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A ciberviolência discursiva
Profa. Dra. Mariza Angélica Paiva Brito
Quem nunca disse “Que idiota!” ao seu/à sua melhor amigo(a)? Entre amigos, os palavrões
podem ser uma demonstração de afeição, uma implicância, significando apenas “Que
bobagem!”, “Você me mata de rir!”. É uma linguagem codificada, impessoal, um sinal de
amizade, só para rir. Conforme o vínculo entre as pessoas, o tom empregado e o contexto, os
insultos não visam forçosamente a magoar. Podem até ser apelidos afetivos!
(FILSANTÉJEUNES, 2015, s. p.)
O que diz o discurso
ordinário
Charaudeau destaca a importância de examinar o discurso cotidiano para compreender como a
violência verbal se manifesta nas interações comuns. Ele argumenta que muitas vezes a violência
verbal está presente no discurso cotidiano, e sua análise deve considerar como as pessoas usam a
linguagem para expressar agressão, hostilidade ou discriminação.
Da violência em geral:
Algumas reflexões
• Ele examina como a linguagem pode ser uma ferramenta de agressão, mas
também observa que a violência pode ser expressa de maneiras mais subtis
através das palavras.
Não confundir violência e relação
de dominação
• Charaudeau enfatiza a importância de distinguir entre violência e
relações de dominação.
A violência física tange a atos de comportamento gestual que, pelo emprego da força, causam
um dano ao corpo daquele que a sofre e que se torna vítima graças a esse ato. A vítima não
precisa interpretar o ato em questão, não precisa opinar sobre o resultado dessa ação, pois é na
própria instância dessa ação que ela se torna vítima.
Julga-se a violência física pelo resultado: um dano sofrido por um corpo (ferimento ou morte),
do qual a pessoa se torna vítima pelo ato em si. O que cabe, então, ao juiz é constatar o estado
do agredido e determinar a responsabilidade do agressor.
Distinguir violência física e
violência verbal
• Violência verbal
A violência verbal vem de um ato de linguagem que se manifesta pelo emprego de certas
palavras, estruturas ou expressões capazes de ferir psicologicamente uma pessoa, presente ou
ausente, diretamente dirigida ou em posição de terceiro. Mas, como para qualquer outro ato de
linguagem, o sentido do ato de agressão verbal e seu impacto dependem da interpretação do
receptor. Pode acontecer de a pessoa visada por esse ato verbal não se sentir nem atingida nem
ferida.
Distinguir violência física e
violência verbal
• Essas reflexões de Patrick Charaudeau fornecem uma estrutura abrangente para a análise
da violência verbal, enfatizando a importância de considerar o contexto, a intenção e os
efeitos das palavras usadas nas interações humanas.
Ciberviolência discursiva
• Etimologicamente, o termo violência tem origem no latim violentia e significa força ou vigor desferido
contra qualquer coisa ou ente. A violência é o uso da força que resulta em agressão, ferimentos, tortura ou
até morte, ou uso de palavras e ações que machucam ou até constrangem as pessoas, ou, ainda, o abuso do
poder numa relação quase sempre hierárquica. Assim, a violência pode ter graus variáveis, a depender se a
agressão afeta a integridade física, moral ou mesmo os direitos de uma pessoa. (BRITO et al, 2022).
• Paveau (2017), define ciberviolência como acontecimentos discursivos morais desencadeados por
enunciados violentos relacionados à noção de decência, de uma época, de uma cultura e de um espaço.
Amossy (2017) salienta que os usos de violência são muito frequentes na internet e parecem integrar uma
rotina aceita em certas comunidades virtuais.
Ciberviolência discursiva
• Ciberassédio físico;
• Assédio verbal on-line ou flaming;
• Assédio não verbal on-line (imagens);
• Assédio social on-line por exclusão.
As formas de assédio indireto
• Outing;
• Usurpação de identidade;
• Difamação;
• Sites de ódio.
Parâmetros tecnodiscursivos
• Anonimato-pseudonimato;
• O efeito de ausência e a cultura do quarto;
• O efeito cockpit;
• O deslocamento da relação de poder;
• A inseparabilidade;
• A viralidade.
Desqualificação do outro
CHARAUDEAU, P. Reflexões para a análise da violência verbal. Tradução de Patrícia Reuillard (UFRGS);
coordenação de Ernani Cesar de Freitas (UPF/PPGL), 2019 Disponível em http://www.patrick-
charaudeau.com/Reflexoes-para-a-analise-da,362.html Acesso em 30 de setembro de 2022.
PAVEAU, M.. Análise do discurso digital: dicionário das formas e das práticas. Campinas: Pontes, 2021.
Obrigado