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Recomendações gerais para o dimensionamento dos postos de trabalho

Introdução

As recomendações ergonómicas para o dimensionamento dos locais de


trabalho são fundamentadas, em parte, nas medidas antropométricas, mas
também nos modelos de comportamento dos operadores em situação de
trabalho, nas exigências específicas do trabalho e finalmente, tendo sempre
presente as considerações de custo-beneficío que são de importância
decisiva.

Neste documento são apresentados dados relativos à concepção de postos


de trabalho em pé; postos de trabalho sentado; postos de trabalho que
permitam alternar a postura de pé com a postura sentada; postura da
cabeça e da nuca; o espaço de alcance horizontal ao nível da superficie da
mesa; inclinação dos planos de trabalho; dimensões de espaços, passagens
e corredores; controles e interruptores; e utilização optimizada da força
muscular.

Os objectivos principais destas recomendações são os seguintes:


• Oferecer melhores condições de segurança;
• Evitar esforços, posturas desfavoráveis e reduzir a fadiga;
• Evitar causas e efeitos nocivos a longo prazo;
• Incrementar a qualidade do posto de trabalho;
• Proporcionar mais satisfação aos operadores;
• melhorar o controlo e a definição do processo;
• facilitar o processo de design de novos equipamentos;
• Aumentar a eficácia e rendimento;

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A. Postos de trabalho em pé

A.1. Alturas de trabalho para actividades de pé

Para a configuração dos locais de trabalho, a escolha da altura correcta de


trabalho é de capital importância. Se a área de trabalho é muito alta,
frequentemente os ombros são erguidos para compensar, o que leva a
contracções musculares dolorosas ao nível das omoplatas, nuca e costas. Se
a área de trabalho é muito baixa, as costas são sobrecarregadas pelo
excesso de curvatura do tronco, o que dá frequentemente margem a
queixas de dores nas costas. Por isso a altura das bancadas de trabalho
deve estar de acordo com as medidas antropométricas tanto para o
trabalho de pé como para o trabalho sentado.

Em trabalhos essencialmente manuais de pé, as alturas recomendadas


segundo Grandjean (1983), são de 50 a 100 mm abaixo da altura dos
cotovelos. A altura média dos cotovelos (distância chão até ao lado inferior
do cotovelo dobrado em ângulo recto, com o braço na posição vertical)
perfaz no 930 mm para o percentil 5 e os 1195 mm para o percentil 95, em
dados antropométricos baseados na população Europeia , segundo a PrEN
ISO 14738:2000 Antropometric requirements for the design the
workstations at machinery. No caso da amostra inquirida a média da altura
do cotovelo é de cerca de 1007 mm.

Além desta linha mestra baseada nas medidas antropométricas gerais, a


natureza do trabalho também deve ser levada em conta:
- Para um trabalho de precisão, é desejado o apoio dos cotovelos, já que a
musculatura do tronco ficará aliviada e, desta forma, a altura adequada
está entre os 50 e os 100 mm acima da altura do cotovelo.
- Em actividades manuais talvez seja necessário um espaço próprio para
recipientes, ferramentas e bens do trabalho, onde a altura adequada
será entre 50 a 100 mm abaixo do cotovelo.
- Se o trabalho em pé engloba o utilização de uma força relativa e se
utiliza a ajuda do peso do tronco, então alturas mais baixas são

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adequadas e podem-se situar entre os 100 e os 400 mm abaixo da


altura do cotovelo.

As alturas recomendadas para o trabalho em pé estão ilustrados na figura


1. As medidas recomendadas nesta figura só têm o valor de medidas de
orientação geral, já que se baseiam nos valores médios antropómetricos e
não levam em consideração desvios indivíduais.

Figura 1 – Limites entre os


quais deve variar a altura
do plano de trabalho em
função da altura do cotovelo
e do tipo de trabalho a ser
realizado. Adaptado de
Rhomert (1966)

Outra forma de determinar a altura mais adequada dos postos de trabalho


em pé, é fazê-lo de acordo com a figura 2. Os dados a seguir apresentados,
são baseados nas medidas antropométricas da população dos E.U.A, para
ambos os sexos. A altura óptima de trabalho para trabalho manual deve
ser determinado por um compromisso baseado na sequência total de
trabalho e no tipo de tarefa a realizar:
- para montagens de precisão e escrita a altura óptima de trabalho é cerca
de 1070 mm (A).
- Para tarefas que requerem a aplicação de alguma força no sentido
descendente, a altura do plano de trabalho deve ter cerca de 910 mm
(A). Nos casos em que a exerção dessas forças é muito elevada a altura
do plano deve ser de cerca de 760 mm (A).
- Para tarefas que requerem a aplicação de força no sentido ascendente, a
altura óptima do plano de trabalho é de cerca de 810 mm (A).
A diferença (B) entre a altura de trabalho óptima (A) e a superfície do plano
de trabalho (C) é determinada pelo tamanho dos objectos a serem
agarrados.

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A distância (C) que deverá ser a altura da superfície de trabalho deve ser
igual à altura (A) menos a altura (B). Esta altura (A) deve ser baseada no
tamanho dos objectos que são mais frequentemente usados.

Figura 2 - dimensões recomendadas para a


altura do plano de trabalho de pé (Adapted
from P. C. Champaney, 1975, Eastman Kodak
Company; T. W. Faulkner, 1968, Eastman
kodak Company.)

A.2. Áreas de alcance no trabalho em pé

Os operadores são mais livres de se moverem do que na posição sentada,


por este motivo todos os controlos e componentes devem ser posicionados
por forma a eliminarem os alcances excessivos e promoverem o mais
possível posturas naturais das articulações, considerando as zonas de visão
e a sequência lógica de movimentos.

Para alcances onde é utilizado apenas um membro, é possível fazer


alcances relativamente mais longe do que em situações em que seja
necessário utilizar as duas mãos, o que é nitidamente representado nas
figuras 3 e 4 respectivamente. Para alcances, apenas feitos com um
membro, não deverão ser ultrapassados os 46 cm tendo como limite, 46 cm
à direita ou à esquerda, em função do membro que seja utilizado, no
entanto, em situações esporádicas, pode haver alcances superiores (devem-
se apesar disso considerar como aceitáveis alcances até aos 55 cm).

Para tarefas onde as duas mãos são usadas, os alcances devem ser feitos
até aos 36 cm, e neste caso atingindo um desvio máximo em relação ao
centro do corpo de 30 cm. Os alcances máximos nesta situação deverão ser

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até aos 50 cm. Dados Baseados na população dos E.U.A, para ambos os
sexos.

Figura 3 - Áreas de alcance na posição de pé Figura 4 - Áreas de alcance na posição de


com uma mão (Adaptaded from B. M. Muller pé com duas mãos (Adaptaded from B. M.
Borer, 1981, Eastman Kodak Company.) Muller-Borer, 1981, Eastman Kodak
Company.)

Para a disposição de prateleiras, estantes, superficíes de apio, de manipulos


e de controles, o conhecimento da altura de alcance máximo é significativo.
Thiberg (1965 - 1970) calculou a linha de regressão e os coeficientes de
correlação da razão entre a altura do corpo e as alturas de alcance para
homens e mulheres. Os seus resultados para uma mão a apoiar numa
prateleira estão demonstrados na figura 5.

Figura 5 – Altura que uma


pessoa de pé pode alcançar
e apoiar uma mão sobre
uma prateleira em
dependência da estatura.
Adaptado de Thiberg (1965
– 1970).

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Entre a altura máxima de alcance e a altura do corpo estabelece-se a


relação:
Altura máxima de alcance = 1,24 * estatura

Na tabela 1 são representadas as alturas máximas de alcance para ambos


os sexos.

Tabela 1 – Alturas máximas de alcance para homens e mulheres. Com base nas medidas da população
alemã.
Percentil Altura de alcance (cm)
Mulheres 95 206
50 193
5 180
Homens 95 218
50 206
5 195

Em muitos casos deve-se considerar a visão de profundidade das


prateleiras, para que os objectos a serem agarrados, possam ser facilmente
identificados. Segundo estas condições as prateleiras mais altas devem ter:
entre 150 e 160 cm para os homens e entre 140 e 150 cm para as
mulheres. Nesta altura as prateleiras podem ser acessíveis até à
profundidade de 60 cm.

B. Postos de trabalho sentado

Uma pesquisa clássica de Ellis no ano de 1951 é muitas vezes mencionada


quando se discutem alturas de trabalho. Ellis pôde comprovar uma regra
empírica: a velocidade máxima de um trabalho manual, executado em
frente ao corpo, pode ser alcançada quando se trabalha com o cotovelo
baixo e o braço dobrado em ângulo recto. Esta é uma base geral válida para
a determinação da altura de trabalho também para actividades sentadas.

Todavia, quando o trabalho sentado consiste em actividades de precisão


muito fina, devem ser consideradas as distâncias visuais óptimas. Nestas
condições a superfície de trabalho deve ser elevada até que o trabalhador
veja bem o seu objecto de trabalho, sem com isto forçar demasiadamente a
curvatura das costas ou da nuca.

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O contrário, isto é, uma redução na altura da superfície de trabalho, é


necessária quando o trabalho manual exige a aplicação de grandes forças
ou um grande espaço de trabalho. Porém, alturas de trabalho muito baixas
podem entrar em conflito com o necessário espaço livre para os joelhos,
abaixo da superfície de trabalho. Este espaço livre para os joelhos limita,
nesses casos, a redução da altura da superfície de trabalho para uma altura
ideal.

B.1. Altura do posto de trabalho sentado

A altura correcta do posto de trabalho sentado depende da natureza das


tarefas que estão a ser executadas. Na maioria das tarefas como escrever
ou executar tarefas simples numa linha de montagem facilmente se
encontra a altura dos planos de trabalho através da altura do cotovelo. Se o
trabalho requer movimentos minuciosos e elevada precisão, é também de
extrema importância contar com a zona de visão e as inclinações da cabeça.

Espaços de trabalho sentados devem providenciar cadeiras e apoio para os


pés ajustáveis, por forma a que estes sejam o mais adaptados possível, não
só a toda a população utilizadora, como às diferentes tarefas que lá poderão
ser executadas.

Em trabalhos de maior precisão deve-se providenciar um suporte para os


cotovelos. Na figura 7 são apresentadas as alturas do posto trabalho que
deverão ser tidas como base.

B.2. Áreas de alcance no trabalho sentado

Para a determinação de onde se deverão localizar as partes e os controles


que constituem o posto de trabalho é necessário ter uma visão
tridimensional do espaço em frente do operador.

A zona de alcance óptima situa-se a cerca de 25 cm podendo atingir os 36


cm. Para movimentos mais eficientes todos os componentes, manípulos ou
ferramentas deverão estar situados dentro de 41 cm para a direita e para a

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esquerda do centro do posto de trabalho. Para evitar a fadiga é


recomendável que os alcances não sejam superiores a 25 cm acima do
plano de trabalho. Qualquer objecto que esteja a ser frequentemente
agarrado deverá estar localizado dentro de 15 a 36 cm em frente do espaço
de trabalho. Na figura 6 são representadas as zonas de alcance na posição
sentada para o percentil 5 do sexo feminino, da população dos E.U.A.

Figura 6 – Capacidade de alcance de uma


operadora sentada. As curvas descrevem os
alcances na posição sentada para o percentil 5
do sexo feminino (developed from data in
Faulkner and Day, 1970.)

C. Alternar trabalho sentado com trabalho de pé

Do ponto de vista ortopédico e fisiológico, é altamente recomendável um


local de trabalho que alterne o trabalho sentado com uma postura de pé.
Uma postura sentada prolongada é muito menos comprometedora com
trabalho estático do que a postura de pé.

Apesar disso, também na posição sentada surgem complicações de fadiga,


que pela alternância com o trabalho em pé, se tornam menos críticas.
Realmente, os músculos usados na postura de pé e na sentada não são os
mesmos, de modo que uma alternância da postura vai significar o alivio de
determinados grupos musculares, em detrimento da carga de outros grupos
de músculos.
Por fim, existem bons motivos para acreditar que a troca da postura
sentada com a de pé (e vice-versa) é acompanhada por mudanças no
abastecimento de nutrientes dos discos intervertebrais. Por isso, estas
mudanças de postura são recomendadas para protecção dos discos

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intervertebrais. É em função disto que as seguintes dimensões são


apresentadas na figura 7.

Figura 7 - Dimensionamento do posto de trabalho que possibilite alternar a postura de pé com a de


sentado (Adaptado da PrEN ISO 14738:2000 Antropometric requirements for the design the
workstations at machinery). Baseado em valores antropométricos da população Europeia.

A. Espaço livre vertical para os membros inferiores: Pelo menos 720 mm (tendo em
conta o valor mínimo de G se este existir)

B. Espaço livre transversal para os membros inferiores: 1094 mm

C. Espaço livre longitudinal para os membros inferiores ao nível do joelho: 547 mm

D. Espaço livre longitudinal para os membros inferiores ao nível dos pés: 882 mm

E. Espaço livre para o movimento dos membros inferiores 285 mm

F. Altura do assento: Ajustável de 905 mm a 745 mm

G. Altura do apoio de pés: Ajustável de 535 mm a 210 mm

H. Altura total desde o solo ao bordo inferior da bancada: 1030 mm

K. Espessura da bancada: cerca de 30 mm e não deverá exceder os 50 mm

W. Altura total desde o solo ao bordo superior da bancada: 1060 mm (pode variar
265 mm)

Distância mínima entre a superfície do assento e a base inferior do plano de


trabalho deve ser de 200 mm.

D. Postura da cabeça e da nuca

As posturas da cabeça e da nuca são difíceis de avaliar, já que a inclinação


da cabeça é determinada por sete articulações. Uma medida comumente

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usada para determinação da postura da cabeça é a da linha da visão. Esta é


determinada pela movimentação da pupila e, em segundo lugar, pela
inclinação da nuca e da cabeça. Quando uma pessoa descontraída e sem
fixar um objecto dirige a visão para a frente, fala-se em “linha normal da
visão”. Movimentação do olho de 15º acima e abaixo da linha normal de
visão é confortável e é feito sem esforço. Isto para dizer que a direcção do
olhar durante o trabalho deve girar dentro de um cone de 30º em torno da
linha normal de visão. Se o objecto estiver fora deste cone o sistema nuca-
cabeça será posto em movimento.

Esta linha normal de visão é a posição de repouso dos olhos. Por esse
motivo, é recomendado que os painéis de instrumentos ou outros objectos
fiquem num ângulo de visão entre 5º acima e 30º abaixo de uma linha
imaginária horizontal perpendicular ao olho.

O actual estado de conhecimentos mostra que a cabeça e a nuca não


podem ficar durante muito tempo inclinados a mais de 15º, de contrário,
espera-se que surjam rapidamente sinais de fadiga.

As figuras 8 e 9 representam os alcances visuais verticais e horizontais.

Figura 8 - Definição de alcances visuais verticais (Adaptado da PrEN ISO 14738:2000 Antropometric
requirements for the design the workstations at machinery). Baseado em valores antropométricos da
população Europeia.

A. Campo de visão para manipulações ou observações frequentes em cada ciclo de


trabalho sem requerer o movimento da cabeça: 30º

B. Ângulo máximo aceitável para a flexão da cabeça: 30º

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C. Campo de visão para manipulações ocasionais (no máximo uma vez em cada 3 a
5 ciclos de trabalho) utilizando a rotação da cabeça, mas sem a rotação do tronco:
60º

D. Ângulo aceitável para a flexão do tronco: 30º

E. Campo de visão máximo para manipulações ou observações esporádicas,


utilizando a flexão da cabeça e do tronco:90º

Figura 9 - Definição de alcances visuais horizontais (Adaptado da PrEN ISO 14738:2000 Antropometric
requirements for the design the workstations at machinery). Baseado em valores antropométricos da
população Europeia.

A. Campo de visão para manipulações ou observações frequentes em cada ciclo de


trabalho sem requerer o movimento da cabeça: 30º

B. Ângulo aceitável para a rotação da cabeça: 40º

C. Campo de visão para manipulações ocasionais (no máximo uma vez em cada 3 a
5 ciclos de trabalho) utilizando a rotação da cabeça, mas sem a rotação do tronco:
55º

D. Ângulo aceitável para a rotação do tronco: 55º

E. Campo de visão para manipulações esporádicas (no máximo uma vez em cada
10 a 12 ciclos de trabalho) e sem exigências de precisão ou força, com rotação do
tronco e da cabeça: 110º

E. Inclinação dos planos de trabalho

A inclinação dos planos de trabalho pode ir até aos 15º para o tipo de
trabalho de componentes electrónicos, por exemplo. Deve no entanto variar
a altura do plano de trabalho em função da tarefa a realizar, como foi
descrito anteriormente.

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F. O espaço de preensão horizontal ao nível da superfície da mesa

Dentro da faixa fisiológica do espaço de preensão devem estar ordenadas


todas as ferramentas, materiais de trabalho, controles e recipientes de
materiais. A zona de alcance óptimo situa-se a cerca de 25 cm mas pode
atingir os 46 cm, no trabalho onde é utilizado apenas um membro e os 36
cm, nos alcances com as duas mãos, com alguma facilidade e sem acarretar
grandes problemas como foi referido anteriormente. Esses alcances podem
atingir os 50 cm embora não frequentemente. Também aqui, vale a
excepção para movimentos ocasionais que, sem prejuízos, podem alcançar
70 cm.

Alcance máximo área óptima de Alcance óptimo


trabalho com 2
mãos

Dimensões em cm

Figura 10 – Espaço de preensão horizontal ao nível da superfície da mesa. Adaptado de


Grandjean (1983).

Os componentes mais importantes e frequentemente utilizados devem ser


colocados de modo que possam ser facilmente observados e alcançados.
Em situações em que haja ordenamento sequencial de operações o
posicionamento deve seguir uma sequência lógica.

Não devem existir elementos necessários à realização da tarefa para além


da zona de alcance máximo.

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G. Dimensões de espaços, passagens e corredores

A acumulação de equipamento e de produtos nos corredores é um dos


problemas do espaço de trabalho nalgumas operações. Por isso, portas e
corredores deverão ser desenhados por forma a evitarem não só a
acumulação de produtos mas têm também que providenciar o mínimo
espaço disponível necessário. Na figura seguinte são apresentadas
recomendações para larguras mínimas de corredores em função das
necessidades de passagem de diferentes elementos.

Figura 11 – Larguras mínimas para corredores em função de necessidades de passagem (Adapted from
Thomson, Jacobs, Covner, and Orlansky, 1963).

H. Comandos

H.1. Botões de pressão para os dedos e mãos

Os botões de pressão para os dedos e mãos ocupam pouco espaço e podem


ser diferenciados por cores ou outra forma de identificação. A superfície de
pressão deve ser suficiente para que a ponta do dedo ou a mão atinjam o
botão facilmente, sem risco de escorregar, e apliquem a força necessária.
As medidas recomendadas para botões de pressão para dedos são:

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• Diâmetro à 12 – 15 mm;
• Curso à 3 – 10 mm;
• Resistência à 2,5 – 5 N;

Os botões de pressão para os dedos podem ter uma pequena concavidade,


enquanto que os botões de pressão para a mão devem ter a forma de
cogumelo. As medidas recomendadas para os botões de pressão para as
mãos são:
• Diâmetro à 60 mm;
• Curso à 10 mm;
• Resistência à 10 N;

H.2. Interruptores de alavanca

Este tipo de interruptores são bem visíveis e garantem uma grande


segurança na sua utilização. Devem preferencialmente ter duas posições
(ligado e desligado, por ex.). As posições "ligado" e "desligado" devem ser
claramente marcadas, em cima e em baixo; o sentido do movimento deve
ser vertical. As medidas recomendadas para interruptores de alavanca
podem ser visualizadas na figura 12. se forem usadas três posições, os
ângulos entre duas posições deve ser no mínimo 40º, sendo que também
aqui as posições devem ser claramente marcadas.

Resistência a
operação: 2,5 a 15 N

Figura 12 - A concepção de interruptores de alavanca

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H.3. Alavancas de mão

Se o comprimento da pega for maior que 5 cm, fala-se em alavanca de


mão, nas quais podem ser aplicadas forças maiores que nos interruptores
de alavanca. Também aqui, a direcção da força deve ser orientada no plano
ligado-desligado (para a frente ou para trás).

Se a alavanca não for utilizada apenas para as posições ligado ou desligado,


mas para mais posições, deve haver uma guia para cada posição. Se a
alavanca for usada para um movimento de ajuste, deverá haver um
adequado apoio para o cotovelo, o braço ou o punho. Conforme o tipo de
utilização, a alavanca de mão deve ter:
• uma pega para os dedos (diâmetro 20 mm)
• uma pega de garra (diâmetro 30 a 40 mm)
• uma pega de cogumelo (diâmetro 50 mm)

As alavancas de mão que exigem o uso de maior força, são chamadas de


alavancas de câmbio e enquadram-se na categoria de controles pesados. Na
figura 13 é mostrada uma alavanca de câmbio com as dimensões
adequadas.

Força máxima : 90 N

Figura 13 - Alavanca de câmbio para


aplicação de maiores forças, com guia
para as possíveis posições

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H.4. Botões e interruptores giratórios

Os botões giratórios de posições escalonadas devem ter as medidas


mostradas na figura 14. na regulação feita em degraus são recomendadas
resistências maiores para que o operador tenha uma nítida resposta táctil.
Além disso os degraus devem estar separados entre si por mais de 15º (30º
quando for fora do controlo visual).

Resistência à operação: 12 - 1 8 N
Ângulo de posições intermediárias 15 - 4 0 º

Figura 14 - botão giratório com regulação escalonada.


A forma canelada permite uma pega segura de três
dedos.

Os botões giratórios em forma de seta são normalmente preferidos porque


permitem visualizar as posições seleccionadas mais rápida e facilmente.
Para os botões em forma de seta recomendam-se diâmetros de 25 a 30 mm
(no eixo maior).

H.5. Distâncias entre comandos vizinhos

Tabela 2 – Distâncias minimas e máximas entre controles vizinhos em função do tipo de manipulação e
de controle
Comandos Tipo de Distância Distância
manipulação mínima máxima

Botão de pressão Com um dedo 20 mm 50 mm

Interruptor de Com um dedo 25 mm 50 mm


alavanca
Alavanca Com uma mão 50 mm 100 mm
Botão giratório Com uma mão 25 mm 50 mm

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I. Utilização da força muscular

Quando uma actividade de trabalho prevê acções com aplicação de força, os


fluxos de movimentos devem ser configurados de modo a que os músculos
tenham as condições necessárias para desenvolverem a sua actividade nas
melhores condições possível. Só assim a musculatura poderia ter o grau
máximo de efectividade e trabalhar com uma destreza optimizada.

Quando se tratar de um trabalho estático (condição a evitar), a postura do


corpo deveria ser tal que permitisse o uso dos músculos mais fortes. Esta é
a maneira mais rápida de baixar a carga do músculo para o limite de 8% da
força máxima possível.

Se a musculatura desenvolver a maior força quando começa a contracção a


partir da posição relaxada, então, em princípio, as condições iniciais de
movimentação deveriam começar a partir dos músculos relaxados. Porém,
nesta regra geral existem tantas excepções, que ela tem mais valor teórico.
Deve-se levar em conta também, e – quando vários músculos participam de
um trabalho de força – a soma dos efeitos. No último caso, geralmente a
força é máxima quando o maior número possível de músculos for accionada
ao mesmo tempo.

A força máxima de um músculo ou grupo de músculos é dependente: da


idade; do sexo; da constituição física; do grau de condicionamento físico; e
da motivação.

I.1. Força e relação com a idade e o sexo

Na figura 15 é mostrado o efeito da idade e do sexo sobre a força muscular,


segundo dados de Hettinger (1960).

De acordo com estes dados, o ponto máximo da força muscular para


homens e mulheres fica entre os 25 e 35 anos de idade. O trabalhador mais

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velho entre 50 e 60 anos de idade só dispõe de 75 a 85% da sua força


máxima original.

Figura 15 – A força muscular em relação à


idade e sexo segundo Hettinger (1960).

Segundo Hettinger (1960), pode-se calcular que a mulher tem em média


2/3 da força dos homens.

I.2. Força máxima em trabalho de pé

A influência do efeito de alavanca sobre a força máxima é mais nítida com a


musculatura de flexão na articulação do cotovelo. Os dados da análise de
Clarke (1950) e de Wakim (1950), com os seus colaboradores,
apresentados na figura 16, mostram que no ângulo de curvatura de 90º a
120º, se alcança a força máxima de flexão.

Figura 16 - Força máxima


de flexão na articulação do
cotovelo de Homens, em
relação ao ângulo de flexão,
segundo Clarke e Walkim
(1950)

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A força máxima para puxar e empurrar da mão no trabalho em pé, foi


estudada de maneira abrangente por Rhomert (1966), e Rhomert e Jenik
(1972). Na figura 17 são apresentados exemplos do seu trabalho para
homens.

Figura 17 – força máxima de


puxar (esquerda) e de
empurrar (direita) do homem.
Os pés separados entre si 30
cm. Os valores representam a
força em percentagem do
peso corporal. Adaptado de
Rhomert (1966)

Dos estudos de Rhomert (1966) pode-se tirar as seguintes conclusões:


- estando de pé, na maioria das posições do braço, a força de empurrar
(pressão) é maior que a força de puxar;
- as forças de empurrar e puxar na posição vertical, são as maiores, e na
posição horiz ontal as menores;
- as forças de empurrar e puxar na posição do braço adiante do corpo
(posição sagital) é da mesma ordem que com o braço estendido para os
lados.
- a força de empurrar (pressão) na posição horizontal alcança nos homens
160 – 170 N, e nas mulheres 80 – 90 N.

I.3. Força máxima em trabalho sentado

Análises de Caldwel (1959) com homens (sob condições de teste) sentados


com apoio para as costas, permite tirar as seguintes regras:
• a mão em pronação tem força maior (180 N) do que em supinação (110
N);
• a força de rotação da mão tem maior efeito se o trabalho for feito a
uma distância de 30 cm à frente do eixo do corpo;
• a mão possui uma força maior (370 N) para empurrar para baixo do
que para cima (160 N);

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• a força de empurrar da mão é maior (600 N) do que a força de puxar


(360 N);
• a maior força de puxar desenvolve-se, quando se trabalha a 50 cm à
frente do eixo do corpo;
• a maior força de puxar encontra-se quando se trabalha a uma distância
de 70 cm.

I.4. Valores limite de aplicação de força

Tabela 3 – limites de capacidade de força para algumas acções mais comuns. Estes valores aplicam-se
a condições óptimas de trabalho. Adaptado da prEN 1005-3 (1998) – Safety of Machinery – Human
Physical Performance – Parte 3: Recommended force limits for Machinery operation

Acção Força (N)

Trabalho com uma mão:


Power Grip 250
Trabalho com um braço na postura de sentado:
Empurrar para cima 50
Empurrar para baixo 75
Abdução 55
Adução 75
Puxar
Com encosto 275
Sem encosto 62
Empurrar
Com suporte para o tronco 225
Sem suporte para o tronco 55

Trabalho com todo o corpo na postura de pé:


Puxar 200
Empurrar 145

Trabalho com pedais na postura de sentado com encosto:


Acção da anca 250
Acção da perna 475

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Recomendações gerais para o dimensionamento dos postos de trabalho

Bibliografia:

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Publications.

Eastman Kodak Company, Ergonomics Group and Human Factors Section –


Ergonomic Design for people at work (volume 2): The Design of Jobs,
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Grandjean, E. (1983) – Precis d’Ergonomie, Les Editions d’organizations,


Paris.

Grandjean, E. (1988) – Fitting the task to the man, forth edition, Taylor and
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ISO/FDIS 15534-3:1999 – Ergonomic Design for the safety Of Machinery –


Parte 3: Antropometric Data.

Kroemer, K.H.E. and Grandjean, E. – Fitting the task to the human, fifth
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since 1798.

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Pheasant, S. (1991) – Ergonomics, Work and Health – The Macmillan press


LTD, London.

PrEN ISO (International Organisation for Standardization) 14738:2000 -


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Vitor Ferreira, Carlos Fujão 21


Recomendações gerais para o dimensionamento dos postos de trabalho

PrEN ISO (International Organisation for Standardization) 7250:1997 -


Basic human body measurements for technological design.

prEN 1005-3:1998 – Safety of Machinery – Human Physical Performance –


Parte 3: Recommended force limits for Machinery operation

Vitor Ferreira, Carlos Fujão 22


Recomendações gerais para o dimensionamento dos postos de trabalho

Anexo 1 – Medidas antropométricas da população alemã.

Anexo 2 - Medidas Standard da População Europeia, segundo a norma


(ISO/FDIS 14738 : 1999) - Anthropometric requirements for the design of
workstations at machinery.

Vitor Ferreira, Carlos Fujão 23

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