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mercadorias, são afetadas pelos usos do comércio: caixas, engradados, fardos, cestas,
sacos pipas, tonéis, latas, pacotes, tambores, etc. Assim, o mau acondicionamento, de
um modo geral, é aquele que não está de acordo com os usos e costumes do comércio,
cabendo, porém, distinguir entre o acondicionamento impróprio e o acondicionamento
insuficiente: o primeiro é o que não condiz com a natureza da mercadoria, ou contém
fatores capazes de prejudicá-la, quando, por exemplo, têm-se sacas com resíduos de
substâncias mal cheirosas ou peçonhentas, caixas com pregos ou arestas salientes
internamente, etc. Já o acondicionamento é tido como insuficiente quando:
[a] não está em condições de resistir aos embates, compressões e demais fatores
de perdas e avarias inerentes ao transporte marítimo, bem como
[b] às manipulações de carga e descarga, assim como à duração e contingências
normais da viagem, do mesmo modo que também é insuficiente
[c] o acondicionamento que permite retirar do volume o seu conteúdo, ou parte
dele, ou que enseja o escoamento da mercadoria durante a viagem, ou não
resiste ao peso dos objetos que contém, ou peso de outros volumes que
poderão lhe ser sobrepostos na estiva ou empilhamento regulares, ou não
preserva suficientemente as coisas embaladas de quebra, amolgamento,
rachaduras, etc”9.
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Atrasos na viagem e vício próprio
Quando o vício próprio da mercadoria segurada é decorrente de atraso na viagem, os
prejuízos não estarão amparados pelo contrato, pois as Cláusulas A, B e C excluem os
danos atribuíveis ao atraso, mesmo que conseqüente de risco coberto, a única exceção da
excludente[subitem 4.5 da Cláusula A, por exemplo] contemplando apenas e tão-somente
as despesas exigíveis em conseqüência de avaria grossa.
Por ocasião da reformulação das cláusulas de carga, nos anos oitenta, a UNCTAD dirigiu
críticas ao mercado londrino pela inexistência de cobertura para danos decorrentes de
atraso; contudo, tal excludente, que já figurava no Art. 55[2][b], do Marine Insurance Act,
de 1906, foi mantida, postura que se justifica, pois, segundo Liberto, “constitui propósito
primário do seguro sobre mercadorias proteger o segurado contra “perdas fortuitas” e
resulta claro para os comerciantes em mercadorias perecíveis[sujeitas a entregas em
determinados lugares e datas exatas] que as contingências com respeito às mesmas
correspondem a “riscos comerciais”. A cobertura desses “riscos comerciais” não resulta
conveniente que seja incorporada ao clausulado, dado que obrigaria os seguradores a
sobrecarregar os prêmios com o aumento dos custos para a maioria dos segurados, que
não exigem a cobertura de atraso para seus carregamentos”12.
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Vício próprio de outra mercadoria
Como regra de interpretação e decisão de amplo alcance nas regulações de sinistros, é
imperioso que tenhamos em mente aquilo que, de forma lapidar, afirma Campos, ou seja,
de que “o vício próprio, como a má qualidade, só se entendem em relação às
mercadorias que deles padecem”16.[grifos meus]
Isto significa que, mesmo no caso de uma mercadoria sujeita ela mesma a vício próprio, se
o dano que lhe atingir for proveniente do vício próprio de outra mercadoria, a apólice
responderá por ele; em outros termos, o segurador deve responder pelo sinistro causado
pelo vício próprio de outra mercadoria, como é o caso do incêndio causado pela
fermentação ou combustão espontânea, ou, ainda, se farinhas ou frutas, por exemplo,
forem atacadas, durante a viagem, por insetos provenientes de outras farinhas, ou outras
frutas embarcadas com infestação, etc. Em tais circunstâncias, o segurador não estará
chamando sobre si a responsabilidade pelo vício próprio, mas, sim, pelo sinistro que tenha
tido como causa o vício próprio.
5
1
Halperin, I., Seguros, Ed. Depalma, Buenos Aires, 1976, pgs. 591.
2
Brown, R. H., Marine Insurance - Cargo Practice, volume 2, Ed. Witherby, Londres, 1979, pgs. 101.
3
Vide, por exemplo, o subitem 5.1 da Cláusula “A”, do Instituto dos Seguradores de Londres.
4
Campos, J.V., Da Avaria Particular no Direito Nacional e Internacional, Edit. Revista Forense, Rio de Janeiro, 1952, pgs.
77.
5
Ob. cit., pgs. 85.
6
Ob. cit., pgs. 85.
7
Idem, pgs. 85/86.
8
Idem, pgs. 86.
9
Ob. cit., pgs. 86, 91/92.
10
Apud Campos, J.V., ob. cit., pgs. 110.
11
Ob. cit., pgs. 81/82.
12
Liberto, Dante Di, Manual de Seguros de Transporte Marítimo, Editora do Autor, Lima, Peru, 1983, pgs. 248/9.
Esclarece Liberto que, para se cobrir as eventualidades descritas[danos decorrentes de atraso], os eventuais
interessados poderão recorrer a mercados de seguros especializados, por exemplo em Londres.
13
Ob. cit., pgs. 88.
14
Ob. cit., pgs. 88/89.
15
Ob. cit., pg. 90.
16
Idem, pgs. 86.