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A PALAVRA, ENQUANTO ELEMENTO ESSENCIAL NA INTERPRETAÇÃO LEGAL

RIOS, I. S.(1)

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Departamento de Direito, Escola de Estudos Superiores de
Viçosa, Rua Doutor Gerhardus Lambertus Voorpostel, nº 10 - Bairro
Liberdade – CEP: 36570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

A Constituição é um “dado lingüístico”, responsável por tornar público o “ordenamento


jurídico básico do Estado”, que tem no texto, o elemento essencial como forma de linguagem e a
hermenêutica como forma de interpretação.

A linguagem consubstancia sistemas ou conjuntos de símbolos convencionais, atribuindo


a palavras e expressões um sentido que depende sempre de uma convenção, fazendo com que o
significado de uma palavra seja quase sempre o seu uso na linguagem.

A impressão e equivocidade dos conceitos encontrados na linguagem cotidiana


transportam-se para a linguagem jurídica, dotando-a de diversas figuras de linguagem que
destacam os graus de sentimento e de interesse, que tornam o discurso vivo e retórico.

Apesar do esforço do legislador, na produção de leis baseadas a partir de uma linguagem


rebuscada, que visa isentar o “texto da norma” da influência das vicissitudes percebidas na
linguagem cotidiana, não é raro encontrar textos que se distanciam do simples entendimento,
produzindo a idéia de “conceitos jurídicos indeterminados”. Consideram-se conceitos jurídicos
indeterminados, aqueles cujo conteúdo e extensão são em larga medida incertos, desprovido de
um sentido preciso e objetivo, distanciando por conseqüência o “âmbito da norma” do
entendimento comum.

A fim de promover uma precisa aplicação da norma, “deve-se buscar reduzir a


complexidade interpretativa... decorrente da abstração/indeterminação, sem extinguí-la, uma vez
que essas características não são `defeitos de norma`, mas viabilizadoras da sua atualidade e
abertura às mudanças ocorridas no seio social”. Neste sentido, os estudiosos do Direito utilizam a
“hermenêutica”, que é a ciência que busca interpretar o texto escrito.

No exercício da hermenêutica, valendo-se da “teoria dos conceitos indeterminados”, que


busca aferir o real objetivo da norma, a partir da análise tripartite do caso, submetendo-o a
contemplação na “zona positiva”, da possibilidade absoluta da aplicação da norma; na “zona
negativa”, da impossibilidade absoluta de sua aplicação e na “zona cinzenta”, em que se deverá
concentrar a atenção do interpretador, no intuito de estreitá-la, buscado dirimir as dúvidas que a
distancia das duas extremidades anteriormente citadas. Tal analogia é aplicada no texto “A
Cidade e o Direito Urbanístico: O Núcleo de Concretização do Princípio da Função Social do
Imóvel Urbano”, do Prof. Igor Sporch da Costa, quando busca aferir o real alcance da expressão
“Função Social” contida no Inciso XXIII, do Art. 50 da CF/88.

Diante disso, pode-se concluir que a aplicação da interpretação da norma, conforme a


Constituição, a partir do exercício da hermenêutica aplicada sobre a sua linguagem, não se
caracteriza uma forma de manter normas inconstitucionais no ordenamento jurídico, uma vez
que pelo estudo de seu “âmbito”, compreender-se-á o alcance das expressões que compõem o
seu “núcleo de concretização”.

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