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Achando bastante pitoresca a demanda, obtive cópia do acórdão prolatado nos autos.
Como sempre ministro aulas de responsabilidade civil, o julgado se revelou de grande
valia, mormente por abordar tema tão interessante da responsabilidade civil, qual seja,
o do nexo causal.
Caberá, em regra, à vítima, para que veja atendida a pretensão indenizatória, a prova
da presença de certos requisitos, quais sejam: a ação ou omissão do agente, o dano
experimentado e o nexo de causalidade entre o primeiro e o segundo. Ainda, em
sendo a responsabilidade subjetiva (regra no nosso sistema em razão do determinado
pelo artigo 186 do CC), caberá à vítima a prova da culpa do causador do dano em
uma de suas modalidades (negligência, imprudência e imperícia).
Dano, sem dúvida, ocorreu, pois a égua morreu e o dono sofreu o prejuízo (res perit
domino). Ação do réu houve, pois realmente enviou a égua para a operação e a
operação foi realizada.
Mas uma outra questão se revela interessante: teria o animal morrido em razão da
cirurgia? Para sabermos, deve-se estabelecer o nexo de causalidade. O conceito,
além de jurídico, decorre das leis da física, ou seja, do mundo fenomênico. A presença
do nexo se faz necessária na hipótese de responsabilidade subjetiva ou objetiva, salvo
em se tratando da teoria do risco integral, pela qual o dever de indenizar surge mesmo
que o nexo causal não exista.
Entendemos, com parte da doutrina, que a teoria que o Código Civil adota para fins de
verificação do nexo causal é a Teoria da Causalidade Adequada, cuja criação é de
Von Kries. Segundo essa teoria, a causa é o antecedente necessário e adequado à
produção do resultado.
Assim, nem todas as condições são causa, mas apenas aquela que for mais
apropriada para a produção do resultado. Será causa aquela que, de acordo com a
experiência comum, for mais idônea para gerar o evento. O ato ilícito praticado pelo
agente deve ser apto a provocar o dano sofrido pela vítima segundo o curso normal
das coisas.
Um exemplo esclarece o tema: se certa pessoa fica retida ilicitamente por outra e
perde seu avião, tomando outro na seqüência que cai, a pessoa responsável pela
retenção não será culpada pela morte, pois o evento retenção ilícita não é apto a
causar a morte (Antunes Varela, Das obrigações).
Nesse ponto fulcral da questão, afirma o julgado que “entre a morte e a cirurgia não se
estabeleceu relação de causa e efeito, o que significa que, nas circunstâncias, o
animal teria morrido também se estivesse no hospital pretendido pela autora, tão bom
quanto o da ré” e “não importa a morte de outros animais no mesmo hospital, porque
também no hospital o homem morre, quando não se cura”.
Ora, se a morte não decorreu da cirurgia, estamos diante de verdadeira força maior
(morte súbita do animal) que põe fim ao dever de indenizar e exclui a responsabilidade
civil do hospital.
(TJ/SP, 28ª Câmara, Apel. Com Revisão, 893.794-0/4, rel. Desembargador Celso
Pimentel, data 10/04/2007)