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TAREFA 3 -

Para uma “prática baseada na acção” tal como é referida por Ross Todd, no seu artigo
Professores Bibliotecários Escolares: resultados da aprendizagem e prática baseada em
evidência, o professor bibliotecário precisa de recolocar a Biblioteca Escolar no
caminho do conhecimento, do saber, do processo de ensino-aprendizagem dos alunos
e dos docentes. Numa Escola Secundária esse reposicionamento afigura-se ainda mais
urgente (como é o caso da escola onde estou, pela primeira vez), pois as novas
tecnologias afastaram ainda mais os alunos e os docentes da Bibliotecas (e talvez as
práticas anteriores). Criou-se o sentimento ilusório de que não se precisa da Biblioteca.
Este sentimento é difícil de combater, quando está instalado e quando o novo
professor bibliotecário chega com outras ideias, não pertence à escola, não percebe a
Cultura de escola. Falo claramente do que Todd designa como “as percepções dos
outros da imagem e do papel do professor bibliotecário, a falta de compreensão por
parte dos outros do papel do professor bibliotecário”.

Em jeito ainda de introdução, num texto relativo a um Seminário de 1992, do livro de


actas do Conselho Nacional de Educação, A Educação em Portugal no horizonte dos
anos 2000, a intervenção do Secretário de Estado dos Ensinos Básicos e Secundários da
altura apontava já para essa mudança das práticas dos profissionais da educação. Não
se poderia, segundo ele, continuar a ignorar as novas gerações de alunos que têm
diante de si “um écran gigante“ (na altura mais a televisão do que o computador) e
que necessariamente precisam de compreender os milhões de pequenos sinais que
recebem. Criticava o facto da escola ignorar esse facto, porque continuava a ensinar o
“thesaurus”, programas fechados, onde a actualidade não existe, numa sociedade da
informação que se quer interdependente, aberta. Receava a falta de comunicação
porque não se ensinava a tratar tais doses de informação. O que se fez até agora? O
que pode a Biblioteca fazer?

A IFLA tem demonstrado que as Bibliotecas Escolares e o professor-bibliotecário


podem contribuir para a transformação da organização-escola. Peter Senge referia “as
escolas aprendentes”, Donald Schön “as escolas reflexivas”, Wilson (1996), citado por
Todd, reforça “as actividades significativas e autênticas que ajudam o aluno a
construir conhecimentos e a desenvolver competências relevantes para a resolução de
problemas" e Hein (1991), também citado por Todd, reforça a ideia de que "os alunos
constroem o conhecimento por si mesmo; cada aluno individualmente (e socialmente)
constrói o significado à medida que aprende. A construção de significado é
aprendizagem. Não há nenhum outro tipo". Ora, o professor bibliotecário, enquanto
motor dessa forma de se encarar a Escola, tem um papel determinante: líder
transformacional que “transforma em vez de manter”(Todd, ob.cit.), que aposta nas
ligações/conexões em vez das colecções, nas acções, nas evidências, em lugar de se
preocupar com a promoção do valor da biblioteca escolar. Refere ainda outros tipos de
liderança do professor-bibliotecário essenciais para este processo de mudança,
inerentes à liderança transformacional: liderança colaborativa, criativa, estratégica,
determinada e sustentável (características também referidas no artigo disponibilizado
pela IFLA).

O normativo de avaliação das práticas das Bibliotecas Escolares é o documento mais


equilibrado e ambicioso que foi apresentado à Escola nos últimos tempos, porque
agregador, e parece-me importante neste processo de recolha de evidências que se
pede às escolas (caso das equipas de auto-avaliação; das constantes inspecções- IGE;
relação com todos os documentos organizativos, como o Projecto Educativo, Projecto
Curricular de Escola, Projecto Curricular de Turma). Por ser ainda recente não é
conhecido, nem foi interiorizado pela Direcção, nem estruturas intermédias da Escola (
nem é referido nos documentos organizativos, nem no PAA). Resultou de um longo
processo de aprendizagem, de mais de três décadas, em todo o mundo, porém receio
que, em Portugal, se deva também incluir as direcções, equipas de avaliação,
coordenadores e centros de formação nestas formações sobre o modelo de auto-
avaliação das Bibliotecas Escolares para que se perceba o seu alcance que ultrapassa
as paredes da Biblioteca.

A Biblioteca tem, assim, que estabelecer o seu Plano de Acção atemapadamente, tal
como é preconizado pelo Modelo de Auto-Avaliação, apresentando-o à Direcção e ao
Conselho Pedagógico para que possa ser discutido e alterado. O Plano de Actividades,
articulado com as outras bibliotecas da Rede de Bibliotecas Escolares de que faz parte
e com todas as estruturas da escola, deve ser aberto, negociado, alterado, conhecido
pelos parceiros. (muito trabalho há a fazer neste domínio da Articulação, quando em
quase 200 actividades do PAA, para este ano lectivo, só surgiram 3 referências à
Biblioteca Escolar, apesar do envio atempado de todos os documentos da Biblioteca
que ninguém parece ler). Deve ter em conta o currículo, os documentos organizativos,
as metas educacionais. Para isso, a equipa deve ser preparada para esse papel, não
pode ser um grupo de docentes que passam os seus tempos não lectivos na Biblioteca,
porque foi essa a decisão unilateral da Direcção. Esse constrangimento condiciona
depois todo o processo.

Tempo é o que o professor-bibliotecário não tem, nem equipa para desenvolver o seu
Plano de Acção, não pode ter um horário alargado por falta de recursos humanos. O
professor-bibliotecário tem de propor actividades, articular com docentes e grupos,
parceiros exteriores, apoiar as actividades de grupos, docentes, clubes e projectos –
mas não tem capacidade de resposta. O professor-bibliotecário quase não consegue
sair da Biblioteca e, muitas vezes, tem de trabalhar noutro local, pois ali não tem
tempo para desenvolver as suas tarefas. A Escola não tem um modelo de literacia da
informação e depois de uma primeira apresentação de um modelo é necessário agora
fazer outras formações antes de se escolher um. A capacidade de liderança sofrerá,
claramente, com todos estes constrangimentos, com esta falta de tempo.

Os perfis de desempenho deste modelo deveriam incluir itens em que a Organização,


em si, também fosse avaliada, porque existem evidências que serão objectivamente
postas em causa por questões organizativas a que o professor-bibliotecário não pode
dar resposta per si.
O professor-bibliotecário motivado, informado e persistente pode alterar estes
constrangimentos. Mas sozinho não pode, com certeza, fazê-lo da forma célere que
gostaria. A Escola-Reflexiva precisa de tempo para reflectir. E de reconhecimento e de
motivação dos seus profissionais. Estes são tempos difíceis para a Escola Pública e para
as Sociedades.

A afirmação de Todd sobre a Biblioteca do Congresso norte-americano deixou também


antever que a compreensão humana tem de passar pela Biblioteca: com material
impresso ou nas bases digitais. A nossa já tem catálogo on-line, é só pesquisar. Não
deveremos ter tempo de o actualizar este ano lectivo como gostaríamos, mas esta
alteração pode ajudar também a perspectivar uma nova alteração na utilização do
acervo da biblioteca e na promoção de um modelo de literacia da informação que tem
de estar on-line até ao final deste ano lectivo. Conseguiremos promover a literacia este
ano com a ajuda de todos!!

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