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MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO toa x Processo n. 06.167644- 37° Vara Civel da Capital Autora : ASSOCIACAO DOS ADQUIRENTES DE APARTAMENTOS DO CONJUNTO RESIDENCIAL SOLAR DE SANTANA. Réu_ : COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCARIOS DE SAO. PAULO LTDA ~— BANCOOP MERITISSIMO JUIZ : Trata-se de agio coletiva com pedido de antecipaca parcial dos efeitos da tutela, ajuizada pela Associagao dos Adquirentes di Apartamentos do Conjunto Residencial Solar de Santana, contra a Cooperativa Habitacional dos Bancarios de S40 Paulo - BANCOOP. Aduz a autora, na condigao de substituta processual de seus associados, todos adquirentes de imoveis residenciais do edificio que deu origem ao condominio “Solar de Santana”, que a vendedora, construtora e incorporadora responsavel pelo mesmo, a COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCARIOS DE SAO PAULO LTDA BANCOOP. fa niimeras ilegalidades e ma administragao praticadas por seus atuais ¢ ex-dirigentes, despiu-se de sua natureza juridiea de Cooperativa de consumo, passando a atuar no mercado de iméveis como verdadeira incorporadora imobilidria com fins Tucratives. Também, aduz que alguns 1 MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO us desses dirigentes - Diretores e Conselheiros -, sio ou foram sécios de empresas que, 0 arrepio da Lei n. 5.764/71, contrataram bens e servigos com a propria Cooperativa, e, ainda, captaram milhdes de reais no mercado de valores mobilidrios mediante pagamento de juros clevados, sem a autorizaco ¢ em detrimento financeiro de milhares de cooperados, que se encontram cm situag3o de hipossuficiéncia e vulnerabilidade, até porque alijados das decisdes tomadas pelas assembléias gerais ¢ extraordindrias da cooperativa, pars as quais nao foram convocados formalmente. Em conseqiiéneia, reclama a autora que seus associados- cooperados, embora tivessem quitado integralmente os valores atinentes ao} iméveis que adquiriram, ainda nao receberam as escrituras definitivas. Piqr que isso, descobriram que nem sequer houve a averbagéo no registr imobilidrio da incorporagao do empreendimento e, ainda, receberam correspondéncia da BANCOOP cobrando um “residuo final”, que varia de R$ 13.173,83 a RS 23.736.65, de acordo com a unidade residencial adquirida. Por cobro, entendendo indevida essa exigéncia financeira @ para nao corer o risco de perder os iméveis j4 pagos, postula a autora a antecipagdo dos efeitos da tutela, para determinar a ré que, no prazo de 30 dias, promova os registros determinados pelo artigo 44 da Lei n. 4.591/64 & que se abstenha de realizar qualquer tipo de cobranga, negativacao, protesto ou interpelag’io contra os associados representados na agao, sob pena de multa didria no valor de RS 10,000,00, bem como publique todos os despachos “que vierem deferir os pedidos inerente: (fls.70/71). antecipagao de tutela” _ $ MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO (© No mérito, pleiteia = | — © reconhecimento da relagio de consumo entre 05 partes, com inversto dos énus probatério © desconsideragao da personalidade juvidica da BANCOOP, por desviar-se de suas finalidades legais e estatutarias, responsabilizando-se civilmente seus dirigentes; A nutidade da cldusula contratual que prevé a “apuragéo fina!” ou, sucessivamente, a prestagao de contas pela BANCOOP, atastando-se a cepitatizagao dos juros e substituindo a Tabela Price pelo indice Cub-Sinduscon; A corsenatio don thor em rest em dateo nyu A pago a maior pelos cooperados-associados; ¢, 4~ A condenagao da ré na obrigago de adotarem todas as providéncias previstas na Lei n. 4591/64 ¢ na Lei de Registros Pablicos, a fim de gorantir aos associados-cooperados 0 recebimento ¢ registro da escriturs piblica relativa aos iméveis adquiridos. I'm rapidas pinceladas, ¢ 0 retrato da pretensio de dircito material contida na petigao inicial. Inicialmente registro que © Ministério Pablico intervém neste feito em obediéncia ao disposto no artigo 5°, § 1°, da Lei n® 7347/85 Lei de Agao Civil Piblica, ¢ artigo 92 do Cédigo de Defesa do Consumidor, na qualidade de fiscal da lei. r e\ MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO eX Dito isso, cumpre registrar que a autora é parte legitima para © ajuizamento da presente agao coletiva em favor de seus associados, nos termos dos artigos $°, inciso XXI, da Constituigao Federal e 82, 1V, da Lei 8.078/90 (Codigo de Defesa do Consumidor) e 5°, da Lei n. 7347/85 (Lei de Acao Civil Publica). Oportuno destacar que a autora detém representatividade adequada, até poryue constituida unicamente para defender os interesses de seus associados, inclusive na via judicial, em relagéo @ BANCOO, que se vé a fls. 77/85. conforme estatuto so F certo que a autora foi constituida hd menos de um (1) ano, prazo minimo para outorgar-the legitimidade para o ajuizamento de agao coletiva, todavia, considerando © manifesto interesse social e a urgénciat no provimento judicial, entendo que deva ser dispensado © requisito da pré- constituigdo supramencionada, consoante faculta o artigo 82, § 1°, do Cédigo de Defesa do Consumidor Passando @ analisar a peticao inicial, observo que a autora simou no polo passivo da ago apenas a BANCOOP (fis.3), todavia, dirigiu 0s pedidos finais atinentes 4 responsabilidade civil (item “a”, fls. 72) ¢ de restittir em dobro do valor pago a maior de acordo com a legislagao consumerista (item “e”, fls. 12), a todos os membros da Diretoria ¢ Conselho Fiscal da cooperativa, considerados “co-réus” na aco (fls. 72). G MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO Portanto, € necessdrio que sejam inclufdos formalmente no polo passiva da ago - desde que autores ou participes de atos ilicitos ov de ma administragio-, 0s atuais dirigentes da BANCOOP, capitaneados pelo Diretor Presidente JOAO VACCARI NETO, que tomaram posse em dezembro de 2004, bem como os anteriores membros da Diretoria ¢ Consetho Fiscal, cuja presidéncia coube a LUIZ EDUARDO SAEGER MALIHILIRO, que teria falecido em acidente automobilistico. que varios atos apontados como ilicitos ¢ causadores de prejuizo econémico aos cooperados, v.g., captagio de milhdes de reais pelo fundo de investimento sem autorizago dos cooperados mediante juros elevados, vendas de iméveis sem a inscrigo da incorpora no registro imobilisrio, contratago. pela cooperativa com empresas. q tinham como sécios dirigentes da prépria cooperative, foram praticados durante @ gest20 anterior, comandada por LUIZ FDUARDO SAEGER MALHEIRO. Lo: >, como se trata de agiio de responsabilidade civil, em que se postuils # desconsiderago da personalidade juridica da BANCOOP e a responsabilizagao d= seus dirigentes por atos dolosos e culposos. soa induvidoso e insofismavel que somente os causadores do dano ¢ que poderao, com patriménio proprio, responder 4 pretensio de direito material ora deduzida, incluindo-se os responsaveis que ja deixaram a administragio da ‘cooperativa. |impremnotitat ¢ MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO J Consigne-se que a morte de alguns dirigentes apenas transmite a obrigagto da reparag&o do dano para os herdeiros, dentro das forcas da heranga, nos termos do artigo 943 do Cédigo Civil. A propésito, comentando a transmissibilidade do dever de indenizar, ina MARIA HELENA DINIZ. que : “O patriménio do responsavel responderé pelo dano. Assim sendo, em caso de responsabilidade civil, vindo « falecer © responsavel pela indenizasdio ¢ como seus passam a seus herdeiras, estes, dentro da forga da heranga, deverao reparar o dano #0 ofendido (CC, Arts. 1.792 ¢ 1.7997)! Dessa forma, & luz do artigo 284, do Cédigo de Process; Civil, requeiro seja facultado & autor proceder ao aditamento da petig inicial, para incluir no pélo passive da ago todos os dirigentes e ex- dir ntes da BANCOOP que tenham, de qualquer modo, participado ou contribuido para as condutas ilegais descritas na inicial, anotando-se, quanto ags falecidos, que se houver inventario em andamento, a agdo devera ser dir ja contra © Fspélio, representado pelo inventatiante (artigo 12, V, do CPC) e, em caso de partitha, contra os herdeiros. Sem prejuizo disso, entendo que o pedido deva ser concedido parcialmente, desde jé, a antecipagao dos efeitos da tutela, uma vez que ha provas nos autos que levam ao convencimento da verossimilhanga do alegado ¢ fundado receio de dano irrepardvel ou de dificil reparagdo (artigo 272, |, do CPC). Também, poder-se-4 conceder, liminarmente, a " DINIZ. Maria Helens, Cédigo civil anotada. 9. e8,, Sio Paulo : Saraiva, 2003, p. $92. 6 ey it MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO utela especifica da abrigagao, com fulero no artigo 84, do Cédigo de Defesa do Cor idor, considerando a relevaacia do fundamento da demanda ¢ 0 justificado receio de ineficdcia do provimento final. De fato, a ré BANCOOP realizou todo 0 empreendimento “Solar de Santana”, localizado na Rua Conselheiro Moreira de Barros, 1.152, nesta cidade, denominadO “RESIDENCIAL SOLAR DE Santa Terezin! SANTANA", representado pela autora. Assim, foi que 3 cooperativa encarregot-se ce edministrar e gerit todo 0 empreendimento, desde a aquisigio. do terreno, projeto e construgao dos prédios, servigos administratives, venda das unidades auténomes e recebimento dos cooperadas, obtencao de financiamento no mercado de ages, cle. Logo, atuou como verdadeira incorporadora, cor obrigacao de registrar no cartério imobilidrio a incorporagao, nos molde: artigo 32 da Lei n. 4.591/64, © que ndo fez, consoante demonstra a certidéo de fs, 86/89. Advirta-se que os associados da autora esto cin situacao de isco em relacdo aos iméveis adquiridos, visto que a auséuvia de incorporagae impede que os adquirentes possam inscrever 0 negécio juridico no rei tr0 pub! com todas as conseqiiéncias dai decorrentes, sobretudo a impossibilidade de serem titulares de direite real sobre os iméveis ¢ a possibilidade do terreno onde os prédios foram edificados ser objeto de negociacdo, penhiora ou de qualquer outra restrigao ou constrigao judicial ou extrajudicial ie MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO Une, pois, que a ré BANCOOP realize, 0 quanto antes possivel a incorporagio no registro de iméveis, alias, consoante determinagio do Juizo da 6 Vara Civel desta Capital, confirmada pelo Eg. Tribunal de Justigs (fls.647/659), em caso igual ao presente, sem tirar nem por, referente & ag%o proposta pela Associagio dos Adquirentes de Apartamentos do Condominio Residencial Vila Mariana, contra a BANCOOP. lambém, merece acolhimento 0 pedido de suspensio de qualquer efeito da mora pelo nao pagamento do residuo, tais como, ato de cobranga, apontamento no SPC, protesto e exclusdo dos cooperados, os quai devem ser mantidos na posse de seus iméveis até decisdo final desta agao. Isto porque os documentos apresentados pelos associados da autora demonstram que eles j4 quitaram o prego estabelecide pela BANCOOP quando da venda do imével. Embora seja legal ¢ contratual a previsdo do residuo, ha fundadas davidas quanto a sua legitimidade, havendo indicios de que sua origem remonta a envolvimento politico de membros da Diretoria, alguns detes, comprovadamente (fls. 145/190), sécios de empresas que contrataram com a prépria cooperativa, ao arrepio dos artigos 29 e 52 da Lei n. 4.591/64, sem contar o aporte de cerca de RS 45.000,000,00 (Quarenta e cinco milhdes de reais), a juros elevados, que a Diretoria tomou por meio do fundo de investimento, dando como garantia os recebiveis dos cooperados, a principio, sem expressa e pessoal concordancia destes. 7 MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO eh Nao se pode olvidar que o ni pagamento de trés (3) parcelas atinentes ao referido residue poder levar a exclusio do cooperado, com graves consegiiéncia negativas para seus direitos, consoante estabelece o Capitulo Quarto, artigo 20°, do Regimento Interno da Cooperativa. Fm face do exposto, por ora, requeiro = 1 = Seja a autora dispensada do requisito da pré- constituiggo de um (1) ano para demandar em favor de seus associados, consoante factldade estabelecida no artigo 82, § 1°, da Lei n. 8.078/90; 2 = Isengdo em favor da autora do pagamento de custas, emolumentos, honorsrios periciais e quaisquer outras despesas, nos termas dos artigos 18 da Lei 7.347/85 e 87 da Lei n, 8078/90; 3 ~ A intimagio da autora para, dentro do prazo de 1 ias, aditar a peti¢o inicial para incluir no pélo passivo da aco os dirigentes © ex-dirigente da BANCOOP que praticaram os atos descritos na petigao inicial, acionando-se os falecidos por seus espdlios, representados pelos inventeriantes, ov, em caso de partitha finalizada, manejando-se a agio contra os herdciros, limitada a responsabilidade civil as forgas da heranga; 4 — A intimaggo da autora para, dentro de 10 dias, apresentar a relagio completa dos associados que representa via da ual; &, substituigao pro 5 - Concessio parcial da antecipagao da tutela, desde ja, para: a) Determinar aos réus a obrigagio de fazer, consistente em promover, no prazo de quarenta ¢ cinco (45) dias, todos os registros MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO & previstos na Lei 4.591/64, referentes 4 incorporagio do empreendimento “Solar de Santana”, sob pena de multa didria de RS 10.000,00; , b) Suspender, até final sentenga, todo e qualquer efeito da mora decorrente do nao pagamento do residuo exigido pela BANCOOP (cobranga, protesto, registro no SPC, exclusdo do cooperado da BANCOOP. ete), mantendo-se os associadas da autora na posse de seus iméveis, sob pena de multa de R$ 10.000,00 por ato que caracterize 0 descumprimento da ordem judicial 6° Promotor de Justiga do Consumidor - Designado

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