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Disseminar conhecimento sobre a gestão Miriam Draibe, Tarso Fernando Herz Genro,
de políticas públicas, estimular a reflexão e Vicente Carlos Y Plá Trevas, Zairo B. Cheibub
o debate e promover o desenvolvimento de
servidores e sua interação com a cidadania. Periodicidade
A Revista do Serviço Público é uma publicação
ENAP Escola Nacional de Administração Pública trimestral da Escola Nacional de Administração
Presidente: Helena Kerr do Amaral Pública.
Diretor de Formação Profissional: Paulo Carvalho
Diretora de Desenv. Gerencial: Margaret Baroni Comissão Editorial
Diretora de Comunicação e Pesquisa: Paula Montagner Helena Kerr do Amaral, Paula Montagner, Paulo
Diretora de Gestão Interna: Mary Cheng Sergio de Carvalho, Elisabete Roseli Ferrarezi,
Elizabeth Nardelli, Livino Silva Neto.
Conselho Editorial
Barbara Freitag-Rouanet, Fernando Luiz Abrucio, Expediente
Helena Kerr do Amaral, Hélio Zylberstajn, Lúcia Edição: Beth Nardelli. Subedição: Leila Ollaik; Projeto
Melo, Luiz Henrique Proença Soares, Marcel gráfico: Livino S. Neto. Revisão: Nita Queiroz e
Bursztyn, Marco Aurelio Garcia, Marcus André Roberto Carlos Araújo. Revisão gráfica: Livino Neto.
Melo, Maria Paula Dallari Bucci, Maria Rita G. Fotos: Alice M. S. Prina e Vinícius Loureiro. Editoração
Loureiro Durand, Nelson Machado, Paulo Motta, eletrônica: Maria Marta da R. Vasconcelos
ISSN:0034/9240
Editada pelo DASP em nov. de 1937 e publicada no Rio de Janeiro até 1959.
A periodicidade varia desde o primeiro ano de circulação, sendo que a partir dos últimos
anos teve predominância trimestral (1998/2007).
Interrompida no período de 1975/1980 e 1990/1993.
Mensuração de desempenho
em organizações públicas: o
caso da Secretaria da Fazenda
do Rio Grande do Sul
Vinicius Pimentel de Freitas, Ricardo Lopes Cardoso,
André Carlos Busanelli de Aquino e Rômulo Campos dos Reis Júnior
Introdução
as diversas equipes e áreas estão aproxi- serve como base para o bônus (WIDENER,
mando-se de uma condição de desempe- 2006). O comprometimento com a meta
nho desejada, nas mais diversas dimensões, também depende do quanto os gestores
por exemplo: montante arrecadado, fiscali- confiam nas relações causais presentes nos
zações executadas, autos de infração indicadores, chamadas de força das
lavrados. Tais indicadores, geralmente relações (WEBB, 2004). Em estudo na
associados entre si por meio de relações estrutura de incentivos e orçamento de uma
de causa e efeito, sugerem uma expectativa empresa de distribuição de energia elétrica,
aos gestores de que, adotando-se curso de Aquino et al (2008) encontraram que a dis-
ação dentro das relações causais sugeridas, persão do esquema de pagamento modera
os indicadores finais serão alcançados com o impacto da incerteza na criação de folga
maior probabilidade e intensidade. Assim, orçamentária, mas não encontraram o
essas associações causais entre decisões e mesmo efeito para a força das relações
resultados esperados dão suporte ao causais.
desenvolvimento, comunicação e execução Na iniciativa privada, essa forma de
das estratégias da organização (MALINA; alinhamento é usada largamente e está
SELTO, 2004). Para alinhar as escolhas indi- intimamente ligada à administração con-
viduais de gerentes e demais participantes temporânea. O movimento do New Public
com os objetivos da organização, os indi- Management, iniciado na década de 1980,
cadores são ligados ao processo orçamen- defende a adesão das entidades públicas a
tário e sobre esses são estabelecidas metas, uma maior orientação de mercado e busca
utilizadas não só para fins de decisão da por eficiência na gestão de custos. Nesse
fase de avaliação, mas também com a sentido a adoção de modelos de desem-
finalidade de gerar incentivos às equipes. penho vem crescendo na administração
Dessa forma, surge a tendência das equipes pública em função da demanda de melho-
gerenciarem as metas, criando folgas rias efetivas nos serviços públicos. Tais
orçamentárias, ou seja, estabelecendo metas modelos parecem ter papel importante na
mais fáceis de atingir e que possam promoção do alcance das metas de uma
acomodar incertezas geradas por contin- organização, o que depende da implanta-
gências futuras (MERCHANT, 1985). Tais ção e da comunicação da estratégia, além
metas podem ser estabelecidas de forma de um conjunto compreensível de medidas
negociada ou imposta pela alta gerência. de desempenho ligadas à estratégia e aos
A participação na definição das metas resultados da organização (em uma relação
acresce a motivação e o comprometimento de causalidade). É desejável que as medidas
das equipes, se comparada à condição de desempenho sejam relacionadas às
de metas impostas pela super visão ações dos gerentes, que se configurem em
(BROWNELL, 1982). metas desafiadoras (contudo atingíveis), e
Outros efeitos que afetam o processo que sejam, ainda, relacionadas com recom-
são a dispersão dos esquemas de paga- pensas significativas (BROWNELL, 1982;
mento e a força das relações causais. M ALINA ; SELTO , 2001; M ALINA ; SELTO ,
Esquemas de bonificação baseados em 2004). Espera-se que o uso efetivo desses
esforços da equipe dispersam incentivos, modelos, mais que simples esforço de
na medida em que dissociam esforço monitoramento, atue como gerador de
individual do resultado da equipe, a qual incentivos a ações mais eficientes.
o trabalho está mais focado e que os nas carreiras, e esse percentual cai para 10%
resultados estão melhores do que antes. a 15% no caso de funcionários com mais
Essa última observação é coerente com de trinta anos de trabalho para o Estado e
os dados apresentados por Melkers e que possuem cargos de chefia. Assim,
Willoughby (2005, p. 188). Esse resultado quanto maior o tempo de casa e a posição
pode ser efeito de maior atenção dirigida hierárquica, menor o incentivo da remu-
aos indicadores associados à pontuação neração variável, em comparação com
para fins de remuneração variada ou de outros funcionários. A percepção dos
maior estruturação e melhor comunicação funcionários da Sefaz é que a proporção
da estratégia global. atual entre o prêmio e outras parcelas de
sua remuneração é adequada. Percentuais
Incentivos e folgas orçamentárias
Embora não exista mecanismo formal dessas podem ter sido progressivamente
instituído de punição ao efeito carona, estabelecidas para serem de mais fácil
as entrevistas apontam a existência de atingimento (folga orçamentária). Contudo,
punição social aos funcionários e gerentes a diferença entre o desempenho alcançado
que puxam a média de consecução das e a meta pode ser explicada por outros
metas para baixo; afinal, todos têm efeitos, além da folga orçamentária inten-
permissão de consulta aos indicadores de cionalmente criada. Por exemplo, os
desempenho e seu responsável. funcionários se tornam mais habituados
Por meio da observação das séries aos processos de planejamento estratégico
trimestrais dos indicadores de desem- e ao modelo de desempenho; assim suas
penho, na comparação meta/realizado ações se direcionam mais diretamente
entre 2005-2008 (14 trimestres, até junho/ ao trabalho a eles relacionado, e menos
2008), observam-se evidências iniciais de esforço é desperdiçado em tarefas que
que os funcionários da Sefaz têm atingido não são relevantes para os objetivos da
em média 91,46% das metas (Tabela 1). organização curva de aprendizado
Percebe-se uma oscilação no atingi- associada à eficiência operacional.
mento das metas ao longo do trimestre
no mesmo ano. As metas são estabelecidas Considerações finais
no último trimestre de cada ano, para
vigência a partir de janeiro do ano civil A presente análise exploratória sugere
subsequente e, a priori, não devem ser ajus- que o modelo de mensuração de desem-
tadas, pelo desempenho corrente, ao longo penho da Sefaz contém algumas das
do ano. Entretanto, eventualmente a equipe características encontradas também na
diretiva pode aprovar revisões de metas aplicação de tais modelos na iniciativa
caso eventos exógenos à secretaria induzam privada. Exemplos dessas similaridades
tal necessidade, como a recente crise finan- são: dissociação de recompensa e esforço;
ceira que reduziu a expectativa de arreca- negociação de metas como forma de
dação de ICMS. comprometimento; evidências iniciais de
A média gerência tem considerável folga orçamentária; e mecanismos sociais
influência na fixação das metas; algumas de punição adicionais aos incentivos
Fonte: Sisplan/Sefaz
Notas
1
O Estado do Rio Grande do Sul é uma das 27 unidades da Federação brasileira, com 10,2
milhões de habitantes e PIB de US$ 100 milhões em 2007 (FEE, 2008), o que corresponde ao quarto
maior Estado brasileiro. O PIB brasileiro em 2007 é estimado em US$ 1.300 Bilhões (Banco Central
do Brasil, 2008).
2
Do texto original, traduzimos city como cidade e county como distrito.
3
Estas últimas são produto da alternância política no poder. Como as posições são ocupadas
por funcionários de carreira, funcionários que assumem posições de gerência em uma administração
podem (e muito provavelmente vão) perder autoridade em outra e vice-versa. Assim, observa-se
uma tendência natural ao relaxamento de atitudes gerenciais.
4
A Sudesq, Supervisão de Desenvolvimento Organizacional e de Qualidade, é o órgão res-
ponsável pelos programas de desenvolvimento dos servidores e da organização fazendária. Suas
principais atividades compreendem: coordenação do Planejamento Estratégico; coordenação do
Programa de Comunicação Interna; coordenação do Programa de Qualidade de Vida; coordenação
do Programa Socioambiental; e Pesquisas de Satisfação e de Clima Organizacional.
Referências
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SECRETARIA DE ESTADO DA FAZENDA DO RIO GRANDE DO SUL (Sefaz). Portal de Legislação.
Disponível em:http://www.legislacao.sefaz.rs.gov.br/Site/Document.aspx?inpKey=
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