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19/02/2011 JC e-mail

Sá bado , 19 de fe ve re iro de 2011

16. Decadência ronda ciência dos EUA no seu maior evento anual

O maior encontro c ientífico dos EUA e (ao menos por enquanto) do mundo c omeçou ontem c om uma mensagem
desagradável: "Já não somos mais os mesmos". A palavra "declínio" está em todo lugar: nas entrevistas de
Alic e Huang, presidente da AAAS (Assoc iação Americ ana para o Progresso da Ciênc ia, responsável pelo
congresso), no relatório de novembro da National Sc ience Foundation e nos corredores do c entro de
convenções.

Huang fala c om expressão preoc upada: "Temos de enfrentar os problemas recentes. Não podemos deixar a
ciência e a educação irem embora deste país".

Desde 1992, a fatia americ ana da produção científic a mundial diminui ano após ano. Estima-se que, ainda nesta
déc ada, será ultrapassada pela ciência c hinesa, que avanç a rapidamente.

A c iência americ ana é atingida por problemas que o país todo enfrenta, c omo a asc ensão de novas forç as pelo
mundo, como a China, desafiando a sua hegemonia, e a crise ec onômic a. Mas existe um problema mais
perverso do que esses, que coloca a c iênc ia americ ana em um bec o sem saída: os jovens mais brilhantes do
país nunca desprezaram tanto a c arreira ac adêmic a.

Calc ula-se que mais de 60% dos alunos de doutorado do país não são americ anos. Nos melhores programas de
pós-graduaç ão, dependendo da área, esse valor pode se aproximar de 90%, lugares em que é prec iso procurar
muito para achar um nativo entre os montes de indianos e c hineses.

Para Jonathan Katz, físico da Universidade de Washington, os jovens americ anos estão c ertos em desprezar as
carreiras c ientíficas. "Eu c onheç o mais pessoas cuja vida foi arruinada por um doutorado em físic a do que pelas
drogas", brinca. Ele é o autor de um polêmic o texto que há anos circ ula entre os físic os na internet.

Katz parec e ter captado o espírito do jovem promissor que foge da c iência: "Voc ê está pensando em ser um
cientista? Esqueça! Vá estudar medicina, direito, informátic a. Ser c ientista é divertido, mas depois prec isará
lidar c om o mundo real." As bolsas de pós-graduação pagam mal: um doutorando em físic a da Universidade da
Califórnia em Los Angeles, por exemplo, ganha US$ 1.700 por mês.

Mas o problema, diz Katz, é que o tempo passa e os jovens não conseguem se livrar da vida de bolsista.
"Formamos duas vezes mais doutores do que c onseguimos c ontratar. Com a concorrênc ia, os jovens cientistas
passam até dez anos tendo de viver c om bolsas". Um bom advogado entra no merc ado de trabalho c om 25
anos", diz Katz.

A solução, para ele, seria a absorç ão dos pesquisadores pelas universidades em caráter permanente. O
problema é que, se o país passar a formar menos doutores, que são os responsáveis por boa parte da pesquisa
de qualquer naç ão, sua produç ão c ientífica vai despencar mais ainda.
(Folha de São Paulo)

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