Você está na página 1de 4

TÓPICO 5 - 

A ORDENAÇÃO DAS IDÉIAS E A COESÃO TEXTUAL 

Há muitas possibilidades de captação, registro e organização inicial das idéias. Para gerar, selecionar e
hierarquizar as idéias você pode:

-fazer anotações independentes à medida que as idéias forem surgindo;


-escrever tudo que vem à mente;
-listar palavras-chave;
-construir logo um primeiro parágrafo;
-partir de uma idéia principal e elaborar um esquema;
-partir de um pequeno resumo ou escrever blocos de texto independentes.

Qualquer uma dessas técnicas, e ainda outras que você pode criar, pode funcionar como o início da escrita
propriamente dita. Depende de cada indivíduo e de seu processo de atividade intelectual.

Ao hierarquizar as idéias de um texto observamos que elas apresentam características e funções distintas:
apresentação; ampliação ou explicação; divisão; oposição; comparação ou analogia; situação no tempo ou
no espaço; conclusão; organização textual; entre outras.

Quando o redator tem clareza sobre essas especificidades de cada trecho do texto, as possibilidades de
construção tornam-se mais nítidas e o trabalho alcança um melhor resultado.

A coesão textual

Pode-se construir a coesão do texto por meio de vários recursos. A manutenção do tema é um desses
recursos, mas não é suficiente em textos dissertativos. A ordem das palavras no período, as marcas de
gênero e de número, as preposições, os pronomes pessoais, os tempos verbais, os conectivos funcionam
também como elos coesivos. Cada um desses elementos gramaticais estabelece conexões, articulações,
ligações, concatenando as idéias. Ou seja, a estrutura gramatical das frases trata de criar coesão entre os
constituintes de um texto. Um exemplo disso é a concordância. Sempre que respeitamos a concordância,
estamos reforçando a coesão. Observe o texto a seguir:

“Hoje em dia, especialistas (ecólogos, biólogos e ambientalistas) detêm conhecimentos que transformam a
abertura de trilhas em um trabalho científico, pedagógico e paisagístico".

Observe como as palavras concordam com as antecedentes, criando elos coesivos.

Além dessas formas gramaticais sistemáticas de ligação entre palavras, existem quatro outras estratégias
de coesão, que dependem das escolhas estilísticas do redator: referencial – lexical - por elipse - por
substituição

Vejamos como funcionam essas formas de entrelaçamento dos elementos que constituem um texto.

1. Coesão Referencial

Na elaboração de um texto, a coesão referencial se realiza pela citação de elementos do próprio texto. Para
efetivar essas citações são utilizados pronomes pessoais, possessivos, demonstrativos ou expressões
adverbiais que indicam localização (a seguir, acima, abaixo, anteriormente, aqui, onde). Esses recursos
podem se referir, por antecipação, a elementos que serão citados na seqüência do texto. Podem, ainda, se
referir a elementos já citados no texto ou que são facilmente identificáveis pelo leitor, como no exemplo:

"O turismo sustentável é planejado e realizado de forma que contribua para a valorização das populações
locais e sua cultura. Ele promove ações que estimulam a conservação do meio ambiente natural, estimula o
desenvolvimento socioeconômico das comunidades envolvidas e proporciona ao turista uma experiência
única".

2. Coesão Lexical

A manutenção da unidade temática de um texto exige uma certa carga de redundância. Assim,
estabelecemos uma corrente de significados retomando as mesmas idéias e partes de idéias. Essa
corrente é formada pela reutilização intencional de palavras, pelo uso de sinônimos, ou ainda pelo emprego
de expressões equivalentes para substituir elementos que já são conhecidos do leitor, como no seguinte
exemplo:

"O Brasil tem 2.700 cavernas catalogadas. Estima-se, porém, que isso corresponda a menos de 10% do
número total de cavernas existentes no país, já que, desde 1985, cerca de 100 novas cavidades são
descobertas a cada ano".

3. Coesão por elipse

A estrutura gramatical dos períodos na língua portuguesa permite a omissão de elementos facilmente
identificáveis ou que já foram citados anteriormente. Algumas vezes, essa omissão é marcada por uma
vírgula. Pronomes, verbos, nomes e frases inteiras podem estar implícitos. Esse recurso tem o nome de
elipse. Veja um exemplo de omissão de sujeito da oração:

"O ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e
cultura e incentiva sua conservação. Busca a formação de uma consciência ambientalista através da
interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas".

O sujeito do verbo busca está elíptico, porque é facilmente depreendido na leitura.

4. Coesão por substituição

Pode-se substituir substantivos, verbos, períodos ou largas parcelas de texto por conectivos ou expressões
que resumem e retomam o que já foi dito. Alguns exemplos de expressões que servem a esse objetivo são:
Diante do que foi exposto; A partir dessas considerações; Diante desse quadro; Em vista disso; Tudo o que
foi dito; Esse quadro...
Lucília Helena do Carmo Garcez é ex-professora da UnB, doutora em linguística
e autora do livro Técnica de Redação – o que é preciso saber para bem
escrever, Editora Martins Fontes.

Coesão textual
 

Para que um texto apresente coesão, devemos escrever de maneira que as ideias se
liguem umas às outras, formando um fluxo lógico e contínuo. Quando um texto está
coeso, temos a sensação de que sua leitura se dá com facilidade.

Dispomos de vários mecanismos para conectar e relacionar as partes de um texto.


Abaixo, citamos os principais:

1. Coesão referencial
Alcançamos a coesão referencial utilizando expressões que retomam ou antecipam nossas
ideias:
 onde: indica a noção de "lugar" e pode substituir outras palavras.
São Paulo é uma cidade onde a poluição atinge níveis muito altos. [No caso, "onde"
retoma a palavra "cidade".]

 cujo: pode estabelecer uma relação de posse entre dois substantivos.


Raul Pompeia é um escritor cujas obras lemos com prazer.

 que: pode substituir (e evitar a repetição de) palavras ou de uma oração inteira.
Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, o que permitiu aos portugueses ampliarem seu
império marítimo.

 esse(a), isso: podem conectar duas frases, apontando para uma ideia que já foi
mencionada no texto.
O presidente de uma ONG tem inúmeras funções a cumprir. Essas responsabilidades, no
entanto, podem ser divididas com outros membros da diretoria.

 este(a), isto: podem conectar duas frases, apontando para uma ideia que será
mencionada no texto.
O que me fascina em Machado de Assis é isto: sua ironia.

2. Coesão lexical
Permite evitar a repetição de palavras e, também, unir partes de um texto. Pode ser
alcançada utilizando-se:

 sinônimos: palavras semelhantes que podem ser usadas em diferentes contextos, mas
sem alterar o que o texto pretende transmitir.
O presidente do Palmeiras, Silvano Eustáquio, afirmou que o time tem todas as
condições para ganhar o campeonato. Segundo o dirigente, com Miudinho na zaga, o gol
palmeirense será impenetrável. Na opinião do cartola, a torcida só terá motivos de
alegria.

 hiperônimos: vocábulo de sentido mais genérico em relação a outro.


Lucinha estava na poltrona do cinema, esperando o filme começar, quando, de repente,
no assento ao lado, uma idosa desmaiou.

 perífrases: construção mais complexa para caracterizar uma expressão mais simples.
A vigilância policial nos estádios de futebol é sempre necessária, pois as torcidas às
vezes agem com violência. Na verdade, não é mais possível a realização de qualquer
campeonato sem a presença de elementos treinados para garantir não só a ordem,
mas também proteger a segurança dos cidadãos que desejam acompanhar o jogo em
tranquilidade.

3. Coesão sequencial
Trata-se de estabelecer relações lógicas entre as ideias do texto. Para tanto, utilizamos os
chamados conectivos (principalmente preposições e conjunções). Veja os principais:
 Consequência (ou conclusão): por isso, logo, portanto, pois, de modo que, assim,
então, por conseguinte, em vista disso.
Ela é muito competente, por isso conseguiu a vaga.

 Causa: porque, pois, visto que, já que, dado que, como, uma vez que, porquanto, por,
por causa de, em vista de, em virtude de, devido a, por motivo de, por razões de.
Ela conseguiu a vaga, já que é muito competente.

 Oposição: entretanto, mas, porém, no entanto, todavia, contudo.


Paulo tinha tudo para ganhar a corrida, no entanto, no dia da prova, sofreu um acidente de
carro.

 Condição: se, caso, desde que, contanto que.


Você pode ir brincar na rua, desde que faça todo o dever.

 Finalidade: para que, a fim de que, com o objetivo de, com o intuito de.
Com o intuito de conseguir a vaga na faculdade, Sílvia estudava oito horas todos os dias.

Você também pode gostar