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Dissertação apresentada ao
Instituto de Física e à
Faculdade de Educação
como parte dos requisitos
necessários à obtenção do
título de mestre em Ensino
de Ciências - Modalidade
Física.
Fevereiro de 2003
Ao que vive do meu pai em mim.
RESUMO
educational approach presented with the study of the notion of inertia applied to
À minha esposa Cláudia, minha mãe Irene, meu filho Giordano Bruno e a
memória de meu pai Onofre, pela minha humanidade.
BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................161
INTRODUÇÃO
socialmente.
deste trabalho, sua relação com o Ensino de Física e suas limitações. Optamos
introdução, por eles serem parte fundamental do trabalho e por permearem todas
considerando a Ciência como uma tradição cultural dentre outras, começamos por
culturais (seção 2); por fim, deslocando a discussão para o nível superior de
tradição de pesquisa; e,
suas verdades.
I - A HISTÓRIA DESTE TRABALHO1
refere-se a uma crise vivida por mim (ACP) enquanto estudante de Física em
Ciência.
licenciatura em Física entre 1994 e 1997. Nasci de uma família pobre, meus avós
eram trabalhadores rurais e meus pais vieram para a cidade com o intuito de
de Ubá, Minas Gerais, nunca foi à escola e fico admirado com o modo como
incentivou meus estudos, sem o seu esforço e sacrifício eu não poderia estar
escrevendo hoje estas palavras; minha interação com ele não se dava no âmbito
do discurso, quase não conversávamos, mas fazíamos muitas coisas juntos; ele
1
Em primeira pessoa.
A história deste trabalho 18
existia.
vai ficar louco - ela dizia. Foi contra minha atitude de abandonar o emprego como
eletricista industrial para estudar Física. Até hoje meu irmão ainda ganha muito
mais dinheiro nesta área do que eu em Ensino. Mas ela é responsável pela
acompanhei, de onde talvez venha minha postura tolerante para com as diversas
"verdade".
Creio que só não o fiz por causa de minha mãe. Precisava convencê-la de que
revolveu em 1997 quando nasce uma das principais inspirações para este
Feyerabend, pondo fim ao que na época consistia, para mim, quase uma doença
uma prova por semana, além de enormes listas para casa chegando até a
prática, ser ela. Quanto à matemática eles também a detestavam, mas pareciam
eu o fiz. Daqueles que conseguiram sobreviver até o final do ano, tentei reprovar
alguns casos. Dentre os alunos reprovados, um especial (R) era considerado por
mim, na época, como o pior aluno, não só por entregar quase todas as provas em
com perguntas "depreciativas" tais como: "Por que preciso aprender isso?", "Para
No ano seguinte R não voltou mais à escola. Certamente ele desistiu dos
2
É possível levar a Física Quântica para o segundo grau? Com bolsa de iniciação científica, PIBIC/CNPq
A história deste trabalho 21
"conseguem" ou que verdadeiramente não "desejam" olhar para o mundo por uma
devem ser ensinadas como tais e a vida e o desejo das pessoas devem ser
pesquisas experimentais".
São exatamente alguns dos resultados dessa minha busca os constituintes dos
outra como professor, que devem ser consideradas na leitura dos capítulos
seguintes.
II - NOÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DE PAUL FEYERABEND
assistente de Bertolt Brecht; praticou canto com Adolf Vogel; e, recebeu o título de
forte como Hans Thirring e Felix Ehrenhaft, em Física. Sobre seu convívio com
1
As últimas palavras escritas por Feyerabend, em um hospital, ao lado de sua esposa, a física Grazia Borrini.
Ao casar-se com Grazia, Feyerabend casou-se também com a noção de "tradições históricas", ampliando
significativamente os exemplos de limites da abordagem científica em sua "filosofia". São devidos a Grazia
também os elementos de astrologia, vodu e medicina alternativa presentes em seu livro Adeus à Razão. Cf.
Paul K. FEYERABEND, Matando o tempo, p. 197; e Adeus à Razão, p. 369.
Noções epistemológicas de Paul Feyerabend 23
... não era pouco o que tínhamos que engolir. A relatividade e a teoria
quântica eram rejeitadas à partida como especulações quase
evidentemente ociosas. A este respeito a atitude de Ehrenhaft estava
muito próxima da de Stark e Lenard, que citou mais de uma vez
aprovadoramente. Mas ele ia mais longe e criticava igualmente os
fundamentos da Física Clássica. A primeira coisa a pôr de parte era a
lei da inércia: era de supor que os objetos que não sofressem
interferências em vez de seguirem uma linha reta se moviam em
hélice. Começava depois um ataque cerrado contra os princípios da
teoria eletromagnética e especialmente contra a equação div B = 0. Em
seguida eram demonstradas propriedades novas e surpreendentes da
luz - e assim por diante. Cada demonstração era acompanhada por
algumas observações delicadamente irônicas sobre a "Física Escolar"
e sobre os "teóricos" que constroem castelos no ar sem levar em conta
as experiências que Ehrenhaft improvisava e continuava a improvisar
em todos os campos e que produziam uma pletora de resultados
inexplicáveis.2
realidade apoiadas na Física. Esse pode ter sido um dos motivos a levá-lo a uma
Como professor inspirou sua prática pedagógica nas aulas de Karl Popper
2
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 348.
3
Voltaremos a considerar essa influência ao explicar a concepção "anarquista" de Feyerabend sobre o
processo de construção do conhecimento científico na seção 3 deste capítulo.
Noções epistemológicas de Paul Feyerabend 24
Qualquer assunto era possível desde que fosse exposto com clareza e tivesse
4
Paul K. FEYERABEND, Matando o tempo, p. 99.
5
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 368.
Noções epistemológicas de Paul Feyerabend 25
(...)
Método - para provocar Lakatos que morreu antes de poder responder - criticando
Neste sentido, ele não desenvolveu uma metodologia da pesquisa científica, mas
sua obra
6
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 368.
Noções epistemológicas de Paul Feyerabend 26
7
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 343.
1. A Ciência como tradição cultural
permitir uma "solução" para o problema de Hume - mostra que a Ciência não
1
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 39.
2
Cf. Larry LAUDAN e outros, mudança científica, p. 20.
3
Hume, ao questionar o uso do método indutivo na ciência, queria dizer que podemos argumentar sobre a
probabilidade de que algo venha a suceder novamente no futuro como vinha acontecendo no passado, porém,
não podemos provar logicamente, sem apelo direto à experiência, que essa forma de proceder seja válida.
Com essa crítica, Hume criou dificuldades para o pensamento racional do século XVIII instaurando o
ceticismo, isto é, colocando em dúvida as relações de causalidade, bases do saber científico.
A ciência como tradição cultural 28
seção, de certo modo vai na contra-mão desta tendência consiste em abrir mão
por ele como uma instituição do saber entre muitas, e não como a única, ou a
não são frutos da natureza, mas sim construções humanas, ou seja, uma teoria
ser considerada apenas como uma dentre muitas tradições culturais. Não
4
Karl POPPER, Tolerancia y responsabilidad intelectual, p. 151.
A ciência como tradição cultural 29
filósofos da Ciência,
difere da prática científica como ela é hoje exercida nas instituições de pesquisa e
5
Larry LAUDAN e outros, mudança científica, p. 7.
6
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 354.
A ciência como tradição cultural 30
inconvenientes".7
mas que também provocaram em outros povos muitas mazelas. Assim, estamos
ressaltando não a Ciência em si como a vilã nos conflitos entre os povos, nações
e culturas, mas o uso que se faz dela como elemento de validação da "verdade" a
7
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 214.
8
Lembramos aqui que a ciência não é em si só a causa de mazelas sociais, mas fornece instrumentos que
permitem ampliar vertiginosamente o poder de destruição humano, como por exemplo, no caso da Segunda
Guerra e na Guerra Fria que a sucedeu.
A ciência como tradição cultural 31
com outras tradições culturais, Feyerabend foi, por esse mesmo motivo, tachado
9
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 346.
A ciência como tradição cultural 32
de tradição cultural.
uma descrição da prática científica como ela é hoje exercida nos grandes centros
10
Paul K. FEYERABEND, Matando o tempo, p. 154.
A ciência como tradição cultural 33
compreender.12
incorporar a essa maneira de olhar o mundo suas reais dimensões hoje ausentes
das escolas, das revistas de divulgação, dos livros, dos jornais, da mídia, da vida
amplo.
11
Esse é um dos principais equívocos das críticas à concepção de ciência como tradição defendida por
Feyerabend. Esse e outros equívocos serão discutidos na seção final deste capítulo.
12
Voltaremos a esta questão ao discutir a função dos peritos e especialistas na sociedade contemporânea, na
segunda seção do próximo capítulo.
13
Trecho de uma fala de Galileu na peça "Vida de Galileu", de Bertolt Brecht, pg. 165.
A ciência como tradição cultural 34
como algo absoluto e inquestionável dado pela natureza, mas como uma
elaboração proveniente dos físicos, químicos, biólogos..., que são humanos antes
de serem cientistas.
2. Propaganda, contra-indução e mais
tese principal uma crítica à existência de uma estrutura comum para toda a
que poderíamos identificar como "o método cientifico". As duas principais regras
regras:
1
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 11.
2
Cf. Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 12.
3
Cf. Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 235.
Propaganda, contra-indução e mais 37
contrário "ao método científico" estabelecido em sua época, apoiando seu fazer
científica não por serem testadas, ou testáveis, ou apoiadas de modo melhor que
científica não deve ser concebida (em quase todos os casos) em seus aspectos
4
Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 237.
Propaganda, contra-indução e mais 38
podem se libertar das crenças não científicas a que são submetidos durante sua
formação.
ao admitirem que
outras, acrescentamos agora a idéia de não existir uma unidade, uma só Ciência,
5
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 159.
Propaganda, contra-indução e mais 39
científicas.
enraizado em seu fazer por elementos culturais que influenciam suas escolhas
6
Larry LAUDAN e outros, mudança científica, p. 20.
3. Anarquismo epistemológico
1
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 50.
Anarquismo epistemológico 41
epistemológico.
fornecer um sistema único sob o qual o cientista deve guiar rigidamente ou limitar
2
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 223.
3
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 328.
Anarquismo epistemológico 42
evoluiu.5
4
Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 233.
5
Esta idéia é defendida por Feyerabend em Consolando o especialista.
Anarquismo epistemológico 43
epistemológico. Segundo sua leitura, esta concepção está implícita nas idéias de
6
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 221.
7
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 221.
Anarquismo epistemológico 44
sempre referir suas conclusões aos exemplos analisados, limitando, desta forma,
meio a tantos outros, que seu trabalho pode gerar se considerado por um ponto
forma como são estabelecidos vínculos entre seus princípios têm levado à
sucessiva, freqüentemente não pode ser redefinido sem uma drástica mudança
1
Paul K. FEYERABEND, Matando o tempo, p. 100.
Incomensurabilidade e interpretações naturais 46
mesmo fenômeno, serem expressas, muitas vezes, por uma mesma palavra e
Galileu aprendeu a ver o pêndulo onde Aristóteles via uma queda forçada para o
deflogistizado.
tradução entre termos próprios de uma língua à outra, por exemplo, do Português
dos livros deste autor, juntamente com uma nota de rodapé do tradutor, ilustra
passam por variações em seus significados lingüísticos. Neste sentido, faz notar
2
Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 242.
3
"Aqui há mais um jogo de palavras do autor: 'the ... truth that lies hidden at the center of the world'. 'Lies'
pode significar tanto 'repousa' quanto 'mente' (do verbo mentir). Outra leitura da frase seria 'a verdade ... que
mente escondida no centro do mundo". cf. Nota do tradutor
4
Paul Auster, O inventor da solidão, p. 166.
Incomensurabilidade e interpretações naturais 48
cientista:
Tal como uma criança que começa a servir-se das palavras antes de as
ter compreendido, que soma cada vez mais fragmentos lingüísticos
por compreender na sua atividade lúdica, só descobre o princípio de
atribuição de sentido depois de agir desse modo durante muito tempo -
sendo a atividade de jogo um pressuposto necessário do florescer
posterior do sentido -, assim também o inventor de uma nova visão do
mundo (e o filósofo da ciência que tenta compreender o seu
procedimento) tem que ser capaz de dizer coisas sem sentido até que o
sem sentido criado por ele e pelos seus amigos atinja as dimensões
suficientes para atribuir sentido a todas as partes da nova concepção.6
que o cientista, frente a uma nova visão dos fenômenos com os quais está
5
Euclides A. MANCE, O Filosofar como Prática de Cidadania.
Incomensurabilidade e interpretações naturais 49
especial para nos darmos conta da sua existência e para determinarmos o seu
Bacon, como os preconceitos ou ídolos que devem ser removidos antes do início
6
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 256.
7
Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 242.
8
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 79.
Incomensurabilidade e interpretações naturais 50
fenômeno observado. Galileu não realiza juízos globais sobre a observação, mas
acrescentaríamos - por outro lado, não podemos nunca nos livrar de todas as
9
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 84.
10
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 87.
Incomensurabilidade e interpretações naturais 51
não é somente nossa maneira de olhar, mas também deve-se ao caldo cultural no
tradição cultural sobre a qual foi formulada. Assim, os membros de uma tradição,
considerados.
11
Dialoque; p.126. Citado em Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 81.
12
Cf. Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 237.
Incomensurabilidade e interpretações naturais 52
mesmos fenômenos, e embora elas pareçam muito diferentes entre si, todas
Primeiro, porque uma pessoa pode ter razões para rejeitar uma
perspectiva e esta ser mesmo verdadeira; negá-lo é assumir a nossa
própria infalibilidade. Em segundo lugar, porque uma perspectiva
problemática pode conter e normalmente contém, uma parte de
verdade; e, como a opinião geral e predominante de qualquer assunto
muito raramente ou nunca é toda a verdade, só com o choque de
opiniões contrárias é que a restante verdade tem oportunidade de
intervir. Em terceiro lugar, um ponto de vista que é totalmente
verdadeiro, mas não contestado, será considerado como um
preconceito, com pouca compreensão ou sentimento em relação aos
seus motivos racionais. Em quarto, nem sequer se entenderá o seu
1
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 47.
Proliferação de teorias 54
aprender com a história da Ciência. Nos referimos à postura dos físicos no final
a afirmar-lhe certa vez "A física acabou, meu jovem. É uma rua sem saída".3 E o
aconselhou a optar pela carreira de pianista. Como sabemos Planck entrou nesta
rua "sem saída" e abriu uma pequena passagem para uma cidade muito maior e
inexplorada - a Física Quântica. David Bohm relata que também Lord Kelvin,
2
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 46.
3
Cf. Nick, HEBERT, A realidade quântica, p.47.
Proliferação de teorias 55
mostrar "verdadeira" mais tarde, como ocorreu com a proposta de Aristarco para o
movimento da Terra em torno do Sol que ficou esquecida por muitos num longo
4
David BOHM, Causality and chance in modern physics, p. 68.
Proliferação de teorias 56
matemáticas.
são incorporadas e aceitas quando novas idéias teóricas são criadas, ou mesmo
5
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 89.
Proliferação de teorias 57
dados empíricos são descobertos, mas só quando toda uma nova visão de mundo
É evidente que uma nova visão do mundo tomará algum tempo até se
manifestar e que nunca teremos êxito na tentativa de a formularmos na
sua plenitude... Esta necessidade de "esperar" e "ignorar" grandes
massas de observações e medições críticas quase nunca é analisada
pelas nossas metodologias. Sem levarmos em conta a possibilidade de
que uma nova Física ou uma nova Astronomia possam ter que ser
julgadas segundo uma nova teoria do conhecimento, requerendo
verificações inteiramente novas, os cientistas de tendência empirista
confrontam de imediato a nova ciência com o "status quo" e anunciam
triunfantemente que ela "não está de acordo com os fatos e princípios
admitidos".7
combatida por isso só. Será preciso também, à luz de seus novos princípios
da luz até então realizados e revisar os "fatos" que fundamentam a idéia do Big
6
Como os contraditórios procedimentos contra-indutivos e o uso de propagandas descritos na seção 2 deste
capítulo
Proliferação de teorias 58
alternativa proposta ou, o que é também possível, romper as fronteiras das teorias
estabelecidas.
Mas, rever experimentos e rediscutir princípios básicos exige por parte dos
amplamente estabelecidos? Ou por quê dialogar com uma teoria que de imediato
7
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 152.
8
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 159.
Proliferação de teorias 59
Podemos conceber uma parte da prática científica - aquela que está além
construir uma teoria rival, é necessário conhecer tão bem, se não melhor, a teoria
em alguns grupos e justifica o modo como essa ruptura gera novos grupos.
Diferentes grupos discutem entre si, sem necessariamente (ou quase nunca)
obra de Feyerabend, sua crítica, seus limites e uma nova concepção para a
não caberia neste trabalho uma justificação extensiva das críticas à filosofia por
ele desenvolvida.
1
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 15.
Em defesa da racionalidade científica 61
pesquisa científica, não criou uma estrutura das revoluções científicas e não
práticas que podem ser vivenciadas por aqueles que delas se interessarem:
2
Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico
3
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 27.
4
Estamos parafraseando aqui três grandes epistemólogos contemporâneos: Popper, Kuhn e Bachelard, nesta
ordem
5
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 357.
Em defesa da racionalidade científica 62
seriam inúteis, irracionais e deveriam ser postos de lado. Isso por Feyerabend ter
escrito em seu Contra o Método que "tudo vale". Essa não é a interpretação de
nosso trabalho. Ao dizer "tudo vale" ele simplesmente pretendia mostrar que
todas as regras e critérios têm seus limites e que não devem ser mantidos a todo
custo.
Carolina Regner. Sobre o "tudo vale" ou "qualquer coisa serve" ser lido como o
6
Veja por exemplo Alan SOKAL & Jean BRICMONT. Imposturas Intelectuais. pg. 84-91
Em defesa da racionalidade científica 63
lado dificulta a compreensão de suas idéias, por outro, torna muito mais
desafiante, prazerosa e, por que não, humana sua leitura e estudo. Além disso,
como professor - como todo professor - muitas vezes se sentiu angustiado pela
falta de ressonância de suas idéias entre os alunos e pelo mal estar gerado na
7
Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 235.
8
Alan SOKAL & Jean BRICMONT. Imposturas Intelectuais. pg. 86.
9
Cf. Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 235.
Em defesa da racionalidade científica 64
seminário:
10
Paul K. FEYERABEND, Matando o tempo, p. 141.
11
O Professor do Instituto de Física da USP, Manoel Robilotta, que participa da comissão avaliadora desta
dissertação, costuma contar uma história em que, certa vez, alguns de seus alunos ficaram tão aborrecidos
que chegaram a abandonar o curso de física após uma leitura de Contra o Método.
Em defesa da racionalidade científica 65
humana. Anna Regner, ao adotar uma postura semelhante em seus escritos, nos
cidade.
forma ele deve agir ora modificando sua prática (atuando na cidade), ora
redesenhando o mapa (mudando sua razão). Mas, aqui também é preciso estar
atento aos limites da analogia, que deve ser vista como tal. A distinção entre a
12
Para parafrasear os dois principais livros estudados.
13
Anna C. K. P. REGNER, Feyerabend e o pluralismo metodológico, p. 244.
Em defesa da racionalidade científica 66
sua inadequação. Por outro lado, agir "contra o método" significa violar sua
prática (modificar a cidade, construir uma nova avenida) a partir de uma nova
conhecimento científico pode avançar sem uma interação entre uma razão e uma
particular.
educação geral, como algo que vai além da mera transmissão de conceitos. Cabe
1
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 366.
Perspectivas Educacionais 68
práticas educativas, mas sim de propiciar o uso de seu modo de pensar - sua
organizar o Ensino, mas procurando contribuir com noções que funcionem como
escolares. 2
educacionais.
uma forma mais rápida, uma didática eficiente, ou um modo mais simples ou fácil
Perspectivas Educacionais 69
de Ensino.
algo mais parecido com uma arte-prática. As noções educacionais que serão
específicos. Nosso trabalho não terá valor nenhum se for considerado como ponto
elementos importantes caso se deseje refletir sobre o modo como as práticas são
2
Quanto à dimensão institucional da educação escolar, geralmente estar ausente das pesquisas específicas de
ensino de ciências, compartilhamos das idéias de José Sérgio Fonseca de Carvalho. (ver: CARVALHO.
Construtivismo: uma pedagogia esquecida da escola)
1. Todos devem ser igualmente iniciados na tradição científica?
A partir da idéia de que a Ciência é uma tradição cultural dentre outras nos
perguntamos: como a Física deve entrar na formação básica? Todos devem ser
ensinada como uma maneira de ver entre muitas outras e não como a única via
conhecer, respeitar e valorizar as outras tradições que já fazem parte da vida dos
Todos devem ser igualmente iniciados na tradição científica? 71
educandos. A Ciência deve ser inserida entre estas tradições e conquistar seu
uma conjuntura social por nossos antepassados e que precisam ser valorizadas e
deve ser vista como muito mais que um conjunto de conteúdos ou uma lista de
responsável por sua perpetuação, neste sentido, ele professa também em favor
dizendo que, o conhecimento científico está tão afastado do público em geral que,
por isso mesmo, contribui para o estabelecimento de uma falsa cientificidade. Tão
seu mau uso por parte de um discurso autoritário (não só vinculado à miopia
suas vidas e aqueles da Ciência que se pretende ensinar e que precisam ser
mágicas dos agricultores com os quais vai dialogar; estas crenças mágicas não
1
Paulo FREIRE, Extensão ou comunicação? p. 31.
2
Declaração de uma professora da rede oficial de ensino do Estado de São Paulo, com escola localizada na
Cidade de Itapevi.
Todos devem ser igualmente iniciados na tradição científica? 74
autoritária da aluna) foi tomada uma medida mais autoritária ainda (de uma
vida dos alunos, da comunidade na qual a escola está inserida, significando que a
Ciência não deve ser imposta como a verdade única ou maior. O aluno deve
conhecê-la, mas precisa realizar sozinho todas as escolhas em que ela seja
Por isso, entendemos que nem todos devem ser igualmente iniciados na
estimativa, ler uma notícia sobre Ciência, apropriar-se ao seu modo dos conceitos
serem capazes de decodificar textos importantes para sua vida; o que não impede
diferente para cada cidade, para cada comunidade, para cada escola, para cada
emoção.
geral pode se dar sem que ocorram rigorosamente estas atividades específicas e
estas ainda podem ocorrer sem que satisfaçam todos os critérios implicados pela
educação científica.
fazendo sempre de modo a perceberem que algo valioso está ocorrendo em suas
vidas.
cultura local e trazidas pelos alunos e não utilizar a autoridade conferida a eles
outras tradições e que procura transmitir o saber como algo valioso, fruto da
Física, entendam como se faz Física e sejam formados em Física, tenham vivido
preciso ser ofertada a possibilidade de ler sobre Física e conversar sobre Física.
Assim, ele não é visto como uma enciclopédia especializada de Física, ou a fonte
3
R. S. PETERS, Educação como iniciação, p. 107.
4
R. S. PETERS, Educação como iniciação, p. 113.
Todos devem ser igualmente iniciados na tradição científica? 78
a Física como uma tradição cultural. Para isso os livros, os textos, os gráficos e as
disciplina, com a instituição escolar que agrega os valores sociais aos saberes
científicos.
5
José Sérgio Fonseca de CARVALHO, Construtivismo: uma pedagogia esquecida da escola, p. 83.
6
Agradecemos ao prof José Sérgio pela elucidação da natureza programática desse trabalho em detrimento
de uma prerrogativa prescritiva.
Todos devem ser igualmente iniciados na tradição científica? 79
seus valores. Neste sentido, a Física como uma tradição cultural exige uma
traduzir algumas das palavras que estão usando e explicar seus costumes.
deixar o estrangeiro escolher onde quer ficar por mais tempo durante a visita. É
criminalidade, etc em que ele terá que se envolver se quiser, um dia, se tornar um
sozinho e não se perder e, mais ainda, se ele resolver fixar morada em nossa
básica, pode ser entendida como a visita de um aluno à cidade da Física. Nós, os
guias. Vamos caminhar com o aluno pelas diversas áreas da Física, contar-lhes
quem são os físicos, se possível conhecer algum e explicar o que eles fazem;
chamar de "a" Física, passamos a analisar seu papel na formação básica (até o
nível médio) a partir das relações que podem ser estabelecidas entre alunos e
especialistas ou peritos.
contam, cada vez mais, com um número crescente de "peritos": além dos
1
Trecho da letra da música "Pois é, pra que?" de Sidnei Miller.
Conhecendo os especialistas 83
"verdade". Isso pode ser evidenciado pela maneira como descrevem seus
contrário a uma noção mais ampla da realidade dentro de um contexto mais geral
Freire:
2
Majid Rahnema, Education for Exclusion or Partipation?, manuscrito, Stanford, 16 de Abril de 1985, Citado
em Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 347.
3
Paulo FREIRE, Extensão ou comunicação? p. 34.
Conhecendo os especialistas 85
peritos em outras culturas por estarem elas livres dos problemas, mitos e
segundo Feyerabend, foram formuladas duas opiniões sobre o papel dos peritos.
4
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 71.
Conhecendo os especialistas 86
Poderíamos nos perguntar: qual dessas duas (ou qual outra?) concepções
5
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 71.
Conhecendo os especialistas 87
por (ACP):
certa vez fui com minha prima levar sua filha ao médico e fiquei
surpreso com o que ela muito irritada me disse após sair do
consultório: "O médico me perguntou o que ela (sua filha) tinha!" e,
surpreendentemente, confessou-me seu desejo reprimido de
responder: "não é o senhor que é o médico? Como posso eu saber o
que ela tem? Se soubesse não precisaria estar aqui!". Fiquei em
silêncio e me perguntei o que teria acontecido se ela respondesse
dessa forma ao médico? E, porque não o fez?
elementares aos quais somos submetidos em nosso convívio diário (no caso, o
peritos e a sociedade apresentada pelos gregos antigos. Ou seja, parece que nos
6
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 71.
Conhecendo os especialistas 88
contemporânea.
relacionam,
que não devemos mostrar tão somente as grandes conquistas da Ciência sem
7
Paul K. FEYERABEND, Adeus à razão, p. 21.
Conhecendo os especialistas 89
ordem mundial".
grande físico, mas somente no que diz respeito aos seus trabalhos em
conhecimento que estão estudando, mas generalizam rapidamente para toda uma
Parece-nos que não é dessa maneira que a educação ocorre nas escolas
Mas não é tarefa simples abdicar de fazer as escolhas pelos outros quando
absurdo; mas ele é o professor; logo deve ser verdade; é melhor ficar do lado
8
Por exemplo, em minhas aulas, ao incluir o argumento da torre na discussão sobre a imobilidade da Terra
defendo enfaticamente que a Terra não se move contrariando a informação corrente sobre a mobilidade da
Terra.
Conhecendo os especialistas 91
básico de Ensino possibilita uma maior distinção entre a força lógica e o efeito
tal como um cachorro bem ensinado obedecerá ao seu dono por mais
confuso que se sinta e por mais urgente que seja a adoção de novos
critérios de comportamento, do mesmo modo um racionalista [ou um
aluno que se prenda à razão do professor] bem ensinado obedecerá à
imagem mental de seu "mestre", observará os modelos de
argumentação que aprendeu, aderirá a esses modelos por muito
confuso que se sinta, e será incapaz de se dar conta de que aquilo que
considera como a "voz da razão" é apenas um efeito causal posterior
do Ensino que lhe foi ministrado. Será incapaz de descobrir que o
apelo da razão a que cede tão prontamente não passa de uma
"manobra política".9
9
Paul K. FEYERABEND, Contra o Método, p. 32.
Conhecendo os especialistas 92
Sociais e mais ainda, que não compete somente aos professores, coordenadores,
matar as reais oportunidade de Ensino. Que fazer quando um aluno traz uma
contas. E por que não aproveitar o procedimento trazido pelo aluno e estimulá-lo
para a organização de uma dada aula sem levar em conta as reais necessidades
dos alunos que compõem uma classe dentro de uma determinada escola?
instituição de Ensino a que pertence e desde que esta instituição de Ensino esteja
pretensa eficácia dos procedimentos de ensino, mas esta aflição não é legítima
de ensino que são aqueles que têm as reais condições de, em cada aula, em
cada momento de uma aula, para cada situação, decidir a forma de ensinar.
1
Immanuel KANT, Crítica da razão pura. p. 102.
Obediência Versus Ousadia na Formação Científica 97
pelo estudante e o conhecimento da Física - pelo menos nas séries iniciais, antes
científico. Desse modo, a Física escolar acaba por ficar alijada das dimensões
2
Com essa ressalva estamos restringindo nossa discussão à formação realizada nas universidades que
associam pesquisa e ensino em oposição às muitas "escolas de ensino superior" que têm surgido
recentemente no Brasil.
3
Alberto VILLANI, Ensino de Física: dos fundamentos à prática. p.19
Obediência Versus Ousadia na Formação Científica 98
uma completa superação de uma teoria sobre a outra; outro exemplo é a luta
sua importância didática, possui um valor fundamental para a vida e ainda para a
Este ponto também é discutido por Villani ao sugerir que essas idéias
4
Este exemplo será analisado em detalhes na seção seguinte. Refere-se ao importante resultado, de acordo
com os princípios da mecânica relacional, dessas duas visões de mundo serem ainda hoje totalmente
equivalentes como na dualidade onda-partícula.
5
Alberto VILLANI, Ensino de Física: dos fundamentos à prática. p.23
Obediência Versus Ousadia na Formação Científica 99
Villani cita um exemplo muito interessante de uma criança de quatro anos que, ao
A luz é como a chuva, feita de pingos muito pequenos que passam por
todos os buracos, mesmo os mais finos. 6
A partir da análise desse caso, Villani propõe uma postura mais equilibrada
precioso aos conhecimentos prévios dos alunos, como faz notar ao afirmar que:
nesta seção. A formação científica não pode eliminar as concepções prévias dos
Não estamos com isso propondo que os estudantes não devem aprender
Ciência e ficar com seus próprios modelos, ou que não devem ser avaliados
6
Alberto VILLANI, Ensino de Física: dos fundamentos à prática. p.23
7
Cf: Alberto VILLANI, Ensino de Física: dos fundamentos à prática. p.24. Utilizamos a expressão
concepção prévia para os conhecimentos acumulados pelos alunos antes do início do ensino escolar de
ciência, ao invés de expressões como conceitos intuitivos ou concepções espontâneas por considerar que
estas últimas transmitem a idéia de conhecimentos do mundo natural passíveis de serem inferidas de
experiências puramente empíricas do cotidiano, naturalmente existentes de forma latente e intuitiva ou que
surgiriam em manifestações espontâneas.
Obediência Versus Ousadia na Formação Científica 101
vida.
conhecer o "outro" para reconhecer o "eu"; obedecer para saber ousar; imitar para
maior fôlego aos estudantes naqueles momentos em que atuam nas tarefas mais
mais profunda sobre a natureza e aquela oferecida pela Física pode facilitar, ou
filosofias da Ciência (mais de uma para que não se torne uma diretriz dogmática)
conteúdo de uma dada teoria científica só pode ser obtido com o seu confronto
com outras teorias, e as teorias para o contraste devem ser procuradas onde quer
8
Cabe mencionar aqui que parece ter sido esse o caso quanto à mecânica relacional. O professor André Assis
disse em um seminário realizado na USP ter sido estimulado à busca de uma mecânica alternativa pela
incompreensão do referencial sobre o qual se descrevia a força de Lorentz. Isso, teria ocorrido, segundo ele,
ainda quando estudante de graduação.
Obediência Versus Ousadia na Formação Científica 103
debate interno ao grupo sairão para o confronto com outros grupos. Nestes
Ciência como tradição cultural e suas implicações também para o Ensino em nível
TEXTO - SUBSÍDIO
IV Capítulo da Dissertação:
Tradição Cultural, Contraste
entre Teorias e Ensino de
Física, apresentada ao
Instituto de Física e à
Faculdade de Educação
como parte dos requisitos
necessários à obtenção do
título de mestre em Ensino
de Ciências - Modalidade
Física.
Dezembro de 2002
105
1. A Terra se Move?
essa questão. É importante entendermos juntos cada uma delas. Para isso será
para aprofundamento.
Vamos lá?
nas posições de uma estrela em relação às outras, ou seja, elas giram todas
juntas ao redor da Terra e por isso em seu conjunto foram batizadas de estrelas-
fixas (em observações modernas verifica-se que estas estrelas não são
exatamente fixas entre si). Grupos de estrelas fixas associadas, com um pouco de
106
Terra.
Há, no entanto, algumas "estrelas" que não obedecem de igual modo esse
e todos os corpos giram ao seu redor. Essa proposta foi sistematizada pelo Grego
O Sistema Heliocêntrico
(um trem, uma carroça, um automóvel, etc) observamos árvores, pessoas, casas,
postes e tudo o mais que está à beira da estrada se deslocar da frente para trás
observação do movimento dos objetos externos como indicador de que nós é que
podemos ainda levar em conta uma segunda concepção de mundo com uma
Sol. Ele parece nascer de um lado (Nascente), mover-se por sobre nossas
cabeças e ao final da tarde se pôr do outro lado do céu (no Poente). No entanto,
um carro em movimento.
céu entre o Nascente e o Poente. Mas, como sabemos, é a Terra que está
ocupada pelo Sol. Esse sistema foi aprimorado pelo polonês Copérnico, no
século XVI, que se inspirou nas concepções de antigos gregos, dentre eles
2π
ωk = ≈ 7 × 10 −5 s −1
T
da Terra respectivamente.
geocêntrica, surgem desvios Doppler que podem ser detectados e medidos para
a determinação de ωk.
tanto melhor quanto mais pessoas puderem participar e quanto mais fontes
disporem.
da Terra. Além das respostas procure identificar quais são seus pressupostos, ou
3. O Argumento da Torre
grandes questões. Mais que entender uma noção científica, é preciso fazer o
época de Galileu, não era em nada simplista. Era uma física altamente refinada e
racionais. Eles foram vencidos pela propaganda de uma nova ciência, como
geocêntrica do mundo.
O Argumento da Torre:
alto de uma torre ou prédio uma pedra e verificar a que distância da linha vertical
a pedra se desvia para o lado leste. Segundo essa idéia, caso a pedra se desvie
da Terra. Caso contrário, ou seja, a pedra não se desvie durante seu movimento
realmente cai?
114
que uma “pedra” sofreria durante sua queda de um prédio devido ao movimento
leste-oeste da Terra?
Figura 1
diário de rotação, a pedra deve ser desviada de uma certa distância (d, d' e d") de
sua posição original por conta do movimento da Terra. Quanto maior h maior será
d. Assim na figura 1: d é maior que d' que é maior que d". Para o caso da Terra
não possuir movimento de rotação d esperado deveria ter valor nulo (d = zero).
115
h − ho = v o t + 1 2 at 2 (1)
h= 1
2 gt 2 (2)
2h
t= (2)
g
r r r
V = ω × RT (3)
r
Com, V : Velocidade do ponto P
r 2π
ω : Velocidade angular da Terra: ≅ 7,3 × 10 − 5 s −1
86.400
r
RT : Posição do ponto P (Raio da Terra = 6.370 Km)
V = ω ⋅ RT ⋅ sinθ (4)
117
V = ω ⋅ RT ⋅ sinθ
V = 430 m/s
2h
d= ⋅V ≅ 193 ⋅ h m (5)
g
2
obtida pelo produto de (com g = 9,8 m/s2) pela velocidade V de 430 m/s.
g
d ≅ 193 ⋅ h m
118
aristotélico da torre. (Atenção caso você não esteja na Cidade de São Paulo!)
prédio na Cidade de Natal, deve ser menor, igual ou maior que o desvio de uma
5) Obtenha a equação de desvio para uma pedra que cai de uma altura h
na superfície da Lua.
6) Faça a comprovação. Suba ao local mais alto a que tenha acesso com
importante usar uma pedra o mais redonda possível, para evitar a resistência do
ar e primar pela segurança. (Cuidado para não cair do prédio ou acertar a cabeça
de algum passante!).
5. Mais argumentos...
instrumento para instigar a busca por mais explicações, para além de uma
por exemplo.
suas impressões.
usar alguns de seus argumentos para produzir histórias ou contos de ficção que
comparado a ele o pior dos ciclones pareceria uma brisa suave (um
Vamos lá?
122
6. A Noção de Inércia
Quando empurramos uma cadeira, um carro, uma bola, ou qualquer outra coisa,
ignoramos, chegam a um fim por conta própria. Por isso, parece-nos natural que
indefinidamente em movimento.
para lançá-lo, esse se gastaria com o movimento, até que, ao seu fim, o projétil
sabemos que somos nós que nos movemos). Precisamos agora, mais uma vez,
menos que algo atue sobre ele imprimindo-lhe uma força. Também, se um objeto
está em repouso, assim permanecerá, a menos que algo externo imprima uma
(uma cadeira, um carro, uma bola) eles tendem ao repouso, não de modo natural
mas, por meio de outras forças ocultas que lhe são impressas, aqui, as chamadas
forças de atrito que existem no contato dos objetos e a superfície sobre a qual se
movimento e não parariam. Esse fato pode ser melhor observado ao diminuirmos
124
o atrito com uma superfície: é mais fácil empurrar um objeto em um piso encerado
projéteis, não precisamos mais da noção de impetus. Assim, pela inércia: o objeto
naturalmente, só tende ao repouso por conta de forças que atuam sobre ele, no
situação dos astros celestes, são como projéteis que nunca caem e ficam em
místicos, culturais etc. Por esse motivo dizemos que a noção de inércia e outras
aristotélica.
como a propriedade segundo a qual a matéria não pode por si própria alterar seu
dado objeto. Segundo a noção de inércia é preciso tanta ação para gerar o
125
moleza ou apatia. Mas, no sentido da Física Clássica com incorporação das obras
melhor adotar no cotidiano, segundo o contexto dado, a palavra inércia tal qual
repouso.
126
2) Leia o texto a seguir, composto por trechos dos diálogos dos Dois
1
Galileu não formulou precisamente o princípio da inércia. Mais a frente, em seus diálogos ele explica que a
superfície lisa e horizontal considerada neste exemplo pode ser a superfície da água do mar, que como
sabemos ajusta-se à forma redonda da Terra. Por esse motivo Alexandre Koyré e Allan Frankin defende que
Galileu definiu somente a inércia circular.
127
pedra que cai de uma torre (Argumento da Torre) não é adequado para provar
movimento da Terra? Mostrar não existir nada que prove que a Terra está parada
Vamos continuar nossa viagem visitando mais uma nova noção da Física
movimento da Terra.
131
espaço absoluto, introduzida por Newton, foi substituída por uma noção mais
referenciais inerciais.
r r
2) o princípio fundamental da dinâmica: F =m⋅a
r
a força resultante sobre um corpo F é igual ao produto da sua massa inercial m
r
pela sua aceleração a , em relação a um referencial inercial. A força e a
r r
3) lei de ação e reação: F12 = − F21
Eisberg.)
viagem conhecendo agora dois novos argumentos que utilizam as Leis de Newton
2) O pêndulo de Foucault
Vamos lá?
134
Nosso planeta não tem a forma de uma esfera perfeita. Ele possui, na
verdade, uma forma elipsoidal, ou seja, tem um diâmetro menor nos pólos que no
230
229
Mas qual o agente causador deste achatamento? Por que a Terra fica
achatada?
Newton, uma existência real. No entanto, com a criação dessa força pode-se
achatada).
136
7.10)
equador e entre os pólos, obtido a partir da introdução da força centrífuga nas leis
Requador 5ω 2 R 3
=1+ (6)
R pólos 4GM
4GM Requador
ω= − 1 (7)
5R 3 R
pólos
2π
se em conta a rotação de um dia (24 horas): ω k = ≈ 7,3 × 10 −5 s −1
T
a Terra que está girando, uma vez que, tanto no heliocentrismo como no
universo girar em volta da Terra, teremos uma mesma situação do ponto de vista
afirmar que é a Terra que está girando sobre si mesma e não o restante do
universo que gira ao redor da Terra. Isto porque o giro do universo ao redor da
acordo com esse novo argumento, que a Terra realmente está em movimento!
138
9. O pêndulo de Foucault
medidas astronômicas, ou seja, pode ser realizada em uma sala fechada sem se
movimento. Se o pêndulo fosse montado sobre uma base giratória, mesmo que a
Admitindo que o planeta Terra é uma base gigante e está girando para
sabemos, por isso, que não podemos simplesmente utilizar as leis de Newton. A
referencial da Terra uma nova força imaginária (Outra. Diferente da que explica a
forma da terra. Aqui continua existindo a força centrífuga, mas ela não é
responsável pela alteração no plano de oscilação do pêndulo). Essa nova força foi
descoberta em 1831 por Coriolis e por isso ficou conhecida como Força de
Coriolis.
Em que:
m é a massa em movimento;
horas o plano de oscilação vai estar na mesma posição, em relação à Terra, que
ω d sinα
experimento.
transcrito a seguir.
o ponto geométrico - você não vê, não tem dimensão, e portanto não
Terra!
Terra que está girando sobre si mesma e não o restante do universo que gira ao
* * * * * * * * *
Terra se move?
Podemos, como diz Umberto Eco, cair de joelhos diante do altar daquela
certeza?
novas visões de mundo nos fazem repensar nossos argumentos, por mais sólidos
inercial) já haviam sido formuladas no início do Século XVIII, por parte de filósofos
de 150 anos.
haveria inércia. Esse princípio choca-se com a Mecânica Newtoniana que atribui a
formulação quantitativa para seu princípio, fato que não lhe deu popularidade no
para a reformulação das leis de Newton foi iniciada e abandonada sem sucesso
Vamos conhecê-la?
149
aqui discutindo.
inercial), não existem forças fictícias, ou seja, todas as forças são descritas em
corpos materiais, ou seja, não há força entre qualquer corpo e o “espaço vazio”.
partículas.
ser modificada de modo a assumir uma forma análoga à força de Weber2 para
uma distância relativa r12, que se movem com uma velocidade relativa r&12 e
q1q 2 1 r& 2
U 12 = 1 − 122 (9)
4πε o r12 2c
2
Para uma justificação detalhada ver: A. K. T. Assis. Weber’s Electrodynamics. Kluwer Academic
Publishers, Dordrecht, 1994. e, A. K. T. Assis. Eletrodinâmica de Weber – Teoria, Aplicações e Exercícios.
Editora da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, 1995.
151
mg1 e mg2, separadas por uma distância relativa r12, considerando o princípio de
m g1m g 2 r&122
U 12 = G 1 − ξ 2 (11)
r12 2c
A partir dessa expressão para o potencial, obtém-se uma nova expressão para a
r dU 12 rˆ ξ r& 2
F21 = − rˆ12 = Gm g1m g 2 122 1 − 2 12 + r12 &r&12 (12)
dr12 r12 c 2
apenas um:4
3
André K. T. ASSIS, Mecânica Relacional, p.200
4
Na Mecânica Relacional derivamos a energia cinética como uma energia de interação gravitacional, de
mesma natureza que qualquer outro tipo de energia potencial (Ver, André K T Assis, Mecânica Relacional, p.
218)
5
André K. T. ASSIS, Mecânica Relacional, p.200
153
permite ainda explicar problemas que vão além do que a física newtoniana
como girar todo o resto em torno dele, obtém-se o mesmo efeito, com o
266)
a geocêntrica.
mesmos.".
155
imobilidade para a Terra são igualmente válidas e corretas. Por esse motivo, nós
estado de movimento e/ou repouso da Terra desde o início deste trabalho. Essas
de rotação da Terra.
6
André K. T. ASSIS, Mecânica Relacional, p.230.
156
Terra. Uma vez escolhida uma forma de descrever o fenômeno a outra deixa de
ser válida.
* * * * * * * * *
texto.
* * * * * * * * *
Sobram-nos questões:
cada vez mais, não podemos nos perder da História da Ciência e nem desprezar
está inserida.
etc... para uma compreensão mais ampla das idéias aqui discutidas.
Por fim, cabe enfatizar que as idéias resultantes deste trabalho podem
AUSTER, Paul. O inventor da Solidão. São Paulo, Best Seller, [1997]. Original
inglês de 1982.
BRECHT, Bertolt. Vida de Galileu. In: Teatro Completo. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, [1991]. Volume 6, 2.ª edição.
BOBBIO, Norberto. As razões da tolerância. In: A era dos Direitos. Rio de Janeiro,
Editora Campus, [1996].
BOHM, David. Causality and chance in modern physics. London, Routledge &
Kegan Paul, [1967].
FERNÁNDEZ, Roberto. O rei está nu. Folha de São Paulo, Jornal de Resenhas,
11-04-1998. Resenha de Impostures intellectuelles, de Alan Sokal & Jean
Bricmont (Paris, Odile Jacob, 1997).
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo, Abril Cultural, [1980].
PRADO Jr., Bento. Quinze minutos de notoriedade. Folha de São Paulo, Jornal de
Resenhas, 9-05-1998.
SOKAL, Alan & BRICMONT, Jean. Imposturas e fantasias. Folha de São Paulo,
Jornal de Resenhas, 13-06-1998.
Bibliografia 165
SOKAL, Alan & BRICMONT, Jean. Uma crítica sem fundamento; especial para o
"Le Monde". Tradução in: Folha de São Paulo, 19-04-1998.
SOKAL, Alan. A razão não é propriedade privada. Folha de São Paulo, 6-10-1996.
TIPLER, Paul A. Física. Rio de Janeiro, editora Guanabara Dois, Volume 1.a
segunda edição, [1982]. Traduzido por Horacio Macedo.