Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ethridge, Shannon
Preparando sua filha para a batalha de toda a mulher / Shannon Ethridge; com
introdução de Stephen Arterburn; traduzido por Neyd Siqueira. — São Paulo:
Mundo Cristão, 2009.
08-11023 CDD-241.66
1
Organização norte-americana de interação religiosa voltada ao público masculino. (N. da T.)
Prefácio 11
Quando Shannon me disse qual seria o título de seu livro e me convidou para
escrever este prefácio, logo fiquei interessada. Com o ZOEgirl,1 aprendi a ter
muito cuidado com o que apóio ou represento, mas este livro posso defender
de olhos fechados.
Nos últimos cinco anos, aprendi a compreender a imensa necessidade da
ligação entre pais e filhos e quanto isso é imprescindível para ambos. Todavia,
à medida que as crianças crescem e se tornam adolescentes, o relacionamento
com os pais algumas vezes parece desgastar-se. Assim, muitos filhos não re-
cebem o benefício da sabedoria e influência dos pais, justamente quando mais
precisam delas!
Já perdi a conta de quantas cartas recebemos de adolescentes, abrindo o
coração. Essas cartas estão cheias de rejeição, abuso sexual, depressão e ausên-
cia de aceitação que passam diariamente. Muitas se sentem desanimadas com
a própria aparência física e acreditam que não valem nada. Estão ávidas por
atenção e por alguém que possa escutá-las. Muitas meninas se sentem assim
porque não compreendem plenamente quem são em Cristo e, quando acham
que estão sozinhas, sem ninguém para ouvi-las, vão em busca de lugares onde
possam receber atenção e ser aceitas.
1
Grupo norte-americano de música gospel com foco no público jovem. (N. da T.)
Sei que é assim porque já passei por isso. Cometi vários erros antes de ser
cristã e até mesmo depois de ser salva. Quando você não encontra sua iden-
tidade em Cristo, adota um comportamento autodestrutivo: homens, drogas,
álcool, danos físicos etc. Não me refiro às meninas que parecem problemáticas.
Refiro-me a meninas cristãs que amam a Deus, levantam fundos para participar
de viagens missionárias e cantam de cor Jesus me ama. Essas meninas sofrem
internamente, mas têm medo de falar com os pais sobre sua vida secreta porque
se sentem constrangidas ou não quererem que os pais deixem de acreditar que
elas são “boas meninas cristãs”. Em geral, afastam-se das pessoas que ficariam
desapontadas com o comportamento delas.
Hoje, a batalha começa cada vez mais cedo e, infelizmente, como estão anes-
tesiadas pela mídia, as meninas estão bem mais informadas sobre a sociedade
imoral em que vivemos. Ela é muito pior agora do que em minha juventude,
por isso as meninas precisam ter informações adequadas o mais cedo possível
sobre o sexo oposto e as oscilações da adolescência. Se não ouvirem dos pais o
que Deus fala sobre essas questões, vão buscar a opinião dos colegas. Mesmo que
você ache sua filha jovem demais para conhecer tais assuntos, é bem provável
que ela já tenha ouvido sobre eles na escola ou no playground do prédio.
Em nosso primeiro álbum, temos uma música que fala da abstinência sexual,
intitulada One Reason [Uma razão], que conta a história de uma menina que
cometeu um erro no passado, decidiu não ter relações sexuais com o namorado
e iniciar uma vida de pureza. Não foi fácil colocar essa música no álbum, porque
acharam que o tema era controverso demais. Mas estávamos convencidos de
que havia necessidade de tratar desse assunto e acreditávamos que Deus nos
concedera essa música por alguma razão. Recebemos agradecimentos de muitos
pais pela canção, que lhes serviu de oportunidade para tratar, com as filhas, de
namoro e das tentações que enfrentarão com o sexo oposto.
Tenho por este livro o mesmo entusiasmo que tive pela música, por ser ins-
trumento disponível a mães, pais e filhas. É perfeito para iniciar uma conversa
entre você e sua filha sobre temas difíceis, pois se aprofunda nas tentações e
pressões que as jovens enfrentam hoje em dia. Adorei a divisão que Shannon
fez nesta obra: o livro 1 destina-se aos pais; o livro 2, aos pais e à filha, a ser
lido conjuntamente.
Mostrei este livro a minha cunhada, mãe de três meninas com 6, 8 e 10 anos.
Pedi que lesse algumas páginas e me dissesse sua opinião. Depois de ler dois
capítulos, ela desejava que eu o emprestasse, pois desejava levar para casa e ler
com a filha mais velha. Ela ficou entusiasmada com o livro, por ser um instru-
mento de ajuda para explicar à filha as mudanças que estavam acontecendo no
corpo e na mente dela, e os desafios que enfrentaria em futuro bem próximo.
É preciso que os pais se comuniquem com as filhas. Se tiverem uma filha
pré-adolescente e não souberem como abordar esse assunto, este livro será
uma ajuda inestimável. Você aprenderá, passo a passo, a ensinar sua filha sobre
amor, luxúria, vida de uma jovem solteira, casamento etc. Com este livro, sua
filha descobrirá, acima de tudo, o amor incondicional de Deus por ela; para os
pais, será instrumento para um diálogo franco e aberto entre vocês. Com ele,
sua filha ainda terá grandes chances de empreender uma jornada saudável e
íntegra para a maturidade.
Para os pais
falar sobre sexo com ela, surgirá um distanciamento entre vocês. No entanto,
se abordar o assunto cedo, o diálogo criará um elo forte, e sua filha vai querer
aprender sobre essa realidade com você, não na rua. Não espere até que ela seja
adolescente para começar a prepará-la. Antecipe-se às tentações e crie uma base
sólida e profunda. Parafraseando Provérbios 4:7-8, não há nada mais valioso
do que a sabedoria. Transmita essa sabedoria a sua filha, por mais difícil que
seja para você, e a ajude a entender as realidades da vida. Ajude-a a valorizar a
verdade de Deus e a seguir esse caminho. Ao fazê-lo, ela vai honrar você, seu
Deus e sua família. Neste livro, sua filha encontrará a orientação necessária
para fazer escolhas sábias com respeito à sexualidade. Não deixe esse assunto
nas mãos da escola ou mesmo da escola dominical. É você quem deve guiá-la
pelo caminho da verdade.
Nossos filhos devem aprender a estabelecer limites e devem entender que a
pele é um limite concedido por Deus. Eles devem honrar esse limite e esperar
que as pessoas também o honrem, do contrário, devem se afastar das que não
agem assim. Este livro vai ajudar você a transmitir essa verdade fundamental
a sua filha e vai ajudá-la a compreender que tem poder de proteger-se além de
dar-lhe a confiança necessária para isso. Vai ajudá-la a reconhecer que foi feita
“de modo especial e admirável” e vai esclarecê-la quanto à maravilhosa criação
que existe dentro dela.
Antes, porém, de você iniciar este livro, quero fazer-lhe uma advertência: não
há garantia de que sua filha se manterá pura depois de vocês lerem as orientações
de Shannon. Sua filha ainda terá as próprias idéias. Não existe uma fórmula
para o sucesso como pais, porque não temos controle total sobre os filhos. No
entanto, incentivo-o a fazer o melhor possível. O investimento em tempo e na
busca da verdade para sua filha vai ajudá-la a descobrir seu propósito e a viver
de acordo com ele. Que Deus o abençoe em seu esforço de educar sua filha a
tornar-se uma mulher sábia e madura.
Stephen Arterburn
Os mestres sábios, aqueles que ensinaram muitas pessoas a fazer o que é certo,
brilharão como as estrelas do céu, com um brilho que nunca se apagará.
Daniel 12:3
Embora quase todos os pais afirmem que desejam ser procurados pelos filhos,
raras vezes isso acontece.
1
D. Kirby, L. Peterson e J. G. Brown, “A Joint Parent-Child Sex Education Program”, Child
Welfare, 61, nº 2, 1982, p. 105-114.
2
M. L. Bundy e P. N. White, “Parents as Sexuality Educators: A Parent Training Program”,
Journal of Counseling and Development, 68, nº 3, 1990, p. 312-323.
3
Advocates for Youth: Parents’ Sex Ed Center, Washington, D.C., <www.advocatesforyouth.
org/parents> acesso em 24 de nov. de 2008.
4
Bundy e White, “Parents as Sexuality Educators…”, p. 321-323.
5
J. M. Benshoff e S. J. Alexander, “The Family Communication Project: Fostering Parent-
Child Communication About Sexuality”, Elementary School Guidance and Counseling, 27, nº
4, 1993, p. 288-300.
6
Stephen Arterburn, Fred Stoeker, Mike Yorkey. São Paulo: Mundo Cristão, 2009.
2. Nunca falaria sobre sexo com meus pais porque fugiriam do assunto e desconfia-
riam que eu estivesse a fim de praticá-lo ou já praticando, quando não estou
Fugir das perguntas curiosas faz que nós, pais, sejamos desqualificados defini-
tivamente da categoria “Eu! Eu!”. Se pudermos aceitar que os filhos têm uma
curiosidade natural sobre sexualidade, podemos conversar com calma com nossas
filhas e responder às perguntas sem pânico. Quando ela levantar a questão, seja
sobre dúvidas a respeito de si mesma ou fruto de observação da vida de outra
pessoa, não se apresse a comentar. Faça perguntas, pergunte como ela se sente
sobre o que viu ou ouviu. Depois de ouvir as opiniões dela, sua filha se sentirá
mais aberta a ouvir as suas.
3. Meus pais não fazem sexo, portanto, provavelmente não sabem muito mais do
que eu
É verdade, foi exatamente o que você leu. E, creia, é um fato. Muitos jovens
dizem-me que os pais não fazem sexo. É claro que sorrio internamente e per-
gunto: “Como você acha que nasceu?”. Os adolescentes geralmente percebem o
tom de humor na pergunta e respondem: “Certo, fizeram sexo três vezes porque
tenho um irmão e uma irmã, mas, além disso, não fazem sexo!”. Permaneço séria e
pergunto: “Por que acha isso?”, e a maioria responde: “Eles não saem para namorar,
não ficam de mãos nem se beijam! Como você pode pensar o contrário?”.
Podemos tirar uma boa lição do que os filhos dizem sobre o casamento dos
pais. As crianças associam sexo a romance e afeto e, se não é isso que vêem na
sala de estar ou na cozinha entre mamãe e papai, não conseguem imaginar que
algo aconteça no quarto. Recomendo que os pais sejam um modelo deliberado
de ternura e afeto, de maneira saudável e adequada na frente da filha, para que
ela cresça sabendo que o casamento é um relacionamento em que vai ficar de
mãos dadas, beijar, ter relações sexuais etc. (Cf. o cap. 14 do livro 2, para pais
e filhas.)
À luz desse último comentário, podemos imaginar: O que leva os filhos a
pensarem assim? Tenho duas teorias.
Como nascemos?
Em primeiro lugar, lembre-se de que a maioria das crianças ouve falar de sexo
por meio dos amigos, mas nem sempre foi assim. Tempos atrás, as famílias
quase tanto (se não mais) que você! Observe o trecho a seguir, extraído do livro
Human Sexuality [Sexualidade humana]:
Determinar a idade adequada para falar sobre sexualidade pode ser problemático
para muitos pais. Em um estudo realizado com pais, descobriu-se que, ao serem
interrogados sobre a idade em que seus filhos deveriam aprender sobre sexo, os
pais de crianças pequenas inevitavelmente indicaram uma idade maior do que a
do filho. Em outras palavras, quando se trata de sexo, qualquer que seja a idade
da criança, ela é suficiente para esse tipo de assunto. É provável que os pais que
esperarem até o filho alcançar a puberdade para ter “aquela” conversa sobre sexo
descubram que estão repetindo informações que o filho já conhece.7
Caso você não entenda a recomendação da autora, vou repeti-la. Como pais,
precisamos conversar com nossos filhos sobre sexualidade antes da puberdade!
Veja as estatísticas:
• 20% das meninas e 30% dos meninos iniciam a vida sexual aos 15
anos.8
• Aos 17 anos, mais de 50% dos jovens já tiveram relações sexuais.9
• Aos 19 anos, 80% dos adolescentes já tiveram relações sexuais.10
• A cada ano nos Estados Unidos, cerca de um milhão de adolescentes
engravidam. Do total de gestantes nos Estados Unidos, 13% são adoles-
centes, o mais alto índice entre os países desenvolvidos. Desse total, cerca
de 78% são gestações indesejadas e 22% são programadas.11
• Dos 40 mil novos casos anuais de Aids, metade tem menos de 25 anos
de idade.12
7
Tina S. Miracle, Andrew W. Miracle e Roy F. Baumeister. New Jersey: Prentice Hall,
2003, p. 263.
8
S. Singh e E. Darroch, “Trends in Sexual Activity Among Adolescent American Women:
1982-1995”, Family Planning Perspectives, 31, nº5, 1999, p. 211-219.
9
Miracle, Miracle e Baumeister, Human Sexuality, p. 271.
10
Idem, p. 271.
11
Idem, p. 272.
12
Centers for Disease Control and Prevention (CDC), HIV Prevention: Strategic Plan Through
2005, jan. de 2001.
Entendo que esses índices não reflitam o estilo de vida de meninos e meninas
na pré-adolescência, mas sim de adolescentes mais velhos. Todavia, acredito
que um dos problemas que mais contribuem para a gravidez na adolescência e
para a epidemia de doenças sexualmente transmissíveis são os poucos progra-
mas de abstinência dirigidos aos pré-adolescentes.13 A maioria dos programas
de prevenção de gravidez visam aos adolescentes entre 13 e 17 anos. A meu
ver, os programas são tardios demais, pois grande parte das jovens já iniciaram
comportamentos que prejudicam a saúde e as colocam em risco de engravidar.
Será que essas meninas poderiam ter feito escolhas mais saudáveis se tivessem
recebido uma educação sexual de qualidade mais cedo? Creio que a resposta
seria “sim” para a maioria. Talvez seja tarde demais para essas meninas, mas
esperamos que não seja tarde demais para sua filha. Mesmo que você ache que
já seja um pouco tarde para falar de sexo, não entre em pânico. Não há hora
melhor do que agora para começar as conversas criativas sobre as quais você e
sua filha lerão juntas no livro 2.
Vários especialistas recomendam que os programas de educação sexual ini-
ciem entre 8 e 14 anos, de preferência antes ainda, para maximizar a oportuni-
dade de manter contato com as pré-adolescentes, quando estão mais acessíveis
à influência dos pais. Como pais, precisamos compreender, como mostram as
pesquisas, que informar os filhos sobre sexo não aumenta as chances de eles
terem relações sexuais.14
Não quero tirar a inocência de minha filha falando demais sobre sexo
Pense por um momento sobre a enorme diferença entre inocência e ignorância.
A inocência é um estado emocional; a ignorância, um estado mental. Educar
a mente de sua filha sobre o dom maravilhoso concedido por Deus não vai
tirar a inocência que está no coração dela, nem o conhecimento saudável
vai macular sua pureza sexual. O coração dela talvez venha a ser ainda mais
puro porque terá melhor compreensão do plano de Deus para a sexualidade. As
13
N. L. R. Anderson e outros, “Evaluating the Outcomes of Parent-Child Family Life
Education”, Scholarly Inquiry for Nursing Practice: An International Journal, 13, nº 3, 1999,
p. 211-234.
14
Kirby, Peterson e Brown, “Joint Parent-Child”, p. 105-114.
Escrituras dizem que devemos ser astutas como as serpentes e inocentes como
as pombas (cf. Mt 10:16), o que significa que podemos, ao mesmo tempo, ser
tanto informadas quanto puras.
No entanto, a falta de conhecimento não equivale à inocência, mas sim à
ignorância. Conheço muitas jovens ignorantes em questões de sexo, mas que
cruzaram vários limites sexuais. Segundo a Bíblia, a falta de conhecimento
destrói as pessoas (cf. Os 4:6). No caso do sexo, essa verdade se aplica com
perfeição.
As crianças merecem respostas sinceras, apropriadas à idade, no momento
em que começarem a fazer perguntas como:
Falar de sexo com minha filha pode despertar seus desejos sexuais
Manter sua filha na ignorância não irá impedi-la de ter conflitos sexuais. A
ignorância e a confusão só vão exacerbar essas questões. Devemos nos lembrar
de que humanidade e sexualidade são inseparáveis. Embora os pais prefiram
evitar detalhes (posições sexuais, freqüência etc.), é preciso transmitir às meninas
informações suficientes para que tenham uma sólida base de compreensão sexual.
Creio que a falta de informações saudáveis leva as crianças a comportamentos
sexuais pouco saudáveis, como voyeurismo impróprio, masturbação habitual,
sedução, pornografia e promiscuidade.
Tenha cuidado para não confundir ser “sexual” com ser “sexualmente ativa”.
O fato de sua filha não ser sexualmente ativa não significa que não seja um ser
sexual. Os desejos sexuais acabam sendo despertados em todos os seres hu-
manos, quer falemos sobre sexo, quer não. Não somos criados com um botão
que é acionado quando temos nossa primeira conversa sobre sexo. Nascemos
com uma curiosidade instintiva sobre nosso corpo e o corpos dos outros, tanto
homens como mulheres. É por isso que as crianças pequenas introduzem as
mãos nas fraldas e “brincar de médico” é tão comum na infância. As crianças são
curiosas por natureza e querem respostas a suas perguntas não verbalizadas
Tentei falar com minha filha sobre sexo, mas ela não quer me ouvir
Embora os filhos não peçam aos pais para falar sobre o assunto, 7 entre 10
adolescentes (69%) concordam que seria mais fácil adiar o início da vida sexual
e evitar a gravidez precoce se pudessem conversar de modo mais aberto e franco
sobre sexo com os pais; além disso, afirmam que estão prontos para ouvir as
coisas para as quais os pais pensavam não estarem.15
Se sua filha não lhe fizer perguntas diretas, não cometa o erro de pensar que
não está interessada em ouvi-lo. Constrangidos, os filhos podem mascarar o
interesse, chegando até mesmo a fechar os ouvidos com as mãos e cantalorar,
para sufocar qualquer tentativa de conversa franca da parte dos pais. Na ver-
dade, o que os filhos estão querendo dizer, com uma atitude exagerada, é que
se sentem constrangidos com aquela conversa porque tudo parece estranho para eles!
É possível vencer esse obstáculo introduzindo o assunto em conversas do
dia-a-dia, permitindo que haja uma familiaridade e sensação de conforto gra-
dual e natural. Você não vai alcançar esse nível de conforto permanecendo em
silêncio ou decidindo que ainda não é hora de falar sobre o assunto. Se o pai
ou a mãe falarem de sexo depois de um longo período de silêncio, a situação
provavelmente parecerá estranha e, portanto, constrangedora. Por isso é im-
portante conversar com freqüência sobre esse tema delicado, para quebrar o
gelo entre pais e filhos.
A escola de minha filha tem um ótimo programa de educação sexual. Vou deixar sob
sua responsabilidade
Alguns pais deixam a cargo da escola a educação sexual de seus filhos, por
meio de aulas de saúde ou educação sexual, por não se sentirem à vontade
para conversar sobre o tema. Mas é importante que os pais vejam a educação
15
National Campaign to Prevent Teen Pregnancy, With One Voice, 2002: America’s Adults
and Teens Sound Off About Teen Pregnancy, Annual Survey, citado em SIECUS (Sexually
Information and Education Council of the United States), “Shop Talk”, <www.siecus.org/
pubs/shop/volume7/shpv 70052.html> acesso em 17 de jan. de 2003.
Não quero responder às perguntas de minha filha sobre minhas escolhas sexuais
É uma preocupação válida de muitos pais. Quem de nós quer confessar os pró-
prios conflitos sexuais para os filhos, especialmente se nossa vida não é exemplo
16
Susan M. Blake e outros, “Effects of a Parent-Child Communications Intervention on Young
Adolescents’ Risk for Early Onset of Sexual Intercourse”, Family Planning Perspectives, 33,
nº 2, 2001, p. 52-61.
a ser seguido? Se você tem segredos sobre sua vida sexual, saiba que muito
provavelmente sua filha não vai fazer perguntas desconcertantes e pessoais. A
maioria das crianças tem uma idéia do que se deve ou não perguntar a uma
pessoa, portanto não pense que não pode começar a falar sobre sexo com seus
filhos até que tenham idade para ouvir sobre seus fracassos passados.
Dito isso, quero encorajá-la a examinar seus fracassos passados sob uma
ótica diferente. Acredito que podemos usar esses exemplos de situações em
que não conseguimos proteger nossa mente, nosso coração e nosso corpo do
compromisso sexual, em favor de nossos filhos. Eles precisam que sejamos
“verdadeiros”, não “rochas”. Com isso não quero dizer que os pais não devam
ser fortes e servir de exemplo sempre que possível, mas que conversar aberta e
francamente sobre as lutas que enfrentaram na idade deles significa que sabem
como eles se sentem porque já passaram pela mesma experiência. Se formos
francos, garantiremos a nossos filhos que não estão sozinhos ao lidar com os
conflitos e que todos passam pelas tentações sexuais, inclusive mães, pais e
filhas. Nossas filhas devem saber que podemos conceder-lhes a graça de ser
humanas, que a misericórdia de Deus é infinita e que nosso amor por elas é
incondicional. Finalmente, se formos sinceras sobre nossas experiências, criamos
uma atmosfera em que se sintam à vontade para fazer perguntas e contar suas
preocupações e lutas pessoais. Não é esse o objetivo?
Uma palavra de advertência: tenha em mente que as confissões pessoais
devem ser feitas de acordo com a idade de sua filha e só devem ser reveladas
em benefício dela. Há vários meses recebi o e-mail de uma mulher, como a
seguinte pergunta: “Você acha correto eu confessar à minha filha que fiz um
aborto quando era adolescente?”. Na resposta, perguntei a idade da filha dela e
por que ela desejava falar sobre esse assunto. Se ela dissesse: “Ela tem 8 anos e
só quero tirar esse peso da consciência!”, eu teria encorajado essa mãe a evitar
essa confissão, porque seu motivo seria egoísta e sua filha não teria maturidade
para lidar com esse tipo de informação. Todavia, a mãe respondeu: “Minha
filha tem 17 anos e está namorando firme. Quero que ela compreenda que uma
gravidez não planejada pode acontecer a qualquer mulher, assim ela pode fazer
escolhas sábias e guardar o sexo para o casamento”. Essa mãe estava pronta
a humilhar-se para poupar a filha de um sofrimento futuro. Eu a encorajei a
seguir sua consciência. Se ela achasse que confessar o aborto beneficiaria mais
a filha do que o contrário, então sua confissão seria digna.
Se você ainda estiver em dúvida se deve ou não falar com sua filha de 8 ou
9 anos sobre sexo, vou contar-lhe por que meu marido e eu estamos contentes
por termos conversado com nossos filhos quando ainda eram pequenos.
Nosso alívio
Alguns meses antes de Erin entrar no jardim-de-infância, ouvi no rádio o
dr. James Dobson dizer que, antes de ingressarem na escola, as crianças pre-
cisavam saber de onde vinham os bebês. Conversei com meu marido, Greg, e
decidimos criar um filtro mental para Erin, pelo qual toda informação sobre
sexo pudesse ser filtrada e classificada em categorias de verdade ou mentira, e
adequada ou inadequada. Contamos então a ela quanto achamos que poderia
entender naquela idade.
Depois de algumas semanas de escola, Erin contou-me que um menino
havia abaixado as calças no playground e mostrado seu pênis para todo mundo.
Eu perguntei:
— Querida, o que você fez?
— Mamãe, eu virei as costas. Todos ficaram olhando, mas eu sabia que era
errado, então não olhei.
Que bom! Embora não fosse aplicar nenhum castigo se tivesse olhado por
curiosidade, fiquei contente por Erin ter decidido desviar o olhar mesmo que
eu não estivesse lá para orientá-la.
Menos de um ano depois, outra situação mais séria ocorreu. Erin estava na
primeira série e voltou da escola visivelmente aborrecida com alguma coisa. À
noite, naquele mesmo dia, estávamos lendo o livro de Gênesis e chegamos à
história em que as filhas de Ló se deitaram com o pai para engravidarem dele.
Quando terminei de ler a história e explicar a Erin por que era errado parentes
fazerem sexo entre si, ela perguntou se podia me contar um segredo. Ela disse
que, durante o recreio, uma amiga sussurrou em seu ouvido: “Algumas vezes
entro no armário com meu primo, e ele coloca o seu “você sabe” em minha boca”.
Meu coração acelerou, mas eu sabia que não era possível ignorar a situação. Então
perguntei: “Erin, você se importaria se convidássemos sua amiga para vir aqui,
e eu conversasse com ela sobre isso?”. Erin respondeu que era isso que queria.
Alguns dias depois, Molly veio a nossa casa. Comecei a falar que eu era
pastora de jovens, e que algumas vezes os jovens têm segredos que precisam
compartilhar com os adultos. Garanti que, se ela tivesse um segredo, eu seria
uma pessoa com quem poderia falar a respeito. Erin contou a Molly que me
falara sobre o segredo dela. No começo, é claro, a menina ficou constrangida.
Expliquei-lhe que era errado o que o primo de 11 anos a forçava a fazer e que
sua mãe precisava ter conhecimento daquilo. Molly disse: “Eu nunca poderia
contar à minha mãe! Mas... a senhora poderia”. Passados alguns dias eu expli-
quei à mãe dela que o sobrinho estava abusando sexualmente da filha. Ela ficou
horrorizada, mas admitiu que estava desconfiada. Numa reunião familiar difícil,
em sua casa, com a irmã e o sobrinho, a situação foi esclarecida e corrigida.
Como Erin teria reagido a essa situação se nós não tivéssemos conversado
com ela sobre pureza sexual? Ela teria me contado sobre o que estava aconte-
cendo com Molly? Provavelmente não. Teria achado normal se alguém a tivesse
convencido de um ato semelhante? Não sei. Molly continuaria a sofrer abuso
sexual se Erin não tivesse contado o segredo? Talvez. É um alívio que minha
filha saiba que pode conversar comigo sobre assuntos desse tipo.
Contei essa história a você não com o intuito de chocá-la, mas de encorajá-
la. Seja a primeira a falar com sua filha, de modo que seus valores sexuais sejam
gravados no coração dela. Se já perdeu essa oportunidade por alguma razão, faça
perguntas a sua filha para descobrir o que ela já aprendeu e ajude-a a diferençar
entre verdade e mentira.
Sejamos pais que respondem a perguntas, dispostos a ser os primeiros
a responder. Podemos ser a geração de pais que passam da ansiedade para a
autenticidade, a fim de que nossos filhos possam aprender a ser os melhores
administradores do dom da sexualidade concedido por Deus.