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Saboreando o vazio sem sentido, L. Janz.

Depois que passamos a compreender um pouco mais sobre os multiplos e infinitos processos
do “self”, da “identidade”, do “eu mesmo” (isso pela própria experiência) tudo começa a ficar
por demais engraçado e mesmo ‘delicioso’.

Hoje e vivemos numa sociedade cada vez mais veloz e mais volumosa; isto, por sua vez, essa
como que ‘ditadura’ da in-form-ação atropelada, nos torna a cada passo mais atormentados,
mais perdidos, confusos e sem rumo.

Mas isso tudo tem um sentido, que, por mais curioso que seja, é justamente com o fim de nos
tornar a todos absolutamente sem qualquer sentido. Isso não é engraçado¿ Esse movimento
informacional crescente tende a algo bastante conhecido pela maioria de nós.

Me refiro exatamente ao caos; aquele mesmo da físico-química que nos fala sobre a entropia
dos sistemas. O que temos hoje, por esse aumento exponencial da complexidade de ‘nossas
mentes’, não tem outra direção que não essa.

E é assim mesmo. Puxados por esse torvelinho e tendemos inexoravelmente a nossa falência
interior. A complexidade se agiganta de tal forma que, literalmente, num dado momento,
colapsa então a nossa ‘personalidade’.

Estamos fadados a isso; é inevitável! E embora o processo tenha um largo espectro variável de
intensidade no íntimo de cada, todos iremos nos desmanchar, uns após os outros. O grande
problema, obviamente, é que nem todos conseguem lidar bem com isso.

O que estamos a vivenciar nesta nova era da pós-modernidade é um fenomeno único ao longo
de toda a história humana. Uma auto-implosão da linguagem. E com ela vai-se também a
nossa ‘caríssima’ objetividade e tudo o mais de imagético que ela contem.

A linguagem implode – já não há mais nada a se falar que já não se saiba de “por si”. O mundo
objetivo se faz agora completamente relativo e inter-subjetivo, no que a falência do Eu se
converte no instante imediatamente seguinte.

Compreender isso por meio de palavras, por meio do muito que dizem os filósofos, eruditos,
religiosos e científicos não nos será possível; não obstante este seja o principal instrumento
que, com certeza, há de nos desconfigurar todas as bases.

Por conseguinte, com todos os nossos conceitos, imagens e perspectivas em conflito e auto-
anulação, é isso mesmo que então nos lança livres no vazio sempre-presente. “Para encontrar-
se é preciso antes estar perdido.”

Não tenhamos medo pois do que há para além da luz; para além daquilo que não conseguimos
‘ver’. O muito que há de aparentemente sem sentido no mundo também tem o seu propósito.
E para tanto, basta que tenhamos a ousadia e possamos então sair do lugar-comum.

Publicado em Reflexões de Gaia: http://vivogaia.blogspot.com/ (29.08.10)

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