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Arjun Appadurai ¢ A VIDA SOCIAL DAS COISAS AS MERCADORIAS SOB UMA PERSPECTIVA CULTURAL EdUFF © 1986 by Cambridge University Press “Titalo original: The social life of things: commodities in cultural perspective © 2008 (radugio trailers) EAUFF - Editora da Universidade Federal Puminense Rua Miguel de Frias, 9 anexo -sobreloja- eral - Nites, RJ ~ CEP 2220-900 “Tel: (21) 2620-5287 - Telefax 21) 2629-5288 - hnp/vwweedivorn uff be E-mall: eduffe@vmutlor provide aeproducao woul ou parca esa chm sem aria expresa da Eko ‘Dados Internacionas de Catalogacio ns Pubticagio- (CIP) ‘Aso Appudan. Ara, Caroline Brito ia Freixiho e Tatiane de Andrade Braga sede: Agatta Bacelat ido séenica-Leticia Veloso ‘Capa: Marcos Antonio de Jesus Elworagio eletrdnica: Ava Caroline Ferreira Diegramasao: Vivien Macedo de Souza ‘Superviso grafica: Kathia M.P. Macedo DRE : UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor: Roberto de Souza Salles Viee-Rettor: Erumanuel Paiva de Andrade Pré-Reitor de Pesquisa e Pés Gradwagao: Humberto Fernandes Machado 1 vo SUMARIO AUTORES, 7 BREVE INTRODUCAO A EDICAO BRASILEIRA, 9 PREFACIO, 11 PARTE I - Por uma antropologia das coisas INTRODUCAO: | MERCADORIAS E A POLITICA DE VALOR. 15 Arjun Appadurai ‘A BIOGRAFIA CULTURAL DAS COISAS: AMERCANTILIZACAO COMO PROCESSO, 89 Igor Kopytoff PARTE Il - Troca, consumo e exibigio DOIS TIPOS DE VALOR NAS ILHAS SALOMAO ORIENTAIS, 125 Williara H. Davenport RECEM-CHEGADOS AO MUNDO DOS BENS: © CONSUMO ENTRE OS GONDE MURIA, 143, Alfred Gell PARTE III - Prestigio, comemoragao e valor VARNA E 0 SURGIMENTO DA RIQUEZA. NA EUROPA PRE-HISTORICA, 181 Colin Renfrew MERCADORIAS SAGRADAS: ‘A CIRCULACAO DE REL{QUIAS MEDIEVAIS, 217 Patrick Geary PARTE IV - Regimes de producio ¢ a sociologia da demanda ‘TECELOES E NEGOCIANTES: A AUTENTICIDADE DE UM TAPETE ORIENTAL, 247 Brian Spooner VII QAT: MUDANCAS NA PRODUCAO ENO CONSUMO. DE UMA MERCADORIA QUASE-LEGAL NO NORDESTE DA AFRICA, 299 Lee V Cassanelli PARTE V - Transformacées hist6ricas ¢ cédigos mercantis IX ABSTRUTURA DE UMA CRISE CULTURAL: PENSANDO SOBRE TECIDOS NA FRANCA ANTES E DEPOIS DA REVOLUCAO, 329 Reddy ENS DO SWADESHI (NDUSTRIA DOMESTICA): TECIDOS E A SOCIEDADE INDIANA DE 1700 A 1930, 357 CA. Bayly AUTORES ARJUN APPADURA é associate professor de antropologia c estudes iticos na Universidade da Pensilvnia. £0 autor de Worship nd conflict under colonial rule (198: C. A. BAYLI € fellow do St. Catharine's College, na Universidade de Cambridge, e smuis reader em Estudos do Commonwealth Publicou The local roots of indian politics: Allahabad, 1880-1920 (1975)¢ Rulers, connsmen and bazaars: North Indian society in the i expansion, 1770-1870 (1983). fofessor do Departamento de Hi Eo autor de The shaping of somali society: reconstructing the history of a pastoral people (1982). rsidade WILLIAM H. DAVENPORT ensina antropologia na Uni da Pensilvania, onde também é curador enearregedo da Oceania no has Salomao e pes publicado diversos trabalhos sobre essas éreas de PATRICK GEARY €associate professor de historia da Universidade da Florida. E 0 antor de Furta sacra: thefts of relics in the central middle ages (1978) ¢ Aristocracy in Provence: the Rhone Basin at the dawn of the carolingian age (1985). ALFRED GELL ensina antropologia social na Escola de Eeonomiac Ciéncia Politica de Londres. E 0 autor de Metamorphosis of the cassowaries: umeda society, language and ritual (1975) Universidade da Pensilvinia, € co-editor (com Suzanne Slavery in Africa: historical and anthropological perspectives (1977) © autor de Varieties of witchcraft: the social economy of secrespower (no prelo). WILLIAM M. REDDY € assistant professor de historia na Universidade de Duke e escreveu The rise of market culture: the textile trade and French society, 1750-1900 (1984). COLIN RENFREW é Disney professor de arqueologia da Universidade de Cambridge e Fellow do St. John’s College. Eo autor de Problems in European prehistory (1979) e Approaches to social archaeology (1984). BRIAN SPOONER ensina no Departamento de Antropologia da Universidade da Pensilvinia. Escreveu Ecology in development: a rationale for three-dimensional policy (1984). BREVE INTRODUCAO AEDICAO BRASILEIRA Laura Graziela Gomes A presente publicagéo em lingua portuguesa da coletinea organizada por Arjun Appadurai (1988) vera completar e somar-se ao conjunto de textos académicos produzidos no contexto da antropologia angio- ram a ser publicados entre nés somente nos iltimos anos (a partir de 2000).” Deve ser ressaltado que uma caracteristica fundamental desses textos, ‘cuja publicagéo no Brasil se iniciou com A ética romantica e o espirito do consumismo moderno de Colin Campbell (2001), foi a retomada de uuma perspectiva propriamente socioantropol6gice sobre 0 fendmeno do consumo, que desautorizava algumas teses vigentes de cardtertrans- cendente ¢ moral. Esta abordagem surgiu, portanto, como uma “terceira via” para aqueles que ndo se adequavam ou nao conseguiam mais en- xerger este imporiante fato social do mundo contemporineo — 0 ‘consumo pela dtica exclusiva das polarizagies e dos dualismos De algum modo, todos esses textos aprescntam um ponto em comum, ‘Todos eles responce, de uma forma ou de outra, a algumas acusa- 0 ves feitas a0 Consumo ¢ ao consumismo, além da classica incepacidade de ambos para esiabelecer vinculos soci ccs”. Ao contrério, tal como uma espécie de cance smo moderno veio para destruir os “verdadeiros” Lagos sociais. Para com pletar este cenério de Deus ¢ o Diabo na Terra do Sol, neghcios, salvo excegdes, também sempre deix porque, partindo de premissas reificadoras, ela acabou consagrando ‘uma concepgio pecaminosa do consumo. Gnacsceg olin de Manta Sins Cla rast prétn ca Mein skin bier 1990 aso stg ee sania tna mvs pretend os sharon era feeb deta mee prone Autores como Bourdieu, Mary Campbell, Daniel Miller ¢ outros das formas de social a produgio e do trabalho. Base straram que 0 consumo estd na base da f tratégias de reprodugo de muitos grupos ¢ identidades sociais no mundo modemo. Assim, além de produzir vinculos sociais, 0 consu- riedade, confianca ¢ nos vinculos sociais que suposiamente precedem ou dev det as coisas, ¢ comegarmos a observar as coisas durante os variados percursos e trajetdrias que elas fazem e tracam na sociedade por meio as diferentes esferas de circulacio nela existentes? ¢ nfo apenas pelas respostas que cada autor en- iverso de pesquisa para esta proposicio, e que 0 -vocacao de algo importan- 1a nos faz lembrar que a i, 13 de feverciro de 2008. PREFACIO Embora antropéloges ¢ historiadores falem cada vez mais uns so- bre os outros, eles raramente falam uns com os outcos. Este livro € co resultado de um didlogo entre antropélogos e historiadores sobre co tema das mercadorias, que se estendeu por um ano, Tres dos arti- g0s (os de Cassanelli, Geary e Spooner) foram apresentados no workshop de Etno-hist6ria na Universidade da Pensilvania cm 1983- 5 (a excegdo de meu proprio ensaio introdutério) foram apresentados em um simpésio sobre as relagbes entre merca- dorias €cul o no Programa de Etno-histéria, na Filadelfia, de 1984 meu colega no Departamento de Histéria da Univer- sidade da Pensilvania, props primeitamente o tema “Mercadorias € cultura” para o worksiiop de Etno-histéria de 1983-1984. A cle ca Nancy Farriss (iambém do Departamento de Histéria, e mentora do workshop desde seu principio em 1975), devo varios anos de estimu- lantes didlogos interdisciplinares. A proposta de Lee Cassanelli fortuitamente com uma conversa que cu havia tido com Igor Kopytoffe William Davenport (meus colegas no Departamento {inia), no desenrolar da qual concordamos que ja era tempo de ser feita uma revitalizacao da aniropologia das coisas. simpésio de maio de 1984, que levou diretamente ao projeto deste livro, foi possibilitado pelos auxilios que o programa de Eino-histo- tia recebeu do National Endowment for the Humanities ¢ da Escola de Artes ¢ Cigneias da Universidade da Pensilvania. O sucesso desse simpésio deve muito ao apoio organizacional e intelectual de estu- dantes e colegas participantes, Em particular, agradeco a Greta Borie, Peter Just ¢ Cristine Hoepfner por toda a assisténcia antes ¢ durante 0 simp também desfrutei de mui ro, Susan Allen-\ generosidade durante a preparagéo dest ume valiosa fonte de orientagio intelectual e editorial. Tenho uma divida especial com a equipe do Centro de Estudos Avangados em Ciencias Comportamentais, cujos recurscs da secretaria ¢ adminis- ur tracdo ajudaram materialmente na répida preparagéo dos originais. ',€ um prazer agradecer a Kay Holm, Virginia Heaton & Stanford, Califsraia Arjun Appadurci PARTE I Por uma antropologia das coisas 12 I INTRODUCAO: MERCADORIAS EA POLITICA DE VALOR Arjun Appadurai Este enstio tem dois objetivos: o primeiro é apresentar ¢ estabelecer 0 segundo ¢ propor sho trocadas; concentrar-se nas coi € funcées da troce, possi thor forma de se jamais é uma proprieda- de inerente 20s objetos, mas um julgamento que sujeitos fazem sobre eles. Mas, de acordo com Simmel, a chave para se compreender 0 valor reside em uma regio onde “essa subjetividade € apenas provi- s6ria c, com efeito, no muito essencial” (SIMMEL, 1978, p. 63) Ao explorar esse dominio dificil — nem totalmente subjetivo, nem exaiamente objetivo, de onde o valor emerge & onde ele ope- fa~, Simmel sugere que os objetos no sio diffceis de se adquiric Porque séo valiosos, “mas chamamos de valiosos aqueles objeios {que opsem resisténcia « nosso desejo de possui-las” (1978, p. 67). 0 {Que Simmel denomina, em particular, objetos econdmicos existe no espago entre 0 desejo puro ¢ a fruigo imediata, com alguma distancia ‘entre eles ¢ a pessoa que os deseja, Tal disténcia pode ser ultrapassada, ‘© que ocorre © por meio da troce cconér reciprocamente 0 valor dos objetos. Ou seja, 0 desejo de alguém por 10 pelo sacrificio de um outro objeto, que é 0 foco vida ia, como forma social especifica, “‘consiste ‘mas na troca de valores” (SIMMEL, , pera Simmel, gorado por essa espécie de troca de sactificios. Essa anilise do valor cconémico na discussio proposta por Simmel tem diversos desdobramentas. O primeiro € que 0 valor econdmico do € simplesmente um valor genérico, mas uma quantidade definida de valor, que resulta da comensuragéo de duas intensidades de de- ‘mands, A forma que essa comensuracio assume a troca de sacrificio por ganho. Assim, 0 objeto econdmico nao tem um valor absolute como resultado da demanda que suscita, maséademanda que, como bbase de uma troca real ou imaginaria, confere valor ao objeto. Ea ibelece os parémetros de utilidade e escassez, nio 0 Em suma, 2 troca no é um subproduto da valoracao matua de obje- tos, mas sua font. Com estas observagies concisase brilhantes, Simmel prepara o tt- se exemplifica no corpo deste ensaio, consiste em explorar as condi- {ges sob as quais objetos econdmicos circulam em diferentes regimes de valor no tempo € 10 espaco, Muitos dos artigos que compéem este livro examina coisas (ou grupos de coisas) especificas, uma vez que circulam em ambientes culturais ¢ hist6ricos especificos. O que estes artigos permitem € uma série de olhares sobre os modos como desejo e demanda, sactificio reciproco e poder interagem para criar 0 valor econdmico em situagSes sociais espectficas. Nos dias atuais, o senso comum ocidental, calcado em diversas tradi- «6es hist6ricas da filosofia, do dreito e das ciéncias naturais, tem uma forte tendéncia a opor “patavras” ¢ “coisas”. Muito embera isso nao 16 tenba sido sempre assim, nom mesmo no Ocidente, como observou Marcel Mauss, om seu célebre Ensaio sabre o dom, a forte tendencia ‘contempordnea € consideraro mundo das € mud, s5 sen dio das 229-230). ras de comunicar (ver Cay coises nio tenha desaparecido ‘wo industrial moderno é uma das intuicoes que susten fariosa de Marx sobre o “fetichismo das mercadoria t6rico. Para isto temos de seguir as coisas em si mesmas, ificados estio inscritos em suas formas, seus usos, suas la andlise destas trajetorias podemos Jos humanos que do vida as basicos ¢ 05 iltimos recursos dos arquedlogos. Sio a substincia da c que une arquedlogos a antropélogos cul diversas linhas, Na qualidade de objetos de va instrumento do ato de presentear. Analisar 2s coisas sob a pers tituem um t6pico privilegiado na histéria da arte e, antes que nos esquegamos, na econo: ccacla diseiplina poss formular o problema de um modo difere mercadorias representam, pois, um tema sobre 0 qual a antiopol foram de modo alpum negligenciadas. Algumas das principais areas do mando nao foram abordadas (notadamente a China ¢ a América Latina), mas a cobertura geogrifica € de uma extensio bem razoével. Embora os artigos tratem de uma série considerivel de bens, a lista de mercadorias nao discutidas aqui seria um tanto longa, havendo uma preferéncia por bens especificos ou de Tuxo, em vez de merca dorias “em estado bruto” ede “primeira necessidade”” Enfim,a maioria dos autores dedica-se a bens em vez de servicas, embora estes tam- bém sejam importantes objetos de mercantilizacio. Ainda que cada uma destas omissOes seja grave, pretendo sugerir, zo longo deste en- saio, que algumas tém menos relevancia do que parecem, As cinco secdes que se sucedem neste ensaio dedicam-se acs seguin- les objetivos. A primeira, “O espfrito da mercadoria”, é critico de definigéo, na qual se argumenta que as mercadorias, devi damente compreendidas, nio so monopélio das economias indust as demais, “Conhe OESPIRITO DA MERCADORIA Poucos negariam que a mercadoria algo completamente socializa- do. Logo, em busca de uma definicao, a questio a ser colocada: que consiste esta sociabilidade? A resposts purisia, que se t buir a Marx, é que uma mereadoria € um proc do, s sob as condigdes insti . Definigdes menos puristas véem as mercadorias como bens ’ roca, independentemente da forma de troea. A defini- algo que existe em uma enorme gama de sociedades .gio especiais nas sociedades capit na convergéncia inespetada entre Marx ¢ Simmel inicial sobre 0 capitalismo (v ise mais madura de O Capital eadoria” é usada na econo 19 Ibclasse specifica de bers primérios ¢ 6 nao exerce wim papel na economia e na sociologia, ov das neo-ti Piero Staffa), nas qu andlise da “mercadot fungio teérica fundamental (SRAFFA, 1961; SEDDON, 1978). icos. Ou seja, na maioria dos usos contemporineos, as 6 especial de bens manufaturados (ou si (cos), que se associam somente aos modos de producao cay portanto, s6 podem ser encontradas onde penetrou o ¢: Assim, mesmo nos debates atuais sobre a proto-industrializacao (ver, por exemplo, PERLIN, 1982), a questio nao € se as mercadorias se associam ao capitalismo, mas se certas formas de organizagao ¢ de técnicas assoviudas ao capitalismo tém uma origem exclusivamente ceuropéia, Mercadorias si0, em geral, vistas como tipicas representa- goes materiais do modo de producto cai mesmo quando Classificadas como triviais,¢ seucontexto como incipiente. Porém, é evidente que tais andlises se valem de apenas uma parte da concepcao de Marx da natureza da mercactoria, Pode-se dizer que 0 tratamento dado 3 mercadoria nas primeiras ce O Capital é uma das partes mais difices, contradit obra de Marx. Inicia-se com uma definigéo de mercadoria extrema- mente vaga (’A mercadi tudo, um objeto exterior, uma coisa que, por suas proptiedades, satis necessidades humanas de cenire as duas formas de circulagio de mer (Mercadorias-Dinheiro-Mercadorias ¢ Dinheiro~Mercadorias-Di- nheiro) sendoa segunda arepresentacio da formula geral do capitalismo. No decurso deste movimento analitico, as mercadorias sto intricada- ‘mente atreladas ao dinheiro, a um mercado impessoal ¢ a0 valor de troca, Mesmo na forma ies de circulacio (ligada ao valor de uso), aS mercadorias relacionam-se por meio da capacidade de 20 ‘comensuracio do dinheito. Hoje, a ligacio entre mercadorias e formas pés-industriais, is formas sociais,financeiras ou de troca, em feral um poato pacifico, mesmo entre os que, notes aspectos, néo leva Marx asério, Contudo, nos textos do préprio Marx, pode-se encortrar a base para ‘uma abordagom das mercadorias muito mais abrangente ¢ proficua de ‘um ponto de vista intercultural ehistérico, cujo espirito se vai atenuan- do, Ai medida em que ele passa a estar envalvido nos detalhes de sua anélise do capitalismo industrial do século XIX. De acordo com esia primeira formulacio, para produzir mercadorias, em vez.de meros pro- dutos, um homem tem de produzir valores de uso para os outros, valores de uso sociais (MARX, 1971, p. 48). A esta passager, Engels acres- servir de valor de uso, por m bora Engels se contentasse com uma série exiremamente complexa (e ambigua) de distingSes entre dutos e mercadorias, mas, para propdsites antropol6gicos. a princi: passagem merece ser citada na integra: inguir 0 aspecto légico do aspecto histérico nessa ada pot Anne Chapman (1980), em uma dis- Tesultado final permanece muito esquematico eé dificil especificé-lo ou ‘esté-lo com alguma clareza. 21 A questio & episteme de mei observar a economia cor (BAUDRILLARD, 197: regio A produgao de merca historic. O res produces de uma especie pi cisa ser modificada. ar, Cada uma dessess suposigoes pre- A despeito dessa limitagSes epistémicas, em sua eélebre discussio Shismo das mercadorias, Marx de fato observa, como 0 faz em outras passagens de O Capital, que a mercadoria nado € uma invengéo do modo de produgio burgués, mas se manifestava “er da histéria, embora no predominante economias pré-capital que ultrapesse 03 formulada por Marx, outros € possui pontos convergentes com a énfase de Simmel na tro- ca como fonte do valor econémico. Comecemos com a idéia de que uma mercadoria é qualquer coisa destinada @ troca.o que nos liberta de uma preocupagio exclusiva com o “produ intencio original ou predominante do “produto concenirarmos nas din to, a questio deixa de s O primeira é a permuta (algum: segundo é u troca de presentes. Comevems Ibinando aspectos Ue diversas dofinigoes corremtes, a de Chapman), sugiro que se trata de uma Chapman tem razao ao afirmar que, na medida em que a teoria do ‘valor de Marx é levada a sério, o tratamento nela dado & permuta apresenta problemas t oli vyeis (CHAPMAN, 19 assumiaa fo uso =y do permuta, por mais problemitica que seja para uma teoria miarxista sobre a origem do valor de troca, em avirtude de estar em harmonia icagio mais persuasiva de Chapman, a saber, que a jedade de sociedades. Chapman critica Marx pat incluir a mercadoria na permuta ¢ pretence manté-las bem separadas, alegando que mercadorias assumem a fungao de objetos monetérios, (€, portanto, de valorde trabatho congelado), nfo apenas a funcao de unidade de célculo ou de medida de equivaténcia, Para Chapman, a permutta, embora possam coexi (CHAPMAN, 1980, p. 67-68). Parece-me que Chapman, em sua critica a Marx, adota uma visio demasiado restritiva do papel do di rigs. Marx, mesmo tendo encontrado andlise das relagdes entre permuta ¢ troca de merca Yo em observar, como 0 fez Polanyi, que a per do contempordneo, a permuta esta em alta: ha uma estimativa de que 23 lares em bens e servicos por ano apenas (por excmplo, xarope de Pepsi por vedca russ; Coca-cola por palitos de dente coreanos ow por empilhadeiras bilgaras) estio-se transformando em uma com. plexa econ teagio 20 nimero cada vez maior de barreiras imp © &8 finangas intemacionais e tem um papel espe de coisas mais se divorcia das normas sociais, Porém, onde quer quc haja cvidéncias disponi- cio do que pode ser permutado, onde, quando e por como 0 que impulsiona a demanda por bens de “ou- trem”, € um fato social. Hé uma forte tendéncia de perceber tal regulamentacio social como uma questio em grande parte negativa, de modo que a permuta em sociedades de pequena escé ponto de vista. A idéia de que 0 comércio em economias pré-industriais nao do contraste entre Marx Mauss (HART, 1982; TAMBIAH, 1984), 24 estas duas modali- vo do discurso REGORY, 1982; tend8ncia de ver uma oposicio fundamental e dades de woca continua sendo um trago gniropol6gico (DUMONT, 1980; HYDE, 1979; 1972; TAUSSIG, 1980). operam de acordo com padres izar 0s aspectos cal pessoais ¢ auto-enaltecedores das sociedades nio-capit fendéacias, por sua vez, so 0 produto de uma visa demasiado ita da oposigdo entre Mauss ¢ Marx, que, como observou Keith ), deixa escapar aspectos importantes dos pontos em co- se verificam entre eles. 4 circulagio de mercadorias. Ademais, enquanto presentes vinculam coisas @ pessoas ¢ inserem 0 fluxo de coisas n0 fluxo de relagoes ., mereadorias supostamente representam 0 movimento — em turais ~ de bens uns pe- . do pela sociabilidade, pr6pria argumen- ¢ de contrastes & sento apenas uma 3 € A ciroulagio de mercadorias. © modo como compreendo o espirito da troca de presentes deve muito @ Bourdieu (1977), que expandiu um aspecto até enido negligenciado da anilise de Mauss sobre a dédiva (MAUSS, 1976, p. 70-73), no qual se enfatizam certos paral tégicos entre a troca de pre- Sentes ¢ as préticas “econdmicas” mais ostensivas, A discussio de Bourdieu, que ressalta 2 dinémica temporal do ato de presentezr, empreende uma andlisc perspicaz do espirito comum subjacente & troca de presentes ¢ i circulagio de mereadorias: 25 3s realdades ccondimicas sev semtivo puramente -condmicn,t8m uma economia em sie nio para si (BOURDIEU, 1977, p.17%) uma forme particu Esse (ratamento dado & troca de presentes co: calculo econémico, mesmo quando dé uma impressio de completo desinteresse por escapar & logica do célculo interessado (no ser estrito) e estar norteada por apostas que sio imateriais e dificilmemte ‘quantificadas” (BOURDIEU, 1977, p. 177). Suponho que est sugestio converge, ainda que de um éngul cadotias, como também de outros dom! fato de a antropologia ser demasiado du: dante asd problema tem sido uma concepcéo demasiado positvista da merca- Goria como um determinado ripe de coisa ¢, portanto, restringindo, assim, o debate & questéo de decidir de qual tipo de coisa se trata, ‘Mas, quando sc tenia compreendero que é especifico & troea de mer- ceadorias, nao faz sentido distingui-ta radicalmente da perm da troca de presentes. Como sugere Simmel (1978, p. 97-98), portante c a i formas de troca, mesmo se variam as formas ¢ intensidades de sociabilidade Facamos uma abordagem das mercaclorias como coisas em uma deter- minada situacio, situagio esta que pode caracterizas diversos tipos de coisas, em pontos diferentes dle suas vidas sociais. Isso significa olhar 1¢4o entre mereadorias ¢ outros tipos de coisas. Também {egorico com a viséo marxista da mer- até 0 consumo. Mas como deverfamos de! seu trugo social relevante. Ademais, a situagao mercanti definida, pode ser decomposta ‘om: (1) a fase merca c datura de qualquer na vida social de uma coisa ¢ ums forma de sintetizar a ideia central do importante ensaio de igor Kopytoft que consta deste livro, em que se obscrvam cerlas coisas transitando dentro e fora do estado de mercadoria. Terei mais. dizer sobre esta ‘abordagem biogritica das coisas na proxima secéa, mas note-se, por fenquanto, que coisas entram ¢ sacm do estado de mercadori tais movimentos podem ser rides ou lentos, revs algumas coisas (tais como objetos herdados, selos postais ¢ antigui- dades) possa ser mais patente do que 0 de outras ago, sal ou agiicar), este componente nunca é de todo irrelevante. A candidatura de coisas ao estado de mercadoria é um traco mais conceitual do que temporal, e concerne os padrdes e critérios (simb6- licos, classificat6rios € morais) que determinam a trocabilidade de coisas em qualquer contexto social e histérico cm particular. A pri- meira vista, tal trago pareceria mais bem explicado como 0 qu cultural em que coisas sio classificadas, ¢ ¢ uma das pri ‘ocupagées do artigo de Kopytoff neste livro. Forém, tal explicagio oculta uma variedade de complexidades. & verdade que, na maioria das socicdades estiveis, seria possivel descobrir uma estrutura taxionémica que definisse o mundo das coisas, formando conjuntos de determinadas coisas, estabelecendo distingdes entre outras, vin- culando significados ¢ valores a esses arranjos ¢ fornecendo uma base para regras e priticas que gavernariam a circulacio desses obje~ tos. No que tange a economia (ou seja, & roca), a desctigio de Paul Bohannan (1955) das esferas de troca entre os Tiv é um exemplo claro desse tipo de quadro cultural de troca. Mas ha dois tipos de situagdo em que os padrées ¢ critérios que governam as trocas sia to ténues, que parecem praticamente ausentes. O primeiro tipo é 0 caso de transagGes que transpiem frontciras culturais, em que tudo 0 que se combina & o prego (monetério ou nic) ¢ wm conjunto minima de convengdes concementes & transagdo em si.‘ O outro € 0 caso daquelas troca is em que, a despeito de um amplo uni- verso de conhecimentos compartilhados, uma troca especifica se bbaseia em percepgoes profundamente diferentes do valor dos objetos, que estio sendo trocados. Os melhores exemplos de tal divergéncia de valor entre culturas podem ser encontrados em situagdes de extre~ ‘ma privagdo (como épocas de fome ou de guerra), quando a Iégica das tracas realizadas tem muito pouco a ver com a comensuracio de sacriffcios. Assim, um homer bengali quecntrega sua esposa & pros- tituigio em troca de uma refeicio, ou uma mulher turkana que vende algumas de suas melhores jéias pela comida de uma semana esto participando de transagdes que podem ser consideradas legitimas em circunstincias extremas, mas que jamais serizm vistas operando ema um complexo quadro de valoragéo compartilhado entre o vendedor © comprador. Outra forma de caracterizat tais situzgdes & dizer que, estes contextos, valor ¢ prego foram quase totalmente desatreladas. 28 ‘Ainds, como mostrou Simmel, do ponto de vista do individuo e sua ‘ubjetividade, ¢odas as trocas podem conter este tipo de discrepancia tntro os sacrificios do comprador ¢ da vendedor, discrepincias nor- smalmente posts de lado por causa das indimeras convengdes sobre a troca que so cumpridas por ambas as partes (SIMMEL, 1978, p. '80). Pocemos, pois, falar do quadro cultural que determina a candi- darura de coisas ao estado de mercadoria, mas devemos ter em mente {que algumas situagdes de troca, tanto inter quanto intracultural, se cearacterizam por uma gama mais superficial de padres de valor com> partilhados. Por conseguinte, prefiro usar o termo regimes de valor, ‘por nao implicar que todo ato de troce de mercadorias pressuponha tum quadro cultural em que se compartilhe uma totalidade de crengas, Antes, 0 termo sugere que 0 grau de caeréncia valorativa pode ser altamemte variével conforme a situacéo, e conforme a mercadoria, Neste sentido, um regime de valor condiz tanto com graus muito alfos quanto com graus muito baixos de compartilhamento de pa- drées pelas partes envolvidas em casos particulates de troca de mercadorias. Tais regimes de valor sio o fator determinante na cons- tante transcendéncia de fronteiras culturais por meio do fluxo de mercadorias, entendendo-se cultura como um sistema de significa- os localizado e delimitado. Enfim, 0 contexto mercant variedade de arenas sociais, is, que ajuda a estabelecer 0 isa ao estado de mercadoriaca 3 sociedades, transa- 6 -xto em que mulheres S80 vistas com maior intensidade, e de modo mais apropriado, como egidas c izagao, Leildes acentuam a dimensio mer- Ccantil de objetos (tais como pinturas) de um determinado modo que ‘Pode muito bem ser percebido como extremamente inaproptiado em utros contextos. Bazares so cenérios propensos aencorajar 0 fluxo ‘de mercadorias, enquanto cendrios domésticos podem néo-ser. A va- Hedade de taiscontextos, no interior ea OVinculo entre o ambi joo © tempor Questo social, pode reuni hem diferentes, que comparilhe ‘meatos (em uma perspectiva conceitual) sobre os objetos em questéo, eestejam de acordo apenas acerca dos termos di negociagao. O fe~ rnimeno conbecido por comércio silencioso é 0 exemplo mais Cbvio do minimo ajuste entre as dimensves culturais ¢ socials da troca de mercadorias (PRICE, 1980), .culturais € sociais. A medida que, ciedade, algumas coisas, com freqiiéncia, se encontram na fase rmercantil, preencher os requisitos da candidature ao estado d cadoria € aparccer em contextos mercai is tipicas. A medida q de, um ntimero considers algumas vezes preencke ¢ do ao grau de “mercar complexa, tendo em vista a definigio de mercadorias que se abordou aqui, Segundo esta definicao, o termo “mercadoria” passa a ser em- pregado no restante deste ensaio com referé S que, numa detcrminada fase de suas carreiras ¢ em um contexto particular, pre= enchem os requisitas da candidatura ao estado de mercadoria, A que (1982) fez recentemente sobre a importineia da crescente hegemonia das mercadorias no mundo estaria de acordo fato de, aqui, a volve, de um modo diferenci categorizacao) e 0 modo capital jorias merecem ser adicionadas ira, uma apli- 30 Jacques Maquet, em 1971, a tespeito de producoes estéticas,’ divide Jjnercadorias nos quatro tipos que se segue Jestinacdo, ov Sej2, abjetos destinados principalmente 4 troca pelos pebprios procutores; (2) mercadorias por metamorfose, coisas desti- Fades a outros usos que se colocam no estado de mercadoria; (3) mercadorias por desvio um caso especial, mais acentuado, de mexca- dorias por metamorfosc isto é, objetos que so postos no estado de uercadorias embora estivessem, em sua origem, especificamente protegidos de fal estado: (4) ex-mercadorias, coisas retitadas, tempordria ou permanentemente, do estado de mercadoria e ‘num outro estado. Também é vilido distinguir mercadorias jcas de sua classe (uma barra de ago perfeitamente padro- nizada) daqueles cuja cancidatura reside precisamente em seu carater ‘éaico no interior de uma classe {uma tela de Manet em vez de uma de Picasso; uma determinada tela de Manet em vez de outra do mesmo pintor). Intimamente relacionada com esta tiltima, mas nao idénti- ca, 6 a distingdo entre mercadorias, i versus mercadorias eucaixadas* Contudo, todos os esforgos em inir as mercadorias estio condenados 4 esterilidade, a nao ser que elucidem mercadorias em movimento. Este 6 0 pri tivo da proxima secéo ROTAS E DESVIOS As mercadorias sio freqiientemente representadas como o resultado mecinico de regimes de producao governados pelas leis de oferta e Procura, Recorrendo a certas exemplos ctnograficos, pretendo mos- ar, nesta secio, que o fluxo de mercadorias, em qualquer situagio Seterminade, € um acordo oscilante entre rotas socialmente regula- das e desvies competitivamente motivados, ‘Como ressaltou Igor Kopytoff, pode ser itl considerar que as merca- dorias tém de vida, De acordo com esta visio process fase metcantil na historia de vida de um objero nfo exaute sua bic- ada e sua interpretagdo admite, até certo Poato, a manipulacao individual. Além disso, ainda de acordo com Kopytoff, a pergunia“Quzis tipos de objeto devem ter quais tipos de 31 biografia?” € uma questao mais de contestacéo social ¢ de gosto indi- vidual nas sta contcepeao, podem acompanhar qualquer uma destas tondéncias, conforme se ajustem a seus interesses ou condigam com seu senso de adequaca0 moral, embora nas sociedades pré-modernas sm geral, muito grande, en ver, a mais im- modelo ge ® processual da izagao, no qual 0s objetos podem transitar dentro ¢ fora do juanto & oposigio entre mercantilizacao mais ou menos permanente de objetos singulares. E possivel levantar duas questdes sobre esse aspecto da argumenta- fo de Kopytoff. Uma seria que a propria definicao do que cor objetos singulares em oposigao a classes de objetos é uma quest cultural, na medida em que podem existir exemplos Gnicos de classes homogeneas (a barra de aco perfeita) e classes de objetos singulares culturalmente estimades (lais como obras de aste ov pegas de ves- tuériocom a etiqueta doestilista). Por outro lado, uma critica marcista desse contraste sugeriria que € a mercantilizacio, como um processo histérico global, que determina, de mancira importante, as relagies oseilantes entre coisas singulares e homogéneas em qualquer mo- mento da vida de uma sociedade. Porm, a principal questo aqui que a mercadoria nao € um tipo de coisa, cm vez de um outro tipo, mas uma fase na vida de algumas coisas. Neste panto, Kopytoff e ea estamos de pleno acordo. Tal concepgio da mercadoria ¢ da mercantilizagao traz diversas im- plicagSesimportantes, algumas das quais sto mencionadas no decurso estes dois termos, ¢ certa parte de minha compreensio das 32 ‘entre eles, a0 ensaio de Nancy Munn (1983), tana influeate 1m fendmeno de grande importincia fassunto do presente Livro, 0 célebre sistema kula do Pacifico Ociden- tal (LEACH; LEACH, 1983), 0 hula é 0 exemplo mais bem documentado de um sistema de troca transiocal ndo ocidental, pré-indusirial ¢ no monctizado, e, com a publicagio dessa recente coletinea, pode-se afirmar que se tornou 0 exemplo mais completo ¢ proficuamente enalisado, Agora, revelou- ica descrigio de jowski deste sistema (MALINOWS! 1922) era parcial e problemitica, muito embora ple tenha lancado os alicerces para as andlises mais recentes, inclusi- ‘ve a8 mais sofisticadas. As implicagées desta recente reconsideragao do feaGmeno kula para os interesses gerais do presente livro sio int- ‘meras, Embora os ensaios desta coleténea que irei citar repercatam diferentes pontos de vista, quer einogrificos, quer tedrieas, eles, de fato, permiter algumas observagées gerais. (O Kula é um sistema regional extremamente complexo para a circu- lagio de tipos particulares de objetos de valor, normalmente entre fhomens de posses, no arquipélago Massim, a0 longo da costa na ex- s jetos trocados uns colares ¢ braceletes ornamentados (cada a8). Estes objetos de valor adqui- conforme se movern de um lugar a lida que os homens que os trocam if, possuit e se desfazer destes , rota ou trilhe) é usado “Banham ¢ perdem reputacao ao adq dbjetos de valor. O termo keda (est ‘em algumas comunidades Massim para descrever o percurso desses objetos de valor de uma illta a outra. Mas keda também possui um ‘canjunto mais difuso de significados, que se referem aos vinculos Sociais, politicos e de reciproc! ‘ou menos estiveis entre os ‘homens que fazem parte destas roias. Em sua acepedo mais abstrata, Bata refers rota 0ea destes objetos de valor) va &riqueza, ao poder ¢ a repuitagio dos homens que negociam tai dbjetos (CAMPBELL, 1983, p. 203-204). ‘penees issémico, no qual a circulagao de ubje- © a busca de distingao Por meio de estratégias de parceria sio evocadas todas de uma ‘Vez. Os vinculos delicados e complexes entre homens e coisas, 33 te. Alguns foram tipor de Reda completamente diferentes, enquanio 0s remanescentes Je um Keda rompide podem querer formar outro keda,alcianda v0 ene os Keda, homens por imortali fanece no momento em que as coxchas perdem sua assaciacio com estes homens apés te- fem sido attaas com éxito para um outro keda, assumindo, portnto, aidentidade social de seus n0- ‘os donos. (CAMPBELL, 1083, p.218.219) Assim, a rota tomada por esses objetos de valor simal facilmente categorizada como uma troe: 10 da negociacio e do comércio. Ainda que as valoragies into a naturcze dos objetes quanto uma variedade de fontes de flex aio tipo de troca calculada cadorias. Estes complexos modos de valoragéo permitem que parceiros negociem o que Firth (seguindo CASSADY JR., 1974)cha- ‘mou de “Iroca por tratado particular”, uma situacdo em que se chega ‘a uma espécie de prego por meio da negociagéo de alguns processos ‘que diferem das forgas impessoais de oferta e procura (FIRTH, 1983, p91). Assim, apesar da presenca de taxas de troca gencralizadas @ exo célculo qualitative (CAMPBELL, ngo de“engen! v Jada que, segundo minba definigao, torna turvat vrsca de mercadorias de Variantes mais sentimertais. A diferenca mais importante entze a toca destas mercadorias e atroca de mercadorias alas € que 0 diferencial que se a reputagio, nome ou fama, de 0 modo que pessoas s40 desse lucro, em vez de 1983, p. 80; DAMON, para poucas mereadoris. , p. 330-340). O nao ter prego é um luxo ‘Talvez ainda mais importante que o aspecto calculista das trocas no ‘1 ob- entre aslongas rotas interior da itha, mais 11983; DAMON, 1983; CAMPBELL, 1983; MUNN, 1983). Ainda que 0 tormo kitoun seja complexo e em certus aspectos ambiguo, ‘parece claro que designa a articulacao entre 0 kula e outras modali- -dades de troca nas quais homens ¢ mulheres transacionam em suas ‘pe6prias comunidades. Kitoums so objetos de valor que podem ser ‘pesios ou legitimamente retirados do sistema Aula para se efetuaren eonversies” (no sentido de Paul Bohannan) desde“ transferéncia” (BOHANNAN, 195 entre as rolas mais gas qui jade do mundo des trocas $MMassim. Como mostrou Annette Weiner, é um e ande sistema de trocas entre ilhas seer or causa de divides, mo orém (para os homens) mais sufocantes (WEINEI ae pa 3) mais sufocantes (WEINER, 1983, p. ‘Peistema éula confere um cariter dindmico e processual 3s idéias de {Mexe8 no que tange &mistura ou troca de qualiades enite homens € ‘Seteas, como nozou Munn em relagdo as rocas la em Gewar “Em 35 bora os homens paregan ser os agentes na definigio do valor dq ‘conchas, na verdade, sem conchas, eles nio podem definir seu pré prio valor; quanta a isso, conchas e homens sio agentes reciproeq nna definicao do valor de um ¢ de outro” (1983, p. 283). Mas, comt observou Munn, na construcdo reciproca de valor, as rotas no sio a Sinicas a exercerem um papel importante: os desvios também 0 fi ‘em. As relagoes entre 1olas € desvios sao cruciais para as politica de valor no sisterma hula, € a orquestragéo apropriada destas relagid 6 a principal estratégia co sistema: Na yesade, 0 sistema de tas implica o desvio, aque este é um des meins de ‘I tarde para acalmar parceiros frusirados evitar gt «rola desuparesa, ov evitar que eles mesmos sei suprimidos da rota. (MUNN. 1983, p. 301) Estas trocas de grande escala epresentam esforgos psicol6gicos pag transcender fluxos mais humildes de coisas, mas, nas politicas q reputacdo, ganhos na arena mais ampla tém implicagoes para as arq nas menores, ¢& idéia de Aizount assegura que tanto as transferéacig quanto as conversdes tém de ser conduzidas com cuidado com vista 40s melhores ganhos no total (DAMON, 1983, p. 317-323). O aah pode ser visto como o paradigma do que proponbo chamar de tornel 0s de valor.® 9 S10 complexos eventos periddicos lente bem definida, se afastam das A do nestes eventos tende a ser simultane! les. A moeda corr tinguida por meio de diacriticos culturais muif ‘bem compreendidos. Fisalmente, o que esti em pauta nestes torneié a0 € si¢do, a fama ou a reputacdo dos atores, mat isposigo dos principais emblemas de valor da sociedade erm quet fim, embora tais torneios de valor ocorram em épocas ¢ lugar cespeciais, suas formas ¢ resultados sempre trazem consequéncit 36 mundanas realidades de poder e val a, do mesmo modo que em ratégicas sio medidas culturalmente pelo su- Beteo com (ue OS alores arriscam desvios ou subversdes das rotas Spituralmente convencionadas para o fluxo das coisas, vida comum, 1eios de valor em ‘A idéia de tomeios de valor é uma tentative de criar uma categoria, eral, seguindo uma observacio recente de Edmund Leach (1983, p. 535), que compara o sistema Kvla como mundo da aste no Ociden- fe modemno. A andlise de Baudrillard dos leildes de arte no Ocidente ‘contemporineo permite que se amplie € aprofunde esta analogia Baudrillard observa que 0 leildo de arte, com seus aspectos Idicos, ituais ¢ eciprocos, se localiza fora do ethos da troca econdmica con- vvencional, e que “vai muito além do cileulo econémico e diz.respeito a todos os processos de transmutacao de valores, de uma l6gica de valor a outra, que pode ser observada em determinados lugares & instituigées” (BAUDRILLARD, 1981, p. 121). A andlise que Bandrillard faz do ethos do leiléo de arte merece ser citada na inte- 14, jf que poderia ser facilmente uma caracterizagéo apropriada a ‘oatros exempios de tomeios de valor: ‘Ao conttio de operazdes comerciais, que insitu- fem uma relagio de de econdmica entre Individuos em condigoes de guatdade formal, com cada um guiando seu proprio eddeulo de spropria cat valores dos signos. (198) do fazer uma anilise comparativa de tais tomeios de valor, pode ser ponies indo seguir a tendéncia de Baudrillard de para See da troca econdmica mais mundana, embora seja mui- que.a articulagio destas arenas de valor com outras arenas 37 econdmices apresente grandes variagdes. Terei mais adizer sobre tor- cios de valorna discussfo acerca das relagies entre conhecimen mercadorias, mais adiante neste ensaio, com formas distit ta-se do exemplo m: lturalmente definidas e o poter de modo que 0 movimento das coisas torna mai onalizados de varias formas que removem ou protegem ob: jtos dos contextos mercuntis socialmente relevantes. Monopélios jos de dorias encaixadas”, como aponta Kopytoff no Cay Jiscussies mais amplas ¢ interessantes sobre est no contexto das propriedades reais entre os lozi da do modo pelo qual, em liderangas ¢ impérios pré-modernos, a rea- Jeza podia assegurar a base material da exclusivida Este .s0 pode ser chamado de desmercantilizacio “de cima para baixo” de atividade ¢ de valor que née po- Mas 0 caso mais complexo concerne a drei produgao que sio destinadas a fabricar ol 38, dem ser mereantilizados por ninguém. O corpo da arte ¢ do ritual em sociedades de pequena est 1a destas zonas encaixadas, onde o ‘o da mercadoria s6 adentra sob condigves de mudancas cultu- rais massivas, Para uma discussio mais longadeste fenémeno, ‘ocnsaio de William Davenport sobre a produgio de objetos dest dos 20 uso ritual nas ilhas Salomae Orientais. 0s fendmenos discutidos no artigo de Daven; tos mercantis da vida social precisam. de quadro moral e cos resguardada, Durante as observincias finebres desta regio, particu- larmente na celebragio de larga escala chamada murina, investem-se muita energia e despesa na confeccio de objetos que desempenham tum papel central no ritual, mas sdo rigorosamente postos na catego- tia de mercudorias “terminais” (KOPYTOFR, Cap. 2), ou seja, objetos «que, devido ao contexto, a0 propésito e ao significado de sua produ- fazem apenas um trajeto da producio 20 consumo. Em seguida, fica, Podemos paraftasear as observacdes de Davenport ¢ ob- que o que se passa aqui — no centro de um conjunto Este tipo de transvaloragio ode assumir formas diferentes em so- ciedacles diferentes, mas, em muitas sociedades, curacteristicamente 0s objetos que representam elaboracoes estéticas e aqueles que ser- vem de sacra sio proibidos de ocupar 0 estado de mercadoria (quer social, definitiva ou temporariamente) por muito tempo. No rigoroso ‘compromisso dos ilhéus de Salomao de colacar seus produtos rituais ‘mais estetizados Fora do alcance da mercantilizacao, vemos uma Va- ante de uma tendéncia muito difundida. Um exemplo um tanto diferente da tens entre a troca de saera ede imérdios da Europa medieval. As 1e- iamente, “encontradas” em vez de '€ sua circulacao repercute um aspecto muito importan- te da construgio da identidade comunitéria, do prestigio local e do 39. ico, da competigao dade entre comunidades. Sob esta perspectiva, as re josamente protegidas do or serem os outros dois modos mais emblemiticos do valor e de cficdcia do objeto. tras coisas. No entanto, a forca da demanda é tamanha que as fiz circular com uma velocidade consideravel ¢ de modo muito parecide com 0 de suas contrapartes mundanas. Portanto, mesma € 0 “porto-dé nos (GEERTZ, 1980) facilitar trocas politicas, sociais ¢ comerciais de um tipo mais mus 40 dano, Tals mercadoris encaixadas guaréam uma serelhancafamili- ’com outra classe de coisas, freqitentemente ida na . 10 “objetos de valor pri Bmbora as mercaclorias, em virtude de seus destinos de trocae de sua ‘comensurabilidade métua, tendam a dissolver os vinculos entre pes- goas ¢ coisas, tal tendéncia é sempre eq contratendéncia, em todas as sociedades, de 1 analizar a troca, Em muitas economias pri exibem estas qualidades socialmente re ouglas (1967) melbam a cuzens seja, apesar de serem parecidos com dinheiro, na seralizado de troca, mas possuem as seguintes caract poderes aquisitivos que representam sio altamente e: ‘gus distribuigao é controlada de formas diversas; (3) as condigdes ‘qee governam suz emisséo criam uma série de relacées do tipo ) sua principal funcio é fomecer a condigéo ne- 10 ingresso em posigbes de alto stazus; e (5) os sistemas seciais em que tais cupons e licencas funcionam sao engrenados para Miminar ou reduzit a competicao em favor de um padrio estével de ‘satus (DOUGLAS, 1967, p. 69). Tecidos de réfia na Africa Central, ‘wampun' entre 0s indios do leste dos Estados Unidos, dinheiro-con- daa entre os Yurok ¢ a moeda-concha da Ilha Rossell ‘da Oceania sio exemplos de tais “cupons de mercadoria” (nas pala- ‘¥eas de Douglas), cajo fluxo sestrito esta a disposicao da reprodugio Ad sistemas politicos e sociais. Coisas, nestes context mcanismos de reproducao das relagdes entre pessoas (ver tam- ¢m DUMONT, 1980. objetos de valor s. Devemos a Mary jelos de valor se asse- Pela oferta ¢ procura, um alto grau de codificagao em mos de etiqueta ¢ apropriabilidade, e uma tendéncia de seguir Ferenc cstabelecidas. Com a pura permuta, sua troca Partilha o espirito do calculo, uma receptividade ao interesse € uma preferéncia por transacées com pessoas rel Mente esiranhas, per 7 , Bees festritos de fluxo de mereadorias, nos quais objetos exercem o papel de cupons ou licengas destinados a proteger 4) sistemas de status, inverso técnica, da determinado caso, pelas restrigdes de equivaléncias ¢ stema de mod: cs 0 cquivalente funcional, que é também o la” nas ‘iedades mais complexas. vezes f que significa dizer que 0 desvio pode, em certas ocasiéies, ent remocao calculada e “interessada” de coisas de uma zona encaixada para alocé-las em uma zona onde a troca 6 menos limitada ¢ mais va, num sentido de curto prazo, Onde o enclave atende aos 0 grupos que deiém 0 poder eco- + sociedade, os desvios sio, com iduo empreendedor. Mas, sejam 2 cm qualquer tipo de atividade, 0 contraste fundamental é que, enquanto o enclave busca proteger cer- tas coisas da mercantilizacao, 0 desvio frequentemente visa atrair coisas protegidas para a zona de metcantilizagio. 1a discussdo extremamente interessante sobre o comércio br nimicos em i 44-45). Assim, 0 que Sahlins denomin desgasta e transforma as fronteiras culturais no interior das quais $80 inicialmente concebidas. Em suma, as de enclave, longe de sistemdtica, podem se tornar 0 cavalo de Tréia da mudanca 0 desvio de mercadorias para fora das rotas especificadas é sempre de criatividade e, Seja estética ou econdmica, Tais crises podem assumir uma variedade de formas: adversidades econd- ‘micas, em qualquer espécie de sociedade. podem levar familias 2 se cesfazerem de objeto: mente, é a guerra ¢ a pilhagem que a acompanhou ao longo da historia. Em tal pithagem, ¢ no espélio que dela deriva, vemos 0 inverso do comércio, A transferéneia de mercadorias em tempos de guerra sempre tem uma intensidade simbética especial, exemplificada a tendén ignias ou partes de corpos que pertenciam ao inimigo. Na pilhagem pretensamente legitima que instaura 0 qua- io a Saques mais mundanos, vemos © an duplo processo de sobreposigao de camades dos cireuitos de troca nas, & a forma mais simples de desvio de mercado. ss predeterminadas. vi exernplos mais sutis de desvios de mereadorias de suas rotas formados cultural, econdmica ¢ socialmente pelos g eideologias de economies maiores (GRABUR} dizer sobre a arte turistica na secao deste ensaio atureza das grandes colegdes de arts e arqueologia no dental, cuja constituicéo apresenta uma complexa mistura de pithagem, venda c heranga, dda com o gosto oti ‘coisas do passadoe dos outros." Neste tréfego de artefatos, podemos sétias questoes de debate cultural ternacional de mereadorias “auténticas” (ver SPOONER, cap. 7) ¢ “singulares” (ver KOPYTOFF. cap. 2). As disputas atuais dos museus ¢ gover com varios ou- {W0s paises trazem 8 tona todos os embaragos politicos e morais que Passam 2 estar em jogo quando as coisas sio desviadas, repeticas Vezes, de suas rotas minimas ¢ coavencionais, e sio transferidas por ‘todos to variados que fazem com que suas his ‘Ses e contra-reivindicagoes sejam extremamente dificeis de julgar O desvio de mercadorias de sua rota costumeira sempre cart uma aura arriscada ¢ moralmente ambigua. Sempre que aq) que Bohannan (1955) chamon de transferéncia da lugar 20 que ele 10 de empreendimento ¢ 0 de corrupgio moral entram em cena simultaneamente. No caso das trocas kula na Melanésia, o movimento de mercadorias através de esferas, ainda que de algum modo fora de ordem, também est no jas de uma esfera de troca & oul recorrendo-se & alegagio de crise econémiea, quer se trate de peniria ou de faléncia, Se tais alega- s, acusagdes de motivos festadas. Excelentes exemplos '$ do desvio sao encontrados na arena de que consta deste livro discute a ica econémica de uma mercadoria quase-legal cha- edulis), jimos 50 anos, no nordeste da lo de muddanga no que se transcultural de relacionamentos que vinculam produtores, dis dorese consumidores de uma mercadoria, ou conjunto de mercadorias, particular. O que é especificamente interessante, neste caso, € a dris- tica expansao da escala de consumo (¢ de procus ligada a mudangés na infra-estrutura técnica, assim como & econo- mia politica da regio. Embora a expansio da prod condizente com condigoes que se ajustam a padrées mai na comercializagéo da agriculiura, o que é mais intrigante é a expan- io da demanda e a reacao do Estado ~ em especial na Somélia—a0 crescimento tanto na produgo quanto no consumo de gat. éncia estatal sobre uma mercadoria cujo consumo é per- cebido como um habito ligado a formas de sociabilidade improdutves © potencialmente subversivas. No caso da proibigio na retérica de que desalia a, mas & autori- Gandhi)évisiacomo um problema de mbliplos nig somente 0 controle do Estado sobre @ econor 44 dade do Estado sobre a organizagio social do lazer entre 03 cida- dios recém-ricos € em ascensac sociat da Sométia urbana, Com este exemplo, somos mais uma vez. lembrados que mudengas répi- das nos habitos de consumo, quando nao reguladas pelos que esto idem a thes parecer ameacadoras. Ainda, no caso da exemplo da tensio entre uma altcragao ica econdmica de um ecimeno mercantil regional e aortade de um Estado nese ecimeno, Bem entendido, os melhores exemplos de desvias de mercadoria de suas conexies originais devem ser encontrados no dominio da moda, © das colegies no Ocidente moderno. No vi , seja no mercado de moda ou de arte, écatalisado e intensificado, locando-se objcios ¢ coisas em contextos improvaveis. E na esté= fizagao (ela mesma motivada pela busca da novidade) que esté a esséncia da exibicao, nas casas de ocidentais supostamentsintelectulizados, de tenis ¢artefatos do “ou- : alforjes turcomznos, langas massais, cestos dinca.!* Nestes chicos, vemos além de ia entre 0 auténtico e 0 co- i Tal desvio ndo é apenas um trumento de desmercantilizacio do ol as também a (po- aumento de valor io do desvio vos", do deslocamento dos objetos “encontrados”, da for magio de colecdes de qualquer espécie.'* Em todos estes exemplos, © desvio das coisas combina 0 impulso estético, © viaculo empre- endedor e um toque de choque moral Tadavia, desvios 36 sio dotados de significado se relacionados as Tolas de que foram extraviados. Na verdade, ao se observar a vida de mercadorias em qualquer sociedade ou periodo determina- arte do desafio ant co € definir as rotas relevantes ¢ neitas, de sorte que a logica dos desvios possa ser entendida de 45 uum modo apropriado e relacional. As relagdes entre rotas v desvios sao, cm si mesmas, histéricas e dialétieus, como mostrou com mes~ {tia Michael Thompsom (1979) a respeito de objetosde arte no mundo ocidental modemo. Desvios que se tornam previsiveis esto acami- ho de se tomarem novas rotas, que, por sua vez, irio inspirar novos desvios ou retornos.a rotas antigas. Estas relacées historicas sao rdpi- n nossa propria sociedade, mas menos em sociedades em que tais alterages sio mais graduais. tural de mercadorias, a mudanga deve ser buscada mantes de rotas a desvi lesvios de rotas costumeiras fazem Surgit 0 novo. Mas 0 desvio é com freqiéncia uma funcao de desejas irregulares e deman- das recentes. Passemos, entio, a considerar o problema do desejo e da demanda, DESEJO E DEMANDA. 4 razao por que a demands continua serdo om geal um mis ¢, ao fato de supormos que ele possui alguma ). Seguindo Bavdrillard (1981), sugiro que tra 1,0 consumo ~ como um aspecto geral da politica econdmica das sociedades. Quer dizer, a demanda surge como uma funcio de uma série de préticas ¢ classificagées sociais, em vez de uma misteriosa revelacio das necessidades humanas, de ‘uma reaca0 mecanica 4 manipulacao social (como em um modelo dos efeitos da propaganda em nossa sociedade), ou de uma redugio de am desejo universal ¢ voraz por qualquer coisa que, por acaso, supostamente estave temos a demanda—e, porta as de consumo entre os gondes murias importantes ¢ interessantes sobre as complexidades culturais do con sumo ¢ os dilemas do desejo em sociedades de pequena escala que esto passando por mudangas bruscas. Apés a leitura deste artigo, seria praticamente impossivel ver o desejo por bens como algo sem exibigdes eoletivas, ao iguaiterisme econtmico e& sociabiliducke —0 gue gera um problema dhteragoes na economia tribal mais ov menos ao longo do culo, adquiriram uma riqueza consideraveli jor que 0 rest de suas comunidades. Ores poderiamos chamar de "parcimbnia conspicua”, em que a simplici- dade do estilo de vida e das posses & mantida contra as crescentes pressdes do aumento da renda. Quando despesas com mercadorias ar em torno de formas de mercadorias manda (¢, assim, do consumo) é, aqui, parte de uma estratégia consciente dos ricos para conter as implicagies divisivas da diferen- ciagio. Ocxemplo. ‘um caso impressionante de regulamentacio jo por bens, mesmo quando as condigdes técnicas ¢ 0 texto demonstra, de -a, valor e demanda na social das coisas. De acordo com o argumento de Bayly, a D 8 troca & 0 consumo téxteis constituem © material de um ‘discutso politico” (um tanto como a gat na Somilia) que vincula a demanda ségia, as estruturas de produ: jedades socizis locais, e a construgio dale; oaspecto do consu- to presente neste discurso politico que explica a grande penctracio de tecidos ingleses nos mercados indianos durante o século XIX, ¢ 40 meramente 2 logicabruta da um modo muito clara, os lagos entre pe histor 47 pode chamar de uma linguagem de resisténcia merea hificados mais antigos ¢ mais recentes do tecido se império britanico. O ensaio de Bayly (que, entre outras coisas, ¢ uma pficagio exiraordinariamente rica das idéias de Wemer Sombar}) ‘de longo prazo na vida social de uma merea | nos fornece duas elucidacées de ue as Lem comunidades pequenas se ligam in- ie valor mais amplos, definides por sistemas ide grande escala; ¢ que © vinculo entre processos de 0” e “mercantilizacao” (para usar os termos de ‘nas vidas Sociais das coisas é, em si mesmo, dialético ¢ esté sujeito (nas ma sdividuos como Gandhi) a0 que Clifford Geertz chamaria de “jogo absorvente”."* ‘A demanda é, pois, a expressio econdmica da l6gica politica do con Samo; logo, seu fundamento tem de ser buscado nessa I6gica. Seguindo os rastros de Veblen, Douglas ¢ Isherwood (1981) & 1975, 1981) sugiro que 0 consumo é eminente- 1, em vez de privade, atémico ou passivo. Dous sntagem sobre Baudrillard, a de nao res tringir & sociedade capitalist contemporanea seu mode de ver o consumo como um ato de comunicagio, mas estendé-to igualmente a jaudrillard, por sua vez, coloca a l6gica do con- das logicas fo de produgio quanto de ‘mente eficaz a Marx ¢ seu respeito 20 pat de conc tos como entaizados em um substrato primitivo, u da condigéo humana. ia inclinagio € der um passo a frente na des 1 faz dos conceitos de “necessidade’ ‘dos mesmos em umaesfera 1 de producio ¢ troca)e estender sua idéia também a sociedades nao-capitalistas, Em ;0 do consumo? Em observar 0 consumo (¢ a ‘orna possivel) como um poato de convergéncia no ide mensagens sociais (como props Douglas), mas, jgualmento, de recepgao desias mensagens. A demanda, portarte, ‘Coulta dois tipos diferentes de telagao entre consumo ¢ produc: 1) Ge um Indo, é determinada por forgas sociais e econdmicas; 2) de sconsiruca0 dade” (Co 48 no campo de influgncia que The coscerne. Mas a demands real tam- bém é uma forga de recepeao de mensagens, na medida em que tem suporte em suas Telagoes com0s estilos ¢ produtos europeus contem- portineos. Gostos da elite, em geral, tm essa fungio de " € a producao interna. ‘Um mecanismo que frequentemente transpie o controle politico na demanda de consumo € 0 das “ rias”, que caracteriza so- ciedades complexas pré-modernes, mas também sociedades de pequensa escata, pré-industriais e pré-etradas. Sempre que vestimenta, , moradia, oraamentagio do corpo, mimero de esposas ou de eseravos, ou qualquer outro ato manifesto de consumo estio sujeitos 2 ume regulamentagéo extema, podemos perceber que 2 demanda almente sujeita a definicao social e a0 controle. Desse ponio de vista, os inimeros “tabus” das sociedades primitivas, que proi- josde casamento, de consumo de alimentos ¢ de juncées cognatas positivas). ‘an‘loges morais das leis sunt explicitas e legitimadas, de sociedades mais complexas ¢ . or meio deste elo que podemos compreender melhor a perspicaz analogia que Douglas (1967) iraga entre sistemas de racionamento ‘primitivos” e “modernos”. dinheiro modemo esti para os meios de troca ‘como a moda esta para as primitivas regulamentago Por outro lado, os meios ivos, como as leis suntuérias ¢ 0s tabus, i 49 igados.a hierarquias, discriminagdes ¢ posigées da vida social. Mas, como demonstraram tao bem Bi rd (1981) ¢ Bourdieu (1984), as.autoridades estabelecidas que controlam a moda ¢ o bom g sociedade ocidental contempordnea nao sio menos eficazes em limi- tar a mobilidade social, em demarear a po: ‘gtas constaaternente alteradas, determinads pelos que ® seus especialistas afilados, que habitam 0 topo da sociedade. de da moda quanto os consumidores pri da legislecao suntudria. A demanda por mercadorias é drasticamente regulada por esta variedade de mecanismos que origem sociall & compreendida de modo mais claro (Lanto por consu- midores quanto por analisias) cm nossa propria sociedade do que s de nés. Do ponto de vista da demanda, a diferenga crucial entre modernas ¢ as baseadas em formas de tecnologi les ndo 6 que nés possvi- mos uma economia tctalmente mercantilizada, ao passo que. na a subsisténcia € a troca de freqiientes ow Consuetudinérios. Porém, em ambos os casos, impulso gerado e regulamentado soeialmente, nio um artefato de caprichos ou necessidates individuais. ‘Mesmo em sociedades capitalistas modernas, € claro, os meios € 0 1 (no sentido de Veblen) né0 s4o 0s tinicos wnipulada para boicotar alfaces cul sob as formas generalizadas de protencionismo, “ oficial”. Novemente, o tratamento dado por Ba que Gandhi faz com 0 significado do tecido produzido na India ¢ um arquiexemplo de politizagdo direta da demanda, No entanto, esta ‘manipulagao em larga 2scala da demanda por tecido na india do sé- culo XX $6 foi possivel porque o tecido vinha sendo, em um nivel local, um instrumento para o envio de mensagens sociais sofisticada- 50 jue © consump se Vincula de um modo mais sociais cruciais tendem a ser ‘veis & manipulagio pol sociedade ponto de vista social, ¢ a0 decisivos na articulacao da ofer nlre governantes € Estados variaram enormemente no tempo & no espaco. Embora estudos como o de Curtin estejam comegando a demonstrar padroes subjacentes a esta diversidacle, o componente da emanda nessas dindmicas de comércio permanece obscurp. As pr6- te, scr a fonte das reivindicagies de ambas as pal principal na regulamentagio social da dertanda, AS pol manda encontram-se, com frequén ‘comerciantese elites p portanto, politicas) loeais é provavelmente, a razio furdamenial da tendéncia, muitas vezes nota comércio a um cor ‘mercadorias e 2 negociagées com estranhos, em vez de purentes ou amigos. A ideia de que comércio viola « espirito da dadiva pode, emsociedades complexas, ser apenas um subproduto, vagamente apa- Fentado, deste antagonismo mais fundzmental. Em sociedades Pré-modcrnas, portanto, a demanda por mercadorias algumas vezes Teflete dinimicas do Estado, ot, como no :aso do Au Ponto de articulac a0 li Esse pode ser um ponto apropriado pars se observar que hi diferen- aS importantes entre a biografia cultural e ahistoria social das co As diferencas dizem respeito a dois tipos de temporalidade, duss for- mas de identificar uma classe e dois niveis da escala social. A iografia cultural, formulad por Kopytoff, é apro- quando observamos classes ou jeragies ria classe de coisas quia” tem um fluxo ¢ refluxo historico mais amplo, no decurso do qual seu significado pode se alterar expressivamente. “Varna e 0 surgimento da riqueza na metodolégico e tedrico, sobre as mereadoriss vistas no decurso de uum longo periodo de tempo. Seu ensaio lembra-nos que as mercado- rias sio essenciais para algumas das alteragdes muito antigas € fundamentaisna vida social humana, especificamente a passagem de sociedades relativamente nio-diferenciadas de caca e coleta 28 pr meiras sociedades com formas de governo, primeiro lugar, observar tai so muitas vezes sociais ¢ politicus, em vez de meramente téenices. Isso posto, segue-se que, como Renfrew deixa claro, consideracées sobre valor ¢ demanda tornam-se cenirais para a compreensio do a a, parecem saltos estritamente técnicos. pré-histéricos da Europa, Renfrew nos afasta das tentagies de uma, visdo ceflexionista (segundo a qual objetos de valor refletem o alto status das pessoas que os sam) em prol de uma visio mais constr 52 tiva, segundo a qual é 0 uso de objetos de alta tecnologia que écrucial para alteracoes na estrutura de status. Portanto, o que se deve exp! ‘cat Sio nog6es de valor mutaveis, que, por sua vez, impli usosde descoberas ecnol6gicas e nov rcadorias (conquanto tema central deste stincia, separado de questées de tecnolog métcio, Contudo, ainda que o problema arqueol6gico sitva pararcalcar 2 complexidade ¢ a dimensio a das relagdes entre valores, diferenciacao social e mudanca técnica, a auséncia de documentos eseritos ou orais mais convencionais, na verdade, dificulia mais a mariam de um modo mais confortavel. Processos de longo prazo envolvendo o papel social das mercadorias foram recentemente estudados em trés grandes cbras, duas da autoria, ¢ historiadores (BRAUDEL, 1982; CURTIN, 1984) ¢ uma de um antropélogo (WOLE, 1982). Cada um destes estudos tem algumas virudes particulares, mas também ha sobreposices significativas entre eles. O livro de Curtin é um audacioso estudo compar industrial ¢, nisso, possi muitos tracos em 10s de Erie Wolf em seu livro recente. Contu: 40,0 estudo de Wolf, em parte por seu ponto de vista tedrico e por se Scupar de um capitulo bem mais recente da Europa com o resto do mundo, se orienta muito mais em direcao a Europa. Curtin e Wolf fazem um grande esforco para demolir a de fluxos de mercadoria como algo recente ou exclusivamente ligado 49 capitalism metropolitano, e servem como lembrotes do pano de fundo ion ‘comércio aconteceu por ent Por diferentes motivos em cada caso, Curtin menos pela questio da demanda ¢ 0 problema da construcio cultural entéo, complementam e enri- quecem © amplo panorama institucional, econémico e tecnolégico dos fluxos de mercadoria apresentados nesses dois ¢studos. € uma outra his- nos dar uma descrigio densa e comovente da form industrial moderno, Nesse volume, cujo titulo em inglés é The Wheels (BRAUDEL, 1982, p. 172-83); mas, sobre as origens e us conseqiigncias das mudancas na demanda, pouco do que diz nao havia sido antecipado por Werner Sombart, que sera discutido logo 0. Today’ pais tratamentos recentes jas na construcdo do « fornecer 0 context para aquilo que «s en é esclarecer as dinimicas sociais ec mercadorias. Toda este carreirae classifica ssa compreensio di 54 destas complexas relagdes entre trajetérias de grande e pequena es- cala e padres de longo c curto prazo no mavimento das coisas nao ‘s20 muito difundidos na literatura, ras podemos comegar a obs taisrelagées com referéncia as transformacdes dos sistemas sab o impacto do regime colonial (DALTON, 1978, p. 155-165; STRATHERN, 1983) 2s transformagdes da sociedade ocidental que levaram a0 surgimento do souvenir. do objeto coleciondvel ¢ da tem- branga (STEWARD, 1984). Livro, os ensaios de Bayly, Geary, Cassanelli ¢ Reddy sio discussbes especialmente interessantes e alteragdes de longo prazo na producao de mercadorias encontra-se tno trabalho de Werner Sombact (SOMBART, 1967). Devemos a Sombart a importante observacio historica, de que, no periodo entre 1300 ¢ 1800 na Europa, que ele v8 como 0 cerne do ismo, a principal causa da expansio do comérci sensuais ¢ na politica econdmica das relacdes de corte durante este perfodo. O significado dessa nova fonte de demanda era que a moda havia se tomado uma forca mottiz, para 2s classes mais altas, saci day apenas por artigos de consumo em quantidades cada vez maior © qualidades cada ver mais diferenciadas. Esta intensificagio da de- manda, sexual ¢ politica em suas origens, assin estilo de vida senhorial ao mesmo tempo em que fatura e 0 comércio do capitalismo nascente. ‘metodologicas, ela permanece como uma alternativa potente (embo- ta subterrdnca) as visdes de Marx ¢ de Weber sobre as origens do capitalismo ocidental. Ao voliar-se para 0 consumo e a demanda, a obra pertence a ums tradig dria e opesitiva, algo de que Sombart estava bem ciente. Neste: , Sombart é um dos primei- ros criticos do que Jean Baudrillard chamou de “espelhoda producao”, 53 no qual uma boa parte di teoria dominante da economia politica do Ocidente moderno tem se se na demanda, om suas observagées fundame re as politicas da moda, em sa colo- ‘cagao das forcas econdmicas no contexto des transformagies da sexualidade e em sua visio dialética das relagées entre lu cessidade, Sombart antecipa recentes abordagens semi comportamento econdmico, tais como as de Baudrillard, Bour: Kristeva e outros, A abordagem de Sombart foi recentemente retomada em um estudo extremamente interessante das circunstincias que antecederam 0 co- meca do ¢: smo, da autoria de Chandra Mukerji (1983). O argamento de Mukerji, que converge para o meu em diversas pontos, Jonge de serem resultado da revolucao tecnologicafindustrial © um novo tipo de consumo es de todo 0 mundo foram ismo na Europa. Apresenta novas evidéncias e demanda ¢ a moda no centro de hural das origens do captalismo ocidenta. assim lade das “coisas” nessa ideologia na Europa Renascentista (ver também GOLDTHWAITE, 1983). mentagio (que € um problema para historiadores dos primérdi Europa moderna) do que no cariter generalizante da légica de seu argumento no que diz respeito base cultural da demanda por, a0 ‘menos, alguns tipos de metcadoria, aquelas que chamamos de luxos, Proponho que consideremos os bens de luxo nfo exatamente em con- traste com necessidades (um contraste cheio de problemas), mas como bens cujo uso principal éretérico e social, bens que sio simplesmen- te simbolos materializadas. A necessidade a que eles correspondem 6 fundame: de luxo é consumida (ainda que de formas especiais e a custos espe- 56 ciais), poderia fazer m: ial de consumo (por ‘uma classe espe: tro, mercadotias, s40 alguns dos ou todos os seguintes ‘ibutos: (1) restricio, quer por pregoou por le, 2 eli sxidade de aquisicéo, que pode ou nio ser uma fangao de 3)virtuesidade semi 5, jlexas mensagens s moda; ¢ (5) um alto grau de associagéo entre seu consumo ¢ 0 corpo, a pessoa ea personalidade. Do ponto de vista do consumo, aspect dem, de certa forma, convir a toda e mereadorias, em cettos contextos, luxo, € podem ser vagamente descritas como bens de lux, deste modo, todas as sociedades apresentam bens de luxo, ¢ poder-se-ia argumentar que és-1800 (apés 0 deseparecimento das leis suntuarias) que manda sc libertou da regulacéo politica e foi legada ao jogo do mercado ¢ da moda. Nessa perspectiva, a regulamentagéo sun € ada moda s0 polos opostos ne regulamentagio social da demanda, em particular daqueta por bens com al certs épocas, 0 fluxo de bens de I entre estas duas forcus: os diltimos séculos do Antigo Regime na Eu- opa, por exemplo, mostram forcas que atuam em ambas as diregdes. desse registro de luxo po- demanda e do consumo, liga-se, obviamente, is tensdes entre 0s sis- temas de producio e bens nativos ¢ os importados, toca i ressante acerca das ligagées entre comércio, moda, eis suntudrias © tecnologia € encontrado na discussio de Mukerji sobre as conexses entre a Inglaterra e a India para o comércio do calicé no século XVI. (MUKERUI, 1983, p. 166-209), S7 ‘A segunda questio de importincia « que Sombart io é a complexidade das figacdes entre asbens de tu mundanas. No caso de que ele se ocupa, as ligagées envalvem ipalmente o processo de producao. Assim, nos primérdios da Europa moderna, © que Sombart vé como bens de Iuxo primarios tem, como pré-fequisites, processes de producio secundarios € arte aos centros de ago de mobi- ddeiras essenciais para jge nossa aten- ‘e mercadories tecelagem de seda, que, por sua vez, dio supo! Iidrio e vestudrio de luxo; ia produz 1 producao de escrivaninhas sofisticadas; 4 ta, passa a haver uma grande demanda por carvao na indi vidro e de outros luxos: a fundigdo de ferro forneceu os encanamen- tos cruciais para as fontes de Versailles (SOMBART. 1967, p. 145-166). Visto que um crescimento na demanda por bens de luxo primérios é decisive para a expansio da producio de instrumentos de ‘segunda e terceira ordem, ademanda por luxos tem grandes implica- tema econdmico, Este € 0 caso das economias modernas € Porém, em economias diferentes quanto a escala, a csirutura ¢ aorga- nizagio industrial, a conexio entre bens de Inxo e bens de outros ‘registros de uso pode envolver nao as reverberagées de um complexo io, mas, antes, 05 dominios da tema kula de Oceania, de objetos de valor social eestratégica, istros de troca, que compra e vends, ¢ assim anilises recentes deixam claro que ‘se relaciona com poder por diante (ver, em especial, WEI Porsiltimo, o comércio de luxos pode mui duravel e sentimental para a condugio de trocas de outros ocorréncia de trocas gimwal com 0 pano de fundo do Aula ‘apropriado (UBEROI, 1962). Um po de relagio entre © comércio no ymente menos carregados € 0 tica, Neste caso, os acordos sobre a estraiggicos podem set comércio de luxo, em que o luxocm questio € assegurara restricao @ 38 armas nucleares no lado oposto. Os altos ¢ baixos desse comércio jo para o movimento de outrasmercadorias,tais como 1a tecnologia. E precisamente este tipo derela~ amente mediado entre registros distintos de que explora agressivamente a recente politica norte-ameri- cana de ° idade soviética em uma tesfera de troca € punida em outra esfera. Em sociedades € tempos ais simples, 0 equivalente dos acordos SALT devia ser visto na ‘Giplomacia da troca de presentes entre comnerciantes c chefes, ou sim- re os chefes, situagies de transtorno nas quais era ‘gio mais geral acerca das mercadorias discutidas das quais possuem uma dimensio extremamen’ pois, compor uma amostragem quc eataria destinada a favorecer uma de um determinado modo que mercadorias mais ‘um campo semantico ext ferente no decurso da distribuigio € do consumo, Talvez 0 melhor exemplo de uma mercadi idiossinerasias culturais seja 0 acicar, como mostraram de modos bem diferentes Sidney Mintz (1979) ¢ Femand Braudel (1982, p. 190- 194), A distingdo entre mercadorias comuns ¢ mercadorias mais portanto, uma diferenga de espécie, mas, com maior ima diferenca de demande 20 Jongo do tempo ou, algu- renga entre locais de produgio e locais de estilo e importancia economi- fronteiras tigidas entre consumo de massa e de bens mais comuns, bens de consumo ¢ de capital, ou ainda, a es da exibigdo em contraste com os modelos dos ambientes de produ: prazo (ais como aquelas discutidas na secao pequenas alteragdes na demanda que podem mente, 0s fluxos de mercadorias com 0 correr do tempo. Porém, obscrvados sob a perspectiva da reprodugao de padres de fluxo de mercadorias (em vez de slterages dos mesmos), 0s padres de de- manda estabelecidos hé muito tempo funciona como mecanismos, de coagio sobre qualquer conjunto de rotas de mereadorias. Uma das razbes por que tais rotas sio inerentemente vulncraveis, em especial quando envolvem fluxes transculturais de mercadorias, € que elas se apéiam na ‘avel de conhecimento, um assunto para 0 nsformar, gradual- CONHECIMENTO E MERCADORIAS Esta segao se ocupa das peculiaridades do conhecimento que acom. panha fluxos de mereadoria telativamente complexos. de longa distincia ¢ interculturais ~ embora mesmo em loci de fluxos mais homogéneos, de menor escala c menos tecnologiat haja sempre um potencial para discrepancias no conhecimento acerca de mercado: rias, Mas, conforme aumment: a negociagao da tensiio entre conhecimento e ignorincia se toma, em si mesma, um determinante crucial do fluxo de mercadorias. to que integra a agio de consumir apropriadamente a mercadoria. O conhecimento de producao interpretado em uma mercadoria é bem diferente do conhecimento de consumo que ¢ interpretado a partir da idores. Como veremos, pode nio ser muito acurado ver 0 conhecimento no focus de producao de uma mercado- 60 sia como exclusivamente tcnico ow empitico, € 0 conhecimento na extremidade do consumo come exch é iéenicos, € 08 dois pélos sdo suscetiveisa inter carreiras. Tais carteiras atingem o grav mais alto de uniformidade no piilo da producao, pois € provavel que, no momento da producio, a ‘mereadoris em questo mal tenha tido oportunidade de acumular umit Diografia idiossineratica ou de desfrutar uma carreira peculiar. As sim, 0 locus de produgio de mercadorias tende a ser dominado por de fabricacio culturalmente padronizades. Portanto, f6- ampos, fundigdes, minas, oficinas ¢ a maioria dos outros de produgio sio, em pi de conheck- mentos técnicos de produgdo de um padronizado. io mais padronizado que 0 co. nhecimento requerido pela producio de mercadorias secundatias ou de luxo, nas quais 0 gosto, a apreciacio e a experiénei tendem a criar variagées accntuadas no conhecimento de producao. Nio obstante, o impeto da mercantilizacio na extremaidade da produ- gio se volta para a padronizacdo do canhecimento técnico (coma fazer). Obviamente, com todas as mercadorias, primérias ou no, 0 conkecimento técnico sempre se mistura profundamente com supo- sigdes. cosmo! socio que tendem a ser amplamente compartilhadas. Os oleiros azande de Evans-Pritchard (1937), os campaneses colombianos de Taussig (1980), os fazedores, de canoa Gawan de Nancy Mann (1977), os produtores de cana-de- agicar do Panama de jeman (1984), todos combinam em seus discursos sobre a pro- conhecimento di a a alguma descontinuidade em sua partilha social, seja pelos ‘Titérios mais simples de idade ou de géner0, por critérios mais com- Plexos que distinguem familias, castas au aldeins de artesdos do resto a sociedade, ou até por divisées do trabalho ainda mais complexes ‘que separam, em termos de papel a ser desempenhado, empreende- 61 dorcs ¢ trabalhadores de chefes de familia e consumidores, como na maioria das sociedades modernas. ‘Mas hi outra dimensio do conhecimento de pracuglo, que € 0 ¢o- nhecimento do mercado, do piblico consumidor, do destino da mercadoria. Em sociedades nhecimento é mais ou menos ‘ap consumo intemo, porém mais gio de Comerciante e seus agentes, que providenciam pontes lo preco entre universos de conhecimento que podem ter um contato Gireto minimo. Assim, é praticamente certo que os habitantes tradi- jonais da floresta Borneo tivessem s0 uma vaga idéia dos usos a que varias chinesas, os ninhos Esse paradigma de pontes 6 de conhecimento entre pontes persistem tant (como entre os produtores de pio na Asia e no Oriente Mé« viciados e traficantes em Nova York), quanto por causa da especiali- (esimal da produgio de mercadorias ou 0 seu inverso—a ia entre uma mercadoria em estado bruto (como, por exerm= plo, 0 cobre) eas centenas de transformagies por que iré passar antes de chegar 20 consumidor. Observamos que esses grandes abismos de conhecimento do mercado final da parte do produtor conduzem, em geral, a lucros altos no comércio ¢ a uma relativa des dare gio ou da classe produtora em relagio aos consumidores ¢ 0 (07). Problemas que envolvam conhecimento, informacio e ignorincia nao se restringem aos polos de produgio ¢ consumo das carreiras das ,, mas caracterizam © proprio processo de circulagao € a influente descrigao do bazar Moroccan, Clifford Geertz colocou a busca por informagSes confiveis no centro desta institul- G40 € mostrou qua0 para os afores nesse sistema, obté-las seja sobre pessoas, seja sobre coisas (GEERTZ, 1979). Boa parte da estrutura institucional ¢ da for tural do bazar apresenta dois rultando 0 acesso a informacio confivel, mas também rintos de informagio complexos & Imente organizados como Geertz (1979, p, 224) -@ pode muito bem se apl no 40 mercado de cartos ‘“zero”) nas economias industriais contempordneas. Podemos colo- car a questio de uma forma mais geral; buscas de informacio no bazar tendem a iF qualquer cendrio de troca onde jada dos bens ndo sejam padroniza- lade incerta de coisas especificas de um ‘enormes. De fato, sistemas para a troca ; de valor do hula, de cartos usados € de tapetes 0 ainda que ocorram em cenérios instituci spares, podem eavover, todos, economia de infrmagio no esto jo bazar. Mas os sbismos no conhecimento ¢as dfculdades de comunieagao entre proditor e consumidor nv sao obstéculos reais para ovis fluxo de mercadories om estado bruto destinadas a formacoes industiais antes de chegar aos consumidores. No caso de mercadorias (algurnas vezes chamadas de mercadorias priméri- a de pequenos circulos de conhecimento 0 produtor original co consumidor ter- Il Masta ¢ esioo caso ce eteadoias por devinagi, gus a amplamente “fabricadas”, no sentido de Nancy Munn, desde 0 sfpio de suas carreiras (MUNN, 1977), Estas exigem mecs mais diretos para uma negociagio satisiat azagdo do gosto do consumidor a habi tradigio do produtor.Taivez os melhores ex municagio mais di Prontas (SWALLOW, 1982) e 0 de arte tur Graburn (1976) chamou de quarto mundo. Se i Sempre que hdescominuindes no conheciment que scompaaha 0 tpertise entram em cena ES dois assunios. O prime Petes orieniais, uma provocativa ite: Problema que reine histGria da art 108 de prego e uma equi- a0 conhecimento ¢ & s6ria econdmica e anilise 63 cultura}. O tema de Spooner ~ as alteragSes nos tormos das relages entre produtores e consurnidores de tapecarias orienais ~ poe em exemplo particularmente notivel de uma mercadoria icados e funcdes extremamente is0- mente por meio de uma série de inham, cada © 4s organizacbes de tecelagem na Asia Central. Mas ado abrange apenas mudangas no contexto da negoc! CO que é negociado, como observa Spooner de um modo incisivo, é a autenticidade. G80 de pessoas no topo da sociedade ocide marcados, © conforme a tecnologia possibi objetos de prestigio, instaura-se um crescente e ironico didlogoentre a necessidade de critérios de autenticidadle que se alteram constante- mente no Ocidente ¢ as motivagées econdmicas dos produtores ,além disso, toma-se ele mes- ia e da formalizagao de um saber De uma forma geral, podemos sugerir que, e de luxo como tapetes orientais, conforme a distincis entre consumi- dores e produtores diminui, a questo da exclusividade di lugar @ questio da autenticidade. Quer di da aquisicio, de modo que permaneciam nas méos de poucos. Com i, aTeprodugdo em massa destes objetos tor- (legal e economicamente) a disputar estes objetos. A tnica forma de preservar « fungio destas mercadorias nas economias de prestigio do Ocidente modemo é tornatr os critérios de autenticidade mais compli- cados, As extremamente con io mundo da arte — negociantes, produtores, estudios consumidores ~ € parte da economia politica do gosto no Ocidente o4 investigada na Pranga, por Baudrillan Hé uma série particular de questées que concernem a ‘expertise que incomonta 0 Oc ‘em lorno de tépicos como bom gosto, conhecimento espe |, manite . Em seu famoso ensaio “A obra “Na verdade, & €poca em que foi feita, uma pintara me gemainda fo era ‘auténtica’. Tornov-sc ‘auténtica’ du seguintes e, talvez, sobretudo, no século XIX.” (BENJA! p. 243) Em um ensaio sobre 0 conceito de “assinatura” no mundo da arte moderra, Baudrillard (1981, p. 103) prossegue com a questéo: ‘AG o século XIX, acpia de ama o ‘ha seu pi6 rio va cago mudow = 0 ict sobre aantentcidace aque eae moderna 40 de- Com estas consideragées, é possivel situar 0 aspecto do consume dos Processos observados por Spooner no contexto do que Bavdrillard ¥€ como a emergéncia do “objeto”, isto é uma coisa que ja ndo é apenas um produto ou uma mercadoria, mas, em esséncia, é um sig~ oem um sistema de signos de status. Os objetos, de acordo com 65 Baudrillard, surgem plenamente apenas neste século, no Ocidente moderno, no contexto das formulagdes te6ricas de Bauhaus (BAUDRILLARD, 1981, p. 185), embora sc tena mostrado recen- femente que o surgimento do objeto na cultura européia remonta, pelo menos, a0 Renascimento(MUKERII, 1983). A moda €o veicu- lo cultural por meio do qual objetos, no sentido de Baucrillard, se move. Contudo, problemas de aute dori lade, pericia ¢ avaliagio de merca- um fendmeno do século XX. Jé cambio de reliquias na Europa carolingia. Aqui, bi um problema ‘no que diz respeito 3 autenticagio e, também aqui, este pro- i ligadoao fato de aqui nao € da aleada de peritos ¢ de critérios esotéricos, mas de espé- ies populares ¢ piblicas de confirmagio e verificag: 0 de sabetes especificos na is da revolucdo de 1789. Con- is dicionérios de termos comerciais publicados im Franga, na década de 1720 e em 1839, Reddy argumenta que, embora a Revolugao Francesa pareca ter desiruido toda uma forma de vida da noite para o diz, este nao foi, na verdade, 0 ¢as0. O vasto edificio do conhecimento e das priticas cotidianos mudou lenta, in- ceria e relutantemente, Um exemplo deste cr uum periodo em que 0 conhecimento, a pratica ¢ a orientagio estavam notavelmente fora do passo — pode ser visto no mundo codi- ficado do conhecimento relativo ao comérci que 2s relacies entre conheciment politica sao muito complexas ¢ lentes para mudr. Modos de saber, 66 complexa de alteragies fragmentadas ¢ assineronas na politica, na secnologia e na cul ue se estenderam por um sé rmego desse condi mas de métodos de produ ‘gociante ¢ do financista dé lugar a peri ‘O cnsaio de Reddy nos lembra que a histéria social das’ mo das mais comuns como tecidos, reflete alteragées ex complicadas na organizagao do conhecimento e dos modos de pro- ugao. Tais alteracies tém uma dimensio cultural que nao pode ser deduzida a partir de, ou reduzi foram tema de estudos antropoligicos bastante rigorosos © hé uma importante coletanea de ensaios sobre 0 assunto (GRABURN, 1976). Enubora os fenOmenos discutidos sob esses rotules incluam uma desconcertante gama de objetos, como observa Graburn em seu en- saio introdut6rio, eles compoem talvez o melhor exemplo das diversidades entre produlores ¢ consumidores em gosto, compre- ensio e uso. No lado do produtor, podem-se ver as tradigées de {abricagio (novamente seguindo Munn) mudando em reaco a impo- sim como a competigéo por status, a pericia c 0 cométeio em que intre as das extremidades, uma série de lagos comer- icos, algumas vezes complexos, multiplos ¢ indire rs vezes abertos, fase tos. Em ambos os cas0s, a arte turis- ica constitui mercadorias especial, em que as identidadesgropas de prodaores so emblemes para as pons de Status dos consumidores. 67 O artigo de Altred Gel sobre 0s complicados tipos de refracéo na percepcao que pndem acom= panhar a interagao de pequenas populacdes tradicionais com economias ¢ sistemas culturais de larga escala. Refletindo sobre 0 interesse maria por jogos fuzidos fora de sua regio, Gell observa que “os murias, um povo tradi sem um legado priprio de producéo de artesanato e bens de prestigio, esto, na verdade, bem mais préximos dos ocidentais, que buscam autenti- Cidade no exdtico, do que das tradicionais des produtoras de artesanato, categoria 8 qual erroneamente se supe que eles perten- cam”. Trabalhos recentes sobre exibigdes € museus, empreendidos por antrop6logos ¢ historiadores (BENEDICT, 1983; BRECKENRIDGE, 1984), assim como por semidlogos e tedricos da rata, ampli © aprofundam nossa compreensao do papel exer- na criagio do souvenir, da colegio, da txposigio edo raféu no Ocidente maderno (BAUDRILLARD, 1568, 1981; STEWART, 1984). De uma forma mais geral, poder-se-ia dizer ‘comerciaates e consumidores aumenta, hé uma tendéncia de surgi- rem mitologias culturalmente modeladas acerca do fluxo de mercadorias. ccalturulmente construidas acerca de fluxos de Hist6rias e ideol ‘mercadorias so lugar comum em todas as sociedades. Mas tais his- economia complexa ou pode ser uma fungio de centre sociedades e economias até entio separadas. O divércio institucionalizado (em relagio a0 conhecimento, ao interesse ¢ 20 papel) entre as pessoas envolvidas em diversos aspectos do fluxo de mercadorias gera mitologias especializadas. Nesta segao, analiso trés ‘mitologias ¢ os contextos em que surgem. (1) Mi- \S por comerciantes ¢ especuladores que sao em. grande parte indiferemtes tanto as origens da produgio quanto & destinagao do consumo das mercadorias, exceto nos casos em que afotem as flutuagdes de preco. Os melhores exernplos desse tipo sio ‘os mercados de futuros complexas, em 68 de gréos na bolsa de Chicago no comeco do século jas produzidas por consumidores (ou consumidores poterciais) alienados do processo de producao ¢ de distribuicao de sdorias-chave. Aqui, os melhores exemplos vém dos “cultos da la Oceania, (3) Mitologias construidas por trabalhadores en. volvidos no processo de producdo que estio completamente divorciudos da légica de distribuigdo e de consumo das mercadorias {que produzem. Os modermos mineradores de estanho da Botivia des- x Michael Taussig em The Devil and Commodity Fetishism ximos parégrafos, di ‘comecando pelas bolsas de mereadorias capit A ssfera mercatl sistema global docaptalisno modernopareee er uma enorme maquina impessoal, governada por movimentos de preco em larga escala, comy mais, € de um ca co e auto-regulador. afastado dos valores, mecanismos ¢ éticas dos fluxos de mercadorias tem sociedades de pequena escala. Porém, essa impressio ¢ falsa, Neste momento, deveria estar claro que 0 capitalismo nao representa nas um complexo sis ino Ocidente moderno. Essa visto, que sempre teve adeptos eminentes na hisi6ria social ¢ (WEBER, 1958; SOMBART, 1967; NEI ina (BAUDRILLARD, 1981; BOU! 84; DOUGLAS ISHERWOOD, 1981; MUKERII, 1983; SAHLINS, © estudo do esquema cultural do capitalismo em sua form norte- ‘americana foi empreendido com grande vigor na historiadores, antropélogos e sociGlogos estio comegando a reunit uma rica descricdo da cultura do capitalismo nos Estados Unidos (COLLINS, 1979; DIMAGGIO, 1982; LEARS, 1984; MARCUS, 10 prelo; SCHUDSON, 1984). Embora esse contexio mais amplo laro que 0 ica c que, nessa 69 , as mercadorias € seus significados descmpenbaram um cexemplo das expressbes culturais do capit ¢ impressionante, €0 mercado de futuros nos Es- se desenvolveu na metade do séeulo XIX e cujo Isa de Grios de Chicago. paradigma é a © comércio de mercadorias em estado brato permanece, ‘ina parte extremamente importante do comercio ¢ do ‘némico mundial (ver, par exemplo, ADAMS; BEHRMAN, 1982) e Esse intercdmbio de mercadorias em larga escala continua sendo, tal- "2 principal arena em que as contradigées do capitalismo jpternacional podem ser observadas. Entre essas contradicbes, € Cen tral aquela entre a ideologia de livre-comércio do smo, curtéis e acordos re surgiram para restringir essa liberdade em favor de diversis Coa LAPPI, 1979). Mercados de futuros representa -9s que acompanham os fluxes diminuigao parte de outros. Mercados de futuros gira em goes que envolvem contratos fem datas fusuras. Esse coms mo de um grande nfimero de transa- compra ¢ venda de mercadorias, ¥o de contratos 6 um comércia de pa- especulativos, nos quais 0 jogo dos precos, rs totalmente divorciado, para 0 espectador, Ue todo o processo de pro- ducdo, distribuigae, venda e consumo. Poder-se-ia dizer que @ especulagio sobre mercadorias futuras separa, Jras! ego e-valor, sendo o tiltimo algo sem qualquer Tégica do coméreio de mercadorias futuras é seguindo Marx, um de meta-fetichismo em que no apenas a mereadoria substitu as rela ‘hes socials que estéo por tris dela, mas o movimento de prevos Se fora um substituto aut6nomo dos fluxos das proprias mercadoriss Embora esse duplo grau de remogao das r io e troca diferencie muito os mercado de de valor, tais como os retratados no kala, ha alguns p foressantes e reveladores. Em ambos 05 CaS0s, 0 t jada da vida econémica p e sujeita a ogres especiais, Em ambos os casos, trocam-se emblemas de valor {que s6 podem ser transformados em outros meios por uma complex série de ctapas e em circunstancias inusuais. Em ambos os casos, hd formas especificas pelas quais a reproduci mia mais ampla € articulada com a estrutura da cc ia do tornein. portante, em ambos os casos hé um \dividualista € com ares de jogo que to econémico cotidiano. A rnugio de renome € reputaio ‘pos mercados de futuros. Na segunda metade de século XIX, de triga” (a Bolsa de Graos) em Cl criagiio e da quebra de reputagdes in: tes da parte de determinados homens para monopolizar 0 mercado. (DIES, 1925, 1975). Esse ethos agonistice, romantico ¢ obsessive nao desapareceu das bolsas de mereadorias, como tas lem! dente dos ismaos Hunt em relacao a prata (MARCU: embora 0 quadro moral, institucional e politico que governs x espe- culagio sobre mercadorias tenha mudado bastante desde 0 século XIX. E claro, hd muitas diferencas entre 0 hula ¢ o mercado de futu a'escala, aos recursos, a0 contexto e is metas. Mas as a i muitas sociedades ria par - nos quais emblemas de ficas sdo comercializados ¢ tal comércio afeta ~ de status, poder ou riqueza — fluxos de merea- a 1a clararrente 0 cen: tologia da circulagio criada em bolsas de mercadorias (assim ‘como, de outros modos, em bolsas de valores) misture rumores com informagées mais confiveis: com respeito a reservas de mercado, Tegulamentacies governamentais, alteragées sazonais, varidveis de consumo, crescimentos de mercados internos (inclusive os rumores Sobre as intengées ou motivagées de outros especuladores) ¢ assim or diante, Tais informagdes compiem um cenirio de vat ‘cessantemente alternantes (e potencialmente infinitas) que afetam os W pregos, Embora tenha havido melhorias consistentes nos fundamen- tostécnices para analisar e operar com éxito na bolsa de mercadorias, efetiva) que se revelard de precos (POWERS, 1972, p. 47). A base esisutu! da circulagio de mercadorias € 0 fato de ela jogar de varidveis que afetam os prego; ¢ de seu interesse por mercac ser exclusivamente informa vorciado do consumo. O des de alguma mercadoria especifica, a busca (contrria 20 senso comum) igicas que facam previsdes das mudancas de preco, a em outras sociedades. Foram ropologos, que os observaram como iticos. Apesar is entre as intespretagdes antropolégi- das divergéncias cons cas desses aparecimento de coloniais do Pacifico tem algo a ver com a transformacdo das rela~ Wes de produgio nesse novo contexto, a falta de recursos entre os nativos para obter os novos bens europeus que desejavam, a chegada rios, ¢ a conseqiient je de movimentos difundidos por duragio € m e protestavam aSeUs proprios mitos e ritos de prosperidade e troca. No simbolismo 72 dle muitos desses movimentos, teve um papel importante a promessa pelo lider/profeta da chegada de valiosos bens curopeus em vides ov navios, que “choveriam” sobre os que realmente acredita- ‘yam no movimento ¢ no profeta, discordar da opiniio de Worsely (1957) ¢ outros de que © josa de bens europeus tem muito aver al, com a percepgio, da parte dos entre a riqueza dos europe (apesa pobreza (apesar do trabalho que foram subjugades, de sibito, a um complexo sistema econdmica internacional do qual viam apenas alguns aspectos 905, que sua reagiio fosse buscar, ocasionalmente, replicar o que eles conside- tava sero mdpico modo de producto desses bens gens das mercadorias européias, mas uma tent mente o que percebiam como modalidades sociais da etc. dos militares earopeus. Ainda que freqiientemente ordenados de acordo com os modelos indfgenas, a prética ritual dos “cultos da car- ga” em muitos casos nio passava de um esforgo enorme de imitar as formas sociais europeias que Ihes pareciam mais conducentes 4 pro- dugio de bens curopeus. Numa espécie de fetichismo invert que era reproduzido era 0 que era visto como as formas sociais € ote, em um esforgo pox amen a tengio de tos da carga” jetos de valor do kula e outtas formas indigenas de toca especializada, sao vistas como metonimias de todo um sistema dc poder, prosperidade € status. As crencas do “culto da carga” sio ‘um exemplo extremado das teorias que tendem a se proliferar quan 73 do consumidores permanecem completamente ignorantes das condi~ livre acesso a clas. Tal privagéo cria as mit alienado, da mesma forma que as bolsas de mercadorias propagam a mitologia do comerciante alienado. Finalmente, voltamo-nos para a terccira varianto, as mitologics de produtores as ordens das forcas da ‘demanda e da icao que fogem a seu controle € ultrapassam seu universo de cor Para esse tipo de. spanhéis, a mineragao se tomou a base voraz da econo! ausa de um deslocamento em massa ¢ do au ie 0 controle do Estado sobre a producto ¢ 0 mercado i , de um lado, ¢ 0 diabo do outro lado, cles elaboray que reflete as ambigitidades ¢ contradighes de uma pr ‘conquantoexeeuiem 0 ‘o.esptit0rabslbo dos mincradores, coneretizada 74 que 0s ae ssopeahe no so meros remanescentes de ritos de produ- ‘i ses. Refletem as teases de uma sociedade em que a gue prolutes di fetichismo mais Jiteral, mesma ransformad em icone do diabo, seja 0 pivo de umn uais concebidas para c res/exiratores alienados, as fontes de controle impessoa (0 Estado) ¢ de demanda (o mundo do mercado) sao 1 ‘um icone de perigo e ganancia, metdforas sociais da economia de fetichismo literal de mescadorias que parece acompanhar a produgio de mercadorias primérias para mercados desconhecidos e nio-con- trolados. Em cada um dos exemplos que diseuti, o mercado de futuros, “cultos dacarga” e mitologia da minerecio, as compreensbes mitol6 siteulagéo de mercadorias sio geradas por causa do isolamento, indi- ferenca. ‘ancia dos participantes com relacao a todas os outros scondmica da mercadoria que nao sejam 0 Gni- 0 em que esto envolvidos. Isolado em enclaves quer na producao, quet no comércio especulativo ou no locus de consumo do fluxo das mercadorias, o conhecimento técnica tende a ser rapidamente subor- i cas sobre as origens e destinacdes das coisas. Esses sio exemplos das diversas formas que © fetichismo das mercadorias pode assumir quando hé Aescont das na partilha do conhecimentoconcemente jetOrias de circulacéo. Hi uma Gltima questi a ser tratada sobre as relagées entre conheci- mento © mercadarias, uma que nos lembra que a comparacio de pos de sociedades é um assunto complicado. Em sociedades capitalistas complexas, a questao nao se resume a segmentacio (ou mesmo fragmentagio) Jo conhecimento como, por exemplo, entre produtores, distribuidores, especuladores e consumidores (¢ diferentes subcategorias de cada grupo). O fato é que o conhecimento sobre mercadorias esti sendo, ele mesmo, cada «do. Tal mercantilizacio do conhecimento rela- livoas mercadk da economia Sim, ainda que haja, mesmo nas economizs ni rifego de coisas, é somente com a acentuada diferencia- técnica e conceitual que se desenvolve 0 que podemos 12 de critérios concernente a coisas. Quet dizer, § uaciio que a compra e venda ce pericia rela- a, social ou estética das mercedorias parece haver indicios consideraveis de que é nessas sociedades que revela mais denso. Ademais, é dificil distinguir, em econor reas, a mercantilizacdo de bens da mercantilizagio de servigos. De fato, a combinagio rotineira do par “bens e servicos” &, ela mesma, tuma heranca da economia necclassica. [sso ndo equivale a dizer que servigos (sexvais, ocupacionais, rituais ou emocionais) permanegam 1ga0 em sociedades mic- da dimensio do servigo na mercamilizaci coletanea como esta pode apenas ter espera Porém, talvez o melhor exemplo da relacao entre oconhecimentoe 0 controle da demanda seja oferecido pelo papel da propaganda nas as contemporineas. Fscreveu-se muito sobre esst ico importante ¢, nos Estados Unidos, hd sinais de um debate rea nimado sobre a eficdcia funcional da propaganda. Em um estudé 76 recente, que recebeu ampla publicidade, Michael Schudson (1984) questionou as anilises ncomarxistas da manipulagio de cons res pela propaganda na América. Ele prape adulagao com a qual esse argumento {oj acolhido de propaganda é fonte de algumas objecdes circunstenciais & propria rmentacdo. A questio é que, provavelmente, qualquer andlise a dos efcitos da propaganda teria de passar a ver as imagens da propaganda em seqiiéncia com as mudangas nas idéias sobre arte, Porém, parece vilido fazer uma observacio, sobre a propaganda, que Grelevante para a presen‘e argumentacdo, Independentermente da cécia da propaganda em assegurar © sucesso de qualquer produto particular, parece ser cometo propor que os modos de representacio da propaganda contemporinea (om particular na televisio) comparti- tham uma determinada estratégia, que consiste em tomar o que na maioria das vezes séo produtos perfeitamente comuns, produzidos em massa, baratos, até mesmo inferiores, e fazer com que eles pare- cis ainda que acessiveis (no s Poder, distingio, said 3, camaradagem) que Subjazem a grande parte da propaganda visa. Consumidor a tal ponto que a meicadoria particular que esté sendo Vendida fica em segundo plano. Essa dupla inversio das relages, ®atre pessoas ¢ coisas pederia ser vista como o movimento cultural Crucial do cay Atelacio entre conhecimento ¢ mercadorias tem imensoes ue néo foram discatidas aqui. Mas a questio essencial para os meus Propésitos ¢ esta: A medida que as mercadorias percorrem distincias 7 Iz mesma, (por meio dos mecanismos de torncivs de valor, autenticacao ou desejo frustrado) levar 2 uma intensificagio da demanda. Se observarmos o mundo das mercadorias a série de alteragées em rotas locais (culturalmente regula~ Nesse sentido, mesmo os maiores ecémenos mercaat do de complexas interagoes entre sistemas de demanda locais politicamente mediados. CONCLUSAO: POLITICA E VALOR geral em observar a vida social das mercadorias do mi neste ensaio? O que essa perspectiva nos diz, sobre valor ¢ troca na vida social que ainda nao saberios, ou que nao poderiamos descobrit ado? E relevanie assumir a posicéo mercadorias existem por toda parte € 0 otalmente do espfrito de outras formas de troca? ‘Ao responder essas quest irei fazer um tedioso resumo das principais observagées apresentadas no desenrolar deste ensaio, mas irei diretamente ao que é substancial em minha proposta. Esie ensaio tomou como ponto de partida a visto de Simmel de que a troca é a fonte do valor, ¢ nao ocontr actescentar uma dimensao critica Simmel acerea da génese soc ca (no sentido mais amplo de relagdes, suposicées ¢ disputas as ao poder) é 0 que vircula valor e troca na vida social das mercadorias. Nas trocas (mundanas, cotidianas ¢ de pequena escala) de coisas na vida comum, esse futo nao € patente, pois a troca tem 2 aparéncia rotineira c convencicnal de todo comportumento costume 78 é desejavel, aem que consiste um quem ¢ permitido exercer qu cunstancias. O politico, nesse processo, nao se refere téo-somentc 20 faio de representar ¢ constituir relagoes de privilégio e controle social, esse processo, se refere & tensio Constante entre quadros tes (de progo, barganha cic.) € a tendéncia das mercadorias fem tais quacros. Essa propria tensao decorre do fato de nem iteresses em qualquer 205 05 interesses de qual- quer uma das duas partes em uma determinada troca. as dos tomeios de as mercadorias constantemente ultrapassam as frontciras de culturas cas (e, portanto, de regimes de valor especiticos) tal controle seguinte paradoxo comum. £m beneficio dos que estao no poder, 0 floxo das mercadorias é completamente congelado por meio da cria- <0 de um universo fechado de mercadorias e de um conjunto rigoroso de regulamentagoes sobre como deve se movimentar. Contudo, a propria natureza das 40 no poder (ou dos que aspiram a um poder e baixe ws das relagées no dimensées da ps Sentido que a mercadorias

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