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Pedro Furtado Bandeira de Mello

Identificação dos Parâmetros Financeiros, Legislativos e Organizacionais para


Avaliação de Clubes de Futebol

Monografia apresentada ao curso


de Graduação em Administração
(Ciências econômicas), como
requisito parcial para obtenção do
Grau de Bacharel.

Orientador: Professor Oscar Lewandowski

Rio de Janeiro (RJ)

Dezembro/2000
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Pedro Furtado Bandeira de Mello

Identificação dos Parâmetros Financeiros, Legislativos e Organizacionais para


Avaliação de Clubes de Futebol

Monografia apresentada ao curso de Graduação em


Administração (Ciências econômicas) da Faculdade
de Economia e Finanças do IBMEC.

Aprovado em Dezembro de 2000.

Banca Examinadora:

Profº Oscar Lewandowski


Faculdades IBMEC

Profº José Antônio Rodrigues


Faculdades IBMEC

José Carlos Fardim


Gerente Geral da Confederação Brasileira de Volley-Ball

Rio de Janeiro
2000
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DEDICATÓRIA

A minha avó que pagou a minha


graduação, aos meus pais quem eu
amo muito, e a minha namorada que
vem me aturando por tanto tempo.
5

AGRADECIMENTOS:

Ao meu orientador quem me


ensinou bastante durante um ano,
ao consultor Marco Aurelio Klein
quem teve bastante paciência em
responder as minha dúvidas.
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Resumo

Este trabalho trata da Identificação dos Parâmetros para Avaliar


Financeiramente um Clube de Futebol, iremos falar da evolução histórica do futebol
brasileiro, trataremos das receitas despesas, com as suas singularidades, comentaremos as
mudanças ocorridas no futebol inglês, apartir de 1990, já que o modelo inglês é tido como um
sucesso no que se refere a administração esportiva, e por último abordaremos os métodos de
análise de investimentos, que o Profº Damodaran, expõe no seu livro “Avaliação de
Investimentos”, quando ele trata de avaliação de franquias esportivas, para isso utilizamos
alguns dados do futebol inglês para calcularmos o custo de capital.
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Abstract
This work treats of the Identification of the Parameters to Evaluate a Club of
Soccer Financially, we will speak about the historical evolution of the Brazilian soccer, we
will treat of the revenues expenses, with your singularities, we will comment the changes
happened in the English soccer, from of 1990, since the English model is had as a success in
what refers the sporting administration, and last we will approach the methods of analysis of
investments, that Profº Damodaran, exposes in your book " Valuation", when he treats the
sporting franchises´s valuation, for that we used some data of the English soccer for us to
calculate the capital cost.
8

SUMÁRIO
DEDICATÓRIA...................................................................................................4
AGRADECIMENTOS.........................................................................................5

RESUMO..............................................................................................................6
ABSTRACT..........................................................................................................7
SUMÁRIO............................................................................................................8

INTRODUÇÃO..................................................................................................10
PARTE 2...............................................................................................................23
PARTE 3...............................................................................................................33
PARTE 4...............................................................................................................41
AVALIAÇÃO DE FINANCEIRA.......................................................................41
CUSTO DE PATRIMÔNIO LÍQUIDO = 6,17% +0,6 X (18%-6,17%)= 13,27%
..............................................................................................................................45
CUSTO DO CAPITAL = 13,27%+9%(L - 0,15)(1) = 20,92% ...........................45

BIBLIOGRAFIA................................................................................................50
ANEXOS
1 - Tabela Financeira Relativa a Exemplo
2 – Relação Bloomberg dos 20 Clubes Mais Ricos do Mundo
3 – Gráfico com a Volatilidade da Ação do Manchester United e do índex da Bolsa de Londres,
FTS-E, entre Dezembro de 1999 e Dezembro de 2000
4 – Gráfico da Volatilidade no Último Ano do Manchester United e o FTSE
5 – Lei nº 6354/76
6 – Lei nº 8672/93
7 – Lei nº 9615/98
8 - Lei nº 9981/00
9 – MP nº 2002
10 – MP nº 20018 parte 1
11 – MP nº 20018 parte 2
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Introdução

O esporte brasileiro vem sofrendo uma transformação nunca vista em sua


história: uma nova legislação, que regula todas as atividades desportivas e os segmentos
ligados a elas, uma nova filosofia na administração do esporte profissional brasileiro, a
incursão de novos personagens no cenário esportivo e principalmente a abertura de novas
oportunidades de investimento no mercado esportivo brasileiro.

O que causa dúvidas em investidores e esportistas é definir em quais esportes e


de que forma investir. Cada vez mais novas modalidades esportivas são criadas, há um
aumento crescente do numero de espectadores, seja ao vivo ou pela televisão, para eventos
esportivos; que leva a um maior investimento de recursos humanos e financeiros.

Diante deste cenário, um dos maiores negócios do próximo milênio é sem


dúvida a indústria do entretenimento. Segundo a Gazeta Mercantil, alguns analistas acreditam
que junto com o comércio eletrônico e a Internet, o entretenimento tende a ser uma das
maiores oportunidade de negócios nos próximos anos.

Segundo o publicitário Washington Olivetto, da Wbrasil, durante as horas de


relaxamento o consumidor demonstra maior receptividade para aceitação e compra de
produtos. Assim o entretenimento, explorado de forma profissional permite gerar grandes
lucros.

Dentro da indústria do entretenimento o setor de maior destaque é, sem dúvida,


o esporte. A atividade esportiva, seja como praticante ou torcedor, faz parte da vida de
qualquer pessoa, independente de sua idade, sexo, raça ou credo. Segundo o jornalista João
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José de Oliveira, em matéria no dia 7 de Junho de 99, na Gazeta Mercantil, o setor esportivo
vai receber a maior parcela de investimentos da indústria do entretenimento

Milhões de torcedores e atletas, empresas, prestadores de serviços, mídia, etc.


produzem diariamente uma parcela dos US$ 280 bilhões de dólares que estão envolvidos no
futebol, segundo dados da FIFA. Porém quando se fala em futebol, logo vem a imagem do
único país quatro vezes campeão do mundo, que produziu e exportou os principais atletas para
diferentes partes do planeta, o Brasil.

Milhões de torcedores semanalmente expressam a maior “revolução” social e


possivelmente comercial do próximo século: a paixão pelo futebol. O futebol brasileiro nasceu
grande; seja no numero de clubes (aproximadamente 500), no tamanho dos estádios, no
numero de jogadores, mas em especial pela paixão de seus torcedores. Um dito popular diz:
“No Brasil troca-se de nome, de mulher ou marido, troca-se até de sexo, mas nunca troca-se o
clube do coração.”

A aprovação da Lei 9.615/98, conhecida como “Lei Pelé” trouxe ao esporte


brasileiro ares de modernidade. Mesmo com algumas imperfeições e situações que estão
gerando alguns conflitos, a legislação que institui normas gerais para o esporte brasileiro pode
ser considerada um grande marco no cenário nacional.(Boselli, Análise da Lei 9.615/98)

Podemos destacar como inovações a obrigatoriedade da transformação dos


departamentos esportivos profissionais em sociedades comerciais, os novos contratos de
trabalho para os atletas profissionais, as novas regras do processo eleitoral esportivo, as
arbitragens, os bingos, as ligas, a nova composição dos tribunais desportivos e o tratamento
dos torcedores como consumidores.
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Diante deste cenário o profissionalismo esportivo não se restringirá apenas aos


campos. Os novos dirigentes do esporte brasileiro não serão os apaixonados por seus clubes, e
sim executivos do esporte. O futebol, como principal paixão desportiva nacional, se enquadra
perfeitamente neste quadro. A profissionalização integral das equipes de futebol não se
restringirá mais às quatro linhas. A transformação é uma questão de sobrevivência para o
futebol brasileiro. Segundo Luís Lobão, sócio da Newsports, o futebol brasileiro vai crescer
cerca de 5% em 10 anos, a partir da profissionalização da administração de clubes.

Desde a fundação do primeiro clube de futebol no Brasil, Caxias de Pelotas em


1894, que os clubes são empresas mas só que sem fins lucrativos. O termo clube-empresa se
refere aos clubes que são gerenciados de forma profissional. Só a partir da Lei 8672/93, a Lei
Zico, é que os clubes começaram a ser gerenciados com uma filosofia profissional, visando o
lucro. É a este tipo de organização que nos referimos, no decorrer deste trabalho, ao mencionar
clube-empresa.

A Parte 1 mostra uma evolução histórica da administração de clubes de futebol,


desde a 1ª partida até os dias de hoje e também a evolução da legislação que rege o futebol no
Brasil.

A Parte 2 fala a respeito de receitas e despesas. Para melhor identificar os riscos


inerentes ao clube a ser analizado. As receitas foram divididas em quatro tipos:
jogador(exploração de imagem do jogador e venda/aluguel de jogador),
campeonato(bilheteria, participação em campeonato e televisionamento), estádio(sócios,
propaganda, aluguéis) e marca(royalties de produtos, mídia, patrocínio e material esportivo) e
as despesas em: compra de jogador, salários, transporte, alimentação e estadia, categoria de
base, manutenção predial, manutenção do campo. Os riscos e os retornos variam pela grandeza
do clube, pela localização geográfica e pela sua estratégia.
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A Parte 3 aborda o futebol inglês, tido como um modelo de sucesso financeiro,


que na temporada 1998/1999 gerou um receitas de US$ 1.9 bilhões(Deloitte & Touche, 1999).
Serão apresentadas as mudanças na organização de campeonatos, nas estruturas sociológica e
financeira que ocorreram na última década. Neste capítulo é apresentado o Relatório Taylor,
que o governo inglês fez para possibilitar as mudanças e porque do futebol inglês ser
considerado um dos mais ricos do mundo.

A Parte 4 apresenta o modelo de avaliação de franquias esportivas do Profº


Damodaran, adaptamos para sua utilização um exemplo hipotético, que é a criação de um
clube de futebol no Rio de Janeiro. Neste capítulo analisamos um exemplo com base em 2
“aproaches” diferentes para determinação dos custos de capital, o primeiro considera o risco
de mercado e o segundo os riscos diretos ao clube.

A conclusão apresenta as vantagens e dificuldades na utilização dos métodos


desenvolvidos no texto. Na conclusão mencionamos algumas das sugestões que podem vir a
ser implantadas no futebol brasileiro para que ele venha ser mais "profissional".
Mencionaremos as diferenças entre o modelo inglês e o brasileiro e indicaremos que o modelo
de risco diretos ao clubes é o melhor modelo a ser utilizado por clubes brasileiros.
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PARTE 1
Evolução do Futebol no Brasil

1.1 – Momento Atual

De 1894 aos dias de hoje o futebol passou por vários estágios. Dentro de
campo, o sucesso é incontestável, mas o mesmo não acontece na forma como é dirigido e
organizado. Enquanto assistimos pela televisão aos principais campeonatos do mundo com
estádios lotados, no Brasil constatamos um público reduzido, obrigado a conviver, ainda, com
um calendário inchado e uma série de torneios que não foram totalmente assimilados pelos
torcedores. O modelo adotado pelo futebol brasileiro não atende a maioria dos clubes e é
muito prejudicial aos atletas. Diante dessa situação, poucas agremiações conseguem equilibrar
os gastos e a receita. A maioria vive outra realidade, participando de torneios deficitários,
prestigiados por um público reduzido, e não consegue remunerar adequadamente os seus
jogadores. De acordo com a própria CBF, metade dos jogadores recebe apenas um salário
mínimo por mês, R$ 151,00, valor em Dezembro de 2000. Para um país que ostenta o
privilégio de ser o único a conquistar quatro copas do mundo, é inadmissível a existência
desse quadro. A organização do futebol deve ser repensada em todos os níveis, para que ele
possa continuar existindo em todo o Brasil. É preciso que os campeonatos tenham como
princípio abrigar equipes de níveis técnicos semelhantes e que também possam despertar o
interesse do público.

Neste momento, o futebol brasileiro atravessa uma fase de transição. A nova Lei
do Passe deverá fazer com que clubes e jogadores adotem nova postura, mais profissional,
inclusive incrementando as ações de marketing. Para que o futebol seja tratado como
espetáculo, deve ser criada as condições necessárias para isso, com bons gramados, estádios
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que ofereçam conforto e segurança e uma tabela de jogos que possa ser cumprida de forma
racional. Por mais que um torcedor goste do seu time, fica muito difícil ter condições de
acompanhar os jogos, já que a metade (ou mais) ocorre no meio da semana. Os danos são
vários: o clube deixa de arrecadar, os jogadores sofrem enormes desgastes físicos, a
expectativa e a ansiedade de poder assistir aos jogos, por parte do torcedor, desaparecem.

Segundo o consultor esportivo José Brunoro é “inconcebível que times com


elencos milionários sejam obrigados a viajar freqüentemente aos mais distantes pontos do país
para se exibir em estádios acanhados, com gramados em péssimo estado e precárias condições
de segurança e conforto para os atletas visitantes”. Na Europa, os dirigentes preocupam-se de
tal forma com a condição apresentada pelos estádios que, anualmente, a União Européia de
Futebol (Uefa) divulga uma lista dos melhores, que reúnem condições de sediar jogos
promovidos pela entidade ou os clubes.

O futebol, para se modernizar, precisa ser analisado como um todo. Se os


jovens de hoje se divertem com o computador ("navegando" pela Internet), com a Fórmula I e
"curtem" os jogos da NBA, em vez do futebol, não será pelo fato de esses esportes
acompanharem a evolução da tecnologia e do marketing? O futebol precisa ser tratado como
um produto que está à venda e, como tal, deve atender às preferências do consumidor, cuidar
da qualidade e da imagem (embalagem). (Brunoro & Affif, 1997, P 21).

1.2 - O Início do Futebol no Brasil


O futebol foi trazido para o Brasil por dois jovens brasileiros de descendência
européia, Charles Miller em São Paulo e Oscar Cox no Rio. Eles se apaixonaram pelo esporte
depois de o conhecerem na Europa no fim do século XIX, durantes seus períodos de estudos
universitários. Pelo futebol ter sido introduzido e desenvolvido inicialmente por jovens de
classe alta, ele era considerado um esporte de elite.
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Miller participou do primeiro jogo realizado no Brasil atuando pelo The São
Paulo Railway Team, que enfrentou e venceu o The Gaz Team (time do gás) por 4 a 2. Há
outra versão, de que um padre alemão do Colégio São Luís, da cidade de Itú (SP), teria
organizado o primeiro jogo de futebol, em 1872. (Brunoro & Affif, 1997, P 1)

O trabalho de Oscar Cox para organizar o futebol no Rio de Janeiro não foi
muito diferente do realizado por Charles Miller em São Paulo. Cox também teve que
convencer seus amigos a deixar o críquete de lado, mostrando a eles os encantos do futebol.

Oscar Cox foi quem teve a iniciativa de organizar os primeiros jogos entre
clubes do eixo Rio-São Paulo, naquele mesmo ano. As duas partidas promovidas por Cox, que
terminaram empatadas por 1 a 1 e 2 A 2, serviram para estimular a idéia dos confrontos entre
paulistas e cariocas.

1.3 - O Inicio do Profissionalismo


A postura conservadora de alguns dirigentes e o racismo embutido em grande
parte das elites faziam com que o futebol continuasse no amadorismo. Em 1915, São Paulo e
Rio de Janeiro disputavam o direito de representar o Brasil no exterior. Cada estado criou,
então, sua própria federação nacional para mostrar sua força. Os paulistas fundaram a
Federação Brasileira de Futebol e os cariocas criaram a Federação Brasileira de Esportes.

Para resolver o problema, no ano seguinte o embaixador Lauro Muller atua


como mediador de um acordo entre os representantes esportivos dos dois estados. Surgia,
assim, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que unificaria as duas entidades. Em
1917, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) reconheceria a CBD como a única entidade
oficial do Brasil e, a partir daí, o futebol nacional começa a participar de vários torneios
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importantes. Naquela altura, o número de aficionados do futebol crescia e, com isso, os


dirigentes já não conseguiam evitar a presença de jogadores negros ou de classe social mais
humilde.

Em São Paulo, é fundada a Associação Paulista de Esportes Amadores (Apea),


com o objetivo de fortalecer o amadorismo que ainda imperava no futebol. Porém, todas as
tentativas de barrar o profissionalismo, que era iminente, foram inúteis, pois os torcedores
estavam cada vez mais exigentes e queriam a escalação dos melhores jogadores, ainda que
estes fossem negros.

Naquela época, a força do futebol paulista concentrava-se no chamado "Trio de


Ferro", composto de Corinthians, Palestra Itália e Paulistano. Destes, apenas o Paulistano era
um clube de elite, muito pouco para evitar que o futebol começasse a ser "abraçado" pelo povo
como seu esporte favorito.

Em 1921, o presidente da República, Epitácio Pessoa, solicitou que jogadores


negros ou mulatos não fossem convocados para o Campeonato Sul-Americano do ano
seguinte. A desculpa para tal pedido foi a mais esfarrapada possível: evitar que os atletas
brasileiros fossem chamados, por argentinos e uruguaios, de macaquitos.

No Rio de Janeiro, a ascensão do Vasco da Gama, que possuía vários jogadores


negros em seu time, era um fato inevitável. Com a conquista do Campeonato Carioca de 1923,
o Vasco mostra sua força e incomoda os dirigentes. A saída encontrada pelos "cartolas" do Rio
foi a criação, em 1924, da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (Amea), deixando
de fora dois clubes: o pequeno São Cristóvão e, logicamente, o campeão Vasco da Gama. Essa
manobra só conseguiu afastar o clube cruzmaltino por dois anos. Em 1926, para alegria de sua
torcida, o Vasco retomava ao Campeonato Carioca.
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Por sua vez, os dirigentes paulistas também tentaram manobra parecida com a
dos cariocas com a criação, cm 1925, da Liga de Amadores do Futebol. Naquele mesmo ano, o
Paulistano realiza uma excursão na Europa, com muito sucesso, chegando a vencer a seleção
da França por 7 a 2. Por conta dessa façanha, o futebol brasileiro começa a ser respeitado pelos
europeus.

Em 1930, o Brasil participou da Copa do Mundo realizada no Uruguai, mas não


fez boa figura. Em 1931, a hipocrisia do amadorismo começou a ser desmascearada quando os
maiores craques da época, como Domingos da Guia e Leonidas da Silva, aos poucos, foram
rumando para a Europa, onde passariam a jogar remunerados, dentro de um regime
profissional. Os paulistas Del Debbio, Rato, Amílcar, De Maria, Serafim e Filó partiram para a
Itália.

Os craques brasileiros, então, constataram que era possível viver do futebol.


Para dar uma idéia da situação, o jogador Fausto, do Vasco da Gama, atraído pela
possibilidade de ganhar muito dinheiro, deixou a equipe carioca em meio a uma excursão que
o time fazia na Europa para se transferir para o Barcelona, da Espanha. Para complicar ainda
mais o desespero dos clubes nacionais para segurar seus atletas, cm 1931 o Lazio, da Itália,
contratou dez jogadores brasileiros. Os dirigentes brasileiros, diante do que estava
acontecendo, ficaram preocupados, já que o, futebol nacional corria sério risco de ver a
debandada de seus principais craques para a Europa. A desorganização e o amadorismo
precisavam dar espaço a atitudes mais realistas. A solução encontrada foi a criação da Liga
Carioca de Futebol, em 1933, favorável ao profissionalismo, apesar de não contar com o apoio
de todos os clubes do Rio de Janeiro.
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Na prática, os jogadores já estavam sendo remunerados. Para ter uma idéia


melhor do que acontecia naquela época, o futebol estava dividido em dois grupos: os que
defendiam o profissionalismo e os que insistiam em que ele se conservasse amador, apesar das
gratificações que os clubes davam aos jogadores.

Uma polêmica entrevista de Mário Filho, do jornal 0 Globo, com o jogador


Russinho, do Vasco da Gama, repercutiu como uma bomba. Normalmente, o Vasco dava aos
seus jogadores (inclusive a Russinho) 100 ou 200 mil réis, depois de cada jogo, "para
condução e jantar". Como Russinho recebeu um automóvel de presente do Vasco, ficou
intrigado: "Se for para condução, é muito", disse Russinho a Mário Filho. "Se é para
gratificação ou salário, é pouco. Afinal, somos profissionais ou amadores?"

A entrevista teve muita repercussão e foi apoiada pelo presidente do Vasco, que
se batia pelo profissionalismo. O Flamengo e o Fluminense também o apoiavam nessa luta
enquanto o Botafogo e alguns times menores ficaram contra. Em São Paulo, a mesma coisa:
alguns clubes a favor, outros contra. Houve a grande cisão, formaram-se ligas diferentes e cada
estado passou a ter dois campeonatos paralelos: o dos "amadores" e o dos profissionais.

Se a década de 30 foi marcada por muita confusão as décadas seguintes


serviram para consolidar o profissionalismo e o papel das federações. Os campeonatos
estaduais ganharam força e passaram a atrair grande público. Apesar dos progressos
verificados no futebol, os jogadores ainda não eram tratados como verdadeiros profissionais
pelos dirigentes, que mantinham atitudes exageradamente paternalistas, mas impunham sua
vontade nos contratos com seus atletas. Poucos tinham consciência dos seus direitos e das suas
obrigações. Havia, até, certo conformismo com a situação.
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Com a perda do título da Copa de 1950 em pleno Maracanã e a desclassificação


do Brasil na Copa de 1954, alguns dirigentes concluíram que a seleção brasileira precisava de
boa dose de organização se quisesse conquistar uma copa, já que bons jogadores o Brasil
tinha. E de sobra! Com Paulo Machado de Carvalho chefiando a delegação brasileira, o Brasil
partiu para a Suécia com um elenco de craques, estrutura e planejamento. O trabalho foi
coroado com a primeira conquista brasileira, e o mundo descobriu Pelé, o Rei do Futebol.
Com poucas mudanças, o Brasil repetiria o feito em 1962, no Chile. Com tanto sucesso dentro
de campo e com o público em lua-de-mel com o futebol, era praticamente impossível alguém
reivindicar alguma mudança de sua estrutura.

O romantismo do futebol começou a ser substituído por uma consciência


profissional mais séria em 1976, quando a profissão de atleta profissional de futebol foi
regulamentada pela Lei nº6354. Pela primeira vez na história do futebol brasileiro, todos os
jogadores profissionais passariam a ter carteira de trabalho e os benefícios da Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), como férias e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Essa lei ainda deu aos jogadores o direito de possuir seu próprio passe depois dos 32 anos de
idade.

No entanto, a lei que causou as maiores alterações na legislação do futebol só


veio a ocorrer em 1993, quando Arthur Antunes Coimbra, o Zico, ocupando o cargo de
secretário de Esportes do governo federal (mas com tatus de ministro), elaborou a lei que
prevê a possibilidade de criação de clubes-empresas no Brasil. Essa lei, que recebeu o número
8672/93, ficou conhecida como "Lei Zico".

Em setembro de 1996, o ministro extraordinário dos Esportes, Édson Arantes


do Nascimento, Pelé, através da Resolução 1/96, altera a lei do passe, propiciando aos
jogadores o direito de ser seus próprios "donos". Pressionado, Pelé não consegue driblar os
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políticos e é obrigado a alterar a idéia original de sua proposta, criando uma tabela decrescente
de idade, e carência de anos, para sua aplicação.

Exatamente um ano depois, em setembro de 1997, a Casa Civil do governo


federal entrega ao Congresso o Projeto Pelé, que tem como pontos principais a transformação
dos departamentos de futebol dos clubes em empresas, o fim do passe de jogadores em dois
anos, a possibilidade da criação de empresas de prestação de serviços de arbitragem e a
proibição da filiação das ligas nas federações.

Em 14 de Julho de 2000, foi promulgada uma nova lei, que recebeu o número
9981/00, chamada de Lei Maguito, que mudou alguns pontos da Lei 9615, Lei Pelé, as
mudanças são:
• Acaba com o semi-profissional(a Lei Pelé criou esta categoria), volta a ser amador e
profissional,
• No artigo 27 volta a facultatividade(na Lei Pelé era obrigatório) de virar clube em empresa
comercial. Criando uma série de restrições caso o clube vire empresa:
- Não pode utilizar os bens patrimoniais para integralizar o patrimônio;
- O clube tem que manter 51% do capital votante do clube empresa;
- Somente dirigentes com mandatos eletivos podem assinar contratos;
- Não pode participar de qualquer forma(como investidor ou controlador) de outro clube
empresa;
- Duas ou mais equipes do mesmo dono não podem jogar o mesmo campeonato ;
- No artigo 27-A esta elencada todas as possibilidades de investimentos que podem ser feitas
no esporte(licenciamentos, administração de espaços, etc.);
- Volta o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (que a Lei Pelé tinha extinguido) com uma
nova composição;
- Obrigatoriedade de transmissão ao vivo em canais abertos dos jogos da seleção nacional;
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- A Caixa Econômica Federal é a nova responsável pela fiscalização dos bingos.

1.4 - Cronologia Da Profissionalização Do Futebol Brasileiro


1894 - Charles Miller traz as primeiras bolas de futebol para o Brasil.
1904 - é criada a Federação Internacional de Futebol (Fifa).
1916 - é fundada a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).
1917 - é criada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD).
1930 - O Uruguai, como país-sede, vence a primeira Copa do Mundo.
1933 - Início do profissionalismo no Brasil e criação da Liga Carioca de Futebol.
1941 - São criados o Conselho Nacional de Desportos (CND) e a Federação Paulista de
Futebol (FPF).
1958 - O Brasil conquista sua primeira Copa do Mundo, na Suécia.
1962 - O Brasil é bicampeão mundial, no Chile.
1970 - A seleção brasileira ganha sua terceira copa.
1976 - Jogadores tem profissão regulamentada e recebem direito sobre o passe ao completar
32 anos e dez no último clube (Lei do Passe).
1980 - é criada a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
1986 - O CND estipula critérios de renovação de contrato e fixação do valor do passe de
jogadores.
1990 - Jean-Marc Bosman, jogador belga, solicita a liberação do seu passe junto à corte
européia.
1993 - A criação de clubes-empresas e o jogo Bingo recebem regulamentação pela Lei Zico
(8672/93).
1996 - O ministro Pelé altera a Lei do Passe com a Resolução 1/96, que regula o artigo 26 da
Lei Zico.
1996 – Criação do 1º Clube Empresa do Brasil o Rio de Janeiro Futebol Clube, hoje CFZ do
Rio, clube administrado pelo Zico.
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1997 - Pelé apresenta projeto de adoção do futebol-empresa, entre outros tópicos.


1998 - FHC sanciona o projeto de Lei Pelé, Lei nº 9.615/98
1999 – Mudança no Art. 94 da Lei nº9,615/98. As entidades desportivas praticantes ou
participantes de competições de atletas profissionais terão o prazo de três anos para se adaptar
ao disposto no art. 27 desta Lei.
1999 – Aprovada a MP nº 2.002-2, de 14 de Dezembro de 1999
2000 – FHC sanciona o projeto que muda pontos na Lei Pelé, Lei nº 9981
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PARTE 2
Reconhecendo as Partes que Compõem O Fluxo de Caixa dos Clubes

Nesta parte foi desenvolvida especificamente para este trabalho, uma divisão de
receitas e despesas em categorias para permitir a identificação dos riscos de cada clube; e com
isso espera-se fazer uma análise do valor dos clubes pelos métodos que serão expostos na
Parte 4.

Para transformar um clube em clube-empresa, inicialmente, os clubes devem


definir seu foco estratégico, ou seja, os responsáveis pelo clube devem ter uma visão clara do
seu negócio. Feito isso, os clubes necessitam reformular sua estrutura organizacional, no
sentido de obter um organograma enxuto e eficaz para atingir os objetivos determinados.
Segundo o Vice-Presidente da Portuguesa, Sr. Orlando Cordeiro de Barros, “Quem não se
reestruturar está fora.”

O próximo passo é a identificação e operacionalização de fontes de receita


principais e secundárias e de despesas. Os clubes não podem mais depender da venda de seus
principais jogadores, bilheterias, patrocínios e direitos de transmissão de seus jogos. O fluxo
de caixa de um clube de futebol advêm da relação entre receita que dividimos em quatro tipos:
jogador(exploração de imagem do jogador e venda/aluguel de jogador),
campeonato(bilheteria, participação em campeonato e televisionamento), estádio(sócios,
propaganda, aluguéis) e marca(royalties de produtos, mídia, patrocínio e material esportivo) e
as despesas, que são: compra de jogador, salários, transporte, alimentação e estadia, categoria
de base, manutenção predial, manutenção do campo. No decorrer deste capítulo será descrito
em grupos cada uma dessas receitas e despesas de um clube de futebol.
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2.1 - RECEITAS:

2.1.1 - Receita de Jogador:

É aquela que pode ser identificada diretamente com o profissional, sendo subdividida em:
receita de venda ou aluguel e exploração de imagem do jogador.

2.1.1.1 - Receita da Venda/Aluguel é hoje a forma com que os clubes se sustentam ou tentam
se sustentar durante o ano. Se o objetivo do clube for compra e venda de jogador, como é em
muitos clubes pequenos, essa poderá ser a receita principal. Porém os clubes grandes, não
deviam se orgulhar dessa receita pois a venda de seus profissionais significa estarem vendendo
os seus ativos.

2.1.1.2 - Receita da Exploração de Imagem é um tipo de receita que os clubes grandes


conseguem com a utilização da imagem de jogadores famosos, para poderem viabilizarem de
alguma forma os altos salários que esses jogadores recebem por mês. Foi dessa forma que o
Flamengo e São Paulo trouxeram Romário e Raí de volta. Quando o Barcelona comprou o
Ronaldinho em 1996, ele produziu vários produtos relativos ao jogador e dessa forma
conseguiu um retorno sobre a compra do passe do Ronaldinho antes do que se podia imaginar.

2.1.2 - Receita de Campeonato:

É aquela que pode ser identificada diretamente com a atividade do clube na disputa de
campeonatos, sendo subdividida em: receita de bilheteria, participação de campeonatos e de
televisionamento.
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2.1.2.1 - Receita de Bilheteria é a mais tradicional fonte de receita para um clube, o consultor
da Deloitte & Touche, Alexandre Loures diz que hoje por problemas de segurança e conforto,
os torcedores não estão indo ver os jogos nos estádios, preferindo ficar em casa no conforto da
tv, porém a tendência é que o perfil dos torcedores nos próximos 5 a 10 anos deixe de ser
aquele violento das torcidas (des)organizadas e passe a ser de famílias a procura de lazer. Esse
tipo de receita pode vir a ser contabilizada com planejamento; pois com a venda de carnês, o
clube terá essa entrada de receita antes mesmo do início de cada campeonato, isso é uma
prática usada na Europa. Segundo dados da empresa de consultoria Deloitte Touche Tohmatsu,
o valor médio da receita de bilheteria que os clubes, que compõem o Clube dos 13,
arrecadaram no ano de 98 foi de US$ 964,5mil enquanto que na Europa clubes de grande porte
arrecadaram US$ 48,5milhões.

2.1.2.2 - Receita de Participação de Campeonato é uma receita que os clubes conseguem por
participarem de campeonatos de menor expressão, os chamados torneios caça-níqueis, torneios
na Europa, na Ásia e no Norte e Nordeste brasileiro, que são procurados em meio de
temporada, entre os campeonatos estaduais e nacional, ou no fim da temporada, quando o
clube depois de ser eliminado do seus campeonatos precisam de algum tipo de receita. Essa
receita advém do sucesso do clube em campeonatos importantes como o Estadual, Brasileiro,
Libertadores e Mercosul.

2.1.2.3 - Receita de Televisionamento é hoje a principal fonte de receita para os clube que têm
contratos com uma rede de tv aberta, que é que detem os direitos de transmissão dos
campeonatos pelo país e vender os direitos de transmissão para o exterior, e uma rede de tv a
cabo, que também transmite pelo sistema de pay-per-view. No Brasil, essas receitas tem uma
forma de divisão que previlegia os clubes grandes, desde 1997 as equipes recebem US$ 50
milhões. Na Inglaterra, isso é uma importante fonte de receita, onde, a TV paga aos clubes
26

algo em torno de US$450 milhões por temporada. A respeito das cifras pagas pela televisão, o
consultor esportivo José Carlos Brunoro diz:

Se analisarmos o produto futebol no sentido


organizacional dos campeonatos, chegaremos à conclusão
de que é ruim. Assim sendo, até que a televisão brasileira,
atualmente, paga muito ou paga por aquilo que está
recebendo. Portanto, não devemos culpar a televisão.
Devemos culpar a forma como está sendo oferecido o
futebol brasileiro às emissoras. Para que o futebol, no
Brasil, passe a contar com uma televisão que pague
US$100 milhões ou US$200 milhões, é preciso que o
Campeonato Brasileiro seja reformulado. Se estão
pagando US$50 milhões é porque o produto vale isso.

2.1.3 - Receita de Estádio:

É aquela que pode ser identificada diretamente com a parte social do clube, sendo subdividida
em: receita de sócios, propaganda, aluguéis.

2.1.3.1 - Receita de Sócios é uma receita que poucos clubes no mundo possuem na Europa,
clubes como Barcelona, Real Madrid e Milan, conseguem alguma receita através de trabalhos
iguais ao Clube do Torcedor, que o Fluminense hoje esta desenvolvendo muito bem. O
Barcelona possui no seu quadro associativo mais de 120 mil sócios contribuintes e que durante
muitos anos, até 1996, se manteve lucrativo só com as mensalidades do seus sócios. No Brasil
27

há um problema, embora os clubes anunciam um grande números de sócios, eles possuem um


número real de sócios pagantes bem pequeno. Segundo dados da empresa de consultoria
Deloitte Touche Tohmatsu, o valor médio da receita dos sócios que os clubes, que compõem o
Clube dos 13, arrecadaram no último ano foi de US$ 717mil.

2.1.3.2 – Receita de Propaganda advém das placas em torno do estádio e os telões de televisão
na maioria dos estádios fornecem uma avenida para que os anunciantes levem suas mensagens
aos torcedores. Hoje é importante para os clubes que possuam uma atividade social ou que
seus estádios sejam pontos turísticos; pois os frequentadores do estádio, em dias ou não de
jogos, são grandes consumidores de produtos que estão ligados ao seu clube de coração. O
consultor Alexandre Loures diz que na Europa a receita de propaganda chega a quase 30% do
faturamento dos clubes, enquanto que pouco para os clubes brasileiros representam muito
pouco.

2.1.3.3 - Receitas de Aluguéis, como na Receita de Propaganda, essa receita só é importante se


os clubes que possuem em seus estádios algum atrativo social ou que eles sejam pontos
turísticos, os aluguéis das concessões de quiosques de souvenirs, alimentação, bebidas e
cerveja, tanto diretamente como através da venda de direitos de concessão a terceiros,
independente se é dia de jogo ou não. O uso racional dos estádios e o oferecimento de serviços
de qualidade para o público são fatores praticamente inexplorados pelos nossos clubes. Para
Loures, serviços como catering e atendimento executivo em áreas vips são de um potencial
enorme e praticamente desconhecidos no Brasil.

2.1.4 – Receita de Marca

É aquela que pode ser identificada diretamente com o clube, sendo subdividida em: receita de
royalties, mídia, patrocínio e material esportivo.
28

2.1.4.1 – Receita de Royalties é proveniente do percentual de venda de produtos com a marca


do clube. O percentual varia conforme o produto, o clube e o valor. Em 1998 o Fluminense
trabalhava com um percentual de 5% de tudo que a Braga e Associados arrecadava para um
empresa se associar a marca Fluminense. O Manchester United que é considerado o clube
mais rico do mundo, trabalha de uma forma diferente, ele é que manda produzir e vende os
produtos, ele possui duas lojas que só vendem seus produtos, uma é no seu estádio Old
Trafford e outra na Ásia. Para vendas na Inglaterra, ele vende através da UMBRO e no resto
do mundo através do Manchester United International. Segundo dados da empresa de
consultoria Deloitte Touche Tohmatsu, o valor médio da receita de royalties que os clubes, que
compõem o Clube dos 13, arrecadaram no último ano foi de US$ 304 mil, com número médio
de produtos licenciados de 100. Podemos dar como exemplos: cigarro, disquetes, cerveja,
langerie, camisinha, estrato de tomate, doce de leite, cerveja, gravatas, roupas, bijouterias, etc.

2.1.4.2 - Receita de Mídia é proveniente da parcerias para exploração de revistas, jornais,


livros, portal de internet e um canal de tv particular. O Manchester, o Real Madrid, o
Barcelona e outros clubes europeus possuem esse tipo de mídia particular na forma de um
canal de televisão que transmite o dia inteiro informações sobre o clube. O canal tem na sua
programação jogos e treinos, ao vivo, jogos históricos, telejornais e programas especiais com
atletas e diretores do clube. Um exemplo desse tipo de receita é a Revista do Botafogo e o
Boletim Tricolor.

2.1.4.3 - Receita de Patrocínio. O futebol começou a avançar no campo do patrocínio


esportivo, depois do sucesso do vôlei nos anos 80, e aos poucos, os dirigentes de futebol viram
que não havia outro caminho. Com a regulamentação do patrocínio no futebol e o excelente
retorno que ele propiciava, as empresas começaram a ver a importância de ter a sua marca em
destaque na mídia. A maior mudança no futebol com relação ao marketing esportivo se deu
29

com o ingresso da Parmalat ao firmar uma co-gestão de sucesso com o Palmeiras. Podemos
afirmar que o patrocínio do futebol, no Brasil, possui duas fases: antes e depois da Parmalat. A
entrada da multinacional no esporte foi para atender a uma estratégia de marketing que visava,
inicialmente, melhorar sua imagem institucional. E já tinha feito esse tipo de experiência com
sucesso no Parma, da Itália.

Outro aspecto que deixou intrigados os membros da diretoria de esportes da


empresa foram alguns vícios arraigados no patrocínio do material esportivo, conforme
esclarece José Carlos Brunoro, diretor da Parmalat na época:

Eu achei estranho a marca do patrocinador não constar das


camisas de treino. Segundo informações, era comum que
quem fornecesse o uniforme tivesse direito as camisas de
treino e, ao patrocinador da equipe, coubessem apenas as
camisas de jogo. A Parmalat pagava um valor alto para ter
espaço apenas nas camisas de jogo. Para mim, os treinos
também eram importantes porque havia cobertura diária da
imprensa e as imagens eram muito boas em razão da
liberdade que os jornalistas possuíam num treino ser maior
que a de um jogo. Fiquei mais impressionado ainda
quando soube que as empresas fornecedoras de material
esportivo só pagavam royalties aos clubes, além do
próprio material. Então nós mudamos isso e passamos a
exigir que a nossa marca também constasse das camisas de
treinos e dos uniformes de viagem. Além disso, qualquer
uniforme teria que ser desenvolvido em conjunto com a
30

Parmalat para que nós pudéssemos também aprovar o


layout dos novos lançamentos, resguardando, assim, o
nome do clube e da empresa. Depois disso, outras
empresas patrocinadoras também passaram a adotar essa
prática".
(Brunoro & Affif, 1997, p 34)

2.1.4.4 - Receita de Material Esportivo ela advém através da evolução da relação entre
fornecedor e clube, pois as empresas desembolsam mais para que os clubes utilizem sua
marca, além dos royalties, para produzirem e venderem boné, bola, camisa fantasia, vestuário
de jogo e treino. Num regime profissional os clubes sempre ganharão mais, haja vista os
contratos firmados pela Penalty com o São Paulo, a Nike com o Flamengo e a CBF, a Rhumell
com o Palmeiras e a Topper com o Corinthians e Cruzeiro.

Segundo dados da empresa de consultoria Deloitte Touche Tohmatsu, o


percentual receita de patrocínio e de material esportivo médio sobre a receita total que os
clubes, que compõem o Clube dos 13, arrecadaram no último ano foi de 27,65%, sendo estes
tipos de receitas a principal fonte de arrecadação do clube.

2.2 - DESPESAS:
As despesas foram divididas da seguinte maneira: compra de jogador, folha de
pagamento, transporte, alimentação e estadia, categoria de base, manutenção predial e
manutenção do estádio. Elas variam muito de clube para clube, principalmente em relação a
grandeza e a localização de cada um.
31

2.2.1 - Compra de Jogador é um custo que tem se elevado sensivelmente, principalmente em


função da valorização dos artistas do espetáculo. O preço para a “aquisição” de bons
jogadores vinha se elevando gradativamente desde a década de setenta; e, à medida que
as redes de televisão e os patrocinadores passaram a financiar os gastos das equipes, os
salários das estrelas também se inflacionaram. Porém, a partir da “decisão Bosman” e
da multiplicação dos valores de contratos de transmissão e patrocínio, nos anos
noventa, os preços dos “passes”(ou melhor, da multa pela rescisão contratual) e dos
salários dos jogadores em geral têm aumentado exponencialmente, na Europa e
consequentemente no Brasil.

2.2.2 - Folha de Pagamento: A despesa principal na maioria dos clubes é o salário dos
jogadores, que aumentou drasticamente ao longo das últimas duas décadas no mundo
todo. Segundo dados da empresa de consultoria Deloitte Touche Tohmatsu, o valor
médio da folha de pagamento anual dos clubes, que compõem o Clube dos 13, no
último ano foi de US$ 2,777milhões, enquanto que a média dos clubes ingleses foi de
US$ 22,080 milhões.

Porém aqui no Brasil acontece um problema sério, de que para poder pagar os
altos salários, os clubes acabam deixando de pagar os salários dos outros empregados do
clubes, gente que somando tudo que recebeu na vida até na morte, não receberá o que um
grande jogador recebe por mês.

2.2.3 - Despesa de Transporte é referente a viagens para jogos e para a preparação de pré-
temporada.
32

2.2.4 - Despesa de Alimentação e Estadia é referente aos gastos dos clubes com pré-
temporada e concentração durantes os campeonatos.

2.2.5 - Despesa de Categoria de Base, para muitos isso significa um investimento a longo
prazo, de 8 anos no mínimo, pois se o jogador vingar ele pode ser vendido, no caso de
clubes pequenos ou se tornar um ativo no caso clubes grandes.

2.2.6 - Despesas de Manutenção que pode ser dividida em manutenção predial e manutenção
do estádio:

2.2.6.1 - Despesa de Manutenção Predial é referente a manutenção de todas as dependências


do clube, menos do estádio.

2.2.6.2 - Despesa de Manutenção do Estádio refere a manutenção de todas as dependências do


estádio.

Na próxima parte, iremos ver as mudanças ocorridas no futebol inglês, no início da década de
90 e porque ele se tornou um dos campeonatos mais ricos do mundo
33

PARTE 3
Processo de Mudança na Inglaterra

Durante as décadas de sessenta e setenta, o futebol na Inglaterra havia se


tornado um sério problema de polícia e havia construído uma imagem decadente junto à
opinião pública. Nos anos oitenta, a maioria dos tradicionais clubes ingleses estava em
situação financeira bastante precária, e poucas empresas se dispunham a associar a sua
imagem ao futebol, uma atividade desacreditada. Nos anos noventa, após o Relatório de Taylor
(Taylor Report), que tinha como principal foco: a principal divisão do futebol inglês; os clubes
foram obrigados a investirem em estádios onde o público fosse todo acomodado sentado. Para
que empurrões e super-capacidade nos estádios fossem expurgados, baderneiros passaram a ter
que bater ponto na prisão no dia de jogos de seus clubes, bebidas foram proibidas nos estádios,
qualquer objeto que pudesse se tornar uma arma também foi proibido.

Em 1992, os clubes criaram sua própria liga independente e comercializaram o


seu campeonato diretamente com as TVs; com isso o futebol inglês conseguiu dar a volta por
cima, sendo a Liga Inglesa considerada atualmente como uma das mais ricas do planeta. Para
entender como essa guinada foi possível, vejamos a explicação oferecida pelos jornalistas José
Eduardo de Carvalho e Luiz Antônio Prósperi:

Há dez anos, o futebol inglês vivia um purgatório.


Estádios desconfortáveis, torcedores violentos, péssima
imagem no continente europeu e um sistema retrógrado de
administração afugentavam torcida e patrocinadores.
(Weishaupt, 1998 , p 8)
34

O período de hibernação não durou tanto. Depois de um plano nacional de


“limpeza” dos hooligans e de reforma dos estádios, foi fundada a Premiership, em 92/93, a
atual Liga Nacional de Futebol da Primeira Divisão. Enquanto os agentes de segurança
cuidavam de tirar os vândalos com largas campanhas nacionais e a colaboração da população,
a Football Trust, uma empresa de financiamento voltada apenas para o setor, ajudava a
reestruturar as finanças dos clubes e participava da adequação dos estádios do país aos novos
tempos.

As últimas barreiras aos patrocinadores caíram com o plano de marketing que


viabilizou a modernização da organização do futebol inglês. Entre outras coisas, a bebida que
fora proibida dentro dos estádios teve suas marcas liberadas na camisa das equipes. Os
próprios organizadores assinaram contrato com um fabricante de cerveja para o patrocínio
geral da Liga. Com mais segurança, estádios confortáveis, investimentos em massa e craques
chegando de fora, antes uma heresia, o futebol renasceu com força “redobrada”. (Weishaupt,
1998, p 9)

O enorme sucesso econômico de muitos clubes ingleses é vista como


decorrência dos contratos milionários com a rede de televisão SkySports. A Premiership
obteve em seu primeiro ano US$ 70 milhões da TV privada e mais US$ 20 milhões da BBC
(até então, a cota era de US$ 5 milhões por temporada). Depois de três anos, na temporada
96/97, os valores atingiram a cifra estratosférica de US$ 270 milhões. Por outro lado, a
resposta do mercado também pode ser medida pelo interesse das empresas de material
esportivo nos clubes ingleses: a Reebok negociou com o Liverpool um contrato de US$ 36
milhões por cinco anos, enquanto a Umbro havia acertado com o Manchester United por US$
16 milhões durante seis anos de contrato.
35

A transformação do futebol inglês numa atividade empresarialmente organizada


e sua relação simbiótica com a televisão representaram uma ruptura com os princípios e
instituições que nortearam o esporte bretão por mais de cem anos. Uma gestão moderna e
profissional do esporte-espetáculo exigiu uma revisão na mentalidade dos dirigentes e um
aprimoramento da noção de futebol-empresa. As mudanças implementadas abriram as portas
para a capitalização dos clubes, inclusive através do lançamento de ações na Bolsa de Valores
de Londres

Com os clubes sendo tratados como empresas negociadas no mercado aberto, a


Liga Inglesa passou a ter seu desempenho avaliado segundo critérios do mercado financeiro. A
respeito da nova Liga Inglesa, o jornalista Patrick Harverson, do Financial Times, considerado
um dos maiores consultores sobre a industria do futebol mundial escreveu:

A Liga da Primeira Divisão da Inglaterra se tornou a mais


rica Liga mundial de campeonatos de futebol e seus
proprietários estão colhendo os benefícios da explosão
financeira do esporte. O dinheiro conseguido nos últimos
cinco anos por meio de direitos de transmissão por TV,
merchandising, receitas de bilheteria e patrocínio e
publicidade estimulou os lucros de muitos clubes.
(Weishaupt, 1998, p 10)

Este aumento de lucros, provocou a valorização das ações de clubes. A atual


temporada poderá tornar os milionários do esporte ainda mais ricos. Essas valorizações estão
persuadindo mais proprietários a listar seus clubes no mercado, levantando assim o dinheiro
necessário para a expansão e atribuindo um preço mais vendável a suas ações.
36

As transformações ocorridas no futebol inglês são uma boa indicação de


tendências que têm se fortalecido na Europa Ocidental (desde 95, ouve mudanças na legislação
na Itália, em Portugal e na Espanha o que permitiu que clubes desses países se
transformassem em sociedades de capital aberto e lançar ações em bolsa) e que poderão se
difundir para outras áreas do planeta . A profissionalização dos dirigentes, o desenvolvimento
do marketing esportivo, a associação entre ligas e redes de televisão e a capitalização dos
clubes são processos decisivos para a consolidação do moderno conceito de organização
futebolística, aqui denominado de “futebol-empresa”.

Em reportagem tirada do Site Esporte S.A., que era editado pelo jornalista João
José de Oliveira, que hoje está na Gazeta Mercantil, o Vice-Presidente da área de vendas de
ações para América Latina do Banco Santander Central Hispano, Álvaro Maia, que participou
de um seminário promovido pelo Instituto de Investimento e Pesquisa (IIMR), reuniu analistas
financeiros e personalidades do meio futebolístico para discutir o seguinte tema: "Para aonde o
futebol irá daqui em diante?".

Esse seminário levantou a discussão sobre o futuro do futebol inglês, a


discussão contou com a participação de uma dos principais figuras do governo do Primeiro-
Ministro Tony Blair na área de esporte, Tony Banks, do ex-jogador do "English Team", do
West Ham e atual comentarista da BBC, Trevor Booking e do mais conceituado analista de
investimentos para futebol na City, Paul Wedge, da corretora Collins Stewart.

As perguntas levantadas no debate: Qual o passo seguinte a transformação dos


clubes em empresas abertas? O que será do futebol inglês no novo milênio? Estaremos
vivenciando anos de um futebol chegando ao extremo do profissionalismo? Ou veremos o
37

futebol tornar-se apenas mais um "grande negócio"? E o mercado acionário? O futebol ainda
atrai o investidor em geral?

É bem verdade que os grandes times ingleses enriqueceram rapidamente com as


receitas vindas da televisão, marketing agressivo, merchandising, patrocínio nas camisas e, é
claro e por que não, maior freqüência de público nos estádios. Até 1997, as ações da maioria
dos clubes que decidiram fazer oferta pública de ações tiveram um retorno maior do que
razoável. Todavia, aponta Paul Wedge, nos últimos três anos, salvo o benchmark de todos, o
Manchester United, a maioria dos clubes tiveram suas ações na bolsa sofrendo uma queda
significativa. A principal razão disso é que em meados de 90, as ações de clubes de futebol
tiveram o mesmo tipo de apelo que hoje as empresas de Internet oferecem ao mercado, tanto
na alta como na baixa, guardando evidentemente as devidas proporções.

Para Paul Wedge da Collins Stewart, as ações destes clubes não mais estariam
despertando o mesmo interesse de alguns anos atrás pois os investidores gostam de ver suas
participações acionárias trazerem retorno e é justamente isto que está faltando aos investidores
em clubes de futebol: retorno sobre seus investimentos.

Os salários dos jogadores estão atingindo quantias exorbitantes, e as


transferências de jogadores entre clubes estão quebrando recordes dia após dia. Para
compensar o aumento destas despesas, os clubes se equilibram com as cifras cada vez maiores
pagas pela TV por satélite (BSkyB) e a majoração nos preços dos ingressos.

Na temporada 1996/1997, a média da folha de pagamento dos jogadores de


futebol dos grandes times da Inglaterra correspondiam a 40% do total das receitas dos clubes,
este número, na temporada 1997/1998, chegou a 60%. Novamente a exceção foi o Manchester
38

United, que viu suas despesas com salários de jogadores subirem de 26% na temporada 96/97,
para 33% na temporada 1999/2000.

Talvez por ter um tipo de administração que busca a eficiência administrativa, o


Manchester é o único clube que vem apresentando lucros consistentes, enquanto a maioria dos
outros clubes tem experimentado altos e baixos nos últimos anos. Convêm salientarmos que, o
futebol inglês não detém o título de maior gastador mundial, este título cabe aos italianos, que
costumam gastar até três vezes mais em salários do que a quantia dispendida pelos clubes
ingleses.

Para acabar com a gastança, o ex-futebolista Trevor Booking dá a dica mais


óbvia: investir pesadamente nas divisões de base e escolinhas nas comunidades para a
descoberta de novos talentos, caso contrário, o país irá presenciar mais e mais times como o
Chelsea selecionando para uma partida de futebol onze jogadores não ingleses.

Mas se as despesas com salários e transferências têm aumentado


exageradamente e, por conseguinte, os clubes não têm apresentado resultados consistentes fora
das quatro linhas a pergunta é: existe um futuro para os clubes dentro do mercado acionário?
Para Álvaro Maia, é claro que sim.

Há mais clubes no país interessados em abrir seus capital. Os que já são abertos,
vão conhecendo as diferentes culturais dos investidores em futebol. O político Tony Banks,
afirma que existe o investidor que compra a ação de um clube por sua relação de emoção para
com aquela agremiação, ou seja, jamais irá vender a ação daquele clube e comprar a do rival
só porque este último se encontra numa fase melhor; como também existe aquele investidor
frio e calculista, que só tem dinheiro investido naquela instituição porque tem a expectativa de
um bom retorno do seu investimento. Para este último tipo o ativo futebol pode estar servindo
39

como estratégia de diversificação em uma carteira de investimentos; podendo ser “patrimônio”


de uma pessoa física ou jurídica(carteira particular ou fundo de investimento).

Uma pergunta que surge é se todo o dinheiro envolvido neste esporte trazia
benefícios aos acionistas minoritários. Será que algum dia eles realmente verão a cor do
dinheiro? Os clubes, com certeza sim. Os acionistas majoritários também. O próprio torcedor,
a alma e a principal razão do esporte, deve ficar satisfeito em ir ao estádio com conforto
segurança e ter o prazer de ver o seu time jogar, sem desconfiar que, ali, naquelas quatro
linhas, está em jogo um grande negócio chamado futebol.

Após o episódio "Sky-Manchester" quando a TV por satélite Sky do poderoso


empresário Sr. Rupert Murdoch fracassou na tentativa de comprar o Manchester United, as
empresas de mídia tem adotado uma nova estratégia: comprar participações em diversos
clubes ao limite imposto por lei de 9,9%.

Atualmente a Sky não está mais sozinha. Empresas como a Granada (On
Digital) e NTL também tem todo interesse em abocanhar a transmissão do futebol inglês para
os próximos cinco anos. Como a decisão será tomada pelos próprios clubes em uma reunião a
portas fechadas no próximo mês de junho, para Álvaro Maia a participação estratégica em
alguns destes clubes que compõe a principal liga inglesa certamente traduzir-se-á em uma
certa interferência na decisão final.

A intenet será o próximo grande passo para transmissão de eventos ligados ao


futebol. O Manchester United, por exemplo, pretende ser o primeiro clube a ter seus jogos
negociados para futura transmissão via internet já para 2001.
40

Não podemos esquecer que o mesmo rumo está tomando as emissoras de rádio,
que vêm negociando contratos em separado com os clubes da Inglaterra.

A chance de transmitir ao vivo os jogos da liga inglesa justifica grandes


investimentos por parte da mídia nos clubes de futebol. Álvaro Maia diz que mesmo as
empresas que percam a oportunidade de transmitir a Premier League terão sempre a
possibilidade de transmitir as copas domésticas e européias às quais os clubes irão, muito
provavelmente, negociar seus contratos em separado. Portanto a participação direta em alguns
clubes, por parte de certas empresas de mídia, objetiva ter acesso ou controle das decisões
operacionais para “uso próprio”.

Esta parte apresentou o histórico do futebol inglês e sua administração


moderna. O modelo inglês é tido como um sucesso no que se refere a administração esportiva.
Contudo, não pode ser puramente copiado para outros países. No próximo capítulo iremos
abordar métodos sugeridos pelo Profº Damodaran em seu livro “Avaliação de Investimento”
para avaliar franquias esportivas.
41

PARTE 4
Avaliação de Financeira

Clubes de futebol oferecem um exemplo especializado de avaliação de


empresas. Sua singularidade advêm de vários fatores.

Primeiro, a variabilidade de valores tende a ser significantemente maior que em


outras atividades, indo desde empresas de bairro até empresas de centenas de milhões de
dólares. Enquanto que em empresas o que interessa é o lucro, no futebol há uma discussão
entre se o que interessa é o lucro ou um título, melhor dizendo se o futebol, depois de
profissionalizado, continuará público ou privado.

Segundo, o sucesso de um clube de futebol não é julgado apenas em termos


econômicos, embora dentro de um clube-empresa, a geração de riqueza deveria ser o foco.
Mesmo não sendo um visão empresarialmente adequada, muitos administradores costumam
julgar o desempenho de seus clubes em termos de vitórias e derrotas.

Terceiro, as fortes conexões locais que essas equipes têm e as imensas emoções
que evocam em seus torcedores os tornam diferentes de um negócio tradicional. Uma
peculiaridade do futebol é a fidelidade da sua torcida, na linguagem de administração, clientes,
que mesmo vendo o seu time perdendo, na linguagem de administração, insatisfação do
cliente, não trocam de time ou se tornam torcedores/clientes do time adversário/empresa
concorrente. Já as outras empresas quando não agradam o seus clientes, acabam perdendo-as
para a concorrência.
42

Esportes profissionais são uma parte do negócio de entretenimento profissional.


Assim, pode ser argumentado que o Vasco da Gama tem mais em comum com a o Parque da
Mônica do que com um negócio típico da cidade do Rio de Janeiro.

Embora poucas franquias profissionais sejam negociadas publicamente, há


várias empresas com ações negociadas em bolsa cujas receitas são derivadas do merchandising
em esportes. Por exemplo, empresas de roupas esportivas como a Nike e a Russel Athletics são
listadas e negociadas na bolsa de valores e estima-se parâmetros de risco para elas. A medida
que seus lucros estejam ligados à popularidade dos esportes profissionais, deve haver alguma
informação sobre seu risco estimado.

0 risco dessas franquias pode ser estimado utilizando-se as informações


reveladas sobre suas receitas e seus lucros ao longo do tempo, e relacionando-se esses
números ao desempenho dos lucros no mercado. Assim, as franquias de esportes cujas receitas
e rendimentos variam mais drasticamente do que as receitas e rendimentos do mercado global
seriam consideradas mais arriscadas e merecedoras de maiores taxas de desconto. É nesta parte
que o trabalho se engloba

As etapas na avaliação de uma franquia de esportes seguem as etapas de


qualquer avaliação - fluxos de caixa advindos da propriedade do clube têm de ser estimados
conjuntamente com uma taxa de desconto que reflita a incerteza associada a esses fluxos de
caixa.

4..1 - Estimando Taxas de Desconto:


A taxa de desconto é mais complexa para ser estimada. Há poucos clubes de
futebol no mundo, negociados publicamente, e mesmo estes possuem uma base histórica de
43

informações relativamente curta. A quantificação do custo de capital pode ser abordado de


várias formas diferentes.

4.1.1 – Custo Patrimônio Líquido Via CAPM


O maior problema para se criar um modelo de avaliação de retorno e risco para
o futebol brasileiro hoje em dia, é a falta de informação. Para se calcular um hipotético beta
operacional para clube brasileiro usaremos como base o beta do Manchester United que por
cálculos da Bloomberg, nos últimos 18 meses teve um valor de 0,6. Para se fazer uma
estimação mais precisa deveríamos levar em consideração as diferenças econômicas entre o
Brasil e a Inglaterra: a nossa economia é mais arriscada que a inglesa, a nossa legislação
esportiva foi mudada nos últimos três anos e a inglesa é a mesma desde 1992 e próprio beta do
Manchester é um beta de uma empresa de capital aberto já os clubes brasileiros ainda não são
empresas de capital aberto.

4.1.2 – Custo de Capital Via Identificação dos Riscos


O risco dos clubes pode ser estimado utilizando-se as informações reveladas
sobre suas receitas e seus lucros ao longo do tempo, e relacionando-se esses números ao
desempenho dos lucros no mercado. Assim, os clubes de futebol cujas receitas e rendimentos
variam mais drasticamente do que as receitas e rendimentos do mercado global seriam
consideradas mais arriscadas e merecedoras de maiores taxas de desconto. (Damodaran, 1997,
p 600)

Tomamos como base, o modelo de Avaliação de Franquias Esportivas que é


desenvolvida pelo Profº Damodaran no seu livro, Avaliação de Investimentos, para
desenvolvermos o nosso exemplo para criação de um clube de futebol.
44

4.2 - Exemplo Teórico


A estratégia do Clube é a seguinte(vide tabela abaixo):

4.2.1 - PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NOS 10 PRIMEIROS ANOS

ANO POSIÇÃO ESTIMADA DO CLUBE


1 3ª Divisão Estadual
2 Campeão da 3ª Divisão Estadual
3 2ª Divisão Estadual
4 2ª Divisão Estadual
5 Campeão da 2ª Divisão Estadual
6 1ª Divisão Estadual
7 1ª Divisão Estadual
8 1ª Divisão Estadual e 3ª Divisão Brasileiro
9 1ª Divisão Estadual e 3ª Divisão Brasileiro
10 1ª Divisão Estadual e Campeão Brasileiro da 3ª Divisão

4.2.2 - PLANEJAMENTO FINANCEIRO NOS 10 PRIMEIROS ANOS(vide tabela em


anexo).
Para que o exemplo não seja completamente teórico, alguns dados como
CONFINS, ISS, depreciação tanto como de jogador, como de instalações foram tirados do
Relatório de Demonstrações Financeiras da LigaFutebol S.A., empresa criada pelo Banco
Opportunity para gerir o Esporte Clube Bahia.

Para estimarmos um custo de patrimônio líquido iremos usar como base além
do beta Manchester United, um retorno de mercado de 18%(Kassai & Kassai, 1999, P198), da
economia brasileira sobre a economia inglesa, e um retorno livre de risco, poupança, de
6,17%.(Kassai & Kassai, 1999, P199) Esses fatores geram um hipotético custo de patrimônio
líquido, que será demonstrado abaixo:
45

Custo de Patrimônio Líquido = 6,17% +0,6 x (18%-6,17%)= 13,27%

A alavancagem financeira utilizada varia substancialmente de clube para clube.


No nosso exemplo admitimos a que 100% do capital será financiado, e um custo da dívida
antes de impostos de 9%, o custo do capital pode ser estimado como abaixo (admita que a
aliquota de imposto seja de 15%):
Custo do Capital = 13,27%+9%(l - 0,15)(1) = 20,92%

O método do Custo de Capital Via Identificação de Riscos é mais similar ao


APT; cujos riscos são identificados individualmente. Esta identificação deverá ser feita com
base nas divisões feitas na Parte 2.

Podemos conferir que após um investimento inicial de US$ 2,4 milhões, o clube
usado no exemplo começa a ser rentável em 7 anos, com uma TIR de 32,51% e um VPL
acumulado nos primeiros 10 anos maior que US$ 1,5 milhões.
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Conclusão

Com base no que foi exposto neste trabalho podemos concluir que para um
clube brasileiro chegar ao nível de administração de um clube inglês. A organização do futebol
no Brasil tem muito o que melhorar. Podemos destacar os seguintes aspectos:
• Adaptação do calendário brasileiro e sulamericano ao calendário europeu, em número de
jogos;
• Maior transparência na administração;
• A administração dos clubes deve se tornar cada vez mais profissional;
• governo deve atuar como um agente regulador;
• Investimento nas divisões de base;
• A atuação da mídia nos clubes deve ser controlada ou, no mínimo, investigada;
• As torcidas chamadas de organizadas devem estar cada vez mais distante do dia à dia do
clube, vide exemplo o Corinthians nesse ano;
• Trabalho em conjunto dos clubes, da sociedade, dos governos no intuito de diminuir os
tumultos dentro e principalmente fora dos estádios.

No que diz respeito a divisão de receitas(principais e secundárias) e despesas,


foi a forma encontrada para estudar os riscos “personalizados” para cada clube em separado, já
que hoje os clubes não fazem nenhum estudo a esse respeito. Como sabemos que a
importância de cada tipo de receita varia de clube para clube, é de se esperar que tenham
custos de oportunidades diferentes

A identificação dos riscos de cada clube irá variar conforme a estratégia


escolhida pelos dirigentes. Uma vez identificado o foco dos administradores; fica possível
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reconhecermos quais serão as principais receitas e despesas dos clubes. Com base nessa
informação poderemos tentar estimar o nível de risco do clube que estiver sendo analisado.

Os modelos de avaliação de investimentos utilizados pelos os investidores não


são transparentes. Os modelos anunciados para a mídia e público em geral são de gestão
organizacional de clube e não de avaliação investimentos, com isso foi difícil de se conseguir
dados e pessoas que quisessem ou soubessem responder a qualquer questionamento. Por isso,
mesmo sabendo que a modelagem usada possui limitações, o trabalho desenvolveu um modelo
de avaliação que almeja estimar um valor para um clube de futebol.
Uma das principais limitações encontrada no trabalho diz respeito à diferença
entre mercado inglês e o mercado brasileiro:
• Nível de risco da economia inglesa menor que o risco da economia brasileira;
• Legislação na Inglaterra é a mesma a 8 anos, no Brasil tivemos 3 nos últimos 3 anos;
• Abertura de capital dos clubes ingleses.
• Dados sobre receitas e despesas, pois a maioria dos clubes não fazem estudos, para
desenvolver análises sobre esse tópico.

A contabilidade dos clubes de futebol no Brasil é uma caixa preta, onde


qualquer pessoa não autorizada não consegue ter acesso as informações, isso dificulta a
qualquer trabalho ou estudo de grupos que tenham interesse em investir no futebol brasileiro.
Já os clubes ingleses, mesmo os que não possuem capital aberto, são obrigados por lei a
publicar seus balanços anuais e além disso anualmente o Departamento de Futebol da Deloitte
& Touche publica um relatório setorial contendo dados e informações financeiras e contábeis
relativas aos clubes das 3 principais divisões de futebol da Inglaterra.

A Parte 3 nos dá informações para quem queira utilizar o método de risco de


mercado, logicamente tomandos os devidos cuidados na comparação no mercado inglês com o
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mercado brasileiro. Já na Parte 2, as informações são úteis para quem queira utilizar o método
de risco diretos ao clube.

O melhor método a seu utilizado por clubes brasileiros é o métodos de risco


diretos ao clube, pois hoje há muitas diferenças entre o Brasil e a Inglaterra e dessa forma não
é correto usar como premissas dados do futebol inglês. Além há uma grande heterogeneidade
de clubes de futebol em todo o Brasil.

A diferença de métodos de análises de valor para clubes de futebol, a


disparidade de valores reais entre o futebol inglês e o futebol brasileiro, o gap em relação a
profissionalização do futebol inglês e o futebol brasileiro.
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Bibliografia:
- BOSELLI, Mauro C. 1998. Análise da Lei 9.615/98. Dissertação Monografia. Rio de
Janeiro. PUC Rio.

- BRUNORO, José C. & AFIF, Antônio. 1997. Futebol 100% Profissional. São Paulo.
Editora Gente.

- DAMODARAN, Aswath. 1997. Avaliação de Investimentos. São Paulo. Editora


Qualitymark.

- Entrevista concedida pelo consultor esportivo Alexandre Loures, da Deloitte Touche


Tohmatsu ao site Somativos, na sua 3ª edição – Artigo Trocando Idéias. In:
http://www.somativos.com.br/Portugues/Newsletter/3edicao/trocideias.htm

- Entrevista concedida pelo Vice-Presidente da Área de Vendas de Ações para América


Latina do Banco Santander Central hispânico, Álvaro Maia ao Jornalista João José de
Oliveira. In: www.lancenet.com.br/esportesa/analises/analises19.htm

- Kassai, José R. & Kassai, Sílvia. 1999. Retorno de Investimento. São Paulo. Editora
Atlas.

- Relatório de Demonstrações Financeiras da Liga Futebol S.A. 1998.

- Relatório de Demonstrações Financeiras da Liga Futebol S.A. 1999.


50

- WEISHAUPT, Marcelo. 1998. A Emergência do Futebol Empresa. Dissertação Tese de


Mestrado. Unicamp

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