fornece alguns dados so- bre a intensidade de denudagao em algumas bacias de drenagem do Brasil. Pela tabela apreciamos a quantidade de material trans- portado anualmente pelos rios Amazonas, Paraiba e Sdo Francisco, Conhecendo-se a rea de drenagem de cada rio, admitindo-se uma denudagdo uniforme e¢ dividindo-se a carga total anual pela area de drenagem, obtém-se a quantidade de material retirado por km? em um ano. Verifica-se que a ba- cia do rio Paraiba sofre o maior desgaste, Valor da denudagio de algumas bacias fluviais brasileiras Amazonas a | Paraiba a mon- | Sao Francisco | Amazonas ‘montante de | tanie de Barra | a montante de na Obidos do Pirai Juazeiro Area da bacia de drenagem .. 6 milhdes 16 mil km? | 500 mil km? | 6,6 milhdes de km? Quantidade de material trans- portado em solugdo e suspen- S80 Por AMO... 595 millides 5.8 milhdes 10,57 milhdes | 731 milhdes det det det det Eros anual em toneladas por km? 100 toneladas | 363 toneladas | 21 toneladas | 116 toneladas Espessura da denudagao anual ‘em micros 40 micros 150 micros: 9) micros 46 micros Tempo necessirio para denudar ‘a area em Im de espessura. | 25.000 anos | 6.700 anos 110,000 anos} 21.000 anos * Sog. dados recalculados de R. J. GIBBS. 1967. i7 perdendo por ano a quantidade considera vel de 363 toneladas por km’, enquanto que no vale do rio Sao Francisco este valor 15 vezes inferior. F facil imaginar as causas dessa diferenca. A bacia do Paraiba é de topografia extremamente acentuada e bas- tante devastada, clima muito tmido com chuvas violentas. O vale do Séo Francisco atravessa uma zona semi-drida, de topo- grafia pouco acidentada. A bacia amaz6- nica é sujeita a grandes chuvas, mas possui uma topografia relativamente suave e uma cobertura florestal muito densa. Admitindo- se uma densidade média em volta de 2,4 para o solo compacto em vias de denuda- Gio, é facil calcular-se a velocidade da denu- dagéio, que & muito varidvel, conforme a lo. calidade estudada. Assim é que sfio necessi rios 25.000 anos para a bacia amazénica, 6.700 anos para a bacia do Paraiba e 110.000 anos para a bacia do Sao Francis- co para Im de denudagdo. Na regido dos Alpes a denudagdo é mais rapida. A média & de 0,5mm por ano, ou 2.000 anos para que a denudagao atinja o valor de um metro. Para a bacia do rio Reno a denudagao € 10 yezes mais lenta. Para o rio Missouri foi calculado o valor de 26.000 anos. Admite- se que o valor médio para toda a Terra seja de 15.000 anos por metro de denudagao, ou ainda, Icm em 150 anos. A fig. 5-18 nos dé uma idéia da influén- cia do homem no processo da denudagao, ‘Nas matas, grande parte da gua fica retida nas folhas, que ainda desempenham o im- portante papel de diminuir a velocidade de queda das gotas de Agua, cujo impacto no solo favorece a remogao das suas particulas, como mostra a fig. 4-2. Ja referimos que também a trama das raizes favorece a re- tengo do solo, motivo pelo qual se torna minimo 0 efeito da denudagdo. Num caso extremo, que é 0 de um algodoal, a denu- dagéo € 10.000 vezes maior, se no forem executados os terraceamentos, seguindo as curvas de nivel do terreno. A fim de que se tenha uma idéia da quantidade de terra re- movida em uma chuva apenas, apresenta- 118 = 4 quilos fata ~ a4 a ‘afezal 1100 quilos por hectare = ‘Algodoal 38000 quilos por hectare Fig. 5-18 Esquema da perdi anual de solo por hectare. O alto valor para o algodoal deve ser motivado pela aragio, e pelas continuas capinas que tornam o solo fofo ¢ facilmente removivel mos uma ilustragdo de Silvio F. ABREU (fig. 5-19), onde vemos a quantidade da terra depositada nos arredores dos morros apés uma chuva violenta. No ano de 1956 veri- ficou-se o fendmeno analogo na cidade de Santos, sp, porém de modo incomparavel- mente mais violento ¢ altamente desastroso, tendo perdido a vida muitas dezenas de pessoas, soterradas pelas avalanchas de terra e blocos soltos de rochas formadoras do talus das encostas dos morros. Estas ava- lanchas, como por exemplo a que se verifi- cou na serra das Araras (via Dutra, proximo ao km 60) no ano de 1967, nao s6 carrega- ram casas inteiras construidas por sobre o talus, como também destruiram outras tan- por hectare por hectare tas nas partes mais baixas, pela enorme pressio da massa fluida de lama em mo- vimento. Baia da Guanabara A erosao no Rio de Janelro atc na tetrad das uss ATLANTIC aps a chuva ce 9/4/982 am =1000mF (#15001) Fig. 5-19 Cerca de 50,000 toncladas de lama foram retiradas das ruas apés uma Unica violenta chuva. Note-se 0 acimulo da lama nas proximidades das elevagdes (seg. 8. F. Abreu). OCEAN 5 1Dkm Formas erosivas A configuragao morfoldgica de uma pai- sagem pode ser devida a uma atividade construtiva ou destrutiva. No primeiro caso citam-se dunas, as restingas, o$ bancos de areia quer marinhos quer fluviais, os rele- ‘vos vuleanicos, terragos de deposigdo, etc., havendo também as formas subaquosas, co- mo as deltaicas. No capitulo referente as atividades do gelo, teremos a oportunidade de descrever diversas outras formas topo- graficas conseqiientes da deposi¢ao glacial. Muitas vezes 0 estudo geolégico pormenori- zado mostra a ocorréncia de tais formas to- pogrificas preservadas, protegidas contra a erosio. Como um exemplo podem ser cita- dos vales glaciais formados pela glaciacdo permocarbonifera da Africa do Sul, vales estes protegidos pelo derrame basaltico trias- sico, que formou verdadeira crosta de prote- do, conservando a forma topografica antiga. Mais freqiientes sdo as formas erosivas, resultantes das diferentes modalidades de erosiio. Uma vez que nos referiremos as ati- vidades destrutivas do mar, do gelo e do vento, nos respectivos capitulos, abordare- mos sucintamente as formas erosivas re- sultantes da denudagdo geral, motivada pelas Aguas pluviais, que lentamente vio removendo os detritos preparados pelo in- temperismo, conduzindo-os aos rios que os transportam finalmente aos oceanos. As formas resultantes de tal desgaste dependem de diversos fatores que sc combinam uns aos outros de diversas maneiras. Estes so: rocha, estrutura geral, clima, tipo de erosao, condigdes tecténicas gerais da regiéio, ma- turidade do relevo, etc. O fator de maior im- portincia é a rocha em si, cuja resisténcia ao desgaste varia muito (vide Prancha 7). Uma regidio constituida de diferentes rochas em vias de desgaste apresentaré irregularidades na topografia, sendo as partes mais elevadas ou salientes formadas pelas rochas mais re- sistentes (fig. 5-20). Como exemplo, pode ser mencionada a serra do Japi, nos arredores de Jundiai, SP, formada de quartzito de grande resisténcia quimica e mecanica. Acha-se cir- cundada por gnaisses escuros e granitos, que so mais facilmente decompostos e des- gastados. A este fenémeno da-se o no- me de erosao diferencial (figs. 5-21 e 5-22). Nesta regido é bastante nitida a diferenga de paisagem formada de rochas metamérficas e magmiaticas da formada de rochas sedi- mentares. Quem viaja ao interior de So Paulo, podera notar essa diferenga na cida- de de Campinas, ou Itu, ou Sorocaba, cidades estas situadas no contato do em- basamento cristalino com as rochas sedi- mentares de origem glacial do Carbonifero Superior. Ai a paisagem é mais suave, le- vemente ondulada, em contraste com a topografia abrupta da faixa de cerca de 150km a partir do litoral para o interior, formada pelo embasamento cristalino. Varios sio os fatores que intervém na maior ou menor resisténcia da rocha ao des- gaste. Além de sua natureza mineralégica, é de importancia a textura, a estrutura ¢ a 119 — Arenito Bauru / Derrame de basalto ‘Arenito Botucatu Fig, 5-20 Erosio ¢ formagao de escarpa da Serra Geral, Sul do Brasil, com a formagio de mesas e tes- temunhos, gragas 4 regressto da escarpa. Fig. 5-21 Erosio diferencial em arenito, determinando 0 aspecto de um calice. A parte superior é cimentada por silica e limonita. Vila Velha, PR (foto de J.C, Mendes). 126 posigdio da rocha, quando esta se apresenta com xistosidade ou estratificacdo. O mesmo se da se uma rocha for intensamente fratu- rada, O plano da fratura é também uma zona de fraqueza onde a erosio é mais in- tensa. Belo exemplo deste fenémeno pode ser observado em Vila Velha, Estado do Pa- rand, bem como, em Sete Cidades, no Estado do Piaui, onde a erosdo mais ativa nos pla- nos de fraturas do arenito esculpiu formas pitorescas, que dao a impressiio de uma vila em ruinas. A principal causa desta erosiio € a chuva e néo o vento, como muitos ima- ginam. As rochas graniticas quando com- pactas, homogéneas e pouco fraturadas, dio formas abauladas chamadas comumente de meia laranja como podemos ver na fig. 5-22, aspecto comum nos granitos do Estado do Rio de Janeiro. No caso de a erosdo desta- car um grande bloco nas mesmas condigées, a forma recebe a denominag3o de pao-de- agticar, cujo exemplo classico é 0 do Rio de Janeiro. ‘As rochas podem ainda apresentar-se de- formadas, gragas aos esforcos recebidos, assunto que seré abordado no capitulo da Orogénese. Estas deformagées resultam em Fig. 5-22 Erosio diferencial ressaltando rochas mais resistentes (gnaisse claro) e sua xistosidade Dedo de Deus, Teresopolis. dobramentos, falhamentos ou esmagamen- tos. Mais comumente a configurag4o topo- grafica ndo obedece aos dobramentos e, muitas vezes, nem aos falhamentos pelo fato de serem movimentos tio lentos, que a erosfio, que é mais rapida, nao obedece a estas estruturas. Isto se da quando a dre- nagem da regido considerada ja estava esta- belecida, fixada desta ou daquela forma. Um rio que corre de maneira discordante em relagdo a estrutura geral das rochas, que nao obedega a essa estrutura, ¢ chamado de rio superimposto, ou rio epigénico. Caso contrario, se a drenagem concordar com o sistema de fraturas ou com a estrutura geral das rochas, o rio passaré a denominar-se subseqiiente. O rio que obedece a declivida- de original, primaria, do terreno, chama-se consegiiente. Um rio de tal natureza, ao progredir seu trabalho erosive, passara cer- tamente a obedecer a estrutura geral das rochas, motivo pelo qual recebe a denomina- ao de subseqiiente. Este, portanto, era inici- almente um rio conseqiiente. Nas rochas, a erosio é geralmente mais intensiva nas anticlinais, ou seja, nas partes mais eleva- das. As sinclinais, por serem inferiores, so- frem condigdes de maior rigor na pressio e temperatura, motivo pelo qual se tornam’ mais resistentes ¢ endurecidas, constituindo geralmente as partes elevadas apés 0 des- gaste erosivo. Além disso, ao progredir a erosdo, que, por sua vez, se processa & me- dida que se da o Jevantamento da: crosta, as partes mais elevadas correspondentes as an- ticlinais sio as que primeiro sofrem o des- gaste. Este vai se acentuando e, como resul- tado, as anticlinais costumam corresponder os vales. Como exemplo de topografia influencia- da por falhamentos, podemos citar o vale do rio Paraiba nos Estados Sdo Paulo ¢ Rio de Janeiro, situado entre as elevagdes da Serra da Mantiqueira a noroeste ¢ Serra do Mar no lado posto, Embora nao haja evi- déncias diretas da existéncia de falhas, a configuracdo topogrifica é altamente suges- tiva (v. fig. 15-12). Outro fator fundamental na forma’ érosi- ya éa tectdnica da regido. Esta pode estar em vias de levantamento, ou em vias de do- 121 bramento conjugado com falhamentos (co- mo acontece na regifio dos Andes, Alpes, Cérpatos, Himalaia e na Serra do Mar), pode também estar em abaixamento ou pode estar estaciondria, Para que a erosio seja ativa torna-se necessdria uma declivi- dade.tal, que as aguas correntes possam adquirir a velocidade necessiria ao desgas- te e transporte. Uma regidio em vias de le- vantamento sofrera uma atividade erosiva crescente, como se nota no célebre canhado do rio Colorado, que rasgou enorme sulco numa planicie recentemente levantada. Co- mo exemplo nacional pode ser citado 0 ca- nhio do rio Séo Francisco na regio da ca- choeira de Paulo Afonso. As diversas ele- vagées isoladas, geralmente sob a forma de mesas, de sedimentos cretaceos, indicam ter ocorrido um levantamento moderno de toda aquela 4rea, que agora esté sendo intensa- mente escavada pelo Sdo Francisco, numa fase de plena juventude erosiva. Nas regides calmas sob o ponto de vista tecténico, a eroséo reduz as rochas ao nivel minimo, que recebe 0 nome de peneplano. As elevagdes formadas pela erosio dife- rencial em rochas mais resistentes chamam- se “monadnocks” (vide Prancha 8). Num peneplano recentemente formado, a erosdo é praticamente nula. Esta sera reini- ciada no caso de um levantamento tecténi co. Dependendo das condigdes topograficas € tecténicas das terras adjacentes 4 regido do peneplano, pode também dar-se 0 caso de ser este sepultado por sedimentos poste- riores & fase erosiva. Neste caso, o penepla- no seria reconhecido como tal, somente apés 122 a exumagdo parcial que se realizaria numa outra fase erosiva. Segundo o grau de evolugdo do relevo, uma paisagem pode ser classificada de jo- vem, madura e senil. Estes termos nada tém a ver com a idade absoluta e sim com o estidio de erosfio. Chama-se jovem quando ainda se podem perceber os restos da anti- ga superficie que formava o peneplano, ago- ta em vias de eroséo. Uma vez desapareci- dos estes restos, a paisagem mostrar ape- nas superficies abauladas, o que caracteriza a superficie madura. Com o decorrer da ero- sio, os declives do terreno vao-se tornando cada vez mais suaves, 0 nivel vai-se redu- zindo cada vez mais até voltar novamente a outro peneplano, ocasidio em que o relevo & classificado de senil. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA BLoom, A. L., A Superficie da Terra, trad. de S. Petri e R. Ellert, Ed. Edgard Bliicher e Ed. da USP. Sao Paulo, 1970. Giwas, R. J, “The Geochemistry of the Amazon River System”, Bol. Geol. Soc. Am., vol. 78, n.° 10, pag. 1.203. 1967. KUENEN, P. H., Reaims of Water, John Wiley & Sons, Inc,, Nova York, 1955. Loweck, A. K., Geomorphology, McGraw-Hill Book Co. Inc., Nova York, 1939 Mier, D. H., Water at the Surface of the Earth, ‘Academic Press, Nova York, 1977. Sucuto, K., Rochas Sedimentares, Ed. Edgard Bli- cher ¢ Ed. da USP., 1980. Szixszay, M., “Exame espectogrifico semiquantita- tivo de elementos maiores e elementos tragos na agua do rio Paraiba”, Bol. Soc. Bras. Geol., 1968. TwEnnoreL, W. H., Principles of Sedimentation, Mc Graw-Hill Book Co. Ine., Nova York, 1939.

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