Nosso projeto tem a intenção de abordar a violência na TV percebida por
crianças que moram numa comunidade carente no subúrbio do Rio de Janeiro. Devemos lembrar que sua percepção sobre a sociedade já é muito distorcida, pois seu contexto familiar está visivelmente alterado. Por isso pensamos em comunicação e socialização para iniciar nossa pesquisa.
Em “O que é Comunicação” Bordenave (1982) comenta que “ a comunicação
não existe por si mesma, como algo separado da vida da sociedade. Sociedade e comunicação são uma coisa só. Não poderia existir comunicação sem sociedade, nem sociedade sem comunicação. A comunicação não pode ser melhor que sua sociedade nem esta melhor que sua comunicação. Cada sociedade tem a comunicação que merece. “Dize-me como é a tua comunicação e te direi como é a tua sociedade.” Pag. 17.
A partir desse pensamento podemos já entender que a situação da criança dentro
da comunidade é um reflexo da sua família e da falta de comunicação que existe. Esse já pode ser visto como um dos causadores dos problemas sociais por eles vivenciados e da violência na sua comunidade. Os valores sociais foram alterados de forma drástica e hoje quem “ensina” esses valores é a televisão. “A influência social dos meios aumentou na medida de sua penetração e difusão.” é o que afirma Bodernave (1982). O papel da família na educação e formação do indivíduo está perdido já que os próprios adultos na comunidade não entendem seu papel para a família. Assim chegamos ao tema da violência e televisão para abordar nosso tema.
Bodernave (1982) menciona que “é próprio da comunicação contribuir para a
modificação dos significados que as pessoas atribuem às coisas”. Então percebe-se que a mídia tem o poder em suas mãos para orientar os caminhos que as pessoas devem seguir. No caso das crianças, elas são ainda mais facilmente manipuladas. Desde os seus super-heróis até a vida adulta eles mostram uma realidade que não existe. Isso os leva a pensar que o telejornal também não passa de uma grande ficção. “Se os meios de comunicação são verdadeiras “extensões do homem”, por que não aprender a usá-los desde a infância em um sentido construtivo de auto-expressão e de construção de uma nova sociedade mais justa e solidária?” A televisão é o meio de comunicação mais abrangente que existe. Segundo uma pesquisa do IBOPE está em 92% dos lares brasileiros. É, portanto, um mobiliário doméstico e social. É um meio de comunicação de massa que é, ao mesmo tempo, um elemento fascinante, pela sua capacidade de comunicar a uma grande multidão, como também, desde objeto de críticas. Lazarsfeld (1962, p.105) fala que “os mass media contem um poderoso instrumento que poderá ser utilizado para o bem ou para o mal e que, na ausência de controles adequados, a última possibilidade apresenta-se como a mais provável.” Então a televisão com seu objetivo de seduzir, mostra sempre a informação e, nesse caso específico, a violência de forma um pouco alterada. A criança, sem maturidade para perceber isso, recebe aquele estímulo e sua reação a ele pode ser refletida na sua comunidade. A violência para a criança está na televisão. O que acontece na sua comunidade não é percebido, ou pelo menos, eles não demonstram conhecer aquilo como um problema social. A série de estímulos que acontece diariamente na comunidade passa despercebido para as crianças, mas todo o estímulo da televisão é rapidamente respondido. A televisão e a magia em seu conteúdo geram uma fascinação pelo grotesco e pelo bizarro exibido. A sua utilização como forma de entretenimento funciona bem com a série de estímulos que ela proporciona. Ben Singer explica que “Para Kracauer, Benjamin e seus muitos predecessores, essa ampla escalada do divertimento sensacionalista foi claramente um sinal dos tempos: o sensacionalismo era a contrapartida estética das transformações radicais do espaço, do tempo e da indústria. A intensidade crescente dos entretenimentos populares correspondeu à nova estrutura diária.” A televisão utiliza todos os recursos visuais, sonoros e emocionais para conquistar seu público. Desde pequenas as crianças acostumam-se com as informações vistas na TV. Acostumam-se com a violência e a forma como ela é noticiada. Groebel afirma que “A violência tem sido sempre um elemento da ficção e do noticiário, não podendo ser excluída de qualquer cobertura da mídia. No entanto, o seu alcance, limite e caráter compensatório é que constituem o problema.” Exatamente o que tratamos nesse estudo. Essa problematização tratada no CADERNO UNESCO BRASIL mostra que as crianças de comunidades carentes estão sempre interessadas em provocações e envolvem-se freqüentemente com a violência e o advento da comunicação de massa, em particular a televisão, a quantidade de conteúdo violento consumido por eles aumentou de forma dramática.