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Sugestões de atividades
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CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
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Trabalho infantil
GUIA PARA EDUCADORES
2
Sugestões de
Atividades
Produção CENPEC
ISBN 92-2-811040-6
1.Trabalho infantil. I. OIT II. IPEC. III. CENPEC.
Material elaborado pelo CENPEC para o escritório da OIT no Brasil, no âmbito do Projeto “Professores, educadores e
suas organizações na luta contra o trabalho infantil”/IPEC
CENPEC Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária
R. Dante Carraro 68 Pinheiros
05422-060 São Paulo SP Brasil
http://www.cenpec.org.br
Presidência Maria Alice Setubal
Coordenação geral Maria do Carmo Brant de Carvalho
Coordenação de Área Isa Maria F. R. Guará – e-mail: isa@cenpec.org.br
Coordenação do Projeto Lúcia Helena Nilson
Consultoria Walderez Nosé Hassenpflug
Autoria (v.2) Gilberto Pamplona da Costa (Geografia), Luiza Inês M. de Freitas e
Maria Clara S. Pacheco (Ciências), Maria Terezinha T. Guerra (Arte),
Ronilde Rocha Machado (História), Zoraide I. Faustinoni da Silva
(Língua Portuguesa)
Edição de texto Tina Amado e Guy Amado
Edição de arte Eva Paraguassú Arruda Câmara, José Ramos Néto e
Camilo de Arruda Câmara Ramos
Ilustração Luiz Maia
Fotografia Iolanda Huzak
Fotolito Grupo RV2
Impressão Cromosete
Apoio CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
Setor de Diversões Sul, Edif. Venâncio III, sala 101/4
70393-900 Brasília DF
www.cnte.org.br
Sumário
4 Introdução
9 História
10 Ativ.1 Crianças e adolescentes devem trabalhar?
11 Ativ.2 Panorama do trabalho infantil no Brasil atual
13 Ativ.3 Por que crianças e adolescentes trabalham?
15 Ativ.4 Trabalho infantil no passado: crianças escravas e operárias
16 Ativ.5 Os direitos da criança e do adolescente
18 Ativ.6 Outros jeitos de ser criança
19 Sugestões de leitura
21 Português
22 Ativ.1 Jornal mural: organização inicial
24 Ativ.2 Produção dos textos para o mural
25 Ativ.3 Jornal falado
26 Ativ.4 Poemas
27 Ativ.5 Histórias, personagens e cenários
29 Ativ.6 Organizando o evento final
29 Referências bibliográficas
31 Ciências
32 Ativ.1 Conhecendo seus direitos
33 Ativ.2 O direito à saúde
34 Ativ.3 Os catadores de lixo
36 Ativ.4 Prostituição infantil
37 Sugestões de leitura
39 Geografia
40 Ativ.1 Criança não trabalha
41 Ativ.2 Representações do trabalho infantil
42 Ativ.3 O trabalho infantil na comunidade
43 Sugestões de leitura
45 Arte
46 Ativ.1 Criando um símbolo
47 Ativ.2 Divulgando nossas idéias
49 Ativ.3 Quem canta seus males espanta?
50 Ativ.4 Não desligue o televisor
51 Referências bibliográficas
4
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Física, pode-se abordar o tema salientando a Por isso mesmo, em um primeiro momento,
importância das atividades físicas e do lazer para todos devem ser ouvidos e poder externar suas
a saúde física e psíquica e mostrando como, em opiniões com liberdade; no decorrer das
conseqüência de certas atividades impostas às atividades, irão ter contato com informações e
crianças e adolescentes que trabalham, sua idéias com as quais irão dialogar e refletir,
saúde e desempenho ficam comprometidos; em levando em consideração o que já pensavam e
língua estrangeira, podem ser feitas pesquisas sabiam, incorporando os novos conhecimentos
sobre o trabalho infantil nos países onde a a que estarão tendo acesso.
língua é falada, como também apreciar poemas
Um cuidado e sensibilidade especial deve ser
ou canções que tratem do tema...
mantido em relação aos alunos que trabalham.
As atividades foram pensadas para ser feitas Sabemos que, em muitas famílias, a única
com todos os alunos; em cada uma, indicamos alternativa que vislumbram para superar
formas alternativas de desenvolvê-las com dificuldades econômicas é encaminhar crianças
classes da 1a à 4a séries e da 5a à 8a do ensino e adolescentes para o mercado de trabalho.
fundamental. Você, professor, certamente Nesse caso, o aluno não pode ser
saberá adequá-las à situação específica de seus estigmatizado, nem seus familiares. Ouça-o
alunos. O ponto de partida é a problematização com respeito e favoreça um clima de
da realidade, isto é, o levantamento de solidariedade em classe. Explique que esse
questões para orientar um novo olhar, tendo estudo vai ajudá-los a compreender de maneira
como base o que o aluno já sabe e as pesquisas mais ampla a questão do trabalho infantil e a
e reflexões individuais e coletivas sobre o tema. pensar juntos nas formas pelas quais se pode
organizar e lutar para resolver esse grande
No desenvolvimento das atividades, alunas e
problema.
alunos serão convidados a participar de maneira
criativa e crítica, manifestando-se no coletivo da Por fim, é importante respeitar suas idéias
classe, em pequenos grupos ou e opiniões e considerar que nem todos
individualmente. Provavelmente, apresentarão compreenderão, ao mesmo tempo,
opiniões variadas e até divergentes sobre a a dimensão de tragédia social envolvida no
inserção precoce de crianças no mercado de trabalho infantil. Aprender é processo.
trabalho. Isso é natural e reflete as diferentes E um processo que é conduzido de forma
formas de lidar com essa questão na sociedade. respeitosa tende a ser verdadeiro e a ter sucesso.
5
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
História
Propomos aqui uma seqüência de atividades
para serem desenvolvidas com suas classes,
visando propiciar reflexão a respeito do
trabalho de crianças e adolescentes, no Brasil
e no mundo. Outras atividades poderão ser
criadas por você, ao reconhecer a importância
desse e de outros assuntos relevantes da
realidade brasileira, na composição do
currículo de História de sua escola.
O ordenamento das atividades inicia-se com
a exploração da noção mais ampla de
trabalho para, depois, introduzir essa forma
particular e condenável, que é o trabalho
infantil. Em seguida, o tema é
problematizado na forma como se apresenta
no Brasil atual – por meio de fotografias,
pesquisas na comunidade e textos. Com base
nos conhecimentos propiciados por essa
visão do trabalho infantil no presente,
voltamos o olhar ao passado, para buscar
compreender por que essa forma de trabalho
persiste até nossos dias e por que ainda é
vista de maneira tão natural. Nessa busca,
resgatamos um pouco da experiência das
crianças escravas e trabalhadoras nas fábricas
(no início do século XX); textos e imagens
permitem ressaltar o significado individual e
coletivo dessas experiências. Do passado,
novamente por meio de fotografias,
documentos de época e outros textos,
retornamos ao presente. Esse movimento traz
uma dimensão de historicidade que ajuda a
ampliar a compreensão do que foi e é o
trabalho infantil: uma forma de exploração
desenfreada e desrespeitosa, por parte de
empregadores, que põem seus lucros acima
de qualquer consideração de natureza ética
ou de justiça social. A volta ao presente traz
também um novo olhar para as crianças e
adolescentes: são sujeitos de direitos, que
devem ser assegurados pela família, pela
sociedade e pelo Estado – principalmente,
são sujeitos do direito à infância, tempo em
que estudar e brincar são atributos
essenciais, sua razão de ser.
9
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Crianças e adolescentes
Desafie-os a expressar a grande diferença em
relação ao que observaram na escola. Com
devem trabalhar?
certeza, irão perceber que crianças como elas
estão quebrando pedras, colhendo cana e
fazendo outras atividades, que deveriam ser
Objetivo: para iniciar o diálogo com os alunos feitas por adultos.
sobre o trabalho de crianças e adolescentes, Pergunte-lhes se acham que isso está certo e por
sugerimos uma conversa sobre o trabalho em quê. Anote as respostas na lousa e, se já
geral; em seguida, uma sensibilização sobre o dominam a escrita, peça para anotarem no
trabalho infantil, para, finalmente, abrir a caderno. Caso contrário, registre suas respostas
discussão sobre o que pensam a respeito. Antes numa folha de papel pardo e deixe-a fixada
de desenvolver esta atividade, releia a seção “O numa parede da sala.
que é trabalho infantil?”, às p.13-14 do volume 1. Finalmente, como tarefa de casa, solicite que
Material necessário: papel pardo, pincel conversem com um/a adulto/a com quem
atômico, cartaz 2. convivem e perguntem sobre seu trabalho: o que
faz, como faz, por que faz, se gostam, com que
idade começaram a trabalhar e por quê. Peça para
Para classes da 1a à 4a séries
registrarem as respostas no caderno (ou guardar
Observando os adultos trabalhadores da bem na memória, se ainda não escrevem), para
escola conversar sobre o assunto numa próxima aula.
Convide os alunos a circular um pouco pela
escola, observando os adultos e as atividades
Para classes da 5a à 8a séries
que estão realizando. Leve-os à cozinha, ao Chuva de palavras: trabalho e seus diferentes
pátio, à diretoria, à secretaria. sentidos
Em classe, peça que contem o que viram: qual a No centro da lousa ou quadro de giz, escreva a
atividade, quem estava realizando, para quê. palavra TRABALHO. Peça aos alunos para falar
Peça que descrevam ou imitem os movimentos palavras, expressões ou pequenas frases que
realizados pelas pessoas. Explique-lhes que as possam ser associadas a essa e vá anotando-as
atividades observadas são chamadas de trabalho. na lousa. Em seguida, organize a classe em
Escolha uma delas (a preparação da merenda, grupos e oriente-os a formar, com as palavras ou
por exemplo) e pergunte: qual era o cardápio, frases anotadas, conjuntos que tenham sentido
que produtos estavam sendo utilizados. E de parecido, obedecendo a um critério estabelecido
onde vieram esses produtos. É importante por eles. Por exemplo: conjunto 1, legal,
perceberem que no trabalho, de modo geral, há gostoso, criativo; conjunto 2, chato, exploração,
transformação. O milho foi transformado em fubá cansativo; conjunto 3, necessário para viver; etc.
que virou uma gostosa polenta para o lanche... Dê a cada grupo uma folha de papel pardo para
Terminando essa exploração, sugira à classe anotarem os conjuntos formados, verificando se
pensar na seguinte questão: a escola poderia estão agrupados de maneira coerente com o
funcionar com todos os adultos estudando e as critério que combinaram. Peça que dêem um
crianças trabalhando, nas tarefas que título a cada conjunto. Terminando, convide-os a
observaram? Por quê? Provavelmente, os alunos apresentar o que fizeram aos colegas e, depois,
irão perceber que as tarefas não são adequadas a afixar as folhas na parede. Na discussão
10
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
trabalho infantil no
tiveram de) trabalhar tão cedo.
Finalmente, divida a classe em dois grandes
grupos e proponha aos integrantes de um grupo
(A) que façam uma entrevista com alguma Brasil atual
criança ou jovem (menor de 16 anos) que
trabalha e não estuda. Aos do outro grupo (B), Objetivo: perceber a magnitude do problema
que entrevistem uma criança ou jovem que do trabalho infantil – na comunidade, por meio
trabalha e estuda (também menor de 16 anos). de informações obtidas em entrevistas; no Brasil,
Organize com eles um roteiro com as perguntas pela leitura e interpretação de textos e dados
que irão fazer. Certifique-se de que as questões de estatísticos. Como subsídio para esta atividade,
jornada de trabalho, local, atividade realizada, releia o capítulo “Trabalho infantil no Brasil
condições de trabalho, salário e tipo de empresa atual”, p.19-23 do v.1.
sejam contemplados nesse roteiro. Oriente-os a
Material necessário: papel pardo, mapa do
perguntar aos entrevistados que estudam se o
Brasil, cartolina, papel sulfite, pincel atômico,
fato de trabalhar ajuda ou prejudica o
lápis de cor; para 5a a 8a séries, Textos 1, 2 e 3.
rendimento na escola, explicando as razões.
Também é importante perguntar aos
entrevistados dos dois grupos por que trabalham.
Para classes da 1a à 4a séries
Alerte-os para não fazerem muitas perguntas, Comece essa aula retomando com os alunos a
para facilitar o trabalho de tabulação. Lembre-os conversa com uma pessoa adulta com quem
de anotar as respostas dos entrevistados e dê um convivem. Peça para contarem sobre o tipo de
prazo para realizar as entrevistas de modo a trabalho realizado por essas pessoas e anote as
poderem analisar os resultados na aula seguinte. respostas na lousa.
11
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
13
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
às dificuldades das famílias; e, também, que isso envolver com o problema? Condenação,
acontece há bastante tempo. Pergunte a eles, respeitando as pessoas que são obrigadas a
em seguida, se apenas as famílias são trabalhar, mas se comprometendo a participar
responsáveis por esse problema, trazendo para a de alguma forma da luta contra o trabalho
discussão o papel dos empregadores, que explorador das crianças? Outras idéias?
exploram o trabalho das crianças como forma de
Trabalho infantil: mito e realidade
obter mais lucros, pois pagam salários muito
baixos. Retome a situação de Francisco e quanto Em seguida, pergunte se alguma criança da
ele ganha. Pergunte a eles se essa situação (de as classe trabalha e se gostaria de falar sobre isso.
crianças precisarem trabalhar tão cedo) poderia Caso ela concorde, garanta que sua fala seja
ser diferente e o que poderia ser feito, para que respeitada e sua situação de vida não seja
fosse diferente. Registre as respostas na lousa e depreciada pelos colegas. Mostre aos alunos que
peça para anotarem no caderno. a existência de trabalho infantil entre os colegas
só reforça o que foi discutido até esse momento
Finalmente, peça que, em grupos, elaborem
e revela a necessidade de mudanças urgentes
cartazes com frases e desenhos a respeito do
nessa situação. (Depois da aula, Informe sobre
que pode ser feito pelos governantes, pelos
os possíveis casos à equipe escolar, para contatos
empregadores, pelas famílias, para evitar que
com a família e encaminhamento a programas
crianças e adolescentes precisem trabalhar desde
de erradicação do trabalho infantil.) Finalmente,
cedo. Junto com eles, afixe os cartazes pela
sugira que, em grupos, elaborem cartazes com
escola ou na vizinhança.
frases e desenhos a respeito do que pode ser
feito pelos governantes, pelos empregadores,
Para classes da 5a à 8a séries pelas famílias, para evitar que crianças e
Nessa aula, os alunos irão refletir sobre a adolescentes precisem trabalhar desde cedo.
maneira como os diferentes segmentos Junto com eles, afixe os cartazes pela escola ou
envolvidos com a questão do trabalho infantil o na vizinhança.
explicam. Retome com eles as respostas das Divida a classe em grupos de cerca de seis
entrevistas que realizaram, trazendo o ponto de integrantes cada e proponha que criem uma
vista de crianças ou adolescentes que trabalham. história sobre a questão do trabalho infantil em
Exponha à classe, sucintamente, o conteúdo das seus diferentes aspectos, para ser encenada.
seções “O que obriga crianças e adolescentes a Oriente os alunos para criar personagens
trabalhar?” e “Efeitos perversos do trabalho variados, lembrando-se de que há diversos
infantil” (v.1, p.15-17). Explique-lhes que essa é segmentos (tipos de pessoas) envolvidos com o
a opinião dos estudiosos do assunto e da OIT – trabalho infantil, além das próprias crianças;
aproveite para falar um pouco sobre o IPEC e a pensar em lugares ou cenários pertinentes –
OIT, as convenções da OIT e a lei brasileira – pedreira, plantação de cana, fábrica, casa de
enfatize o que diz nossa legislação (v.1, p.13). alguém, ou mesmo escola, caso um personagem
Pergunte se concordam com essas idéias, se trabalhe e estude; cenas podem acontecer em
acham que ajudam a entender o problema do diferentes lugares; criar um roteiro para a
trabalho infantil e por quê. história, com começo, meio e fim (desfecho); e
Em seguida, distribua a reprodução do Texto 4 reler os textos que já receberam, para ajudar a
(“Justificativas” comuns para o trabalho elaborar as falas dos personagens. Articule-se
precoce). Depois que todos lerem com os professores de Arte e de Língua
silenciosamente, alguns alunos podem revezar-se Portuguesa – a Atividade 5 desta última orienta
fazendo a leitura oral. Aproveite esse momento a construção de personagens e cenários.
para tirar dúvidas e explicar palavras Marque uma data para a apresentação dos
desconhecidas. Organize a classe em um círculo grupos e dedique um tempo de cada aula para
e solicite que destaquem as idéias mais os grupos trabalharem na elaboração do roteiro,
significativas do texto. Aproveite para comparar na definição dos personagens, na elaboração
os argumentos falaciosos que justificam o das falas, na montagem dos cenários e nos
trabalho infantil com as respostas obtidas nas ensaios. Na véspera da apresentação, promova
entrevistas. Depois pergunte: De tudo o que um ensaio geral na classe, para ajudar os alunos
aprenderam até aqui, que posição sobre o nas dificuldades que aparecerem.
trabalho infantil é a mais importante para ser
defendida: Apoio? Condenação, mas sem se
14
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
15
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Atividade 5
Documento A
... Por ocasião do recente movimento
grevista, uma das reclamações mais
Os direitos da criança e
insistentes dos operários era contra a
exploração dos menores nas fábricas. Aliás,
do adolescente
não faziam mais do que exigir o Objetivo: informar os alunos sobre a existência
cumprimento das leis existentes. Entretanto,
de lei que dispõe sobre a proteção integral das
os industriais, à exceção da firma (...)
crianças e adolescentes brasileiras, o ECA –
continuam a empregar menores em
trabalhos impróprios. Entre eles, podemos Estatuto da Criança e do Adolescente; divulgar
citar nominalmente o Sr.(...), porque aos alunos os direitos a que todas as pessoas de
assistimos ontem à entrada de cerca de 60 0 a 18 anos fazem jus, de acordo com essa lei;
pequenos às 19 horas, na sua fábrica na promover reflexão sobre a relação entre o que
Moóca. Essas crianças, entrando àquela está disposto na lei e a realidade de muitas
hora, saem às 6 horas. Trabalham, pois, 11 crianças e jovens no Brasil. Subsídios sobre esse
horas a fio, em serviço noturno, apenas com assunto estão no capítulo correspondente do
um descanso de 20 minutos, à meia-noite! volume 1 (p.31-35).
O pior é que elas se queixam de que são
espancadas pelo mestre de fiação. Muitos Material necessário: cartaz 1, papel pardo,
nos mostraram equimoses nos braços e nas jornais e revistas usados, lápis de cor, tesoura,
costas. Algumas apresentaram mesmo cola; para 5a a 8a séries, reprodução do Texto 5.
ferimentos produzidos com uma manivela.
Uma há com orelhas feridas por Para classes da 1a à 4a séries
continuados e violentos puxões. Trata-se de
crianças de 12, 13, e 14 anos. Convide os alunos a falar sobre coisas de que
uma criança precisa para viver com dignidade,
(Publicado no jornal operário O combate em
crescer e se preparar para a vida adulta,
1917; extraído de CENPEC, Ensinar e aprender
História v.3: ficha 10, 1998) montando uma lista no quadro. Ajude-os a
pensar fazendo perguntas que ressaltem o plano
Documento B das necessidades. Por exemplo, as crianças
podem responder: “tomar sorvete”. Nesse caso,
Por conveniência própria, em prejuízo de as perguntas devem ajudá-los a perceber que
honrados pais de família, exploram uma necessidade vital é a alimentação. Depois
vergonhosamente meninos aprendizes,
de pronta a lista, explique que essas
usurpando os suores dessas pobres crianças
necessidades mais importantes constituem os
pela miserável quantia de 500, 1$000 e
direitos fundamentais assegurados às crianças e
1$500 por dia, enquanto deixam de lado
adolescentes numa lei chamada ECA (direito à
criminosamente aqueles que têm certa
vida, à alimentação, à saúde, à educação, à
responsabilidade social, que têm grande
moradia e outros).
prática do ofício. Mas como reclamar, se os
patrões, no seu egoísmo feroz, preferem o Leia com a classe os direitos da criança e do
serviço malfeito ao bem feito e correto, adolescente no cartaz 1, explicando o significado
desde que corra em seu proveito? de cada um. Converse sobre a efetivação desses
(Publicado em O trabalhador gráfico, 1904;
direitos no bairro ou na cidade: são garantidos a
extraído de Rago, 1985, p.142) todas as crianças? Por quê? Peça que levantem
hipóteses sobre a não-observância desses
direitos. Explique a quem cabe assegurá-los,
problemas vividos pelas crianças que trabalham segundo o Estatuto: a família, a comunidade, a
atualmente? Quais as semelhanças? Quais as sociedade em geral e o poder público.
diferenças? O que acham que pode ser feito
Organize-os em grupos e dê a cada grupo uma
para eliminar de vez o trabalho infantil no Brasil,
folha de papel pardo, algumas revistas usadas,
garantindo-se a todas as crianças e jovens os
tesoura e cola. Peça que escolham um dos
direitos de cidadania? Destaque e discuta as
direitos e selecionem nas revistas fotografias ou
respostas conflitantes ou muito inadequadas.
manchetes de notícias que mostrem situações
Registre as respostas na lousa e peça para
onde esse direito está sendo observado e outras
registrarem no caderno.
16
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
imagens mostrando o mesmo direito sendo modificado muito lentamente, por meio da luta
desrespeitado. Devem dividir a folha em duas desses setores desfavorecidos, que têm exigido
partes, colocar um título em cada uma e colar os mais veementemente respeito a seus direitos.
recortes de forma criativa, na parte Mais ainda há muito a fazer nessa direção, pois
correspondente. Terminando, peça para ser cidadão significa compreender que não basta
apresentarem seus cartazes. Nesse momento, lutar pelos direitos para si, mas assumir o
converse sobre o que pode ser feito quando um compromisso de que os mesmos sejam
direito está sendo violado: conversar com um estendidos a todos. Explique à classe que a
adulto da família para que este denuncie às Constituição brasileira e o ECA resultaram de
autoridades. Não se esqueça de combinar com muitas lutas de várias pessoas, participantes de
eles um lugar para afixar os cartazes. movimentos sociais e políticos em prol dos
Como tarefa de casa, peça às crianças para direitos fundamentais para todos os brasileiros.
conversar com os pais ou um adulto com quem Após essa discussão sobre os direitos e sua
convivam sobre os tipos de brincadeiras de que violação, proponha que, em grupos, façam uma
mais gostavam quando eram crianças. Devem reflexão sobre os possíveis casos de violação de
descrever como e em que lugar se brincava. Diga direitos de que sabem ou ouviram falar, no
aos alunos para registrar essa conversa, para bairro ou cidade, levantando idéias sobre o que
uma atividade em outra aula, adiante. pode ser feito para que esses casos deixem de
acontecer. Se necessário, dê dicas: podem
Para classes da 5a à 8a séries procurar entidades de defesa dos direitos
humanos ou dos direitos da criança e do
Comece a aula promovendo uma discussão
adolescente; escrever cartas às autoridades do
sobre necessidades e direitos, tal como proposto
município, do estado ou do governo federal;
acima para os alunos menores, utilizando
procurar o Juizado da Infância e Juventude, o
também o cartaz 1.
Conselho Tutelar, entre outros.
Em seguida, distribua reprodução do Texto 5,
Finalmente, proponha que, em grupos, criem
que traz mais algumas idéias sobre o significado
um poema ou canção sobre o que foi discutido
dos principais direitos da criança e do adolescente.
nessa aula. Se acharem difícil criar uma melodia,
Peça para fazerem uma leitura silenciosa e
podem criar uma letra para ser cantada numa
depois oral. Reúna-os em círculo e incentive-os a
melodia já existente. Incentive-os a escolher um
falar sobre os aspectos mais significativos.
gênero de sua preferência (fazendo, por exemplo,
Depois, converse sobre a efetivação desses um “Rock da cidadania”, um “Rap da cidadania”
direitos no bairro ou cidade: são garantidos a ou um “Samba da cidadania”...). Pronta a letra, é
todas as crianças e adolescentes? Por quê? Peça só sair por aí cantando, na sala de aula, na escola,
para levantarem hipóteses sobre a não- nas festividades do bairro ou da cidade...
observância desses direitos. Explique a quem
Como tarefa de casa, peça aos alunos para
cabe assegurá-los, segundo o Estatuto: a família,
conversar com avós, bisavós ou uma pessoa da
a comunidade, a sociedade em geral e o poder
comunidade com mais de 70 anos, perguntando
público. Registre as respostas na lousa,
sobre os tipos de brincadeiras de que mais
indicando que devem fazer o mesmo nos
gostavam de participar, quando eram crianças.
cadernos. Nesse momento, é importante
Devem descrever como era a brincadeira, em
encaminhar a discussão para aprofundar um
que lugar e com quem se brincava. Diga-lhes
pouco mais as razões das constantes violações
para registrar a conversa; o registro será usado
dos direitos das crianças e adolescentes (e
em aula a seguir.
mesmo dos adultos), retomando o que já foi
trabalhado nas aulas anteriores:
a experiência de mais de três
séculos de escravidão ajudou a
formar a idéia de que as elites e
governantes tinham/têm
privilégios, enquanto os setores
dominados da sociedade, apenas
deveres e obrigações, não sendo
considerados cidadãos portadores
de direitos. Essa situação tem se
17
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Retome com os alunos a pesquisa sobre porventura existentes na região. Combine com
brincadeiras, na geração dos avós e bisavós. eles o dia da visita e, se achar melhor,
Proceda como na orientação inicial para a acompanhe-os;
atividade com alunos menores, acima. Peça para grupos de estudo ou mesmo aulas de reforço
fazerem uma lista das brincadeiras em folha de para as crianças que abandonaram a escola
sulfite. Converse previamente com o/a professor/ devido a dificuldades com a leitura e escrita. Eles
a das séries iniciais, para acertarem a são capazes disso, com sua orientação e da
colaboração entre as turmas dos maiores e equipe escolar!
menores. Fale à classe sobre o Álbum de
brincadeiras, que pretende registrar fragmentos Para mobilizar os alunos, retome o gráfico que
da memória sobre brincadeiras antigas. Pergunte reproduziu em um cartaz, sobre crianças que só
se querem participar da elaboração do álbum, trabalham e não estudam. Lembre-os de que fa-
inserindo nele os registros da pesquisa que zem parte do grupo de jovens que permanece na
fizeram, de brincadeiras de outras gerações. escola e estão conseguindo exercer um importan-
Nesse caso, o álbum teria uma terceira parte: te direito, o direito à educação. É dever de cidada-
brincadeiras do tempo dos nossos avós. Assim, nia lutar para que esse direito seja estendido a
os alunos perceberão que, se cada geração todas as crianças e jovens de nosso país. Nesse
inventa novos modos de brincar e esquece caso, eles estarão contribuindo nessa luta e prati-
outros, há brincadeiras que permanecem vivas
cando um importante valor: a solidariedade!
por várias gerações, algumas durando séculos!
Depois, convide-os a escolher uma classe de
crianças pequenas para fazer algumas
brincadeiras do álbum com elas, no recreio ou
em dias de festa na escola. Diga-lhes para
contextualizar as brincadeiras, explicando quem
brincava (menino, menina ou ambos); se a
brincadeira era realizada em casa, na rua, no rio
ou em outro lugar; se era realizada no campo ou
na cidade. Os pequenos irão adorar!
Atuando como protagonistas: participando
da campanha “De volta à escola”. Sugestões de leitura
Certamente sua escola irá promover atividades
AZEVEDO, Jô, HUZAK, Iolanda, PORTO, Cristi-
envolvendo a comunidade, no desenvolvimento na. Serafina e a criança que trabalha. 12.ed.
do projeto sobre o trabalho infantil. É São Paulo: Ática, 2000.
importante que este não fique restrito ao espaço CIPOLA, Ari. O trabalho infantil. São Paulo:
escolar, para que seus resultados sejam mais Publifolha, 2001. (Coleção Folha Explica).
consistentes. Nesse sentido, convide os alunos a
DEL PRIORE, Mary (org.) História das crianças
participar de atividades extra-classe, sugerindo a no Brasil. São Paulo: Contexto, 1999.
eles algumas possibilidades, como estas:
MATTOSO, Kátia Q. Ser escravo no Brasil. São
levantamento, junto à secretaria da escola, dos Paulo: Brasiliense, 1988.
alunos que abandonaram os estudos durante RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia
esse ano letivo; localização dos endereços; da cidade disciplinar; Brasil, 1890-1930. Rio
seleção de alguns deles, cujo endereço seja de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
próximo do local de moradia dos alunos; SILVA, Aracy L., GRUPIONI, Luís D. B. (orgs.) A
organização da classe em grupos, para visitas às temática indígena na escola: novos subsí-
famílias desses ex-alunos; preparo da visita dios para professores de 1º e 2º graus. Bra-
(conversa sobre as razões da desistência da sília: MEC; MARI; UNESCO, 1995.
escola e incentivo para retornar à mesma); caso SILVA, Maria Alice S.S., GARCIA, Maria Alice
a evasão tenha se dado por razões de trabalho, L., FERRARI, Sônia C. M. Memória e brinca-
orientar os alunos para informar as famílias deiras na cidade de São Paulo nas primeiras
sobre possibilidades concretas de retirada das décadas do século XX. São Paulo: Cortez;
crianças do trabalho, por meio do acesso a CENPEC, 1989. (Biblioteca da Educação,
programas como Bolsa-Escola e outros Série Escola, v.7)
19
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Português
Sendo a linguagem, oral e escrita, um veículo
privilegiado de formação do cidadão, no
currículo escolar a área de Português é
extremamente rica para a conscientização de
crianças e jovens sobre questões tão
relevantes como o trabalho infantil.
Acreditamos que o aprendizado da
linguagem se dá no seu uso social, na
interação entre as pessoas e no contato
prazeroso com o texto oral e escrito.
Assim, propomos algumas oficinas em que as
crianças e jovens irão desenvolver atividades
de fala, leitura e produção escrita nas aulas
de Português, mas incorporando as
produções resultantes do trabalho realizado
em outras áreas, tais como os registros de
pesquisas e entrevistas, análise de mapas,
gráficos, cartazes, fotos e outros textos. A
proposta é que as produções dos alunos nas
diferentes disciplinas, em torno do tema
Trabalho Infantil, sejam divulgadas durante o
desenvolvimento desse tema pela escola e em
um evento final, que poderá ser um evento
festivo e/ou uma pequena manifestação que
envolva a população local. Dessa forma,
crianças e adolescentes estarão produzindo
trabalhos com uma finalidade social, não
apenas como tarefa escolar.
Nesse sentido, sugerimos o
desencadeamento de uma campanha de
conscientização contra a exploração do
trabalho infantil, em que as informações que
forem sendo trazidas pelos alunos possam ser
divulgadas em jornais falados e em um jornal
mural, e que poderá culminar com uma
passeata no entorno da escola. Uma
campanha tem função mobilizadora, tanto
para os que a planejam e executam, como
para o público a que se destina. Propicia a
compreensão de problemas contemporâneos
e amplia a visão de mundo, contribuindo
para formar cidadãos ativos e participantes.
No jornal falado ou no jornal mural poderão
ser incorporadas os resultados das entrevistas
e dados coletados nas pesquisas realizadas
nas áreas de História e Geografia, bem como
as informações sobre questões de saúde
21
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
escrever, lendo e escrevendo para eles, num cartaz, que será afixado na parede da sala.
incentivando-os a descobrir o que está escrito e Depois, repita o mesmo processo para escolher
a escrever do jeito que sabem. o nome do jornal.
O jornal mural não requer muitos recursos.
Basta reservar um espaço, que pode ser
Produção, diagramação, edição
delimitado em uma parede. Para elaborá-lo, Um bom encaminhamento é dividir as seções
vocês vão precisar de: papel pardo e sulfite, lápis pelas turmas da escola. Cada tipo de texto irá
de cor, pincel atômico, tesoura, cola, fita adesiva exigir uma orientação específica do professor e
ou tachinhas. Se possível, é bom ter uma um tempo para que os alunos os elaborem.
câmera fotográfica para ilustrar algumas Dependendo do texto, poderá ser feito pela
matérias, mas elas podem ser ilustradas também classe toda, e o professor fará o primeiro
com desenhos. Se a escola possuir computador registro. Outros poderão ser feitos em duplas ou
para uso dos alunos, organize-os para que pequenos grupos e, depois, a classe escolhe os
possam digitar os textos. Se não houver que estiverem mais adequados ou bonitos para
computador, poderão datilografá-los ou passá- a publicação. Os alunos farão uma primeira
los a limpo com letra legível. versão que será revista antes de ser publicada.
Como o jornal mural irá envolver a escola toda Explique a eles que, como os textos se destinam
ou uma boa parte dela, outras áreas e outros à publicação, não poderão apresentar
professores, converse com eles antes de iniciar problemas de rasuras, ortografia, concordância
com os alunos e façam um planejamento etc. Uma vez acertada a forma ideal, eles
conjunto. Combinem um prazo (por exemplo, deverão “passar a limpo” o texto para publicá-
um mês) para que o jornal fique pronto e seja lo, isto é, afixá-lo no lugar combinado.
publicado. Com a turma, combine como será a
diagramação, ou seja, a disposição das várias
O nome e as seções do jornal seções no espaço reservado para o mural. Façam
antes, na lousa, um esquema da diagramação
Discuta com a (as) turma (s) quais seções o
escolhida pela turma. Os grupos responsáveis
jornal vai ter. Pode haver duas colunas de
pelas diversas seções deverão editar, isto é,
opinião: uma do jornal (o editorial) e uma do
revisar os textos recebidos, procedendo também
leitor (o espaço do leitor, com cartas que os
à adequação de tamanho para o espaço
alunos irão escrever). As demais podem ser
determinado pela diagramação. A equipe de
escolhidas por votação, mas, tendo em vista o
produção se encarregará da forma final (digitada,
tema, é importante que contemplem: Notícias
datilografada ou manuscrita, conforme os
locais; Notícias “do mundo” (do estado, país ou
recursos disponíveis), montagem e fixação das
mundo), Saúde, Cotidiano, Denúncias e uma
páginas (em geral, mediante colagem).
seção literária para histórias e poemas. Registre
na lousa as sugestões dos participantes e faça a
eleição das preferidas. Peça-lhes que registrem
os nomes das seções escolhidas no caderno e
23
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Atividade 3
exploração do trabalho infantil, com fotos, Jornal falado
desenhos etc.
Em geral, crianças e jovens não têm o hábito de
Finalmente, o jornal mural divulgará histórias e
assistir a noticiários na TV ou de ouvi-los pelo
poemas feitos pelos alunos e escolhidos por eles
rádio, pois dão preferência a outros tipos de
mesmos para compor o mural. Orientações para
programa. Portanto, é preciso que sejam
isso constam das Atividades 4 e 5, adiante.
incentivados a fazê-lo, em suas casas ou na
Criando manchetes para o jornal escola, para que observem como são
apresentados – pois é função da escola ampliar
O objetivo é que os alunos criem manchetes
o campo de conhecimento dos alunos.
para as notícias que irão publicar no jornal
mural. Explique-lhes que a manchete tem dupla Pergunte-lhes se assistem a noticíários de TV ou
função: anunciar o assunto tratado e atrair a se os ouvem pelo rádio; veja se já têm
atenção do leitor. Por isso, não deve ser muito conhecimento suficiente para montar um jornal
extensa. falado ou se precisam familiarizar-se mais com
esse tipo de programação. Se necessário,
Prepare com antecedência recortes de algumas
oriente-os para que observem os conteúdos e a
notícias de jornais sem os respectivos títulos ou
forma desses noticiários e depois comentem em
subtítulos. Organize os alunos em duplas,
sala.
distribua uma notícia para cada dupla, pedindo
que leiam com atenção e criem uma manchete Proponha-lhes então, que se organizem em
para ela. Depois, troque os recortes de jornais grupos para montar um jornal falado. A cada
de cada dupla e solicite que façam o mesmo semana, sempre no mesmo dia, um grupo se
com outra notícia. Assim, cada notícia receberá encarrega de apresentá-lo para o restante da
duas manchetes feitas por duplas diferentes. classe ou da escola. Neste projeto, o jornal
Cada dupla lê as notícias sobre as quais falado poderia ser apresentado em diferentes
trabalhou e apresenta sua manchete. Peça-lhes horários: na entrada e saída das aulas, no
que comparem as manchetes criadas para uma intervalo para a merenda, de forma que muitas
mesma notícia por diferentes duplas e apreciem pessoas pudessem ouvi-lo. Os alunos podem
todas as manchetes criadas. Em seguida, transmitir notícias sobre o trabalho infantil
entregue-lhes as manchetes originais para que (fatos ocorridos em sua localidade ou em outros
comparem com aquelas criadas por eles. Discuta lugares), comentar fatos (opinião do jornal),
as possíveis razões para as diferenças. O Texto 8 entrevistar pessoas sobre esse assunto. Podem
traz também exemplos de manchetes. Sugira usar como fonte os trabalhos que estarão sendo
que tentem imaginar o conteúdo das respectivas realizados nas disciplinas de História, Geografia
notícias. e Ciências.
25
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Atividade 4
Poemas
Para classes da 5a à 8a séries
O objetivo desta oficina é,
ao mesmo tempo, sensibilizar os
jovens para a problemática do
trabalho infantil e aproximá-los
da linguagem poética, para que
tenham prazer em ler e ouvir
poemas e para que se sintam
motivados a expressar suas
emoções recorrendo à linguagem TAREFAS DOMÉSTICAS (MENINA DE 5 ANOS) - RJ
futebol Mané Garrincha, que tinha as pernas classe toda, para que compreendam bem o que
tortas). está sendo proposto. Pergunte-lhes que imagens
poderiam criar para representar: o perigo
Em outra aula distribua o Texto 11, trazendo os
enfrentado pelas crianças, o abandono dos
poemas O moinho e o campo de golfe, de Sarah
estudos, a longa jornada de trabalho, o trabalho
N. Cleghorn e Trabalho Infantil é…, de Michael
forçado e sem remuneração, o trabalho no lixo,
J. Pasternak (em traduções livres do inglês).
o trabalho que exige muito esforço e
No primeiro, por meio de ironia, a autora responsabilidade. Por exemplo: um espinho no
mostra uma realidade absurda. Pergunte aos pé; o sonho roubado; um dia escuro; uma noite
alunos se conhecem situações semelhantes à sem fim; beleza tecida de dor. Com essas
relatada no poema. O poema Trabalho infantil imagens eles irão compor poemas sobre o tema.
é…usa diferentes imagens (metáforas) para Os poemas serão apresentados primeiro para a
representar o trabalho infantil: sombra na classe e os ouvintes farão apreciações e ajudarão
escuridão, amarelo-violeta de velhos a melhorá-los.
machucados, áspera gravata de seda, vestido
Alguns poemas serão escolhidos pelos próprios
tecido de dor… Chame a atenção dos alunos
alunos para publicação no jornal mural e os
sobre a beleza e a expressividade dessas
demais poderão ser divulgados de outra forma:
metáforas.
painéis, coletâneas etc. Mas, antes de serem
Em seguida, distribua os Textos 12 e 13, sobre publicados precisam ser revistos para que não
trabalho infantil no campo e nos centros apresentem erros.
urbanos. Verifique se entenderam os textos, se
há palavras desconhecidas. Peça que comentem
o assunto lido. Depois, divida a classe em sete Atividade 5
grupos e peça para cada grupo reler um trecho
referente a: trabalho no canavial, na carvoaria,
no sisal, na pedreira, no lixão, na rua e nas
Histórias, personagens e
residências. Peça aos grupos que tentem criar cenários
frases com imagens (metáforas, comparações
etc.) referentes ao assunto que estão lendo, As atividades propostas nesta oficina podem ser
assim como Michael J. Pasternak, dizendo de desenvolvidas da 1a à 8a séries, desde que se leve
um jeito poético o que está expresso no texto em conta as possibilidades dos alunos conforme
informativo. Inicialmente, crie algumas com a a idade e o nível de escolaridade. Os alunos que
ainda não estão
alfabetizados
podem participar
com idéias e
tentativas de escrita.
Podem expressar
oralmente suas
idéias para serem
registradas pela
professora ou por
colegas mais
adiantados.
O objetivo desta
oficina é que os
alunos escrevam
histórias. Mas, para
isso, é necessário
que aprendam a
criar cenários e
BARREANDO O FORNO - BA personagens.
27
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Ciências
As atividades aqui propostas visam
conscientizar os alunos sobre a prática do
trabalho infantil e suas possíveis formas de
erradicação, contribuindo para o projeto
pedagógico da equipe escolar. Será preciso
articular-se com os colegas de equipe,
principalmente os professores de História,
Arte, Português e Geografia, verificando o
que cada um estará abordando em suas
respectivas aulas, de modo a evitar
fragmentação (ou repetição) dos conteúdos.
Atitudes de repúdio à discriminação
preconceituosa de diferenças e a situações de
violência e autoritarismo devem ser
trabalhadas por meio do exercício
permanente dos direitos das pessoas, e das
crianças em particular, tomando-se como
referência o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Esta série de atividades
pretende contribuir para isso, mediante
estudo e reflexão conjunta. Sabendo que
toda atividade de sala de aula é única,
acontece em tempo e espaço socialmente
determinados, envolvendo professores e
estudantes que têm particularidades quanto
a necessidades, interesses e histórias de vida,
confiamos em que você saberá propor as
adequações necessárias a suas classes.
31
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
32
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
34
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
ATERRO DE JAGURUÇU - CE
conceito de reutilizar, que difere do conceito de pessoas considera sem utilidade Discuta ainda a
reciclar. Reciclar significa transformar os restos problemática do excesso de lixo, da falta de
descartados por residências, fábricas, lojas e espaço para depositá-lo – e da necessidade de
escritórios em matéria prima para a fabricação erradicar o trabalho infantil nesse espaço.
de outros produtos. Não importa se o papel está
Se for possível, a classe será ainda mais
rasgado, a lata amassada ou a garrafa quebrada,
sensibilizada assistindo ao documentário Ilha das
pois ao final tudo vai ser transformado em novos
Flores, com roteiro e direção de José Furtado
objetos e embalagens. Ao reutilizar, estamos
(1989)
dando nova utilidade ao mesmo produto. Ao
invés de descartar garrafas de plástico, podemos Depois, distribua o Texto 16 (É ruim ser criança)
transformá-las em vasinhos de plantas, porta- – ou leia-o para as crianças menores – e, após a
lápis, porta-trecos etc. Com essas questões em leitura, inicie uma discussão com os alunos: A
mente, proponha que, ao voltar para casa, os atividade de catar lixo é adequada às crianças?
alunos investiguem seu lixo doméstico. Deverão Por quê? Qual a função dessas crianças no lixão?
fazer uma lista do que vai para o lixo. Também A que riscos crianças catadoras de lixo estão
podem pesquisar, em casa, quanto lixo a família sujeitas? Quais as conseqüências desses riscos
produz diariamente. Os mais velhos poderão para a saúde?
fazer estimativas do volume (em litros) de lixo Ao discutir as conseqüências para a saúde,
recolhido em um dia e dividir pelo número de considere, além dos acidentes com objetos
pessoas que moram na mesma casa, chegando, cortantes, também a presença de lixo hospitalar
assim, ao valor de produção individual. e tóxico (se houver); informe aos alunos que a
Com o resultado das pesquisas em casa, a classe presença de todo tipo de lixo junto, hospitalar,
irá analisar o lixo produzido, separando-o em residencial e tóxico, aumenta em muito o risco
reciclável e não reciclável. Faça na lousa uma lista de contaminação das crianças que vivem da
dos itens que forem apontando, separando-a em coleta de lixo; em algumas cidades, o lixo
duas colunas, de lixo reciclável e de não- reciclável. hospitalar é coletado e tratado separadamente,
Usando a lista, discuta com os alunos os conceitos para evitar o risco de contaminação. Verifique se
de reciclar e reutilizar. Fale também das pessoas, isso acontece na sua cidade. Também reforce o
adultos e crianças, que conseguem sobreviver nos risco de transmissão de doenças por animais
depósitos de lixo catando o que a maioria das como moscas, ratos, pulgas e baratas.
35
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Durante a discussão, deve aparecer o risco de e gravidez mas, principalmente, por constituir
contrair o vírus HIV, doenças venéreas e o da uma forma extrema de exploração – e, em
gravidez indesejada, como mais comuns nesse muitos casos, de trabalho forçado e até de
trabalho. Encaminhe a discussão para enfatizar escravidão – da qual as crianças e adolescentes
as condutas preventivas (principalmente o uso não têm como se esquivar e em que são
de camisinha) e promover debate sobre submetidas a maus-tratos e extorsão.
obstáculos que dificultam a prevenção. Lembre a No Brasil, essa forma de exploração assume
classe que essa medida de prevenção deve ser proporções assustadoras; meninas e meninos
utilizada por todas as pessoas (e não apenas as são recrutados, muitas vezes enganando-se
que se prostituem), pois todas correm o risco de crianças e seus pais, por redes de tráfico
contaminação. Em relação à AIDs, evite tratá-la criminoso que alimentam o chamado turismo
como uma “doença que mata”, pois isso tem se sexual. A criança e o adolescente explorados
revelado contraproducente. Como é uma doença sexualmente com fins de prostituição são
para a qual ainda não se tem a cura, a principalmente vítimas dos adultos e, como tal,
mensagem fundamental é de que pode ser devem ser protegidos, resgatados, reabilitados e
evitada pelo uso de camisinha em todas as integrados na sociedade.
relações sexuais.
Divida a classe em grupos e sugira que criem
Além da promoção da saúde, conteúdos
cartazes com slogans sobre o que estudaram
importantes a serem trabalhados são a
(prevenção de doenças sexualmente
valorização da vida e o respeito ao outro (“Pense
transmissíveis, inclusive AIDS; necessidade de
o que significa na sua vida ter respeito pelo
combater atitudes discriminatórias e
outro. Você se lembra de alguma situação em
preconceituosas; e, principalmente essa forma
que se sentiu respeitado, valorizado e outra, em
extrema de trabalho infantil, que é a
que tenha sido desrespeitado?).
prostituição). A classe pode montar um painel
Conduza a conversa então para as atitudes coletivo sistematizando as idéias discutidas
frente às pessoas – especialmente às meninas e destacando o combate ao trabalho infantil,
meninos – que trabalham na prostituição. Esteja a proteção à saúde das crianças e a valorização
atenta/o para detectar e discutir o preconceito. da vida.
Esclareça o significado de preconceito e
discriminação, discutindo o preconceito explícito
e as formas veladas como se manifesta. Resgate
com os alunos algumas expressões
discriminatórias. Converse com a classe sobre
esses preconceitos e mostre a situação em que
as meninas prostitutas se encontram, vítimas de
todo o tipo de preconceito, sujeitas à violência
física e emocional, e expostas a sérios riscos à
saúde. Retome os Textos 17 e 14 (Direitos da
criança). Sugira que verifiquem quais direitos de
Rosa estão sendo violados, perguntando, Rosa
trabalha na prostituição porque gosta? Lembre
Sugestões de leitura
os alunos que Rosa, aos 13 anos, simplesmente DIMENSTEIN, Gilberto. Meninas da noite. São
não deveria estar trabalhando em coisa alguma. Paulo: Ática, 1997.
Contraponha essa idéia à última frase do texto, DIREITOS da criança. 7.ed. São Paulo: Ática,
sobre o maior desejo de Rosa. Que escolhas 1989. [Adaptaçao do texto da Declaração
essas meninas têm? Que oportunidades têm de dos Direitos da Criança proclamada pela As-
exercer seu direito à infância? sembléia Geral das Nações Unidas em 20
de novembro de 1959].
Para finalizar, fale um pouco sobre a Convenção
da OIT sobre as Piores Formas de Trabalho FURTADO, Jorge. Ilha das Flores. Porto Ale-
Infantil (p.8 do v.1), que incluem a exploração gre, 1989. [curta-metragem, 13 min.]
sexual infantil com fins de prostituição, ou HUZAK, Iolanda, AZEVEDO, Jô. Crianças de fi-
exploração econômica sexual da prostituição bra. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
infantil, que atinge não só meninas, mas REVISTA CLÁUDIA. São Paulo: Ed. Abril, p.21-2,
também meninos. Implica riscos enormes set. 1999.
(físicos, psíquicos e morais) não apenas da AIDS
37
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
PATRÃO (OU CAPATAZ) POSA PARA FOTO AO LADO DE SEUS OPERÁRIOS - FÁBRICA BANGU. RIO DE JANEIRO - RJ (1907)
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Geografia
O objetivo destas atividades de Geografia é
refletir sobre o trabalho infantil no território
brasileiro, buscando identificar diferenças
regionais e as várias formas de trabalho
infantil mais freqüentes em cada região – e
desenvolver, nos alunos, habilidades de
construção e leitura de mapas e gráficos. Esse
estudo, porém, sempre toma como ponto de
partida as instâncias mais próximas das
crianças – a casa, a escola, o município.
Estas atividades pretendem integrar-se ao
conjunto das realizadas em outras disciplinas
e em toda a escola. Procure valorizar o
espaço público, a escola, os centros
comunitários como locais privilegiados para
ampliar o debate sobre a erradicação do
trabalho infantil.
ICONOGRAPHIA
39
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Atividade 3
O trabalho infantil na
comunidade
Objetivo: Obter dados e informações a respeito
das atitudes para com o trabalho infantil na sua
comunidade.
Material necessário: papel, lápis, borracha,
régua, cartolina e recortes de jornais e revistas.
2) Qual a sua opinião sobre o trabalho infantil? 9) A sua comunidade já promoveu alguma
Criança deve trabalhar? atividade para defender os direitos das
3) Por que existe o trabalho infantil? crianças e adolescentes?
4) Quais as conseqüências para as crianças que 10) Na sua opinião, em que idade a criança
trabalham muitas horas por dia? deve completar sua educação? Em que
idade deve ser permitido que a criança
5) Qual a sua opinião sobre o papel dos comece a trabalhar?
governos no combate ao trabalho infantil?
11) Sua escola ou a do seu filho organizou
6) Na sua opinião, como a sociedade deveria se alguma atividade relacionada aos direitos
organizar para ajudar a acabar com o da criança e do adolescente, ou ao trabalho
trabalho infantil? infantil?
Peça aos alunos para anotar as respostas de 12) Conhece alguma organização local,
maneira organizada nos cadernos. nacional ou internacional que atua na
Após a pesquisa, forme grupos para que defesa dos direitos das crianças?
discutam e comparem as respostas obtidas. Em 13) O que o sr(a). pode fazer para contribuir
seguida, anote os resultados na lousa, em forma para o fim do trabalho infantil?
de relatório, e incentive comentários. Peça que
Após a pesquisa, proponha aos alunos a
copiem e ilustrem o relatório em seus cadernos.
elaboração de cartazes com tabelas e gráficos de
Ainda em grupos, peça que criem pequenos barras dos dados obtidos (se necessário, peça a
cartazes com frases (que podem ser ilustradas colaboração do professor de Matemática).
com colagem ou desenho) sobre as principais Promova a discussão coletiva dos resultados,
conclusões a que chegaram após as entrevistas: relembrando o que estudaram sobre
opiniões sobre trabalho infantil, por que “justificativas” para o trabalho infantil em
crianças trabalham, por que não devem História e Português.
trabalhar em hipótese alguma, o papel do Finalize essa atividade solicitando à classe que
governo e da sociedade em combater o trabalho escreva uma carta sobre os direitos das crianças,
infantil. Organize uma exposição dos cartazes as conseqüências do trabalho infantil na vida
no pátio da escola, não esquecendo de reservar delas e cobrando providências para sua
alguns para expor no evento final. eliminação. Com auxílio do professor de
Português, proceda à revisão do texto coletivo.
Para classes da 5a à 8a séries Envie cópias dessa carta a representantes como
vereadores da cidade, deputados estaduais e
Adote os mesmos procedimentos acima para federais, de Conselhos Municipais e do
fazer a pesquisa. Se preferir, acrescente Ministério Público.
questões, para ampliar o debate sobre o tema:
7) O sr(a). conhece ou já ouviu falar do ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente)?
8) Conhece os direitos das crianças? Quais?
Sugestões de leitura
ALMEIDA, Rosângela D., PASSINI, Elza Y. O es-
paço geográfico: ensino e representação.
São Paulo: Contexto, 1991.
KUPSTAS, Márcia (org.) Sete faces da escola.
São Paulo: Moderna, 1998.
43
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Arte
As oficinas a seguir foram pensadas em uma
visão do ensino de arte como linguagem e
como área do conhecimento humano. A arte,
patrimônio cultural da humanidade, não só
nos faz entender o passado; também
ressignifica o presente e antecipa o futuro:
esse mundo que ainda não é, mas pode vir a
ser, torna-se real nas pinturas, filmes,
histórias em quadrinhos, na música, no
teatro, enfim em toda as linguagens
artísticas. Dessa forma, quem sabe, formando
cidadãos mais conscientes e críticos, talvez
possamos, também através da arte,
sensibilizá-los a serem os transformadores da
sociedade, naquilo em que mudanças se
fazem urgentes.
Assim, as oficinas aqui propostas não se
resumem a um simples fazer, lazer ou à
produção de objetos supostamente artísticos,
mas visam levar os alunos a refletir sobre as
questões propostas, pretendendo que essa
reflexão sobre a erradicação do trabalho
infantil não se esgote na sala de aula, mas se
estenda ao dia-a-dia dos envolvidos.
É importante que você converse com os
professores dos outros componentes
curriculares, como Ciências, História,
Geografia, Língua Portuguesa, que também
estarão trabalhando neste projeto, para que
seu trabalho seja mais rico e para garantir
que os alunos já tenham discutido e
aprofundado, nessas disciplinas, a questão
do trabalho infantil. É imprescindível a leitura
atenta, consciente, do volume 1.
Estas atividades podem ser desenvolvidas
com alunos a partir da 1a até à 8a oitava série,
mudando apenas o grau de profundidade
com que cada conteúdo será trabalhado.
O tempo destinado a elas será idealmente de
no mínimo duas horas-aula, podendo ser
ampliado ou reduzido de acordo com as
necessidades, idade e interesse da classe.
Os materiais sugeridos podem ser ampliados
utilizando-se recursos da própria região,
como tintas feitas a partir de flores, folhas,
pedras, terra, pigmentos, etc.; bem como os
pincéis feitos com fibras, etc.
45
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
47
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
detalhe ou mudar alguma cor do logotipo, já e mistura de tintas, assim como papel toalha ou
que agora o trabalho não é mais individual, mas tecido velho para limpeza dos pincéis. Oriente os
do grupo, isso só poderá ocorrer com a alunos na obtenção das cores que necessitarem
concordância do autor do desenho, que deverá e na pintura em geral. Você pode também optar
argumentar sobre as razões que o levaram a por colagem se achar mais produtivo e mais de
determinada escolha; assim também deverá acordo com o nível dos alunos; para tanto,
fazer a equipe, justificando a mudança. Auxilie- distribua papéis coloridos, revistas velhas,
os na busca de consenso. tesoura e cola. Nada impede, também, que o
Dê-lhes algum tempo para pensar e rascunhar o grupo utilize uma técnica mista: por exemplo, o
projeto do cartaz, que deverá obrigatoriamente desenho pintado e as letras do texto, recortadas
conter o logotipo escolhido e tantas outras de jornais ou revistas e coladas sobre o guache.
imagens quantas o grupo decidir, o mesmo Terminados os trabalhos, converse com a classe
valendo para o texto. Lembre-os, porém, que um sobre como foi trabalhar em equipe, se os
out-door é visto muito rapidamente, por pessoas cartazes divulgam bem a idéia do grupo e o
que têm pressa, estão no automóvel, no ônibus, significado da campanha, se as pessoas que os
no horário de almoço, voltando para casa, virem se sentirão atraídas por eles. Discuta
portanto, esse cartaz deve conter um máximo de também sobre questões estéticas – a
informações num mínimo de texto. Alerte-os composição, ocupação do espaço, utilização das
sobre a importância da imagem! Quem tem cores, a pintura, se os cartazes são inovadores,
pressa não tem muito tempo para ler, mas as como foi a escolha das imagens, do texto e
imagens, mesmo que de relance, são vistas e também sobre a arte enquanto representação de
podem influenciar as pessoas. idéias, enquanto algo que tem significado.
Conte-lhes também que muitos out-doors agora Converse com os alunos sobre os pontos mais
já não respeitam mais o limite do retângulo movimentados da escola e, junto com eles,
original: apresentam imagens que parecem coloquem os cartazes espalhados pelos locais
saltar para o espaço, rompendo com as regras onde passam mais pessoas.
tradicionais e, portanto, mais uma vez,
chamando a atenção de quem passa. Incentive-
os a serem criativos, ousados, originais!
Determine um tamanho padrão para
os cartazes (120cm x 80cm, por
exemplo, ou maior), ensine-os a
colar as folhas de papel pardo ou
cartolina por trás, com fita
crepe até alcançar o tamanho
estipulado. Oriente os alunos
na ampliação dos desenhos,
execução das letras do texto e,
principalmente, na
composição do cartaz.
Se você estiver
trabalhando com as
séries iniciais, leve o
papel já colado, pronto
para receber o desenho e
auxilie as crianças na
execução do mesmo. Não
exija dos pequenos algo
muito elaborado; você pode também
diminuir o tamanho do cartaz e trabalhar com
pintura a dedo ou colagem. O importante é que
todos participem.
Nas classes com alunos maiores, distribua
guache, pincéis, copos descartáveis para água
48
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
50
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
pouco de tudo que já foi falado nas outras depois das colocações feitas pelos colegas etc.
aulas, traga mais idéias a partir da leitura do Chame outro grupo para se apresentar e
volume 1. proceda da mesma maneira, até que todos
Converse com os alunos pedindo para que cada tenham se apresentado.
um fale sobre algum comercial de TV do qual Finalmente, se tiver filmado os comerciais,
gostou, ou que achou criativo, não esqueceu, e mostre-os à classe.
pergunte por quê. Diga você também o seu.
Peça-lhes também para comentar algum Lembre-se: todas essas atividades poderão, se os
comercial que tenham achado horroroso e que alunos quiserem (pois não se pode forçá-los,
digam por quê. Explique que um comercial deve principalmente nas apresentações de música e
influenciar as pessoas: elas deverão acreditar teatro, quando alguns poderão sentir-se
naquilo que os atores estão dizendo. Lembre constrangidos), formar parte do evento que
ainda aos alunos que um comercial é muito marcará o final do projeto na escola, de
rápido; portanto, em alguns segundos ou conscientização sobre a necessidade da
minutos, terão de dar seu recado! erradicação do trabalho infantil. Assim,
poderiam ser convidados a ver o trabalho dos
Divida a classe em grupos de, no máximo, seis alunos os pais, famílias, a comunidade,
pessoas e dê-lhes tempo para pensar e ensaiar funcionários da escola etc. Integre-se aos demais
seu comercial. Circule entre os grupos, professores da equipe escolar para a
orientando-os e esclarecendo dúvidas. Ofereça- organização desse evento.
lhes, se possível, material de apoio (tecidos,
papéis, cartolinas, tesoura, cola, tintas, pincéis,
pois pode ser que alguém queira fazer um
chapéu, um bigode postiço...).
Se o grupo quiser, poderá também utilizar o
jingle criado na aula anterior, como fundo
musical, e o logotipo como elemento do cenário.
Incentive-os quanto ao uso, assim, a campanha
vai ficando cada vez mais marcante, sonora e
visualmente.
Apresentando o comercial
Sorteie a ordem de apresentação dos grupos.
Referências bibliográficas:
Divida novamente a sala em palco e platéia – e AZEVEDO, Jô, HUZAK, Iolanda, PORTO, Cristi-
diga-lhes que, agora, estão na TV! na. Serafina e a criança que trabalha. 12.ed.
Se for possível dispor de uma filmadora, seria São Paulo: Ática, 2000.
excelente gravar os comerciais. BOAL, Augusto. Duzentos exercícios e jogos
para o ator e o não-ator com vontade de
Assim que cada grupo apresentar seu comercial, dizer algo através do teatro. São Paulo: Ci-
incentive a platéia a aplaudir. O esforço dos vilização Brasileira, 1983.
alunos deve ser recompensado. Deixe o grupo
BRASIL. Ministério da Educação e do Despor-
ainda no palco, enquanto você comenta com a
to. Parâmetros curriculares nacionais: Arte.
platéia se esta entendeu o que os “artistas”
Brasília, 1996.
queriam dizer, se as falas, os gestos, os
movimentos, a ocupação do espaço etc. foram MARTINS, Mírian C. F. D., PICOSQUE, Gisa,
GUERRA, M. Terezinha T. Didática do ensi-
adequados, se deu para ouvir bem, se ficou clara
no de arte: a língua do mundo; poetizar,
a idéia sobre a erradicação do trabalho infantil,
fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.
se a platéia quer fazer alguma pergunta ao
grupo. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação.
Coordenadoria de Estudos e Normas Peda-
Passe a palavra aos alunos que se apresentaram gógicas. Proposta curricular para o ensino
para que respondam às dúvidas da platéia. da educação artística: 1o grau. São Paulo,
Pergunte-lhes como foi trabalhar em equipe, se 1991.
foi fácil criar a cena, se alguém não se sentiu à SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São
vontade, se sentiram falta de material, se Paulo: Perspectiva, 1982.
gostariam de alterar algo em sua apresentação
51
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Textos para
reprodução
para os alunos
A seguir encontram-se os textos a ser
utilizados nas atividades das várias
disciplinas, arranjados de modo a facilitar sua
cópia (xerox) e reprodução para os alunos.
Lembramos que, no caso de páginas que
contêm dois textos, você pode optar por
destacar e distribuir apenas o que for ser
utilizado em determinada aula, guardando as
cópias do outro para a aula seguinte.
52
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Dimensionando o trabalho que o Brasil entrasse nos anos 90 com um dos pio-
res desempenhos entre os países do Terceiro Mun-
História – Texto 2
Distribuição das crianças e adolescentes (10-14 anos) que trabalham segundo o sexo e grandes regiões, Brasil, 1999
53
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Português – Texto 9
Meninos carvoeiros
Manuel Bandeira (Petrópolis, 1921)
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os
recolhe, dobrando-se com um gemido)
Manchetes
Português – Texto 10
Pivete
Francis Hime e Chico Buarque de Holanda
No sinal fechado
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Meio se maloca HIGIENE MATINAL NA CARVOARIA. ÁGUAS CLARAS - MS
59
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
Ciências – Texto 15
O trabalho no sisal
Já é meio-dia e Éris começou às 7 da manhã.
As pernas, sob o calção curto, estão cheias de fe-
ridas pelo contato com as folhas cortantes e seu
suco. Enxames de moscas pousam sobre elas. O
cabelo de Éris é todo avermelhado nas pontas, de
Ciências – Texto 14 tanto sol na cabeça, mas vida de cambiteiro é as-
sim mesmo: pega a palha e leva no burro; traz
Declaração dos direitos fibra descascada e ajuda a mãe a estender nos
jiraus, para que seque. Dá duro e já aprendeu a
da criança não reclamar, embora tenha 7 anos.
(Extraído de Huzak & Azevedo, Crianças de fibra, 2000,
p.132-4)
Toda criança, independente de sexo, cor, raça,
religião, origem nacional ou social, ou qualquer ou- Depoimento de Paulo Sérgio, menino trabalha-
tra condição, sua ou de sua família, tem direito a: dor em cultura de sisal, Bahia:
1 desenvolver-se física, mental, moral, espiritual Comecei como cambiteiro aos 4 anos. Com 16
e socialmente de forma sadia, em condições cortava sisal. Meu pai sevava. Quando ele mor-
de liberdade e dignidade; reu, tive de fazer o serviço. Um dia, uma fibra
2 receber um nome e uma nacionalidade, desde embolou o motor. Bati nela e ela prendeu meus
o nascimento; dedos. O problema não foi só a dor, mas a falta
que a minha mão faz.
3 crescer e criar-se com saúde, tendo alimenta-
ção, habitação, recreação, cuidados, proteção O sisal dá muito trabalho e pouco dinheiro para
e benefícios da previdência social; quem produz. Se não destocar, enche de mato.
Cortar é perigoso por causa das cobras no miolo
4 receber cuidados especiais no caso de incapa-
da planta e as pontas das folhas podem bater no
cidade física, mental ou social;
olho e furar. Carregar, botar, sevar, estender para
5 crescer em ambiente de afeto e segurança, secar: tudo é longe. Tem de andar muito, com
moral e material, propiciado pelos pais e pela peso, no sol quente. Depois as escolas são distan-
sociedade; tes, tem de andar mais.
6 receber educação gratuita, em condições de (Extraído de Huzak & Azevedo, Crianças de fibra, 2000,
igualdade de oportunidades; p.135-9)
7 brincar e divertir-se;
8 estar entre os primeiros a receber proteção e
socorro, em quaisquer circunstâncias;
9 ser protegida contra abandono, violência, trá-
fico, ou exploração pelo trabalho;
Não será permitido à criança empregar-se an-
tes da idade mínima conveniente; de nenhu-
ma forma será levada a ou ser-lhe-á permitido
empenhar-se em qualquer ocupação ou em-
prego que lhe prejudique a saúde ou a educa-
ção ou que interfira em seu desenvolvimento
físico, mental ou moral.
10 ser protegida contra toda e qualquer forma de
discriminação, crescendo em ambiente de to-
lerância e amizade entre os povos.
(Adaptado da Declaração dos Direitos da Criança,
aprovada na Assembléia Geral das Nações Unidas em 20
de novembro de 1959)
61
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.2
É ruim ser criança “É muito ruim ser criança”. Ela se sai mal quando
o caminhão chega. (...) “Porque tem muita gente abes-
tada mesmo, que não pode ver a gente pegar uma
Cabelo escorrido, magrinha, pele morena, roupas lata, que pode até matar por isso. (...) As crianças
puídas e sandálias de borracha, Ionara Oliveira Alves, catam com a mão, com paus. Perigoso. Uma amiga
11 anos, vive do lixo do Janguruçu, em Fortaleza. minha não viu um caco e cortou a mão. Depois tem
Metade das mil pessoas que aqui trabalham são mu- esse movimento de caminhão, trator, tudo em cima,
lheres, adolescentes e crianças. muito perigoso. Um menino morreu atropelado; e
Janguruçu fica a 10 quilômetros da cidade. O ater- uma mulher, buchuda, o trator passou em cima”.
ro recebe 3 000 toneladas de lixo residencial, hospi- Os catadores fazem as refeições no meio da sujei-
talar e entulhos por dia. (...) ra, com milhares de moscas e outros insetos em vol-
Ionara se matriculou na escola, por isso só vai para ta. Normalmente, levam marmita e água de casa, para
a rampa aos sábados e domingos. Procura brinque- não se sujeitar ao preço dos barraqueiros. Alguns, na
dos, mas cata “outras coisinhas”. Com isso, ajuda nas ânsia de garantir mais produção, trabalham à noite,
despesas com a alimentação. São nove pessoas em iluminados por lamparinas de querosene, feitas com
casa. (...) A renda dessa família chega no máximo a latas velhas e trapos.
um salário mínimo por mês. “Tem criança virando a noite. Eu já trabalhei de
Logo na entrada, perto das balanças, a sensação é noite. Mas é muito ruim, não dá pra dormir nada de
angustiante. Nuvens de moscas colam na pele, o calor madrugada. A gente se ajeita em cima de um pape-
é insuportável, misturado aos gases da fermentação lão, perto dos fardos. Mas pode pegar um fuscão:
do lixo e do chorume, que escorre pelos barrancos para tem uns meninos que jogam aquele pó preto que vem
o rio Cocó. O mau cheiro sufoca. Há restos de tudo, no lixo, ou então pó de pneu queimado. A gente
inclusive seringas, agulhas e frascos de soro. (...) amanhece preta dos pés à cabeça. Já aconteceu co-
Centenas de catadores se atiram sobre o lixo, assim migo. Se quiser dormir um pouquinho, tem de botar
que cada veículo [caminhão] chega. Roupas sujas em papelão em cima”.
frangalhos, calçam sapatos díspares encontrados no Os catadores não têm condições de pensar no fu-
meio dos “bagulhos” e cobrem a cabeça com camise- turo. Ionara resume: “Quando eu vinha aqui todo dia,
tas e trapos. Disputam o entulho (...) num trabalho pensava: vou dormir. Dormia, acordava, estava a mes-
contínuo de vasculha-acha-separa-amontoa-carrega. ma coisa. Quando brinco com os brinquedos que acho
A briga é desigual: os homens são mais agressivos por aqui, eu finjo que sou dona de casa e que minha
e pegam maior quantidade de materiais. As crianças amiga também tem uma casa. Eu sonho”.
acabam ficando na retaguarda, esperando que sobre (Extraído de Huzak & Azevedo, Crianças de fibra, 2000,
alguma coisa para amontoar e vender aos “deposei- p.80-5)
Prostituição infantil
anos. Desde os 13 a menina se prostitui. Sem dinhei-
ro e sem emprego, ela aceitou a proposta de um ho-
mem com quase o triplo da sua idade para fazer sexo
por dinheiro. Recebeu dez reais pelo programa e pas-
Andréia Peres
sou a ir sempre para a praça.
Seja no mangue, no lixo, seja na roça, o trabalho “Tem alguns clientes que eu não agüento nem ver.
infantil é terrível – e condenável – em qualquer uma Tampo o rosto para não olhar e transo assim mes-
de suas formas. A Organização Internacional do Tra- mo”, diz a menina, que coleciona fotos e pôsteres do
balho, no entanto, classificou na sua última conven- Ronaldinho e parou de estudar na quarta série.
ção algumas atividades como piores do que outras e Sua mãe sabe de tudo; não concorda com o tipo
incluiu a prostituição na sua lista de trabalhos que de trabalho da filha, mas não o reprime. Rosa vive
precisam ser urgentemente erradicados. O Piauí é um numa casa de pau-a-pique, sem energia elétrica, em
dos estados brasileiros em que a prostituição infantil Timon, na fronteira do Piauí com o Maranhão. Seus
é mais escancarada. Na Praça da Bandeira, uma das cinco irmãos e a mãe sobrevivem com o salário míni-
principais de Teresina, uma dezena de prostitutas me- mo que seu padrasto recebe. Com o dinheiro que
ninas disputam clientes em plena luz do dia. Algu- ganha na rua, a menina compra roupa, calçados e,
mas delas vendem café por 25 centavos, para disfar- de vez em quando, comida. Seu maior desejo é arru-
çar, mas a maioria nem se preocupa com isso. mar emprego numa casa de família.
(...) (Extraído de Revista Cláudia, p.21-2, set. 1999)
62
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Geografia – Texto 19
Trabalho infantil nas regiões do Brasil
Atividade econômica Tarefas geralmente Condições de trabalho a que estão submetidos
executadas adultos e crianças
Região Norte
Indústria de móveis, Serrar, lixar, pintar madeira; Ambiente insalubre, exposição a ruído e pó, falta de
madeireira colagem de lâminas; limpeza, equipamentos de proteção, contato com produtos
coleta de pó de serragem; tóxicos; falta de registro na carteira de trabalho
carregar e empilhar
Pecuária Limpeza dos currais, ordenha Jornada excessiva de trabalho, transporte de carga
e alimentação dos animais excessiva; falta de registro na carteira de trabalho
Olarias Coleta do barro, transporte de Ambiente insalubre: galpões úmidos, polias e
lenha para alimentação do máquinas sem proteção; ritmo de trabalho acelerado e
forno repetitivo; jornada excessiva, falta de registro na
carteira de trabalho
Engraxate Atividade autônoma em ruas, Longos percursos em busca de clientes, má
praças, bares, pontos de alimentação, trabalho em locais de risco ou proibidos,
ônibus como bares e boates
“Lixão” Seleção de lixo reciclável para Atividade informal com jornada ininterrupta, praticada
venda, seleção de alimentos e geralmente com a família; risco de contrair doenças e
objetos para uso próprio de atropelamento por caminhões
Extrativismo Coleta e transporte da Jornada excessiva; trabalho familiar realizado na
castanha floresta, sujeito a longas caminhadas
Fonte: Mapa de indicativos do trabalho da criança e do adolescente (Brasil, 1999) .
63
Geografia – Texto 19 (continuação)
Região Nordeste
Fumicultura Plantio, colheita, secagem, Jornada excessiva, manuseio de agrotóxicos; falta de
ensacamento registro na carteira de trabalho
Venda de jornais, Em vias públicas, Trabalho perigoso, noturno; remuneração por
distribuição de principalmente em produção
folhetos cruzamentos
Agricultura canavieira Plantio manual, queima do Não-fornecimento de água potável nem alimentação,
canavial, corte e carregamento falta de instalações sanitárias; transporte em veículos
da cana; inadequados, jornada excessiva
Cultura do sisal Uso de máquina para Ruído e pó excessivos, máquinas sem proteção;
desfibramento, corte e jornada longa, falta de registro na carteira de trabalho
transporte da fibra
Região Centro-Oeste
Coleta de papel e Recolhimento em carroça, Trabalho insalubre, transporte de peso, risco de
papelão com ou sem animal (de lixos acidentes de trânsito; baixa remuneração
de escritórios, órgãos
públicos etc.)
Produção de Manutenção e alimentação dos Trabalho noturno, jornada excessiva, remuneração por
carvão vegetal fornos, ensacamento, corte de produção; exposição a variações bruscas de
lenha, carregamento temperatura
Agricultura Limpeza, plantio, colheita, Uso de instrumentos cortantes, manuseio de
transporte de carga excessiva agrotóxicos; jornada excessiva, transporte
inadequado, falta de registro na carteira de trabalho
Região Sudeste
Extração de pedra Extração, corte, polimento e Insalubridade, perigo de acidentes, jornada excessiva,
brita, mármore e carregamento de pedra falta de condições sanitárias, trabalho a céu aberto
granito
Cafeicultura Colheita, transporte Cargas e jornada excessivas; falta de registro em
carteira de trabalho
Agricultura canavieira Plantio manual, queima do Não fornecimento de água potável e alimentação, falta
canavial, corte e carregamento de instalações sanitárias; transporte em veículos
da cana inadequados, jornada excessiva
Construção civil Ajudante de pedreiro, Falta de de água potável, excesso de peso; jornada
carregamento de entulho em excessiva, falta de registro na carteira de trabalho
carrinho de mão
Região Sul
Extração do calcário Corte, beneficiamento e Falta de máscaras, de protetores para o ouvido;
polimento jornada excessiva
Avicultura Abate, tratamento; coleta e Falta de registro na carteira de trabalho, jornada
embalagem de ovos excessiva
Indústria calçadista Colagem da sola, limpeza com Trabalho feito em casa ou em fábricas pequenas, sem
produtos químicos, lixamento controle de jornada de trabalho; exposição a produtos
e pintura tóxicos, falta de proteção contra riscos à saúde
Cultivo de pinus Plantio, corte, extração de Falta de água potável, transporte inadequado; jornada
resina excessiva, falta de registro na carteira de trabalho.
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ILUSTRAÇÃO: LUIZ MAIA