Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
%HermesFileInfo:S-4:20100925:
Capa
Em A Turma Que Não Escrevia Direito, Marc A TURMA QUE NÃO
ESCREVIA DIREITO
Weingarten diz que o encontro entre reportagem e Autor: Marc Weingarten
Tradução: Bruno Casotti
ficção, marca do new journalism, resultou no Editora: Record
(392 págs., R$ 54,90)
maior movimento literário dos EUA depois de 1920
C
há muito tempo, uma festa destinada a angariar fundos para ferido de Weingarten, disfarça aconteci- Hell’s Angels como sobre as eleições, como
mas não sua influên- o grupo extremista Panteras Negras. mentos reais em sua alucinação mítica, cru- uma forma de autopromoção.
cia sobre os aspiran- Weingarten fala com nostalgia dessa épo- zando de forma híbrida a verossimilhança Weingarten não poupa nem mesmo
tes à carreira jornalís- ca, um tempo em que a palavra escrita pare- jornalística com sua retórica de bêbado. Me- George Orwell (1903-1960), o autor de
tica, especialmente cia ter o poder de mudar o mundo – ou, pe- do e Delírio em Las Vegas, diz o autor, “é jor- 1984 e A Revolução dos Bichos, que também
blogueiros, garante, lo menos, de retocar seu precário cenário. nalismo praticado co- se infiltrou entre os de-
ao telefone, de Los “Os anos 1960 e 1970 foram muito excitan- mo bricolagem”. serdados para escrever
Angeles, o jornalista tes, mas, como disse Hunter Thompson Thompson foi o ex- **
“Charles Dickens, Balzac Na Pior em Paris e Lon-
norte-americano Marc Weingarten, autor pouco antes de se matar, essa época não poente do chamado jor- dres (1933), descendo
de A Turma Que Não Escrevia Direito. Críti- vai voltar.” Os colapsos ideológicos da era nalismo “gonzo”, ter- e Henry Fielding, por depois ao coração da
co ensaio sobre a revolução do “novo jorna- hippie, segundo Weingarten, foram uma mo criado por ele em exemplo, também saíram terra para documentar
lismo” deflagrada por Truman Capote nos decepção para Thompson, Norman Mai- 1970 para definir um ti- às ruas e foram aos becos as péssimas condições
anos 1960, seu livro chega hoje às livrarias, ler e toda a sua geração. A despeito disso, po de escrita em que a de vida dos mineiros
contando a história desse movimento que grandes obras literárias nasceram de re- objetividade jornalísti- sujos atrás de histórias” de Lancashire em A Ca-
teve como representantes Tom Wolfe, portagens publicadas em jornais e revis- ca importa pouco ou ** minho de Wigan (1937).
Hunter S. Thompson, Norman Mailer, Gay tas que registraram as mudanças culturais quase nada. Manifestos “A ironia do primeiro
Talese, Joan Didion e Jimmy Breslin, no- e políticas dos EUA, desde o advento do subjetivos cheio de sarcasmo, os textos de livro é que sua verossimilhança é fabrica-
mes de referência no jornalismo moderno. rock até a emergência dos yuppies, passan- Thompson zombam do conservadorismo de da”, critica o jornalista. Seus personagens
O próprio Weingarten, colaborador inde- do pelos beatniks e os hippies. seus editores, empenhados em aprisionar o são mais tipos que pessoas reais.
pendente de grandes jornais como The New A mais celebrada dessas obras é A Sangue estilo desse cronista falstaffiano que inventa Essa combinação de repórter e ficcionis-
York Times, hoje quase um cinquentão, ad- Frio, de Truman Capote, sobre um crime pseudônimos para escapar de situações des- ta seria retrabalhada mais tarde por Nor-
mite dever muito ao estilo de Hunter S. macabro ocorrido no Kansas em 1959, em- confortáveis criadas por ele mesmo. man Mailer quando escreveu O Super-Ho-
Thompson, que imitou sem pudor quando bora existam inúmeros títulos igualmente Em Medo e Delírio em Las Vegas, que deve- mem Vai ao Supermercado, que traz a cober-
começou a escrever, aos 17 anos. Mas ele importantes do “novo jornalismo”, alguns ria ser uma reportagem sobre uma corrida tura de quatro convenções partidárias que
cresceu e publicou Who’s Afraid of Tom Wol- deles publicados no Brasil: O Super-Homem de motocicletas patrocinada por um hotel escolheram candidatos à presidência dos