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Direito Constitucional (Teoria e Questões) para o Concurso de Analista do Seguro Social/INSS

Professora Nádia Carolina

Aula Um

Olá, caro (a) aluno (a)!

Espero que você esteja bastante animado para mais uma aula! Hoje
estudaremos o art. 5o da CF/88, talvez o mais importante em termos de
concursos.

Quer outra notícia boa? Além de apresentarmos questões da FUNRIO,


traremos questões do CESPE. Tudo isso para você se sentir tranqüilo quanto à
escolha da banca examinadora.

Vamos começar a aula?

1. Princípios, direitos e garantias fundamentais

Iniciaremos nosso estudo diferenciando os dois conceitos. Os direitos


fundamentais são os bens protegidos pela Constituição. É o caso da vida, da
liberdade, da propriedade... Já as garantias são formas de se protegerem
esses bens, ou seja, são instrumentos constitucionais. Um exemplo é o
habeas corpus, que protege o direito à liberdade de locomoção. Detalhe
importante: as garantias fundamentais também são direitos.

Outro ponto a ser destacado é que os direitos fundamentais são


tradicionalmente classificados em gerações. Veja as principais características
de cada uma delas a seguir:

• Primeira geração: abrange os direitos relativos à liberdade, isto é, os


civis e políticos, reconhecidos no final do século XVIII, com as
Revoluções Francesa e Americana. Restringem a ação do Estado sobre
o indivíduo, impedindo que este se intrometa de forma abusiva na vida
privada das pessoas. São, por isso, também chamados liberdades
negativas: traduzem a liberdade de não sofrer ingerência abusiva por
parte do Estado. Exemplo: direito de propriedade.
• Segunda geração: abarca os direitos referentes à igualdade:
econômicos, sociais e culturais. Em sua maioria, são representados por
liberdades positivas, isto é, direitos de se receberem prestações do

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Estado (políticas e serviços públicos). É o caso do direito à educação,


por exemplo. Alguns desses direitos, contudo, consubstanciam
liberdades negativas. Exemplo: liberdade de greve.
• Terceira geração: refere-se ao princípio da solidariedade (fraternidade).
Compreende os direitos difusos e os coletivos. Citam-se, como
exemplos, o direito do consumidor e o direito ao desenvolvimento.
“Puxa, Nádia... Você falou em direitos difusos e direitos coletivos... O
que são esses direitos?”

• Direitos difusos: são aqueles caracterizados por sua indivisibilidade, ou


seja, é impossível satisfazer-se um de seus titulares individualmente.
Isso porque seus sujeitos são indeterminados. É o caso do direito ao ar
puro. Veja que a própria palavra “difuso” remete à idéia de algo com
limites imprecisos.

• Direitos coletivos: também têm natureza indivisível, mas diferenciam-se


dos difusos por terem como titulares grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica. Como exemplo, tem-se os direitos de determinadas categorias
profissionais que agem coletivamente por meio de seus sindicatos.

Percebeu como as três primeiras gerações seguem a seqüência do lema


da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Guarde isso
para a prova!

Hodiernamente, fala-se em direitos de quarta e quinta geração.


Entretanto, como essas classificações não são cobradas em prova, por não
haver consenso doutrinário a respeito delas, não discutiremos esse assunto.

Um tópico bastante cobrado sobre os direitos fundamentais é sua


natureza relativa. Memorize esta informação: não há direito fundamental
absoluto! Todo direito sempre encontra limites em outros, também protegidos
pela Constituição. É por isso que, em caso de conflito entre dois direitos, não
haverá o sacrifício total de um em relação ao outro, mas redução proporcional
de ambos, buscando-se, com isso, alcançar a finalidade da norma.

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Vistos esses conceitos iniciais, que tal começarmos a “dissecar” o art. 5º


da CF/88?

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)

O “caput” do art. 5º enumera cinco direitos fundamentais – os direitos à


vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Apesar de referir-
se apenas a “brasileiros e estrangeiros residentes no país”, há consenso na
doutrina de que eles abrangem qualquer pessoa que se encontre em território
nacional, mesmo que seja estrangeira residente no exterior.

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos


termos desta Constituição;

Esse inciso traduz o princípio da igualdade, que determina que se dê


tratamento igual aos que estão em condições equivalentes e desigual aos que
estão em condições diversas, dentro de suas desigualdades. Obriga tanto o
legislador quanto o aplicador da lei.

O legislador fica, portanto, obrigado a obedecer à “igualdade na lei”, não


podendo criar leis que discriminem pessoas que se encontram em situação
equivalente, exceto quando houver razoabilidade para tal. Exemplo: a lei, em
regra, não pode criar discriminações nos concursos públicos. Entretanto, se
houver razoabilidade, em razão do cargo, tais discriminações tornam-se
possíveis. Seria o caso de um concurso para agente penitenciário de prisão
feminina restrito a mulheres. Bastante razoável, não?

Note, todavia, que só a lei ou a própria Constituição podem determinar


discriminações entre as pessoas, nos casos acima. Os atos infralegais (como
edital de concurso, por exemplo) não podem determinar tais limitações sem
que haja previsão legal.

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Outra decorrência do princípio da igualdade é que os intérpretes e


aplicadores da lei ficam limitados pela “igualdade perante a lei”, não podendo
diferenciar, quando da aplicação do Direito, aqueles a quem a lei concedeu
tratamento igual. Isso visa a resguardar a própria igualdade na lei. De nada
adiantaria ao constituinte estabelecer um direito a todos e permitir que os juízes
e demais autoridades tratassem as pessoas desigualmente, reconhecendo
aquele direito a alguns e negando-os a outros, não é mesmo?

Do princípio da igualdade se originam vários outros princípios da


Constituição, como, por exemplo, a vedação ao racismo (art. 5º, XLII, CF), o
princípio da isonomia tributária (art. 150, II, CF), dentre outros.

Finalizando o estudo desse inciso, guarde jurisprudência cobrada em


concursos. O STF entende que o princípio da isonomia não autoriza ao Poder
Judiciário estender a alguns grupos vantagens estabelecidas por lei a outros.
Isso porque se assim fosse possível, o Judiciário estaria “legislando”, não é
mesmo? O STF considera que, em tal situação, haveria ofensa ao princípio da
separação dos Poderes.

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa


senão em virtude de lei;

Trata-se do princípio da legalidade, que traz, para os particulares, a


garantia de que só podem ser obrigados a agirem ou a se omitirem por lei.
Tudo é permitido a eles, portanto, na falta de norma legal proibitiva.

Já para o Poder Público, o princípio da legalidade consagra a idéia de


que este só pode fazer o que é permitido pela lei. Esse conceito será mais bem
explorado na aula referente à Administração Pública.

Completando o estudo do inciso, quero que você compreenda a


diferença entre legalidade e reserva legal.

Tem-se a legalidade quando a Carta Magna determina a submissão e o


respeito à lei, ou a atuação dentro dos limites legais. Neste caso, a palavra lei
adquire sentido mais amplo que o apresentado na reserva legal, como se verá
a seguir. Isso porque aqui consideram-se “lei” também os atos infralegais,

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desde que expedidos nos limites da norma legal. Trata-se da lei em sentido
material, ou seja, todo ato normativo do Estado que obedeça às formalidades
que lhe são próprias e contenha uma regra jurídica.
Já a reserva legal ocorre quando a Constituição exige expressamente
que determinada matéria seja regulada por lei formal ou atos com força de lei
(como decretos autônomos, por exemplo). É o caso do art. 173, §1º, CF/88,
que determina que lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da
sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
econômica. Lei formal é aquela necessariamente emanada do Poder
Legislativo, podendo conter ou não uma regra jurídica.

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento


desumano ou degradante;

Esse inciso costuma ser cobrado em sua literalidade. Memorize-o!

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o


anonimato;

Trata-se da liberdade de expressão. Todos podem manifestar, oralmente


ou por escrito, o que pensam, desde que isso não seja feito anonimamente. A
vedação ao anonimato visa a garantir a responsabilização de quem utilizar tal
liberdade para causar danos a terceiros.

Com base na vedação ao anonimato, o STF veda, em regra, o


acolhimento a denúncias anônimas. Essas poderão servir de base para gerar
investigação pelo Poder Público, mas jamais poderão ser causa única de
exercício de atividade punitiva pelo Estado.

Destaca-se, ainda, que tendo como fundamento a liberdade de


expressão, o STF considerou que a exigência de diploma de jornalismo e de
registro profissional no Ministério do Trabalho não são condição para o
exercício da profissão de jornalista.
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

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Essa norma traduz o direito de resposta à manifestação do pensamento


de outrem. Essa resposta deverá ser sempre proporcional, ou seja, veiculada
no mesmo meio de comunicação utilizado pelo agravo, com mesmo destaque,
tamanho e duração. Salienta-se, ainda, que a resposta não elimina o direito à
indenização.

Outro aspecto importante a se considerar sobre o inciso acima é que as


indenizações material, moral e à imagem são cumuláveis (podem ser aplicadas
conjuntamente), aplicando-se tanto a pessoas físicas quanto a jurídicas.

Relacionada a esse inciso, há jurisprudência que pode ser cobrada em


seu concurso. O STF entende que o Tribunal de Contas da União (TCU) não
pode manter em sigilo a autoria de denúncia contra administrador público a ele
apresentada. Isso porque tal sigilo impediria que o denunciado se defendesse
perante aquele Tribunal.

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência


religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

Consagra-se, nesses incisos, a liberdade religiosa.

No que se refere ao inciso VII, observe que não é Poder Público o


responsável pela prestação religiosa, pois o Brasil é um Estado laico, portanto
a administração pública está impedida de exercer tal função. Essa assistência
tem caráter privado e incumbe aos representantes habilitados de cada religião.

Não nos demoraremos em comentários, visto que, se cobrados em sua


prova, isso se dará, provavelmente, de forma literal.

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença


religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

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Esse dispositivo consagra a denominada “escusa de consciência”. Isso


significa que, em regra, ninguém será privado de direitos por não cumprir
obrigação legal imposta a todos devido a suas crenças religiosas ou
convicções filosóficas ou políticas. Entretanto, caso isso aconteça, o Estado
poderá impor, à pessoa que recorrer a esse direito, prestação alternativa fixada
em lei.

E o que acontecerá se essa pessoa recusar-se, também, a cumprir a


prestação alternativa? Nesse caso, poderá excepcionalmente sofrer restrição
de direitos. Veja que para isso, são necessárias, cumulativamente, duas
condições: recusar-se a cumprir obrigação legal alegando escusa de
consciência e, ainda, a cumprir a prestação alternativa fixada pela lei.

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica


e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

O que você não pode esquecer sobre esse inciso? É vedada a censura.
Entretanto, a liberdade de expressão, como qualquer direito fundamental, é
relativa. Isso porque é limitada por outros direitos protegidos pela Carta Magna,
como a inviolabilidade da privacidade e da intimidade do indivíduo, por
exemplo.

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;

“Dissecando-se” esse inciso, percebe-se que ele protege o direito:

• À intimidade e à vida privada. Resguarda, portanto, a esfera mais


secreta da vida de uma pessoa, tudo que diz respeito a seu modo de
pensar e de agir.
• À honra. Blinda, desse modo, o sentimento de dignidade e a reputação
dos indivíduos.
• O direito à imagem. Defende a representação que as pessoas possuem
perante si mesmas e os outros.

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É importante que você saiba que o STF considera que para que haja
condenação por dano moral, não é necessário ofensa à reputação do indivíduo.
Assim, a dor de se perder um membro da família, por exemplo, pode ensejar
indenização por danos morais.

Além disso, com base nesse inciso o STF entende que não se pode
coagir suposto pai a realizar exame de DNA. Essa medida feriria, também,
outros direitos humanos, como, por exemplo, a dignidade da pessoa humana, a
intangibilidade do corpo humano. Nesse caso, a paternidade só poderá ser
comprovada mediante outros elementos constantes do processo.

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo


penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial;

Trata-se do princípio da inviolabilidade domiciliar. Esta alcança não só a


residência do indivíduo, mas também o local onde este exerce sua profissão.

A partir da leitura do artigo, em quais hipóteses se pode penetrar na


casa de um indivíduo?

• Com seu consentimento;


• Sem seu consentimento, sob ordem judicial, apenas durante o dia;
• A qualquer hora, sem consentimento do indivíduo, em caso de flagrante
delito ou desastre, ou, ainda, para prestar socorro.
Sobre esse inciso, estaca-se, ainda, que o STF considerou válida ordem
judicial que autorizava o ingresso de autoridade policial no estabelecimento
profissional durante a noite para instalar equipamentos de captação de som
(“escuta”). Considerou-se que tais medidas precisavam ser executadas sem o
conhecimento do investigado, o que seria impossível durante o dia.

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei

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estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução


processual penal;

O dispositivo constitucional trata da inviolabilidade das comunicações.


Assim como fez com a inviolabilidade domiciliar, a Carta Magna estabeleceu
uma exceção a esse direito, ao possibilitar a quebra do sigilo das
comunicações telefônicas quando atendidos três requisitos: lei que preveja as
hipóteses e na forma com que esta deva acontecer; existência de investigação
criminal ou instrução processual penal e, finalmente, ordem judicial..
Como não há direito absoluto, admite-se, mesmo sem previsão expressa
na Constituição, a interceptação das correspondências e das comunicações
telegráficas e de dados, sempre que a norma constitucional esteja sendo usada
para acobertar a prática de ilícitos. Isso porque a Constituição não pode servir
como manto protetor para a ilicitude.
Outra jurisprudência importante para suas provas de concurso é que o
STF entende que, uma vez obtidas provas mediante quebra do sigilo das
comunicações telefônicas com base no dispositivo constitucional acima, estas
podem ser usadas, também, em processos de natureza administrativa. Assim,
caso uma “escuta telefônica” resulte em prova de que um Auditor-Fiscal da
Receita Federal esteja recebendo dinheiro para despachar mercadoria, por
exemplo, além de essa prova ser usada no processo penal do crime referente a
essa prática, poderá ser usada pela Corregedoria da Receita Federal quando
do processo administrativo destinado a apurar o ilícito e determinar a
correspondente penalidade administrativa.
Que tal uma questão do CESPE, para revisar o que aprendemos até
aqui?

1. (2010/CESPE/TRT-MT) Assinale a opção correta a respeito dos direitos e


deveres individuais e coletivos.
a) Em razão do caráter absoluto do princípio da isonomia, não se admite o
estabelecimento de proibições relativas ao acesso em determinadas
carreiras por critério de idade.
b) dano moral, que atinge a esfera íntima da vítima, agredindo seus
valores, humilhando e causando dor, não recai sobre pessoa jurídica.

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c) A garantia constitucional da inviolabilidade de domicílio abrange


qualquer compartimento habitado, mas não os compartimentos onde
alguém exerce atividade profissional.
d) A CF assegura a prestação de assistência religiosa tanto às entidades
hospitalares privadas quanto às públicas, bem como aos
estabelecimentos prisionais civis e militares.
e) sigilo das comunicações telefônicas é inviolável, podendo ser rompido
somente por autorização judicial ou por decisão da autoridade policial
responsável pelo inquérito, quando existirem fundados elementos
reveladores da prática de crime.

Questão do CESPE raramente é moleza, caro (a) candidato (a). Preste


bastante atenção!
A letra “a” está errada. Não há direito absoluto, com a isonomia não é
diferente. Havendo proporcionalidade e previsão legal, é possível, sim, a
proibição ao acesso em determinadas carreiras por critério de idade.
A letra “b” também está incorreta. Pessoa jurídica pode, sim, sofrer dano
moral.
Da mesma forma, a letra “c” está imperfeita. A inviolabilidade de
domicílio protege o estabelecimento onde a pessoa exerça sua atividade
profissional.
Finalmente encontramos a alternativa correta, gabarito da questão. A
letra “d” está perfeita. Fundamento: art. 5º, VII, CF.
A letra “e” só poderia estar errada, não é mesmo? Decisão de autoridade
judicial não pode romper sigilo das comunicações telefônicas. Este só pode ser
quebrado por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. Art. 5º, XII,
CF.

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou


profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;

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Trata-se de norma constitucional de eficácia contida que trata da


liberdade de atividade profissional. Esta dispõe que, na inexistência de lei que
exija qualificações para o exercício de determinada profissão, qualquer pessoa
poderá exercê-la. Entretanto, existente a lei, a profissão só poderá ser exercida
por quem atender às qualificações legais.

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado


o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Esse inciso tem dois desdobramentos: assegura o direito de acesso à


informação (desde que esta não fira outros direitos fundamentais) e resguarda
os jornalistas, possibilitando que estes obtenham informações sem terem que
revelar sua fonte. Não há conflito, todavia, com a vedação ao anonimato. Caso
alguém seja lesado pela informação, o jornalista responderá por isso.

O inciso XV será discutido quando tratarmos do tema “habeas corpus”.


Pulemos, então, para o XVI...

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais


abertos ao público, independentemente de autorização, desde
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente;

Esse inciso é bastante cobrado em provas. Do que você precisará se


lembrar? Inicialmente, das características do direito de reunião:

• Esta deverá ter fins pacíficos, e apresentar ausência de armas;


• Deverá ser realizada em locais abertos ao público;
• Não poderá haver frustração de outra reunião convocada anteriormente
para o mesmo local;
• Desnecessidade de autorização;
• Necessidade de prévio aviso à autoridade competente.

É importante destacar, também, que o direito de reunião é protegido por


mandado de segurança, não por habeas corpus. Cuidado com “peguinhas”
nesse sentido!
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XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a


de caráter paramilitar;

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de


cooperativas independem de autorização, sendo vedada a
interferência estatal em seu funcionamento;

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente


dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial,
exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;

A partir desses incisos, tem-se que:

• A liberdade de associação é ampla, independe de autorização dos


Poderes Públicos, que também não podem interferir em seu
funcionamento.
• As associações só podem ser dissolvidas por decisão judicial transitada
em julgado. Além disso, suas atividades só podem ser suspensas por
decisão judicial (neste caso, não há necessidade de trânsito em
julgado).
• A criação de cooperativas poderá depender de autorização, na forma da
lei. A de associações, jamais!

XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a


permanecer associado;

Não há muito a se falar sobre esse inciso. Caso cobrado, isso


acontecerá em sua literalidade.

XXI - as entidades associativas, quando expressamente


autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados
judicial ou extrajudicialmente;

Tem-se, aqui, o instituto da representação processual. Trata-se de


instrumento pelo qual a associação, quando autorizada expressamente, pode
representar seus filiados, atuando em nome destes e na defesa dos direitos

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deles. O representante processual não age como parte do processo, apenas


em nome da parte, a pessoa representada.

Nesse sentido, a representação processual difere da substituição


processual. Nesta, o substituto é parte do processo, agindo em nome próprio
na salvaguarda de direito alheio. O substituído, por sua vez, deixa de sê-lo:
sofre apenas os efeitos da sentença. Não está no processo. A sentença,
todavia, faz coisa julgada tanto para o substituto quanto para o substituído.

Na Constituição, há referência à substituição processual no inciso LXX


do art. 5o. Trataremos do tema com mais profundidade quando falarmos desse
inciso, ainda nesta aula.

Que tal revisarmos o que acabamos de estudar? Tente resolver esta


questão:

2. (2009/FUNRIO/Ministério da Justiça) O artigo 5° da Constituição da


República Federativa do Brasil em seu inciso XVII prevê que é plena a
liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. Em
relação as a associações é INCORRETO afirmar que:

a) as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter


suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro
caso, o trânsito em julgado;
b) a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
dependem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento;
c) ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado;
d) as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
e) todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.
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Vamos lá! Nada de preguiça! Procuraremos entender o erro ou acerto de


cada alternativa!

A primeira alternativa está correta. Literalidade do inciso XIX do art. 5º


da CF.

Encontrou o errinho da alternativa “b”? É a palavra dependem! O correto


seria dizer que “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento”. Literalidade do art. 5º, XVIII, CF. A letra “b” é o gabarito da
questão.

A letra “c” é a literalidade do inciso XX do art. 5º, que acabamos de


estudar. Está perfeita.

A letra “d” também é transcrição literal do inciso XXI do art. 5º, que
comentamos anteriormente. Perfeita.

Finalmente, a alternativa “e” reproduz o inciso XVI do art. 5º.


Corretíssima.

Viu como já está “ninja” nesta matéria? Continuemos nossos estudos...

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por


necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os
casos previstos nesta Constituição;

Estudaremos esses três incisos em conjunto. Eles tratam do direito de


propriedade, norma constitucional de eficácia contida. Isso significa que ele
está à atuação restritiva, por parte do Poder Público. Como todos os direitos
fundamentais, não é absoluto: é necessário que o proprietário dê à propriedade
sua função social.

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Entretanto, mesmo sendo relativo, a Constituição não poderia deixar de


estabelecer certas proteções a esse direito. Desse modo, no inciso XXIV do art.
5o da CF/88, garante-se que, se a propriedade estiver cumprindo a sua função
social, só poderá haver desapropriação com base na tutela do interesse
público, em três hipóteses: necessidade pública, utilidade pública, ou interesse
social. A indenização, nesses casos, ressalvadas algumas exceções
determinadas constitucionalmente, dar-se-á mediante prévia e justa
indenização em dinheiro.

Já no caso de descumprimento de sua função social, a intervenção


estatal representará uma sanção ao proprietário. Por isso, a indenização dar-
se-á por meio de títulos da dívida pública.

Destaca-se, ainda, que, em ambas as hipóteses (atendida ou não a


função social), há indenização. Esta só não ocorre em um caso: na
expropriação de terras usadas para cultivo de plantas psicotrópicas. Tem-se,
então, a chamada “desapropriação confiscatória”, prevista no art. 243 da
Constituição.

XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade


competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao
proprietário indenização ulterior, se houver dano;

Esse inciso trata da requisição administrativa, que ocorre quando o


Poder Público, diante de perigo público iminente, utiliza seu poder de império
(de coação) para usar bens ou serviços de particulares... Fatiando-se o artigo,
para melhor compreensão, temos que:

• Em caso de iminente perigo público, o Estado pode requisitar a


propriedade particular. Exemplo: no caso de uma enchente que destrua
várias casas de uma cidade, a Prefeitura pode requisitar o uso de uma
casa que tenha permanecido intacta, para abrigar aqueles que não têm
onde ficar. Qual o perigo público iminente que justifica tal ato estatal? No
exemplo dado, a possibilidade de a população atingida adoecer ou
morrer por falta de abrigo.

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• A requisição é compulsória para o particular, devido ao poder de império


do Estado. Veja que o interesse público (socorro às pessoas
desabrigadas) é maior que o particular (inconveniente de ter a casa
cedida ao Poder Público gratuitamente). Por isso, o último cede lugar ao
primeiro.
• A propriedade continua sendo do particular: é apenas cedida
gratuitamente ao Poder Público. O titular do bem só é indenizado em
caso de dano. No exemplo acima, o Estado não teria que pagar aluguel
ao proprietário pelo uso do imóvel.
• O perigo público deve ser iminente, ou seja, deve ser algo que
acontecerá em breve. No exemplo dado, o Estado não poderia requisitar
a casa já na estação da seca baseado na possibilidade de uma
enchente ocorrer vários meses depois.

Concluindo-se a análise desse inciso, destaca-se que segundo o STF,


não é possível, devido ao modelo federativo adotado pelo Brasil, que um ente
político requisite administrativamente bens, serviços e pessoal de outro. Tal
prática ofenderia o pacto federativo, e, além disso, o art, 5o, XXV da
Constituição limita o alcance da requisição administrativa à propriedade
privada, não cabendo extrapolação para bens e serviços públicos.

XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei,


desde que trabalhada pela família, não será objeto de
penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
financiar o seu desenvolvimento;

Por meio desse inciso, o legislador constituinte deu, à pequena


propriedade rural trabalhada pela família, a garantia de impenhorabilidade.
Com isso, visou à proteção dos pequenos trabalhadores rurais, que,
desprovidos de seus meios de produção, não teriam condições de
subsistência. Entretanto, a impenhorabilidade depende da cumulação de dois
requisitos: a) exploração econômica do bem pela família; b) origem na
atividade produtiva do débito que causou a penhora.

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Note, também, a exigência, pela Carta Magna, de lei que defina quais
propriedades rurais poderão ser consideradas pequenas e como será
financiado o desenvolvimento das mesmas. Tem-se, aqui, reserva legal.

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,


publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos
herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à


reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
desportivas;

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das


obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos
intérpretes e às respectivas representações sindicais e
associativas;

Protege-se, por meio desses incisos, o direito do autor. Perceba que,


enquanto viver, este terá total controle sobre a utilização, publicação ou
reprodução de suas obras. Só após sua morte é que haverá limitação temporal
do direito. Isso porque o inciso XXVII do at. 5o da CF reza que a lei fixará o
tempo durante o qual esse direito será transmissível aos herdeiros. Nesse
sentido, como se verá adiante, o direito ao autor diferencia-se do direito à
propriedade industrial, presente no inciso XXIX do mesmo artigo.

XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais


privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às
criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de
empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;

Nesse inciso, a Constituição enumera expressamente a propriedade


industrial como direito fundamental. Chamo sua atenção para o fato de que,
diferentemente dos direitos autorais, que pertencem ao autor até sua morte, o

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criador de inventos industriais têm, sobre estes, privilégio apenas temporário


sobre sua utilização.

XXX - é garantido o direito de herança;

XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será


regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal
do "de cujus";

Analisaremos os incisos XXX e XXXI do art. 5o da Constituição em


conjunto. O direito de herança foi elevado à condição de norma constitucional
pela primeira vez na CF/88.

Como se depreende do inciso XXXI, a fim de resguardar mais ainda


esse direito, a Carta Magna garantiu que, no caso de bens de estrangeiros
localizados no País, seria aplicada a norma sucessória que mais beneficiasse
os brasileiros sucessores. Portanto, havendo conflito entre norma que beneficie
sucessores estrangeiros em detrimento dos brasileiros e outra que beneficie os
brasileiros, prevalecerá a última.

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do


consumidor;

Trata-se de norma constitucional de eficácia limitada, já regulamentada


por meio do Código de Defesa do Consumidor.

Ao inserir esse inciso no rol de direitos fundamentais, o constituinte


destacou a importância do direito do consumidor para os cidadãos. Essa
importância fica ainda mais evidente quando se verifica que no art. 170, V,
CF/88 a defesa do consumidor foi elevada à condição de princípio da ordem
econômica.

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos


informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo
ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de

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responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja


imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Essa norma traduz o direito à informação. Combinada com o princípio da


publicidade (art. 37, “caput”, CF/88), determina que a Administração Pública
deve dar divulgação adequada a suas ações, ressalvadas as informações
imprescindíveis à segurança da sociedade e do Estado.

No caso de lesão a esse direito, o remédio constitucional a ser usado


pelo particular é o mandado de segurança. Não é o hábeas data! Isso porque
se busca garantir o acesso a informações de interesse particular do requerente,
ou de interesse coletivo ou geral, e não aquelas referentes à sua pessoa (que
seria a hipótese de cabimento de habeas data).

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do


pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos


ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa


de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Esse dispositivo legal prevê , em sua alínea “a”, o direito de petição e, na


alínea “b”, o de obtenção de certidões. Em ambos os casos, assegura-se o não
pagamento de taxas, por serem ambas as hipóteses essenciais ao próprio
exercício da cidadania. Todavia, não confunda isenção de taxa com gratuidade.
Mesmo com a isenção desses tributos, poderão ser cobrados emolumentos,
custas ou honorários.

O que você deve memorizar para a prova? A finalidade de cada um


desses instrumentos, que a banca poderá trocar para confundi-lo (a). Lembre-
se de que ambos servem para a defesa de direitos. Entretanto, a petição
também é usada contra ilegalidade ou abuso de poder, enquanto as certidões
têm como segunda aplicação possível o esclarecimento de situações de
interesse pessoal.

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XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão


ou ameaça a direito;

Esse dispositivo é bastante cobrado em concursos. Ele consagra o


Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, segundo o qual somente o
Judiciário pode dizer o Direito de forma definitiva, por meio da chamada coisa
julgada material. Isso porque adotamos jurisdição uma, ou seja, o sistema
inglês de jurisdição, e não o francês. O último (não adotado pelo Brasil),
determina que tanto a Administração quanto o Judiciário podem julgar com
caráter definitivo.

É claro que isso não impede que o particular recorra administrativamente


ao ter um direito seu violado. Entretanto, mesmo que não caiba mais recurso
de decisão na esfera administrativa, sempre caberá sujeição da matéria ao
Judiciário.

Essa regra também não obsta que o legislador estipule regras para o
ingresso do pleito na esfera jurisdicional, desde que obedecidos os princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade. Quando este fixa formas, prazos e
condições razoáveis, não ofende a Inafastabilidade da Jurisdição.

Alguns autores analisam, ainda, esse inciso sob outro prisma,


chamando-o Princípio da Universalidade da Jurisdição. Isso porque por meio
dessa norma constitucional, determina-se que o acesso ao Judiciário
independe de processo administrativo prévio referente à mesma questão. As
exceções, constitucionalmente previstas, são as questões pertinentes à justiça
desportiva (art. 217, § 1o, CF/88) e o “hábeas data” (art. 5o, LXXII), sobre o qual
discorreremos mais a seguir.

Destaca-se, porém, que caso haja pendência de solução na esfera


administrativa e mesmo assim a lide seja levada ao Judiciário, a decisão
administrativa restará prejudicada. O processo administrativo,
conseqüentemente, será arquivado sem decisão de mérito.

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XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico


perfeito e a coisa julgada;

Os institutos direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada


surgiram como instrumentos de segurança jurídica, impedindo que as leis
retroagissem para prejudicar situações jurídicas consolidadas. Não se impede,
com isso, que o Estado crie leis retroativas. Estas são permitidas, desde que
beneficiem o indivíduo em relação às anteriores.

“Puxa, Nádia, você não vai conceituar direito adquirido, coisa julgada e
ato jurídico perfeito não?”

Que bom que está curioso (a)! Vamos lá:

• Direito adquirido é aquele que cumpriu todos os requisitos para sua


formação que foram exigidos por lei então vigente. É o que ocorre se
você cumprir todos os requisitos para se aposentar sob a vigência de
uma lei X. Mesmo que, depois de cumpridas as condições de
aposentadoria, seja criada lei B com requisitos mais gravosos, você terá
direito adquirido a se aposentar.
• Ato jurídico perfeito é a conseqüência do exercício efetivo de um direito
adquirido. Trata-se de direito efetivamente exercido sob regras da lei
vigente no momento de sua realização. Seria o caso, por exemplo, de
sua aposentadoria, tomando-se o exemplo anterior, após com o
deferimento de seu pedido.
• Coisa julgada compreende a decisão judicial da qual não cabe mais
recurso.

Para finalizarmos o estudo desse inciso, que tal um pouco de


jurisprudência?

De acordo com o STF, não há possibilidade de se invocar direito


adquirido contra normas constitucionais originárias. Assim, as normas
constitucionais originárias (aquelas que “nasceram” com a CF/88, como
discutimos nesta aula) podem revogar qualquer direito anterior.

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Além disso, a Corte entende que a garantia da irretroatividade da lei


prevista no inciso acima não pode ser invocada pela entidade estatal que a
tenha editado. Assim, a União não pode invocar o inciso XXXVI do art. 5º da
CF/88 para descumprir lei editada pelo Congresso Nacional.

Finalmente, o STF considera que não existe direito adquirido em face


de: nova Constituição, mudança do padrão de moeda, criação ou aumento de
tributos e mudança de regime jurídico estatutário.

Creio que isso é tudo que poderá ser cobrado sobre esse inciso.
Sigamos em frente!

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela


autoridade competente;

Contrariando um pouco a ordem em que estão dispostos na


Constituição, analisaremos esses dois incisos em conjunto. Isso porque ambos
traduzem o princípio do “juízo natural”.

Esse postulado garante ao indivíduo que suas ações no Poder Judiciário


serão apreciadas por um juiz imparcial. Impede a criação de juízos de exceção
ou “ad hoc”, criados após o acontecimento de um fato, de maneira arbitrária.
Todos os juízes e órgãos julgadores, em conseqüência, têm sua competência
prevista constitucionalmente, de modo a assegurar a segurança jurídica.

É importante que você saiba que o STF entende que esse princípio não
se limita aos órgãos e juízes do Poder Judiciário. Segundo o Pretório Excelso,
ele alcança, também, os demais julgadores previstos pela Constituição, como o
Senado Federal, por exemplo.

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização


que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;

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c) a soberania dos veredictos;


d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida;

Esse inciso deve ser memorizado. Geralmente é cobrado em sua


literalidade! Decore cada uma dessas “alíneas”!

Uma observação. A competência do tribunal do júri para julgamento de


crimes dolosos contra a vida não é absoluta. Isso porque não alcança os
detentores de foro especial, como os membros do Congresso Nacional, por
exemplo. Nesses casos, o julgamento se dá por tribunais determinados
constitucionalmente (no exemplo dado, pelo STF).

Veja como o Cespe cobrou esse inciso, numa questão bastante


interessante!

3. (2009/CESPE/SEFAZ-ES) Compete ao tribunal do júri o julgamento dos


crimes dolosos contra a vida. Essa competência constitucional prevalece,
inclusive, sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente
por constituição estadual.

Questão correta! Só a Constituição Federal pode estabelecer exceções


à competência do tribunal do júri. A Estadual, jamais!

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
sem prévia cominação legal;

Esse inciso traduz o princípio da legalidade, que, por sua vez,


compreende dois princípios: o da reserva legal e o da anterioridade da lei
penal.

O primeiro significa que somente lei formal (lei editada pelo Poder
Legislativo) poderá definir crime e cominar penas. Já o segundo exige que essa
lei esteja em vigor no momento da prática da infração para que o crime exista.

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Tais exigências constitucionais visam a proteger o indivíduo contra o


arbítrio do Estado. Isso porque sem a garantia da anterioridade, você poderia
ser condenado, por exemplo, por ter mascado chicletes hoje. Bastava que uma
lei proibitiva, editada futuramente, pudesse considerar crime aquilo que foi
praticado antes de sua vigência. Seria o fim da segurança jurídica, não?

Da mesma forma, a exigência de que lei formal defina o que é crime e


comine suas penas traz a garantia de se considerarem crime condutas aceitas
pela sociedade como tais e de que essas condutas sejam punidas da maneira
considerada justa por ela. Com isso, quem define o que é crime e as
respectivas penas é o povo, por meio de seus representantes no Poder
Legislativo.

Já pensou se, por exemplo, o Presidente da República pudesse definir o


que é crime por medida provisória? Ou até mesmo dobrar a pena de
determinado ilícito por tal ato normativo? Teríamos uma ditadura, não? É por
isso que o inciso XXXIX do art. 5o da CF/88 é tão importante!

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Tem-se aqui o princípio da irretroatividade da lei penal, que admite como


exceção a retroatividade da lei penal mais benigna (lex mitior).

A lei penal favorável ao réu, portanto, sempre retroagirá para beneficiá-


lo, mesmo que tenha ocorrido trânsito em julgado de sua condenação. Já a
mais gravosa ao indivíduo (que aumenta a penalidade, ou passa a considerar
determinado fato como crime), só alcançará fatos praticados após sua vigência.

Assim, se uma lei penal dispuser que conduta X é crime, por exemplo,
não poderá atingir atos praticados antes de sua vigência. Estes continuarão
tendo caráter lícito. Entretanto, se a mesma lei dispuser que a conduta X
deixou de ser crime, terá retroatividade. Desse modo, todas as condutas X
praticadas antes e depois dessa lei terão licitude.

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XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e


liberdades fundamentais;

Não há comentários de interesse para concurso sobre esse artigo.


Apenas recomendo que o leia com atenção!

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e


imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

É claro que há muito a ser falado sobre racismo. Mas destacaremos


apenas o que poderá cair na prova: o fato de esse crime ser inafiançável e
imprescritível e sujeito à pena de reclusão.

Fique atento às questões que tentarão confundir esse inciso com o


próximo, dizendo que o racismo é insuscetível de graça ou anistia. Estarão
erradas!

Outro “peguinha” é dizer que o racismo está sujeito à pena de detenção.


Memorize que essa pena é de reclusão, por ser mais gravosa!

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de


graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de


grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
o Estado Democrático ;

O que guardaremos sobre esses inciso? Uma frase mnemônica!

Três T + hediondos: não têm graça!

Três T? Sim, tortura, tráfico ilícito de drogas e terrorismo. Esses crimes,


assim como os hediondos, são insuscetíveis de graça ou anistia.

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Além disso, assim como o crime de racismo e a ação de grupos


armados contra o Estado democrático, são inafiançáveis.

Que tal resolver uma questãozinha da FUNRIO para testar se já está


“craque” no inciso acima?

4. (2009/FUNRIO/Ministério da Justiça). O artigo 5° da Constituição da


Republica Federativa do Brasil prevê os Direitos e garantias fundamentais e
direitos e garantias individuais e coletivos. Assim, prevê que a lei considerará
crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática dos seguintes
crimes:

a) tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os


definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
b) tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, bem como o trafico de
pessoas e órgãos e a tortura.
c) tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo somente os
mandantes.
d) tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos e os crimes dolosos contra a vida.
e) Todas as respostas estão incompletas.

Que moleza, hein? Literalidade do inciso que acabamos de discutir. O


gabarito é a letra “a”.

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação


de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;

Trata-se do princípio da pessoalidade (ou intransmissibilidade) da pena,


que veda que esta seja transmitida a pessoas que não o condenado. Visa a

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garantir a segurança jurídica, evitando-se que o indivíduo pague por crime que
não cometeu.

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre


outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;


b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos


do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

Esses dois incisos trazem as penas admitidas e as vedadas pela


Constituição. A enumeração das primeiras não é exaustiva, podendo a lei criar
formas diversas de penalidade, desde que estas não estejam no rol de
vedação constitucional. Decore essas duas listas, são muito cobradas em
concursos!

Outro ponto a ser destacado é que ao determinar que a lei “regulará a


individualização da pena”, o constituinte determinou que a lei penal deverá
considerar as características pessoais do infrator. Dentre essas, podemos citar
os antecedentes criminais, o fato de ser réu primário, etc. Trata-se do
denominado princípio da individualização da pena.

É importante que você se lembre, em suas provas futuras, de importante


posicionamento do STF. O STF considerou inconstitucional, por afronta ao

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princípio da individualização da pena, a vedação absoluta à progressão de


regime trazida pela Lei 8072/1990, que trata dos crimes hediondos.

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de


acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e


moral;

L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam


permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;

Esses incisos só poderão ser cobrados em sua literalidade. Leia-os com


atenção!

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em


caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, na forma da lei;

LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime


político ou de opinião;

O que é extraditar alguém? É entregar aquela pessoa para outro país,


onde esta praticou crime, para que lá seja julgada segundo suas leis.

Quando um brasileiro nato poderá ser extraditado? NUNCA.

E o naturalizado? Só em duas situações:

• Quando cometer crime comum, somente antes de sua naturalização (há


uma restrição quanto ao tempo do crime);
• Quando ficar comprovado que está envolvido no tráfico ilícito de drogas,
a qualquer tempo.

Destaca-se, também, que para haver extradição, a conduta que a


pessoa praticou no exterior deverá ser crime, também, no Brasil. Além disso,

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caso a pena para o crime seja a de morte, o país deverá se comprometer a


substituí-la por outra, restritiva de liberdade (comutação da pena), exceto,
claro, naquele único caso em que a pena de morte é admitida no Brasil: guerra
declarada. O mesmo ocorre quanto à pena de prisão perpétua: deverá ser
reduzida para o limite máximo de trinta anos (o adotado no Brasil).

Ufa! Quanta coisa já estudamos hoje! Vamos dar uma paradinha para
brincar com uma questão da FUNRIO?

5. (2009/FUNRIO/ INSS/ Analista do Seguro Social) Constitui um dos direitos


individuais, garantido pela Constituição da República, aos brasileiros e
estrangeiros residentes no Brasil, que:

a) a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade


ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em títulos da dívida pública, vedado o pagamento em
dinheiro.
b) a média propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos
decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
financiar o seu desenvolvimento.
c) as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter
suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no segundo
caso, o trânsito em julgado.
d) nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado após da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei.
e) a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário
para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País.

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Mais fácil que tirar chupeta da boca de neném, não? Apontemos, então
o erro ou acerto de cada alternativa...
A letra “a” está errada. O inciso XXIV do art. 5º fala em prévia e justa
indenização em DINHEIRO, ressalvados os casos previstos na Constituição,
quando se tratar de desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social.
A letra “b” também tem um erro crasso. A Constituição, em seu art. 5º,
inciso XXVI, determina que esse benefício se dará para a PEQUENA
propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família. A
palavra MÉDIA (que salta aos olhos mesmo de quem nunca leu a Constituição)
torna a alternativa incorreta.
A letra “c” também é absurda. Cobra a literalidade do art. 5º, XIX, CF.
Sentença transitada em julgada é condição necessária para a dissolução das
associações. Para a suspensão de suas atividades, basta ordem judicial.
O erro da letra “d” também é muito simples, até ridículo. Para torná-la
correta, basta trocar a palavra “após” pela palavra “antes”. Fundamento: inciso
LI, art. 5º da Constituição.
Só sobrou a letra “e”. E ela está correta mesmo. Fundamento: inciso
XXIX do nosso famoso art. 5º da Carta Magna.
Essa questão serviu de descanso. Temos mais coisa para estudar.
Ânimo, a matéria que estamos estudando é questão quase certa de prova!

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o


devido processo legal;

Tem-se, aqui, o princípio do devido processo legal, que garante ao


indivíduo meios de defesa frente ao Estado, caso este tente agir sobre sua
liberdade ou seus bens.

Segundo o STF, o princípio da proporcionalidade tem sua sede material


no princípio do devido processo legal.

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

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As garantias do contraditório e da ampla defesa são inerentes ao devido


processo legal. A primeira compreende o direito que o indivíduo tem de trazer
ao processo todos os elementos lícitos de que dispuser para provar a verdade,
ou, até mesmo, de se calar ou omitir caso isso lhe seja benéfico (direito à não-
autoincriminação). Já o segundo é o direito dado ao indivíduo de contradizer
tudo que for levado ao processo pela parte contrária. Assegura, também, a
igualdade das partes do processo, ao equiparar o direito da acusação com o da
defesa.

Destaca-se, ainda, que essas garantias constitucionais aplicam-se tanto


aos processos judiciais quanto aos administrativos.

O STF entende que não há ofensa ao contraditório e à ampla defesa


quando do interrogatório realizado pela autoridade policial sem a presença de
advogado. Por esse motivo, é nula a sentença condenatória proferida
EXCLUSIVAMENTE com base em fatos narrados no inquérito policial.

Entende, também, aquela Corte, que na sindicância preparatória para a


abertura do processo administrativo disciplinar (PAD) não é obrigatória a
obediência aos princípios do contraditório e da ampla defesa. Esses somente
são exigidos no curso do PAD. Por esse motivo, é nula a punição disciplinar
proferida EXCLUSIVAMENTE com base na sindicância.

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios


ilícitos;

Qual a diferença entre prova ilícita e prova ilegítima? Não confunda, caro
(a) aluno (a)! A primeira é aquela que fere o direito material, a segunda é a que
fere o processual.

A prova ilícita não pode ser usada nem no processo administrativo nem
no judicial.Entretanto, caso isso ocorra, não há, necessariamente, invalidação
de todo o processo. Caso existam outras provas e estas sejam lícitas e
independentes da obtida ilicitamente, o processo continua, sendo removida
apenas esta e mantidas aquelas.

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E se da prova ilícita resultarem outras? Todas elas deverão ser retiradas


do processo, pois foram contaminadas pela ilicitude. É o que preconiza a
Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada (Fruits of the Poisonous Tree)

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado


de sentença penal condenatória;

Trata-se do princípio da presunção de inocência, que tem por objetivo


proteger a liberdade do indivíduo frente ao poder de império do Estado. Cabe
ao último provar a culpabilidade do primeiro.

Esse princípio impede a prisão do réu antes que sua condenação


transite em julgado. Entretanto, é possível a prisão preventiva processual,
obedecidos os requisitos do Código de Processo Penal.

LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação


criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;

Tem-se, aqui, norma constitucional de eficácia contida: na falta de lei


dispondo sobre os casos de identificação criminal excepcional, esta jamais
seria exigível.

O que é identificação civil? É a regra: carteira de identidade, de


motorista, de trabalho...E a criminal? É a impressão digital (processo
datiloscópico) e a fotográfica. Aposto que você se lembrou daquelas cenas de
filmes, em que o preso é fotografado de frente e de perfil pela polícia, né?

Assim, lei pode prever, excepcionalmente, hipóteses de identificação


criminal mesmo quando o indivíduo já foi identificado civilmente. É o caso da
Lei no 9034/1995, de combate ao crime organizado, por exemplo.

LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se


esta não for intentada no prazo legal;

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Como você sabe, em regra é o Ministério Público que provoca o Poder


Judiciário nas ações penais públicas, de cujo exercício é titular, com o fim de
obter do Estado o julgamento de uma pretensão punitiva.

Entretanto, em alguns casos, o particular poderá exercer essa


prerrogativa, de maneira excepcional. Trata-se dos casos de ação penal
privada subsidiária da pública, quando esta não é intentada no prazo legal.

Nesse tipo de ação, a titularidade da persecução criminal era,


inicialmente, do Ministério Público. Entretanto, diante da omissão deste, ela
passou para o particular!

Destaca-se, todavia, que não é possível ação penal privada subsidiária


da pública quando o Ministério Público solicitou ao juiz o arquivamento do
inquérito policial por falta de provas. Isso porque nesse caso, não se
caracteriza inércia do Ministério Público.

LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais


quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

A compreensão desse inciso é bastante simples. A regra é a publicidade


dos atos processuais. A exceção é a restrição a essa publicidade, que só
poderá ser feita POR LEI e em duas hipóteses: defesa da intimidade ou
interesse social.

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem


escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo
nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei;

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei


admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

O inciso LXI do art. 5º da Constituição traz as hipóteses em que é


possível a prisão:

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• Em flagrante delito;
• Em caso de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei;
• Por ordem de juiz, escrita e fundamentada (ou seja, com base
legal).

O inciso LXVI, por sua vez, resguarda o direito à liberdade, dando à


prisão caráter excepcional. Isso porque a liberdade é um dos direitos mais
importantes do ser humano.

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre


serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família
do preso ou à pessoa por ele indicada;

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de


permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
família e de advogado;

LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por


sua prisão ou por seu interrogatório policial;

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade


judiciária;

Esses incisos trazem os direitos do preso. No inciso LXIII, temos o


direito à não autoincriminação (ao silêncio), estando presente tanto quando o
réu presta depoimento ao Poder Judiciário quanto quando dá informações ao
Executivo ou ao Legislativo (no âmbito de CPI, por exemplo).

Uma jurisprudência importante para concursos: segundo o STF, o preso


deve ser informado de seu direito ao silêncio, sob pena de nulidade absoluta de
seu interrogatório.

Outro entendimento importante do STF a respeito dos direitos do preso é


a súmula vinculante 11, segundo a qual:

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11 – Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado


receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de
nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável


pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel;

A partir deste artigo, de “memorização” obrigatória para sua prova, pode-se


concluir que:

• Em regra, não há prisão civil por dívidas.

• Aquele que não paga pensão alimentícia só pode ser preso se deixar de
pagar porque quer (inadimplemento voluntário) e sem justificativa
plausível (inadimplemento inescusável).

• O depositário infiel, de acordo com a Constituição, também pode ser


preso. Entretanto, segundo o STF, o Pacto de San José, firmado pelo
Brasil em 1992 e que só permite a prisão civil por não pagamento de
obrigação alimentícia, revogou a legislação a ele contrária. Esse tratado,
segundo a Corte Suprema, por tratar de direitos humanos, tem “status”
supralegal, ou seja, está abaixo da Constituição e acima de todas as leis
na hierarquia das normas. Assim, a norma constitucional permanece
válida, mas toda a legislação infraconstitucional que regia a prisão do
depositário infiel foi revogada. Não há, portanto, prisão civil nesta
hipótese.

Para facilitar a compreensão do artigo, definirei, para você, o que é


depositário infiel. O conceito não é cobrado em prova, mas fica bem mais fácil
entender o espírito da norma quando este é explicado. O depositário é a
pessoa a quem uma autoridade entrega um bem em depósito. Essa pessoa
assume a obrigação de conservar aquele bem com diligência e de restituí-lo

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assim que a autoridade o exigir. Quando assim não procede, é chamada


depositário infiel. A infidelidade, portanto, é um delito. É o caso de uma pessoa
que teve mercadoria apreendida pela Receita Federal, mas que recebe do
Auditor-Fiscal autorização para guardá-la, por falta de espaço no depósito da
unidade aduaneira, por exemplo. Caso o bem não seja entregue assim que
requerido, o depositante torna-se INFIEL.

Quero que se lembre, ainda, de que os tratados sobre direitos humanos


também podem ter “status” de emenda constitucional, desde que aprovados
obedecendo ao rito próprio dessa espécie normativa. Assim, necessitam ser
aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros. Essa previsão está no art. 5º, § 3º
da CF/88, incluído à Constituição pela EC 45/04.

LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém


sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder;

O “habeas corpus” é, como estudamos anteriormente, uma garantia


fundamental. Trata-se de uma forma específica de garantia, a que a doutrina
chama “remédio constitucional”.

“Ih...Agora complicou! O que é remédio constitucional, Nádia?”

Calma, aluno (a)... O remédio constitucional é um meio que a


Constituição dá ao indivíduo de proteger seus direitos contra a ilegalidade ou
abuso de poder cometido pelo Estado. Ao contrário da maioria das garantias,
não é uma proibição ao Estado, mas um instrumento a favor do indivíduo.

Bem, voltando ao “habeas corpus”, temos que ele é remédio


constitucional que protege o direito de locomoção. Sua finalidade é, por meio
de ordem judicial, fazer cessar a ameaça ou coação à liberdade de locomoção
do indivíduo.

Já viu pessoa jurídica (“empresa”) se locomovendo? Ou, ainda, é


possível que pessoa jurídica seja condenada à prisão? Não, né? Por isso
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mesmo, o “habeas corpus” só pode ser impetrado a favor de pessoa natural,


jamais de pessoa jurídica. Guarde bem isso!

O “habeas corpus” tem natureza penal, procedimento especial (é de


decisão mais rápida: rito sumário), é isento de custas (gratuito) e pode ser
repressivo (liberatório) ou preventivo (salvo-conduto). No primeiro caso, busca
devolver ao indivíduo a liberdade de locomoção que já perdeu (sendo preso,
por exemplo). No segundo, resguarda o indivíduo quando a perda dessa
liberdade é apenas uma ameaça.

Pode haver medida liminar em “habeas corpus”, desde que presentes


seus pressupostos. Além disso, qualquer pessoa pode impetrar essa ação, em
benefício próprio ou alheio. Qualquer pessoa mesmo: criança, mendigo,
analfabeto, pessoa jurídica... A última, claro, só a favor de pessoa física.

Não há necessidade de advogado para impetração de “habeas corpus”,


bem como para interposição de recurso ordinário contra decisão proferida em
“habeas corpus”. Além disso, a autoridade coatora pode ser pública ou
particular. Assim, pode ser tanto um delegado de polícia quanto um diretor de
hospício particular...

Outra coisa importante: é cabível “habeas corpus” mesmo quando a


ofensa ao direito de locomoção é indireta, ou seja, quando do ato impugnado
possa resultar procedimento que, ao final, termine em detenção ou reclusão da
pessoa. É o caso do uso desse instrumento para proteger o indivíduo contra
quebra de sigilo bancário que possa levar à sua prisão em um processo
criminal, por exemplo. Esse é o entendimento do STF. Entretanto, caso a
quebra do sigilo fiscal se desse em um processo administrativo, não caberia
habeas corpus. Isso porque esse tipo de processo jamais leva à restrição de
liberdade. O remédio constitucional adequado, nesse caso, seria o mandado de
segurança.

Quando é incabível o “habeas corpus”?

I. Para impugnar decisões do STF (Plenário ou Turmas);

II. Para impugnar determinação de suspensão dos direitos políticos


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III. Para impugnar pena em processo administrativo disciplinar: advertência,


suspensão, demissão etc.

IV. Para impugnar pena de multa

V. Para impugnar quebra de sigilo bancário, fiscal ou telefônico, se dela


não puder resultar condenação à pena privativa de liberdade

VI. Para discutir o mérito de punições disciplinares militares.

Perceba que as penas de multa, de suspensão de direitos políticos, bem


como disciplinares não resultam em cerceamento da liberdade de locomoção.
Logicamente, não cabe habeas corpus para impugná-las. Já a vedação ao uso
desse remédio para discutir o mérito das punições militares é que estas estão
sujeitas à decisão das autoridades militares, não aos juízes. Entretanto,
segundo o STF, o mérito não pode ser discutido pelos juízes, mas a legalidade
sim (questões como cumprimento do regimento militar, por exemplo).

LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger


direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou
habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de
poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;

O mandado de segurança sofreu modificações recentes, pois passou a


ser regulamentado pela Lei 12.016, de 07 de agosto de 2009.

Trata-se de uma ação judicial, de rito sumário especial, própria para


proteger direito líquido e certo de pessoa física ou jurídica, não protegido por
habeas corpus ou habeas data, que tenha sido violado por ato de autoridade
ou de agente de pessoa privada no exercício de atribuição do Poder Público.

Quando se fala que o mandado de segurança protege direito líquido e


certo “não amparado por habeas corpus ou habeas data”, determina-se que
este tem caráter RESIDUAL. Assim, essa ação judicial só é cabível na falta de
outro remédio constitucional para proteger o direito violado.

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Outra característica importante é que o mandado de segurança tem


natureza CIVIL, e é cabível contra o chamado “ato de autoridade”, ou seja,
contra ações ou omissões do Poder Público e de particulares no exercício de
função pública (como o diretor de uma universidade particular, por exemplo).

Quando é incabível o mandado de segurança?

I- Quando se tratar de ato do qual caiba recurso administrativo suspensivo,


independentemente de caução;

II- Quando se tratar de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito
suspensivo;

Nessas duas hipóteses, havendo possibilidade de recurso suspensivo


(ou seja, recurso que garante que nenhuma situação jurídica poderá ser
modificada até a decisão) descabe o uso de mandado de segurança, uma vez
que o direito já está protegido pela própria suspensão.

III- Contra decisão judicial transitada em julgado;

Contra esse tipo de decisão não cabe mais recurso, por isso é
descabido o uso de mandado de segurança.

IV – Contra lei em tese, exceto se produtora de efeitos concretos.

O que é lei em tese? É aquela de efeitos gerais e abstratos, ou seja, que


apresenta generalidade e abstração.

A generalidade está presente quando a lei possui destinatários


indeterminados e indetermináveis (uma lei que proteja o meio ambiente, por
exemplo). Já a abstração ocorre quando a lei disciplina abstratamente (e não
concretamente) as situações que estão sujeitas ao seu comando normativo.
Somente leis de efeitos concretos (semelhantes a atos administrativos, como
uma lei que modifica o nome de uma rua, por exemplo) podem ser atacadas
por mandado de segurança.

Agora que já sabemos quando o mandado de segurança é cabível, que


tal entendermos o que ele protege? Afinal, o que é direito líquido e certo?

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Direito líquido e certo, segundo a doutrina, é aquele evidente de


imediato, que não precisa de comprovação futura para ser reconhecido. A
existência desse direito é impossível de ser negada. Por esse motivo, não há
dilação probatória (prazo para produção de provas) no mandado de segurança.
As provas, geralmente documentais, são levadas ao processo no momento da
impetração da ação, ou seja, quando se requer a tutela jurisdicional.

Quem pode impetrar mandado de segurança?

- Todas as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, domiciliadas


ou não no Brasil;

- As universalidades (que não chegam a ser pessoas jurídicas) reconhecidas


por lei como detentoras de capacidade processual para a defesa de seus
direitos, como a massa falida e o espólio, por exemplo;

- Alguns órgãos públicos (órgãos de grau superior), na defesa de suas


prerrogativas e atribuições;

- O Ministério Público.

Pode haver liminar em mandado de segurança?

Calma, aluno (a). Já vou explicar o que é liminar. Esta é uma ordem
judicial proferida pronta, sumaria(rito breve) e precariamente (não é definitiva).
Visa a proteger direito que esteja sendo discutido em outra ação, e que, sem a
liminar, poderia sofrer danos de difíceis reparações, devido à demora na
prestação jurisdicional.

A liminar, portanto, tem dois pressupostos:

- O “fumus boni juris”, ou “fumaça do bom direito”, que significa que o pedido
deve ter plausibilidade jurídica;

- O “periculum in mora” (risco da demora), que significa que deve haver


possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação se houver demora na
prestação jurisdicional.

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Presentes esses requisitos, é possível liminar em mandado de


segurança. Entretanto, há exceções, para as quais mesmo existindo esses
requisitos, a lei não admite liminar em mandado de segurança:

a) a compensação de créditos tributários;

b) a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior;

c) a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão


de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
natureza.

Por que a lei faz isso, Nádia? Ora, trata-se de matérias muito
importantes, que não podem ser decididas precariamente por medida liminar.
Na compensação de créditos tributários, por exemplo, a União (ou outro
ente federado) “perdoa” um débito do contribuinte utilizando um crédito que ele
tenha com ela. Exemplo: um contribuinte deve imposto de renda, mas tem um
crédito de COFINS-EXPORTAÇÃO. Ele usa, então, esse crédito para “quitar” a
dívida, o famoso “elas por elas”.

Pense bem, caro (a) aluno (a). Você acha que perdão de débito tributário
é matéria a ser discutida precariamente? É claro que não! Por isso a lei protege
essa matéria ao impedir que seja tratada por medida liminar em mandado de
segurança.

O mesmo ocorre com a entrega de mercadorias ou bens provenientes


do exterior. Eles são a maior garantia que a Receita Federal tem de que o
contribuinte pagará seus tributos aduaneiros. Por isso, não podem ser
entregues precariamente, por medida liminar. Além do mais, o risco de se
entregar uma mercadoria que cause prejuízo à sociedade é muito maior que o
de se prejudicar alguma empresa pela retenção indevida de seus bens
importados. Essas são as razões pelas quais a lei resguarda decisão tão
importante contra medida liminar em mandado de segurança: há interesses
muito grandes envolvidos.

Há um prazo para a impetração do mandado de segurança: cento e vinte


dias a partir da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato a
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ser impugnado (publicação desse ato na imprensa oficial, por exemplo).


Segundo o STF, esse prazo é decadencial (perde-se o direito ao mandado de
segurança depois desse tempo), não passível de suspensão ou interrupção.

E se eu perder o prazo, Nádia? Você até poderá proteger seu direito,


mas com outra ação, de rito ordinário, normal. Jamais por mandado de
segurança!

Outro aspecto importante do mandado de segurança a ser estudado


para suas futuras provas de concurso é que, concedida a segurança (deferido,
“aceito” o pedido), a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de
jurisdição (reexame necessário). Significa dizer que essa sentença será
reexaminada em uma instância superior, exceto quando proferida por tribunal
do Poder Judiciário em sua competência originária.

Isso porque quando a Constituição estabelece que determinado tribunal


tem competência originária para certo pleito, isso significa que esse órgão pode
e deve decidir o pleito em toda sua dimensão, bem como resolver as questões
- de fato e de direito - surgidas por força da resistência oposta pelo demandado
(ou mesmo pela lei, nos casos de direitos indisponíveis). É o caso da
competência do STF para julgar o Presidente da República no caso de infração
penal comum, por exemplo (art. 102, I, “b”, CF).

Entretanto, a sentença de primeiro grau poderá ser executada


provisoriamente. Não se esqueça disso!

Por fim, destaca-se que no processo de mandado de segurança não há


condenação ao pagamento dos honorários advocatícios (ônus de
sucumbência). Se o impetrante (o requerente) for derrotado, não será
condenado a pagar as despesas com advogado da outra parte.

Agora que já estudamos bastante o mandado de segurança individual,


que tal aprendermos o coletivo?

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

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b) organização sindical, entidade de classe ou associação


legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

O mandado de segurança coletivo serve para proteger direitos coletivos


e individuais homogêneos contra ato, omissão ou abuso de poder por parte de
autoridade. Só quem pode impetrá-lo (legitimados ativos) são essas pessoas
previstas nas alíneas “a” e b”. Destaca-se que a exigência de um ano de
constituição e funcionamento da alínea “b” aplica-se apenas às associações,
jamais às entidades sindicais e de classe.

Lembra-se quando falamos de substituição processual? No mandado de


segurança coletivo, ocorre esse instituto. O interesse invocado pertence a uma
categoria, mas quem é parte do processo é o impetrante (partido político, por
exemplo), que não precisa de autorização expressa dos titulares do direito para
agir.

É importante destacar que o STF entende que os direitos defendidos


pelas entidades da alínea “c” não precisam se referir a TODOS os seus
membros. Podem ser o direito de apenas parte deles (exemplo, quando o
sindicato defende direito referente à aposentadoria, que beneficia apenas seus
filiados inativos).

Bem, meu amigo (ou amiga) futuro (a) colega de serviço público...
Despedimo-nos aqui. Deixarei o restinho do inciso 5º da CF para ser estudado
na próxima aula, para não tornar este nosso encontro cansativo para você.

Espero que o tempo que passamos juntos tenha sido bastante agradável
e produtivo. Aproveite para estudar bastante antes do edital, pois a qualidade
do aprendizado é bem maior. E não deixe de enviar as dúvidas referentes ao
que estudamos hoje para o Fórum.

Abraços,

Nádia

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Questões comentadas nesta aula

1. (2010/CESPE/TRT-MT) Assinale a opção correta a respeito dos direitos e


deveres individuais e coletivos.

a) Em razão do caráter absoluto do princípio da isonomia, não se admite o


estabelecimento de proibições relativas ao acesso em determinadas
carreiras por critério de idade.
b) dano moral, que atinge a esfera íntima da vítima, agredindo seus
valores, humilhando e causando dor, não recai sobre pessoa jurídica.
c) A garantia constitucional da inviolabilidade de domicílio abrange
qualquer compartimento habitado, mas não os compartimentos onde
alguém exerce atividade profissional.
d) A CF assegura a prestação de assistência religiosa tanto às entidades
hospitalares privadas quanto às públicas, bem como aos
estabelecimentos prisionais civis e militares.
e) sigilo das comunicações telefônicas é inviolável, podendo ser rompido
somente por autorização judicial ou por decisão da autoridade policial
responsável pelo inquérito, quando existirem fundados elementos
reveladores da prática de crime.

2. (2009/FUNRIO/Ministério da Justiça) O artigo 5° da Constituição da


República Federativa do Brasil em seu inciso XVII prevê que é plena a
liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. Em
relação as a associações é INCORRETO afirmar que:

a) as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter


suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro
caso, o trânsito em julgado;
b) a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
dependem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento;
c) ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado;

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d) as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm


legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
e) todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

3. (2009/CESPE/SEFAZ-ES) Compete ao tribunal do júri o julgamento dos


crimes dolosos contra a vida. Essa competência constitucional prevalece,
inclusive, sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente
por constituição estadual.

4. (2009/FUNRIO/Ministério da Justiça). O artigo 5° da Constituição da


Republica Federativa do Brasil prevê os Direitos e garantias fundamentais e
direitos e garantias individuais e coletivos. Assim, prevê que a lei considerará
crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática dos seguintes
crimes:

a) tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os


definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
b) tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, bem como o trafico de
pessoas e órgãos e a tortura.
c) tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo somente os
mandantes.
d) tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos e os crimes dolosos contra a vida.
e) Todas as respostas estão incompletas.

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5. (2009/FUNRIO/ INSS/ Analista do Seguro Social) Constitui um dos direitos


individuais, garantido pela Constituição da República, aos brasileiros e
estrangeiros residentes no Brasil, que:

a) a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade


ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em títulos da dívida pública, vedado o pagamento em
dinheiro.
b) a média propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos
decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
financiar o seu desenvolvimento.
c) as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter
suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no segundo
caso, o trânsito em julgado.
d) nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado após da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei.
e) a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário
para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País.

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Gabarito

1‐D

2‐B

3‐CORRETA.

4‐A

5‐E

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