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Sontore de mao na gruta de ech-Merle,Fanga Era Paleolhica, cerca de mil anos ats 3 tua,emig69 Pegada do astronauta Neil Aprimeim imagem é de uma impressio da palma da mio, encontrada na gruta de Pech-Merie, na Franga, provavelmente de 15 mil anos atris. A segunda, de 1969, é a pegada de Neil Armstrong, wm dos trés astronautas que chegaram pela primeira ver a lua, Dé um titulo que relacione as duas imagers, $3 Para comegar Conta-se que por volta de 1520 foram encontradas na fmdtarduae-meninas que teriam-ereseido entre lobos, Essas criangas nao possuiam quaisquer das caracteristicas humanas: nio choravam, no riam e, sobretudo, no falavam. Seu processo de humanizagio sé teve infeio quando passaram a participar do convivio humano, Um fato notavel, porém, ocorreu nos Estados Unides com Helen Keller (1880-1968), nascida cega e surda e que portanto-ndo aprendera a falar. Desse modo, permanecen praticamente exclufda do processo de humanizagio até a idade de sete anos, quando seus pais contrataram a professora Anne Sullivan Essa mulher admirével conduziu Helen a0 mundo humano das significa: 1s, de infeio pelo sentido do tato. Comegou por dedilhar sinais nas maos da menina, relacionando-os com os objetos, sem saber de inicio se a criange ‘Aemstrong na chegeda do homem I : i : percebia a relacio entre sinal e coisas. Até que um dia, ao bombearem a agua de um pogo, Helen eu o passo definitive na diregio da linguagem. Em sua autobiografia, ela relata: .xmninha professora colocou minha m3o sob ‘9 jorro. A medida que o fluxo gelado escorria em minha mao, ela soletrou na outra a palavra ‘gua, primeiro devagarzinho e depois mais depressa. Fiquei quieta; toda a minha atenco concentrava-se no movimento de seus dedas. De repente senti uma nebulosa consciéncia de algo como que esquecido — uma impressdo de tetorno do pensamento; ¢ de alguma forma 6 mistério da linguagem me foi revelado. Soube entdo que 4-g-4-0 signiticava @ maravilhosa coisa {ria que deslizava pela minha mao. [..] Saf do poco ansiosa por aprender. Tudo tinha um nome, cada nome dava origem a um novo pensamento. Ao voltarmos para casa, todo objeto que eu tocava parecia vibrar, cheio de vida. Iss0 se dava porque eu via tudo com a nova ¢ estranha visio que se me apresentara.” No mesmo die Helen associou imimeras outras “paiavras” com objetos. Depois, com © tempo, aprendeu a falar, a ler e a escrever. ‘Tornou-se uma escritora e conferencista conhe- cida mundialmente. Esses relatos nos propéem uma pergunta ini- cial:seria a linguagem o elemento que caracteriza fundamentalmente a cultura humana e que distin gue o ser humano do animal? J O comportamento animal Muitas vezes nos surpreendemos com as semelhangas entre os humanos e os animais, principalmente com aqueles que se encon- tram nos niveis mais altos da escala zoolégica de desenvolvimento, como macacos e cies. Tal como eles, temos inteligéncia, demonstramos amor e édio, sentimos prazer, dor e sofrimento, expressamos alegria, tristeza e desejos, além de tantas outras caracteristicas comuns que des- cobrimos no convivic com os animais. Por isso mesmo. indagamos: "Ser que meu cachorro pensa?”. E se pensa, em queo “pensamento” dele se distingue do meu? > Aagao por instinto Se 0s animais superiores so inteligentes, 0 mesmo néo acontece com os animais que se situam ros niveis mais baixos da escala zooligica — tais como os insetos ~, porque eles agem principal mente por reflexos ¢ instintos. ~Aacgo instintiva é regida por leis biolégicas, idén- ticas na espéciee invaridveis de individuo para indi- viduo-A rigidez do instinto dé-a ilusio de perfeicao, j4 que-o animal executa certos atos com extrema habilidade. Nao hd quem nao-tenha observado com atengio e pasmo o “trabalho” pacients da aranha tecendo ateia. Todavia, esses atos ndoserenovam — nao tém hist6ria —, portanto, permanecem os mes- ‘mos ao Tongo do tempo, salvo no que se refere as ‘modificagées decorrentes da evolugo das espécies, e das mutacées genéticas. Ainda que ocorram essas, alteragdes, las continuam valendo para os descen- dentes, por transmissig hereditéria. ‘Avvespa “fabrica” a célula onde deposite 0 ovo; junto dele coloca insetos, dos quais a larva, ao nascer, iré se alimentar. Se refirarmos os ingetos e 0 ovo, mesmo assim a vespa dari prosseguimento as etapas seguintes, até 0 fechamento adequado da célula, ainda que varia, Esse comportamento 6 “cego” porque ndo leva em conta a finalidade da “fabricagio” da célula, ou seja, a preservacio do ovo e da futura larva. Instinto. Do latim istnctus:impuiso ou inclinagB0 Comportsmento inata [que na:ce com oindvidv) ce que independe das icunstancias e doconticle ‘acional da vontade {itado em SAGAN, Cer. Os dragées do flen-especulagies sobre a evluciodantegecia humana ‘io de Janeiro: Francisco Alves, 1950, 9 ii nm nr 0s atos instintivos ignoram a finalidade da pré- A inteligéncia distingue-se do instinto pela Le- pria ago. Em contrapertida, 0 ato humane volun- _xibilidade, pois as respostas variam de acordo com tario é consciente da finalidade, isto 6, 0 ato existe a situago e também de animal para animal. Tanto antes como pensamento, como possibilidade, € a que Suitdo, um dos chimpanzés mais inteligentes ~ execugao resulta da escolha de meios necessdrios no experimento de K@hler, foi 0 nico a realizar a para atingir os fins propostos. Quando hé interfe- _proeza de encaixar um bambu em outro para alcan- réncias externas no processo, os planos séo modifi _¢ar o alimento colocado mais alto. cados para se adequarem A nova situacéo. Portanto, os comportamentos descitos no se comparam & resposta instintiva, de simples reflexo, > Ouso da inteligéncia por tratar-se de atos de inteligéncia, de invengéo. Ao contrério da rigidez dos reflexos e instintos, . lesuvdars @ inteligéacia dé uma resposta ao problema ou a» A linguagem, limiar do humano situagao nova de maneira improvisada e eriativa Os animais também tém um certotipo de lin- Esse tipo de comportamento & compartithado por __guagem. Por exemple, por meio de uma danca seres humanos e animais superiores. as abelhas indicam umas as outras onde ach Experiéncias interessantes foram realizadas pelo _ ram pélen. Ninguém pode negar que o cachorro Psicélogo gestaltista Wolfgang Kohler, quando ins- _expressaemogdo por sons que nos permitem iden- talou nas ilhas Candrias uma coldnia de chimpen- _tiflcar medo, dor. prazer. Quando abana o rabo ou 2és,na década de 1910. Em um dos experimentos.o _rosna, entendemos o que isso significa: e quando ‘animal faminto ndo conseguia alcangar as bananas _Ihe dizeros "vamos passear’, ele nos aguarda ale- penduradas no alto da jaula. Depois de um tempo, _gremente junto & porta. ‘© chimpanzé resolveu o problema ao puxar um cai- No exemplo das abelhas, estamos diante de uma xote para alcancar a fruta. Segundo Kohler, asolu-_linguagem programada biologicamente, idéntica do encontrada pelo chimpanzé nao foi imediata, em todos os individuos da espécie. No segundo mas ocorreu no momento em que 0 animal teve _exemplo, o cio rasna por instinto, mas entende seu um jasight. A visio global Ihe permitiu estabelecer dono pela inteligéncia, mediante aprendizagem por arelagdo entre ocaizotee a fruta:esses dois elemen- _reflexo condicionado. tos, antes separados e independentes, passaram & Seria mesmo apenas isso? Para entender a lin- fazer parte de uma totalidade. guagem animal, foram feitos diversos experimentos com animais superiores, como chimpanzés. Na década de 1960, casal de psicdlogos Roberte Beatrice Gardner, sabendo que ochimpanzé nio fala porque néo dispbe de apareiho fonador adequado & reprodugio da linguagem oral, recorren a lingua gem de sinais dos deficientes auditivos. Realizaram entio a faganha de ensinar de 100 a 200 expressdes Achimpanzé Washoe, que foi capaz de formar frases angels trate Lat to Na ilustragao, com sujeito e predicado para pedir 4gua, comida ou vyomos ora a figure brinqueda de um saxofonista, <> _—_Noentanto, mesmo que identtiquemos nas tes- ora 0 rosto de Postas dadas pelos animals ascociagGes semelhantes uma mulher. Twta-se de uma ‘ Inteligéncia. De modo amplo, capacidade de resolver i figura ambigua, problemas praticos de maneita Nexivele efcaz No | com a qual os sentido esritamente humana, capacidade de sluco ‘at probiemas pelo pensamento abstiato (aciocino, simboizagio). Gestaltista, Seguidor da Gestalt (em alemo,"figua", “forma” eova também conhecida como Psicologia da Forma Insight. Em ings, isi interna” Para os psicologos da Gestalt, oconhecimento que devva de ‘lumina ho subi’ estalo visto global” gestaltistas mostram néo haver puro stimula sensorial, porque nossa percepcéo ja é orientada por um conhecimento anterior. Unidade 2 Antronolosta Modifica 4 fs realizadas por humanos, rata-se de uina lingua gem rudimentar, que nio alcanga o nivel de elabo- racéo simbélica de que somos capazes, Portanto, 2 linguagem humana é um divisor de aguas entre 2 natureza humane e a dos animais. Somos séres ‘que falam,¢ @ palavra encontra-se no limiar do uni- verso humano, como veremas no préximo capitulo, “Linguegem e pensamento’ §J O agix humano: a cultura Alinguagem humens intervém como forma ebs trate que nos distancia da experiéncia vivida e nos pemnite reorganizé-Iaem outro contesto, dando-the novo sentido. E pela palavra que nos situamos no tempo, para lembrar 0 que ocorreu no passado e 15. antecipar o futuro pelo pensamento. Se a lingua- gem, por meio da representagio simbélica e abs- trata, permite que nos distanciemos do mundo, também é ela que nos possibiltaoretorno para agit sobre ele etransforméslo, O mundo que resulta do pensar e do agit huma- nos néo pode ser chamado de natural, encontra modificado ¢ ampliado por nés. Portanto, as diferengas entre ser humano e animal nfo sfo apenas de grau. porque. enquanto o animal perma nece mergulhado na natureza, ws Somos capazes detransformé-la em cultura (pam sien wns que éeultura J°A palavea cultura tom viies signifcades, como cultura da terra ou cultura de uma pessoa letrada, -eulta’. Em antropologia, cultura significa tudo 0 * que o ser humano produz ae construtr sua existén- « claras peitias, as teorias asinstituxges, os valores ‘xgmaterlals e esplituais.Se ocontato com 0 mundo ‘GE intermediado pelosimbols »cutturaéo conjunto "de simbolos elaborados por um povo. Dada a infinita possibilidade humana de sim- bolizas, as culturas s4o miiiplas. Variam as for- sas de pensar, de agi, devalorar; sto diferentes as Gs. expressées arisicas ¢ of modos de interpretagio stan do mundo, tais como o mito, osenso commun, aflo- (sofia ow a ciéncia. Vale lembrar que a ago cultural 6 coletiva, por ser exercide como tarefa social, pola qual a palavra toma sentido pelo didlogo. > Tradigdo e ruptura © mundo cultural é um sistema de significados J estabelecidos por outros, de medo que, a0 nas. cer acrianga encontra-se diante de valores jé dados. ‘Alingua que aprende, amaneira dese aimenta,ojito e se sentat, anda, corer, brincar o tam da vou nas, conversas, as relagbes familiares; tuda,enfim, se acha codificado, Até na emogo, que nos parece uma mani- festagdo to esponténea, ficamos & marcé de regras que educam a nossa expresso desde ainfancia. PARA REFLETR: er Pode-se falar ein’ natura”? Tepsson encon- ‘ras envelta. er pangs eportantien Interdes, pelos quas 6 levada.accultar suaaezem nome Ge volves (eeualg stmorvon, essed) que The ‘sho ensinades. Porlanto,ocorpa fidano nunca é _apresertacocomid mire anatomia:Dket com sev colegacomovariam;conforie otéeiprestuga.2s gras sobre ocobritse eodesnudarde. Moai co Gierencts existentes 20 comport ‘mento modeladoem sociedade resultamda maneita pela qual séo organizadas as relagdes entre os indi- vidos. pormeto delas que se estabelecem os valo- res ¢ as regras de conduta que norteiam a constru- (fo da vida social, econdmica e politica. Golconda Rene Magritte,igs3. Observe com um colega a tela de Magritte, pintor belga representante do surrealism. Discutam o que lhes sugere essa “chuva" de homenzinhos de chapéu-coco iguais caindo sobre a cidade. 0 titulo da obra, Golconda, referese a uma cidade indiana em ruinas conhecida por seus tesouros, o que nos fez pensar que o titulo contrasta com o possivel tema da tela (quem sabe nao se trata de uma itonia do pintor?. entifique um trecho do capitulo estudado aié aqui que confiume a interpretagio roposta por voces. st I Como fica, entio, a individualidade diante do peso da heranga social? Haveria sempre o risco de 0 individuo perder sua liberdade e autenticidade? Martin Heidegger, flésofo alemao contempordneo, alertapara oque chama de mundo dose’ pronome reflexivo que equivale aoimpessoal agente. Veste-se, come-se, pensa-se,ndo como cada um gostaria dese vestir, comer ou pensar, mas como a maioria o fez Serd que esses sistemas de controle da sociedade aprisionam o individuo numa rede sem saida? Entretanto, assim como a massificagdo decorre a aceitagao sem critica de valores impostos pelo ‘grupo social, também é verdade que a vida auté tica nasce na sociedade e a partir dela. Justamente ‘af encontramos 0 paradoxo de nossa existéncia social. CaaS Uitvermitao pode seconsidecarverdadelramentes {afl Na verdade, seu atastamento revela,em cada atoseu, a negacio. portanta.a conscincia eaem- brancada sociedade ejetada Seus valores erguidos conta 0s da soctedade, se stuam também a patie dela, Nesse caso perguniamos.arecusa dese comu- ‘alga nao seria ainda um modade comunicacaol Se-o processo de humanizagéo se faz por meio das relagbes pessoais. seré dos impasses e confron- tos surgidos nessas relagdes que a consciéncie desi poder emergirlentamente. O importanteé menter viva a eontradigdo fecunda de polos que se opéem, mas ndo se separam. Ou seja, a0 mesmo tempo que nos reconhecemos como seres sociais, também somos pessoas, temos ume individualidade que nos distingue dos demais. © Uma nova sociedade? ‘Ainda que em todos os tempos e lugares sempre teham ocorrido madangas, as chamadas socieda- des tradicionais fixavam hébitos mais dwadouros que ordenavam a vida de maneira padronizada, com estilos de comportamento resistentes 8 alte ragées, sempre introduzidas de maneira gradativa No entanto, a partir dos anos de 1960 note-se uma rmudanga de paradiema, porque os parimetros que vinhem orientando nosso modo de pensar. velorar e agir desde o Renascimento ea Idade Moderna come- garam a entrar em crise no final do século XIX ace- lerando-se muito rapidamente na segunda metade do século pasado. > A sociedade da informagaio A formidavet revolugo da informética jé se fez sentit ne cultura contemporines, Voltande to tempo, imaginemos & mudanga de paradigma que representou, na Grécia Antiga, a introdugio do alfabeto fonético. E no Renascimento, 0 que significou a democratizacio do saber pela inven- ‘40 dos tipos méveis, engenho que deu inicio & era da imprensa, Nacontemporaneldade, os tex-6. tos que circulavam nos livros, revistas e jornais se integraram as imagens e aos sons, primeito pelo cinema e pela televisdo, depois por todos os canais que as recentes descobertas tecnolégicas tornaram dispon{veis no campo da'automacao, rob6tica e microeletrénica Paradigia. Modelo, padre; conjunto de teorss, \éenicas.valores de uma determinada epoca que, ‘detempos em tempos, entram em crise. poaronattten Marc Chagall, pintor musso de nascimento,vivew era Paris, onde sofeuinflaéncia do cubismo, do fauvisino e do simbotismo. Mas nunca se esqueceu da infincia na aldeia er que nasceu, como mostra essa tela. Observe que dons diagonais divider o quadvo em partes antagOnices:& ‘esquerda o animal e& diteta o homem: acim o casel de camponeses ¢ suas casas, abso a natureza vegetal. Em ambas oposigées a presenca humana entelage-se com. ‘emeturera na expressdo da cultura. lnverprete a tela usando conceitos estudados até aqui neste capital. Eve aoideie. marc Chagall 19m, | Estamos vivendo a era da sociedade da informa do e do conhecimento, que tem transformado de maneira radical todos os setores de nossas vidas. A influéneia da midia eda informatica acelerouo pro: cessode globalizagao. a partir desma rede de com: nicago que nos coloca em contato com qualquer pessoa ou grupo em todas os lugares do planeta Observe, por exemplo,arapider de comunicagéo ‘que representaram o radio, o telégrafo, a televisao, «em comparagao com as computadores pessoais, que hojesio janelas para o mundo. Possibilitam troca de arquivos, acesso a bancos de dados internacionais, divulgagao de pesquisas, correio eletcénicoe discus- so em tempo real de temas os mais veriados. Apatethos eletrénicos cada vez: menores ndo ces- sam de ser inventados, desde celulares com iniime- ros recursos além da fungdo original, até as mais novas inveng6es, como o aparelho de mp3, que sur- gem a cada momento e nos surpreendem por sues milhiplas possibilidades. ‘As grandes transformacdes que tiveram infcto no final dos anos 1960 ¢ meados da década de 1970 cria- ram, entreoutrasinovagies, uma nova estruturasocial dominante: a sociedade em rede. Segundo o sociélogo Manuel Castells? uma sociedade em rede é um con- junto de nés interconectacos e podem ser dos mais vatiados tipos. Por exemplo: rede de uxes Gnancei- tos globais, de produglo edistribuigho de drogae, de gangues de rua, de sistemasdecomunicaggo ou trans- porte de estidios de entretenimrento tantas cutras Consequentemente,o impacto das novas midias também se reflete nos nossos valores e crengas, tuma velocidade que no se compara a neniuma outre época. O desafio dos novos tempos & ser capaz de selecionar a informagio e refletir sobre seu significado. Nessa perspectiva,interprete tirade Bob Thaves a seguir. (Génie A Era da informatio: eccnars, socielate eal) Em um pas emg aa sents ines eleade Gia.¢ grande on aressoarscompitalotesrocaeall Discuta com sts tolegns sobré ete {J A cultura como construgio humana Por mais que adestremos os animais superio-¢ tes € 06 fagamos se aproximar de comportamentos semelhantes aos hunnanos. jamais eles conseguirao ‘ transpor o limite que separa a natureza da cultura. 2% sce limiar encontra-se na linguagem simbélica.na 4, ado criativa eintencional, na imaginagio capaz de efetuar transformagdes inesperadas. -Acaltura 6, portanto,um processo quecaracteriza ‘ser humano como ser de mutagio, de projeto, que sefaz’a medida que transcende. que ultrapassa a pro- pria experiéncia.Quando 0 filésofo francés contem- Pordneo Georges Gusdorf — retomando de Heidegger e Sartre citagao similar — diz que “o homem nao é0 que é mas 6 0 que néo €, néo fax um simples jogo de palavras. Quer mostrar que o ser humano nao se define por um modeloou umaesséncia nem é apenas © que as cltcunst&ncias fzeram dele, Def:ne-se pelo Jangat-se no futuro, antecipand, por meio de proje- tos, sua aco consciente sobre o mundo. Eevidente que essa condicao de certo modo fra- liza 0 ser humano, pois néo se encontra, como os. ‘animais, em harmonia com a natureza. Ao mesmo ‘tempo, o que seria mera fraglidade transforma-se justamente em sua forca, a caracteristica humana mais nobre: a capacidade de produzir sua prépria histéria e de se tornar sujeito de seus atos. {sH805 BREA DA Weoactor TAA AERA BO 1 weonact: —E| Tide Frank Aeésnest. de Bob Thaves. publicada em Otstacode Paulo.em 2008. weomuclo” CASTELLS, Manuel. 4 sveedadeem rede 5.4. Si Paso: Paz ¢ Tea, 201. p. 498 Naturezae cuts caniains Altura complementar ae Dos.canibais “Durante muito tempo tive a meu lado um homem ‘que permanecera dez ou doze anos nessa parte do Novo Mundo descoberto neste sécuto, no lugar em que tomou pé Villegaignon ea que deu onomede’Franca Antértica. tssa descoberta de um imenso pais parece de grande alcance e presta-se a sétias reflerdes. [..] Nao vejo nada de barbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos;e, na verdade, cada qual considera birbaro © que néo se pratica em sua terra. E€ natural, porque s6 podemos julgar da verdade e da razio de ser das cosas pelo exemplo € pela ideia dos usos e costumes do pais em que vivemos. Neste areligito € sempre a melhor, a adrinistra- lo excelente, e tudo o mais perfeito, A essa gente chama- ‘mos selvagens como denominamos selvagens os frutos que a natureza produz sem intervenco.do homem.[.] Ninguém concebeu jamais uma simplicidade natural elevadaa tal grau, nem ninguém jamais acreditou pudesse a sociedade subsistir com t30 poucos antfcos. E um pals [..J onde nao ha comercio de qualquer natureza, nem ite fatura, nem matematicas; onde nao existe hierarquia poi tica, nem domesticidade, nem ricos e pobres. Contratos, sucess3o, partihas af sio desconhecidos; em materia de trabalho 56 saber da ociosidade; o respeito aos parentes € 0 mesmo que dedicam 2 todos; 0 vestustio, a agricul {ura, 0 trabalho dos metais af se igreram; n3o usam vinho ‘nem trigo; a8 proorias palavras que exprimmem a mentira, a traigio, 2 dissimulacao, a avareza, a invej a calinia, 0 perdlo, s6 excepcionalmente se ouvem. [.] Esses povos guerreiam os que se encontzam além das montanhas, na testa firme. Fazem-no inteiramente nus, tendo como armas apenas seus arcos e suas espadas de madeira, pontiagudas como nossas langas. E€ admirdvel a resolucio com que agem nesses combates que sempre Michel “Eyquem de Montaigne (533-1592) humanists ftésofo fran- c&ecinhecide porseuEnsaios que cexcreveu fia primera pessoa, ree {onda sobre of mais diversos assun- todo cotidiano,o que represertou uma inovggaona literatura flosotica. . Michefde = Montagnts histor Comagudera citoniaascostumes di desconhecid, © seuternpo,a hipocrsiaeassuperstséculo XVI. es. Er um peroco de sangrentas lta: religiosasctca os fanatismos que geram viola ‘No texto refere se 3"Franga Antartica colonia francesa ie Villegagnon instalou na ina de Gusanabar, de 1555 567, at serexpulto pelos portuguese r 7] Leitura complementar Unidade 2 terminam com efusdo de sangue e mortes, poisignoram a fuga eo medo. Como troféu, traz.cada quala abera do i «migo trucidado, a qual penduram 2 entrada de suas resi- déncias. Quanto 20s prisioneiros, guardarwnos durante algum tempo, tratando-os bem e forecendo-thes tudo de que precisam até o dia em que resolvem acabar com eles, Aquele a quem pertence o prsioneiro convoca todos ‘05 seus amigos. No momento propicio, amar a um dos bracos da vitima uma corda cuja outra extremidade ele ‘segura nas mos, 0 mesmo fazendo com o outro braco que fica entcegue a seu melhor amigo, de modo a manter © condenado afastado de alguns passos e incapazde rea- ‘Go. Isso feito, ambos 0 moem de bordoadas as vistas da assisténcia, assando-o em seguida, comendo-0 € presen- teando os amigos ausentes com pedacos da vilima. Nao fazem entretanto para se alirnentarem, como o faziam os antigos cas, mas sim em sinal de vinganca.[.} Nao me parece excessivo julgar barbaros taisatos de cruel: dade, mas que o tato de condenar tais defeitos no nos leve & cegueira acerca dos nossos, Estimo que é mais barbaro comer um homem vivo do que o comer depois de morto; ¢ € pior esquartejar umn homem entre suplics etormentes ¢ 0 quei- ‘mar a0s poucos, Ou entregd-lo a Ces € porcos, a pretexto de devogao e fé, camo nao somente o lemos mais vimes ocorrer entre vizinhos nossos conterraneos, ¢ 1ss0 em verdade é bem mais grave do que assar € comer um homem previamente executed. [.] Podemos portanto qualificar esses povos, como barbaros em dando apenas ouvidas a inteligéncia, ‘mas nunca se os commpararmos.a nés mesmos, que os exce- demos em toda sorte de barbaridades.” MONTAGNE, Casio SSo Paulo: Ari Cull, 172. p 104-107 (Clecio 05 Pesadores) Sia, Habtante da Citi egito da Aaa Cente ) Questo Comente as tis frases extraidas do texto de Montaigne transpondo-as para os dias de hoje, a fim de indicar sua atuatidade 8) “[..] cada qual considera barbaro 0 que nao se pratica em sua terre.” B) "LJ que ofato de condenar tais defeitos no nos leva ‘cegueiza acerca dos nossos. 0 "Podemos portanto qualificar esses povos como birbar ros em dando apenas ouvides a inteligéncia, mas nunca se 05 compararmos a nés mesmos, que os excedemos em toda sorte de barbaridades.”

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