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Doenças Exantemáticas

Myrlena Mescouto Borges


Pediatra/Infectologista
MSc Medicina Tropical-DIP
Profa Assistente II- Curso de
Medicina
As doenças exantemáticas podem ser
classificadas pelo comprometimento
clínico:

 Exantema maculopapular
 Morbiliforme
 Escarlatiniforme

 Exantema vesicobolhoso

 Exantema petequial
Doenças que se manifestam com exantema
maculopapular:
 Morbiliforme
 Sarampo
 Rubéola
 Mononucleose infecciosa
 Enteroviroses
 Lues
 Toxoplasmose
 Reações a drogas

 Escarlatiniforme
 Estreptococcias
 Estafilococcias
 Mononucleose infecciosa
 Reações a drogas
Doenças que se manifestam com exantema
vesicobolhoso:

 Varicela / Herpes Zoster


 Herpes simples 1 e 2
 Estreptococcias
 Estafilococcias
 Reações a drogas (iodo)
Doenças que se manifestam com exantema petequial

 Meningococcemia
 Dengue
 Febre maculosa
 Reações de hipersensibilidade
(vasculites)
Importante considerar no diagnóstico diferencial
das Doenças Exantemáticas:

 Epidemiologia
 Período prodrômico
 Característica do exantema
 Sinais característicos
 Imunização prévia (por doença ou
vacina)
Relato de Caso
Relato de Caso

 Data da GAE: 08/02/06 às 09:53h

 Identificação
 W.C.A.R., DN: 18/09/2004, 01 ano e
06 meses, masculino, natural,
residente e procedente do Riacho
Fundo – DF

 Queixa principal
 Tosse e febre há 01 dia
Relato de Caso

 HDA
 O pai relata que a criança começou a
apresentar tosse, febre e indisposição há cerca
de 1 semana. Procurou o posto de saúde
próximo a sua residência, sendo indicado
tratamento sintomático para quadro gripal.
Evoluiu com inapetência e surgiram erupções
cutâneas pruriginosas em tronco e cabeça há 1
dia. Há 1 dia apresenta-se choroso e gemente,
com redução do sono e do apetite. Apresentou
febre (39ºC), que não cedia com
medicamentos, além de tosse produtiva e
coriza, com eliminação de secreção amarelada.
Relato de Caso

 Revisão de sistemas:
 Irritabilidade e choro fácil
 Apetite reduzido
 Sono prejudicado
 Diurese normal, evacuações escassas
 Mialgias
Relato de Caso

 ANTECEDENTES PESSOAIS
 Nascido de parto normal, a termo.
 Peso: 3590g; est: 50cm; PC: 35,5cm
 Período neonatal sem intercorrências.
 Desenvolvimento neuropsicomotor sem
alterações.

 ANTECEDENTES PATOLÓGICOS
 PN há 04 meses tratada em casa; pai nega
outras patologias.
 Nega trauma/cirurgias ou internações
prévias. Desconhece alergias.
 Imunizações em dia.
Relato de Caso - Exames
08/02 14/02

Hemácias 3,61 3,64


Hemoglobina 9,2 9,1
Hematócrito 28,4% 28,1%
VCM 78,8 77,3
HCM 25,3 25,0
CHCM 32,2 32,4
Plaquetas 238.000 829.000
Leucócitos 19.200 27.700
Segmentados 65 69
Bastões 12 01
Linfócitos 21 28
Monócitos 01 02
Eosinófilos 01 00
Basófilos 00 00
Relato de Caso

 ANTECEDENTES FAMILIARES
 Pais saudáveis
 Avó paterna cardiopata
 Irmão teve varicela há cerca de 01 mês

 ANTECEDENTES SOCIAIS
 Aleitamento materno exclusivo até 6º mês.
 Início do leite de vaca no 6º mês.
 Alimentação variada, incluindo frutas, leite e
legumes; não come carne.
 Vive em casa de alvenaria de 03 cômodos
com pais e irmão - não tem animais em casa.
Relato de Caso

 AO EXAME
 REG, choroso, afebril, desidratado (2+/4+),
hipocorado (+/4+), acianótico, anictérico,
taquidispnéico, gemente. Eutrófico.
 FC: 127bpm FR: 49irpm T: 37,3ºC
 ACV: BNF, RCR 2T sem sopros.
 AR: MV rude, sem ruídos adventícios.
Presença de batimento de asa de nariz.
 ABD: plano, flácido, sem VMG, RHA+
 Ext: perfundidas, sem edema
 Pele: presença de crostas e vesículas
dispersas em cabeça e tronco e parte
proximal dos MMII.
Relato de Caso

 Rx de tórax (08/02/2006)
 Condensação do lobo superior direito
pouco atelectasiante. Pequeno infiltrado
no lobo médio. Processo inflamatório.

 HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS
 Varicela
 Pneumonia por S. aureus ?
Relato de Caso - Evolução

 Evoluiu com esforço respiratório,


batimento de asa de nariz, tiragem
subcostal e intercostal. Tosse produtiva.
 AR: broncofonia em ápice pulmonar
direito, murmúrio rude em hemitórax
esquerdo. SatO2: 89-97%
 FR: 40irpm FC: 160bpm
 CD:
 Iniciada cefazolina 100mg/Kg/dia (/3x)
 Cateter nasal de O2 a 2L/min.
Relato de Caso - Evolução

 10/02/2006 - 12/02/2006
 Tosse persiste, porém em menor
intensidade
 Pico febril de 39ºC
 AR: MV diminuído em bases,
predominante em pulmão direito.
 Lesão pustulosa única em mão direita.
Crostas distribuídas universalmente.
 CD: Suspenso O2.
Relato de Caso - Evolução

 13/02/2006
 Tosse pouco produtiva, de escarro amarelo claro.
 Afebril. FR: 32irpm FC: 138bpm
 AR: MV diminuído em bases, sem esforço
respiratório.
 Presença de crostas distribuídas universalmente.
 RX tórax: “À comparação com o exame anterior,
mostra reabsorção parcial da condensação de LSD,
mantendo-se ainda componente atelectásico e
espessamento pleural homolateral.”
 CD: Iniciada cefalexina 80mg/Kg/dia.
Relato de Caso - Evolução

 14/02/2006
 3 picos febris (39ºC, 37ºC, 37ºC) em 24h
 Tosse produtiva.
 Lesões crostosas somente.
 AR: MV diminuído em bases, ainda rude em
hemitórax direito.
 RX de tórax: “Derrame pleural pequeno a
direita, com discreta melhora do processo
inflamatório.”
 CD: Reiniciada ATB venosa com ampicilina +
sulbactam (190g/Kg/dia).
Relato de Caso - Evolução

 20/02/2006
 D11 de antibioticoterapia
 D6 de ampicilina + sulbactam
 Melhora da pneumonia e das lesões.
 Após 72 horas afebril, recebeu alta com
orientação de tratamento domiciliar com
ampicilina + sulbactam 50mg/Kg para
completar esquema de 10 dias.
Relato de Caso - Exames

08/02/2006 14/02/2006

VHS 50mm

PCR 15,69mg/dl

Uréia 27

Creatinina 0,9

TGO 57

TGP 25
Doenças exantemáticas
 Em geral infecto-contagiosas

 Diagnóstico essencialmente clínico

 Exantema é variável, de acordo com tipo de


afecção
Doenças exantemáticas

 Varicela
 Sarampo
 Rubéola
 Exantema súbito ou roséola infantum
 Eritema infeccioso
 Escarlatina
 Enterovirose
 Mononucleose
 Dengue
 Herpes simples
 Doença de Kawasaki
Varicela

 Vírus Herpesvirus varicellae


 Faixa etária – 2-8 anos
 Rara em <3 meses – proteção materna?
 Período de incubação – 14-21 dias
 Maior incidência em primavera e
inverno
Varicela

 Pródromos
 1-2 dias
 Discretos – febre, cefaléia, mialgia

 Exantema
 1ª manifestação
 8-10 dias
 Pápulas, vesículas, pústulas e crostas
(últimas não contém vírus viáveis).
 Prurido.
Varicela
Varicela

 Período de contágio
 1-2 dias antes do exantema até última
crosta
 Alta contagiosidade
 Transmissão – contato direto (gotículas),
vias indiretas (mãos e roupas).
Varicela

 Características
 Lesões centrípetas, evolução em surtos
 Polimorfismo regional
 Atinge mucosas e couro cabeludo
 Imunidade geralmente permanente
 Lesões restritas à pele ou acometendo
diferentes órgãos (esôfago, fígado,
pâncreas, rins, ureteres, útero e supra-
renais).
 Não deixa cicatrizes residuais.
Varicela

 Complicações
 Infecção bacteriana secundária
 Contaminação por Estafilococos ou Estreptococos
 Impetigo, erisipela, celulite, septicemia
 Pneumonia
 Manifestação clínica – tosse, dispnéia, cianose,
hemoptise
 1ª semana da doença
 Ausculta pobre e quadro radiológico com
infiltrado nodular difuso em ambos campos
pulmonares.
 Mais freqüente em adultos.
Varicela

 Complicações
 Encefalite
 03-08 dias após exantema
 Ataxia cerebelar – benigna e freqüente, podendo
ser a 1ª manifestação da doença (normalmente
pós-infecciosa).
 Manifestações hemorrágicas
 Trombocitopenia – 1-2 semanas após início do
exantema
 CIVD
 Pacientes com deficiência imunológica
 Curso prolongado, com erupções hemorrágicas
muito extensas.
 Complica-se com pneumonia
 Alta mortalidade.
Varicela

 Tratamento
 Sintomático na maioria dos casos.
 Isolamento respiratório
 Prurido – anti-histamínicos via oral.
 Pacientes em uso de corticosteróide – reduzir
a dose a níveis fisiológicos (20-50 mg de
cortisona/m2/dia).
 Tratar
 Imunocomprometidos
 Adolescentes > 13 anos e adultos
 Contactante infectado do caso índice, sendo
este grave
 Neonato infectado (<1 mês)
Varicela

 Crianças que tiveram varicela com


menos de 01 ano de idade podem
desenvolver herpes zoster, pois não
houve memória.

 Se varicela quando > 01 ano de


idade, procurar outras causas
(imunocomprometimento)
Varicela
Sarampo
 Faixa etária – pré-escolar e escolar
 Período de incubação – 7-14 dias
 Pródromos
 3-5 dias
 Febre alta, rinorréia, conjuntivite
 Exantema
 5-7 dias
 Maculopapular, generalizado, crânio-caudal
 Descamação leve, nunca em mãos e pés
Sarampo

 Período de contágio
 Do 6º dia da incubação ao 5º dia do
exantema
 Alta contagiosidade.
 Características
 Manchas de Köplik
 Imunidade duradoura.
Sarampo
Sarampo
Sarampo
Rubéola

 Faixa etária – 5-14 anos


 Período de incubação – 14-21 dias
 Pródromos – geralmente não há
 Exantema
 Macular discreto
 Sem confluência
 Sem descamação
Rubéola

 Período de contágio
 7 dias antes a 7 dias depois do exantema.
 Pouco contagiosa.
 Características
 Conseqüências danosas para o feto.
 Linfadenopatia cervical posterior e
retroauricular
 Petéquias no palato
 Imunidade duradoura
Rubéola
Exantema súbito ou Roseola
Infantum
 Faixa etária – 06 meses a 03 anos
 Período de incubação – 10-14 dias
 Pródromos
 3-4 dias
 Febre alta, irritabilidade
 Exantema
 1-3 dias ou horas
 Macular, fugaz, início no tronco, sem
descamação
Exantema súbito ou Roseola
Infantum
 Período de contágio
 Desconhecido
 Baixa contagiosidade
 Características
 Erupção surge quando cai a febre, em
crise.
 Pode ser recorrente.
Exantema súbito ou Roseola
Infantum
Eritema infeccioso

 Faixa etária – 5-12 anos


 Período de incubação – 6-14 dias
 Pródromos
 Geralmente ausentes
 Exantema
 7-21 dias
 Macular recorrente, sem descamação
Eritema infeccioso

 Período de contágio
 Desconhecido
 Intradomiciliar ou na escola
 Características
 Exantema facial em forma de borboleta
 Palidez perioral
Eritema infeccioso
Escarlatina

 Faixa etária – 3-12 anos


 Período de incubação – 2-4 dias
 Pródromos
 12 horas a 2 dias
 Febre, faringite, tosse, vômitos
 Exantema
 Eritematoso e punctiforme
 Início nas zonas de flexão
 Generalização
 Descamação tardia de mãos e pés
Escarlatina

 Período de contágio
 1-2 dias após início do exantema
 Características
 Palidez perioral (Filatov)
 Lesões mais intensas em pregas
cutâneas (Pastia)
 Língua em framboesa
Escarlatina
Enteroviroses

 Faixa etária – menos de 2 anos


 Período de incubação – 4-7 dias
 Pródromos
 Geralmente ausentes
 Às vezes, febre e faringite
 Exantema
 Eritema maculopapular discreto, às
vezes urticariforme ou petequial
Enteroviroses

 Período de contágio
 Variável
 Características
 Isolamento de vírus em fezes, sangue,
faringe e líquor
 “Síndrome mão-pé-boca”
Enteroviroses
Mononucleose
 Faixa etária – acima de 2 anos e
adolescentes
 Período de incubação – 30-50 dias
 Pródromos
 1-2 semanas
 Mal-estar, fadiga, cefaléia, dor abdominal
 Exantema
 2-7 dias
 Maculopapuloso difuso
Mononucleose

 Período de contágio
 Indeterminado
 Baixa contagiosidade
 Características
 Tríade – faringite exsudativa +
adenomegalia + febre prolongada
 Linfocitose atípica
Mononucleose
Doença de Kawasaki

 Faixa etária – 6 meses a 5 anos


 Período de incubação
 Pródromos
 Febre alta, prolongada
 Exantema. Edema palmo-plantar
 Conjuntivite, linfadenopatia, artrite,
alterações cardiovasculares, trombocitose
 VHS, MUCO e proteína C elevados
Doença de Kawasaki

 Exantema
 Polimorfo generalizado – morbiliforme,
maculopapular ou escarlatiniforme
 Período de contágio
 Características
 Diagnóstico clínico – possível
comprometimento coronariano (aneurismas)
 Alterações multissistêmicas
 Leucocitose com DE, eosinofilia e plaquetose
Doença de Kawasaki
Doença de Kawasaki
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