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Filósofo alemão.

A vida de Kant não tem nada de extraordinário e bem pode


dizer-se que encarna as virtudes (e talvez o aborrecimento) de uma vida
integralmente dedicada ao estudo e ao ensino. Homem piedoso e de profunda
religiosidade, que se revela na sua obra, é sóbrio de costumes, de vida
metódica, benévolo e provinciano (só uma vez na sua vida deixa a sua
Königsberg natal, e não mais de 12 km).
Profundamente imbuído dos ideais do Iluminismo, experimenta profunda
simpatia pelos ideais da Revolução Francesa e da independência americana.
É pacifista convencido, antimilitarista e alheio a qualquer forma de
patriotismo exclusivista.
A exigência da clarificação do pensamento kantiano é tal que apenas a partir
dessa postura se tem capacidade para examinar o seu sentido e alcance nos
campos da teoria do conhecimento e da filosofia da ciência. Kant está
intelectualmente situado numa encruzilhada, a partir da qual elabora diversas
interpretações da razão, ponto de partida do pensamento moderno de onde se
determinam a) a acção moral, b) o trabalho científico, c) a ordenação da
sociedade, e d) o projecto histórico em que a sociedade se encontra.
Não é possível redigir-se aqui uma exposição do sistema filosófico de Kant,
coisa que requer todo um volume. Basta assinalar que o grande objectivo de
Kant é determinar as leis e os limites do intelecto humano para ousar
enfrentar, por um lado, o dogmatismo arrogante daqueles que sobrestimam o
poder da mente humana e, por outro lado, o absurdo cepticismo daqueles que
o subestimam. «Apenas deste modo [ou seja, por meio de uma crítica que
determine as leis e os limites da razão humana] poderão arrancar-se as raízes
do materialismo, do fatalismo e do ateísmo.» E propõe-se, com isso, «pôr fim
a toda a futura objecção sobre a moralidade e a religião, apresentando as mais
claras provas da ignorância dos seus adversários».
Seu sistema filosófico, o mesmo sugere um paralelo com Copérnico. Kant
imagina para a filosofia o mesmo que imagina Copérnico para a astronomia.
Assim como Copérnico determina a importância relativa e a verdadeira
posição da Terra no sistema solar, Kant determina os limites e a verdadeira
posição do intelecto humano relativamente aos objectos do seu
conhecimento. E do mesmo modo que Copérnico demonstra que muitos dos
movimentos aparentes dos corpos celestes não são reais, mas que se devem
ao movimento da Terra, Kant mostra que muitos fenómenos do pensamento
requerem explicação, mas não atribuindo-os, como muitos filósofos, a causas
externas independentes, mas às leis essenciais que regulam os próprios
movimentos do pensamento.
O criticismo de Kant é uma filosofia que tenta responder a três perguntas
básicas: Que posso saber?, Que hei-de fazer?, Que posso esperar?
Que posso saber? Para o conhecimento universal e necessário ser possível, e
dado que não pode provir da experiência, é preciso que os objectos do
conhecimento se determinem na natureza do sujeito pensante, e não ao
contrário. A Crítica da Razão Pura de Kant leva a cabo esta revolução do
método e mostra como o entendimento, ao legislar sobre a sensibilidade e a
imaginação, torna possível uma física a priori. Mas, se a natureza está
submetida ao determinismo, pode o homem ser livre? Kant leva a cabo a
revolução copernicana no terreno prático postulando a existência de uma
alma livre animada por uma vontade autónoma.
Que hei-de fazer? «Actua estritamente segundo a máxima que faz que possas
desejar simultaneamente que se converta numa lei universal.»
Que posso esperar? Para a espécie humana, o reino da liberdade garantido
por uma constituição política. Para o indivíduo, o progresso da sua virtude e
um melhor conhecimento do outro e de si mesmo através da arte.
No que se refere ao idealismo, a filosofia kantiana lega aos seus sucessores
três grandes problemas: 1) a sua concepção do idealismo como idealismo
transcendental; 2) a oposição entre a razão teórica e a razão prática, e 3) o
problema da coisa em si.
A filosofia posterior a Kant assume até às suas últimas consequências a razão
crítica. Os filósofos esforçam-se por desenvolver as teses kantianas na linha
da razão prática. Tanto o idealismo subjectivo de Fichte como o idealismo
objectivo de Schelling são tentativas muito meritórias nessa linha. Mas a
superação do kantismo não se consegue até à formulação do sistema de
Hegel.

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