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COLÉGIO INTERAMERICANO DE DEFESA

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS
CURSO XLV

MONOGRAFIA

FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS NA AMAZÔNIA:


FATOR DE INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E
SEGURANÇA NO CONTEXTO REGIONAL.

Coronel Aviador MARCIO JOAO ZANETTI


BRASIL

FORT LESLEY J. McNAIR – WASHINGTON, DC


MAIO DE 2006

1
FORÇA ARMADAS BRASILEIRAS NA AMAZÔNIA:
FATOR DE INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E SEGURANÇA NO
CONTEXTO REGIONAL.

POR

Coronel Aviador MARCIO JOAO ZANETTI


BRASIL

Trabalho de Investigação apresentado ao Colégio


Interamericano de Defesa como requisito para a
obtenção do Diploma de conclusão do Curso
Superior de Defesa e Segurança Hemisférica.

WASHINGTON, DC, MAIO DE 2006

2
RESUMO

O presente trabalho reúne informações sobre a Região Amazônica,


principalmente, no que se refere a presença das Forcas Armadas Brasileiras como fator de
desenvolvimento e segurança. Aborda o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) o
Projeto Calha Norte (PCN), bem como projetos desenvolvidos pelo Governo brasileiro
para a Região Amazônica sob a coordenação e condução das Forcas Armadas. Apresenta,
ainda, a interação, bem como sugestões para a ampliação dos Projetos brasileiros para os
países que integram a Amazônia, numa forma de estender aos demais integrantes do
Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) os benefícios proporcionados por estas novas
ferramentas.
Inicialmente, visando situar o leitor no contexto regional, é feita uma sucinta
reflexão histórica e uma descrição da Amazônia, com suas características,
potencialidades e peculiaridades dando, desta forma, uma visão mais completa ao leitor
do atual cenário Amazônico. A seguir, de forma resumida, são demonstrados alguns
aspectos da pressão política que o Brasil vem, sistematicamente, sofrendo a nível
internacional, oferecendo críticas à condução do Brasil em sua atuação na Amazônia,
bem como de que forma os crimes transnacionais têm interferido nas políticas
desenvolvidas pelo governo central para a Região.
Em continuação, será demonstrado como as Forcas Armadas têm participado
como ator principal em vários projetos do governo brasileiro, em especial no SIPAM, no
Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) e no PCN, enfatizando suas estruturas
operacional e organizacional, os órgãos parceiros, os principais objetivos almejados e
equipamentos utilizados em sua implantação e que estão proporcionando o fortalecimento
do Estado brasileiro e da segurança hemisférica nessa Região.
A partir deste ponto, é dada ao leitor uma visão da importância da atuação da
diplomacia brasileira na busca das parcerias junto aos países fronteiriços, como forma de
uma das muitas soluções para o aumento da segurança na Região, destacando os aspectos
de integração, de desenvolvimento e de segurança de forma local e regional. É
enfatizando algumas das possíveis formas de compartilhamento dos Sistemas

3
SIPAM/SIVAM e PCN pelos demais países que integram a Amazônia, permitindo a
ampliação dos benefícios proporcionados, hoje, apenas à Amazônia Legal brasileira.
As novas possibilidades criadas pelos Projetos para controle sobre a Região
Amazônica e para ampliação das informações sobre a área já constituem, sem dúvida,
uma nova realidade para a integração da América do Sul e fortalecimento da segurança
hemisférica.
Além desses aspectos, é evidenciado o esforço que os vários governos têm
destacado em suas políticas para o desenvolvimento, segurança e a integração da Região
ao resto do país, evidentemente, dando ênfase, nesse esforço, a atuação das Forças
Armadas.

4
Certifico que revisei a presente monografia e
que a mesma encontra-se correta, segundo as
normas e a metodologia do CID.

Coronel Aviador ANTONIO AURELIO DA SILVA


Assessor Coordenador

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NOTA ESCLARECEDORA

As opiniões emitidas no presente trabalho são de exclusiva responsabilidade do


autor e não representam a posição do Colégio Interamericano de Defesa.

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AUTORIZAÇÃO

Autorizo o Colégio Interamericano de Defesa publicar este


trabalho como artigo para leitura selecionada na Revista do Colégio,
desde que sejam citados o autor e as notas bibliográficas consideradas no
trabalho de investigação.

MARCIO JOAO ZANETTI


Coronel Aviador - BRASIL

DATA:16 de MAIO de 2006

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 1

CAPÍTULO I – IDENTIFICAÇÃO DO CENÁRIO AMAZÔNICO ........................................ 3


1.1 – Realidade Histórica................................................................................................................ 3
1.2 – Fisiografia da Amazônia........................................................................................................ 4
1.3 – O Cenário Atual ..................................................................................................................... 7

CAPÍTULO II – PRESSÃO INTERNACIONAL ....................................................................... 13


2.1 – Pressão Política....................................................................................................................... 13
2.2 – Crimes Transnacionais.......................................................................................................... 15

CAPÍTULO III – A PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS......................................... 19


3.1 − As Forças Armadas na Região.............................................................................................. 19
3.2 – Os Projetos SIPAM/SIVAM ................................................................................................. 27
3.3 - O Projeto CALHA NORTE................................................................................................... 33

CAPÍTULO IV – DESENVOLVIMENTO E SEGURANÇA PROMOVIDOS


PELAS
AÇÕES DAS FORÇAS ARMADAS NA AMAZÔNIA LEGAL................. 37
4.1 − Ações Governamentais na Amazônia................................................................................... 37
4.2 – Forças Armadas em Ações de Desenvolvimento e Segurança .......................................... 43

CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 47

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

Ao iniciarmos o trabalho, apresentaremos uma descrição da Região Amazônia,


reunindo dados sobre algumas informações de suas realidades, potencialidades e
dificuldades enfrentadas, de forma a melhor situar o leitor no atual cenário da Amazônia.
O Governo Brasileiro, em meados da década de 80 (oitenta) e no início da década
de 90 (noventa), do século passado, consciente de que as ações governamentais não
vinham alcançando os resultados desejados, seja pela carência de recursos, seja pela falta
de continuidade das mesmas e, sobretudo, pela ausência de coordenação entre os órgãos
responsáveis, e que ainda estes fatores estavam concorrendo para um incremento das
ações ilegais na Região Amazônica, decidiu formular e implantar um programa de apoio
à Região, onde consta um leque de sistemas nacionais de proteção, visando coordenar a
ação dos agentes públicos, incrementar a atuação dos órgãos governamentais na repressão
aos ilícitos e proteger o meio ambiente da Amazônia, bem como diminuir os espaços
geográficos, vivificando as fronteiras da Região. Para promover essa coordenação, foram
criados o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), o Sistema de Vigilância da
Amazônia (SIVAM) e o Programa CALHA NORTE (PCN) os quais serão objetos deste
trabalho.
Contudo, os problemas enfrentados pelo governo brasileiro não se restringem
apenas ao seu território, mas afetam, em maior ou menor grau, todos os países que
integram a Região. Ilícitos como narcotráfico, contrabando e tráfico de armas ocorrem
em toda a Região Amazônica, comprometendo sua segurança e constituindo uma ameaça
à estabilidade democrática dos países da região.
Da mesma forma, as agressões ao meio ambiente continuam a ocorrer, poluindo
rios e devastando florestas, sem que os governos possuam instrumentos eficazes para o
combate à ação antrópica.
A implantação dos projetos SIPAM, SIVAM e CALHA NORTE e outros vem
proporcionar a ampliação da presença do Estado na região, quer na proteção da mesma e
dos brasileiros, quer na vigilância sobre seu território, quer na ação conjunta com os
paises signatários do TCA. Diante da mudança do cenário, pode-se imaginar que a
atividade ilegal, que anteriormente era praticada em território brasileiro, concentre-se nos

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demais países amazônicos, que mantém vastas áreas com pequena ocupação e baixa
proteção.
Este trabalho pretende propor a ação conjunta e coordenada entre o Brasil e demais
países amazônicos, disponibilizando os sistemas desenvolvidos pelo governo brasileiro,
sugerindo algumas formas de parceria, bem como a atuação das forças armadas no
desenvolvimento e segurança local e regional, proporcionando a ampliação da
integração na região que permitira o compartilhamento de conhecimentos e
responsabilidades entre os parceiro.

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CAPITULO I

IDENTIFICAÇÃO DO CENÁRIO AMAZÔNICO

“A Amazônia, longe de ser

homogênea, é uma região extremamente

complexa e diversificada. Contrasta com a

visão externa à região, homogeneizadora,

que a vê como Natureza, como Floresta,

como Atrasada, como Reserva de recursos,

como o Futuro do Brasil”.

Amazônia é, sobretudo,

diversidade.”

(Carlos W. P. Gonçalves)

1.1 – Realidade Histórica

Com a assinatura do Tratado de Tordesilhas em 1494, a Região


Amazônica pertencia à coroa de Castela (Espanha). Por força do período que passou à
história como a União Ibérica, em que as duas coroas passaram a ser governadas pelos
Reis Felipe, entre os anos de 1580 e 1640, as fronteiras foram derrubadas e a região pode
ser desbravada pelos colonizadores portugueses que lograram incorporá-la a seus
domínios.
O interesse dos ibéricos na Amazônia foi motivado pela cobiça por metais
preciosos, característica das conquistas mercantilistas. Portugueses e espanhóis, excitados
pelas narrativas de riquezas lendárias da região, disputavam entre si, a posse da área.
Em 1500, Vicente Pinzón, navegador espanhol, atingiu a foz do rio
amazonas chamando-o Santa Maria de la Mar Dulce. No entanto, deve-se à expedição de
Francisco Orellana, nos anos de 1539/42, a exploração da Região Amazônica, ao

11
percorrer o rio Amazonas, desde sua nascente até o Oceano Atlântico. Deve-se a ele,
também, a denominação ao grande rio Amazonas.
O conhecimento mais aprofundado da Região começou a ocorrer em 1616,
quando os luso-brasileiros chegaram ao alto do rio Amazonas e, após quase 30 anos de
combate, conseguiram expulsar os ingleses, franceses e holandeses, fato que pode ser
considerado como verdadeiro marco do início da conquista da Amazônia.
A estratégia portuguesa para a manutenção da soberania da vasta Região
Amazônica foi arquitetada mediante o estabelecimento de fortificações ao longo dos
séculos XVII e XVIII, constituindo-se em magistrais obras de arquitetura militar, como
fortalezas, fortes, fortins, redutos, vigias, baterias de tiro e casas-forte. O modelo mais
recente desse trabalho e ainda preservado é o Forte Príncipe da Beira, construído em
1776, e localizado na cidade com o mesmo nome no Estado do Amazonas.
A colonização da Amazônia desenvolveu-se em ritmo bastante irregular,
com longos períodos de estagnação, sucedendo-se a breves surtos de prosperidade e
crescimento demográfico. A tendência cíclica dominou as principais fases de avanço do
movimento povoador, passando pelo extrativismo vegetal, até a expansão da seringueira,
sem lograr a implantação de projetos que levassem em conta as características da região.
No século XVIII, a economia da Região estava baseada na extração
vegetal de alimentos como o cacau, castanha, os peixes de água doce, condimentos como
a pimenta, canela e cravo, remédios da flora, estimulantes e fibras. A essa onda, seguiu-se
a da seringueira.
A história da região registra a exploração de seus recursos, desde os
tempos do descobrimento, por portugueses e espanhóis. Ao longo do tempo, com o
surgimento das novas nações latino-americanas, a Amazônia não recebeu maior atenção
por parte dos Governos, mantendo um legado de
cultura extrativista e baixa ocupação territorial,
vivendo curtos períodos de desenvolvimento,
porém sem buscar um crescimento que respeitasse
as peculiaridades regionais.

1.2 Fisiografia da Amazônia

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Tentar descrever ou mesmo esboçar em linhas gerais a Região Amazônica,
o que é, o que representa, seu potencial e problemas, é tarefa de difícil solução.
Efetivamente, tudo na Amazônia é grandioso, tanto as vantagens, quanto as dificuldades,
as possibilidades e carências, seu tamanho e vazio demográfico, e até mesmo o
desconhecimento a seu respeito.

Figura 1 – Amazônia
Continental
Fonte: IBGE (2002)

Essas contradições, talvez constituam toda a magia dessa área singular do


planeta, que povoa a imaginação de tantos e que forma um verdadeiro conjunto de
“várias Amazônias”.
No seu aspecto mais amplo, a região denominada Amazônia Continental,
ou Pan-Amazônia (figura 1), apresenta-se como área condominial, compartilhada entre
oito países da América do Sul: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname,
Peru e Venezuela, e uma colônia européia, Guiana Francesa.
A Amazônia Continental abrange uma área de 7,5 milhões de km2, que
correspondem a, aproximadamente, 44 % da América do Sul. Desse total, 5.035.747,80
de km2 pertence ao Brasil, equivalentes a 65% de toda a área e ocupando 61,2 % do
território nacional.
Política e economicamente, a Região Amazônica brasileira, conhecida
como Amazônia Legal, teve seu recorte geográfico institucionalizado, incluindo além de
toda a região Norte (os estados do Amazonas e Pará e, à época, os territórios do Acre,
Amapá, Rondônia e Boa Vista) parte Sul e Oeste do estado do Maranhão, o Norte de
Goiás (hoje estado do Tocantins) e o estado do Mato Grosso. Esse Decreto-Lei no 1806,
de 6 de janeiro de 1953 previa tratamento especial nos processos de colonização ali a
serem estabelecidos, com vistas à não descaracterização desse espaço geográfico.
A Amazônia Legal possui mais de 10.000 km de fronteiras internacionais,
correspondendo a 63,6% do total das fronteiras terrestres brasileiras. Apresenta um clima
relativamente uniforme, do tipo Equatorial Úmido, caracterizado por temperatura média

13
anual acima de 25°C, com oscilações que não superam a 2°C.
Nos 470 anos iniciais da colonização da Amazônia brasileira, apenas 1%
da área foi desmatada. Porém, nos últimos 35 anos (1970-2005) o desmatamento já
atinge, praticamente, 14% da região e a população aumentou de dois milhões para,
aproximadamente, 20 milhões de habitantes.
As atividades principais responsáveis pela transformação são exploração
madeireira, pecuária, produção de grãos, extração mineral, produção de energia
hidroelétrica e prospecção de petróleo e energia. Essas atividades foram incentivadas com
a implantação de um complexo sistema viário que cruza a Região de Norte a Sul e de
Leste a Oeste, substituindo e auxiliando no transporte que antigamente só era feito
através dos grandes rios navegáveis.
Fisionomicamente, o domínio amazônico associa-se às bacias
hidrográficas do Solimões-Amazonas, do Tocantins e parte da bacia do rio Orenoco,
estendendo-se pelos nove países. A par dessa aparente unidade como bacia hidrográfica
"descobre-se" a existência de uma gama de ecossistemas complexos com diferentes
características de relevo, solo, flora, fauna e de processos dinâmicos.
Nos estudos sobre a Amazônia Legal realizados pelo IBGE/SAE (1995),
os mapeamentos de sistemas de paisagens naturais demonstraram não só essa
complexidade, na medida em que foram identificados cerca de 104 sistemas e 224
subsistemas, como também a importância de paisagens com características físicas
abióticas relacionadas a condições hidrológicas distintas das atuais. São paisagens nas
quais, apesar de hoje a cobertura florestal mantê-las em equilíbrio, verifica-se a
importância de cicatrizes de deslizamentos, voçorocamentos e de dissecação
generalizada.
A Amazônia, portanto, é caracterizada pela presença de paisagens naturais
dicotômicas entre o comportamento hidrológico e de flora e fauna, considerada do ponto
de vista global como tropical e a paisagem abiótica de características distintas das atuais.
Tal fato corrobora a hipótese do quão recentes são as condições tropicais úmidas para a
Amazônia e alerta para a fragilidade de sua biodiversidade e, portanto, de seus
ecossistemas.

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Com efeito, qualquer tomada de decisão quanto ao futuro desse território
passa pela discussão da preservação dos povos indígenas (como, de resto, dos povos da
floresta) devido não somente à importância numérica, à diversidade étnica e à enorme
extensão de suas terras, mas principalmente à aceitação de sua cultura e de seu trabalho
como elo fundamental na conservação e no manejo adequado do meio ambiente.
Ao longo do tempo, esta mesma Amazônia Legal tem sido objeto de
atribuição de uma infinidade de órgãos que vão do controle ambiental ao ordenamento
territorial e que, na maior parte das vezes, acabam por superpor atribuições. Da forma
como as atribuições estão presentemente definidas, há a necessidade de que se
estabeleçam estratégias de articulação que não se esgotem, como tem sido prática, na
criação de comissões de caráter apenas administrativos e pouco eficientes quanto à
definição e à implementação de planos e ações governamentais concertadas. Isso
pressupõe uma mudança de enfoque e de atitude, desde os sistemas institucionais de
ciência e tecnologia aos de planificação.
A sociedade regional é formada por índios, caboclos, pequenos
produtores, contingentes populacionais sem terra, trabalhadores urbanos, grandes e
pequenos proprietários, empresários tradicionais e modernos. A maior parte desses atores
sociais compõe os contingentes de imigrantes que, em diferentes épocas, para aí se
dirigiram, configurando outra dimensão da diversidade tão característica dessa área.
Trata-se não mais apenas de sua diversidade físico-natural e biológica, mas também da
diversidade de povoamento, cultural, econômica e social.
Enfim, há tantas Amazônias quanto a nossa capacidade e/ou necessidade
de percebê-la e/ou abordá-la permitirem. Entretanto, independentemente do enfoque que
se queira dar, há que se aceitar que a Amazônia não é apenas um ambiente ecológico,
mas também um ambiente humano, com uma história social, política e econômica que se
inicia antes mesmo do descobrimento das Américas. Conseqüentemente, há que se
conceituá-la como o produto das relações sociedade-natureza, ao longo de um tempo não
só histórico, mas também "pré-histórico", como forma de apreender-se a sua
complexidade e, assim, melhor definir os espaços territoriais configurados, que por si só
já se demonstram como um macrozoneamento territorial, muitas vezes não desejável,
mas existente.

15
1.3 – O Cenário Atual

Uma das partes do mundo menos conhecida continua sendo a Amazônia.


Isso a encerra no jogo dos riscos que o Homem enfrenta neste início de milênio: O
desafio com todas suas riquezas é torná-la útil ao Homem sem destruí-la e,
particularmente, sem destruir o próprio Homem. A rica biodiversidade da Amazônia é um
jogo de dupla face. Contém, sem dúvida, muitas potencialidades para o desenvolvimento,
mas comporta, igualmente, muitos riscos. A maioria, evidentemente, desconhecida.
No Terceiro Milênio, a Amazônia ocupa um lugar central quanto ao seu
principal desafio - criar um desenvolvimento sustentável que assegure condições de vida
para as gerações futuras. Isso estimula o desenvolvimento da Região em novos moldes e
valoriza as suas potencialidades, tais como a dimensão continental, a baixa densidade
demográfica, a disponibilidade de terras e riquezas naturais e os elementos culturais e
sociais típicos. E, sobretudo, cria uma enorme expectativa entre os homens e mulheres de
todo o planeta.
Todavia, a realidade predominante hoje é relativamente distinta dessa
expectativa. A rápida expansão da população da Amazônia, mesmo com crescimento
econômico, reduziu a sua renda per capita. Na década de 1990 houve uma retração no
ritmo e na velocidade do crescimento econômico, com perda de dinamismo nos
principais pólos de desenvolvimento, embora sua participação no PIB nacional tenha
crescido entre 1994 e 1998.
A Região Amazônica ainda apresenta o maior crescimento demográfico
no País, com altas taxas de fecundidade e movimento migratório positivo. Sem mudanças
significativas na forma de exploração econômica este movimento tem tido impacto
negativo sobre os ecossistemas, com redução elevada da cobertura vegetal. Estima-se
uma perda de 13,31% da mata original, correspondendo à cerca de 732 mil km², o que
equivale a duas Alemanhas. As diversas iniciativas institucionais, incorporando novas
visões de desenvolvimento apoiadas no conceito de sustentabilidade sistêmicas, embora
presentes e importantes, ainda não tiveram efeito suficiente para modificar a forma de
exploração predatória que se instalou na Região, particularmente a partir dos anos

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setenta, baseada, quase exclusivamente, na instalação de economias de enclave e
exploração dos recursos naturais sem manejo.
Apesar das limitações, a Região avançou em termos de integração interna
e externa e de incorporação de Ciência e Tecnologia nas novas modalidades de utilização
dos recursos naturais. A integração, porém, tem ocorrido de forma concentrada em alguns
núcleos dinâmicos da economia, particularmente: Núcleo eletro-eletrônico de Manaus;
Triângulo Minero -Metalúrgico de Carajás, com vértices em Belém, São Luis e Marabá;
Eixo agropecuário do Sudeste amazônico e o Pólo Agrícola de Rondônia. Por sua vez, na
década de 1990 o ritmo da integração diminuiu em função da reduzida expansão da
economia brasileira, a diminuição drástica da capacidade de investimento do Estado e o
aumento das restrições ambientais. Em conseqüência, esses núcleos conheceram uma
perda de dinamismo, principalmente em torno de Belém e Manaus.
A economia atual permanece baseada no extrativismo vegetal de produtos
como látex, açaí, madeiras e castanha. É rica em minérios, com destaque para o Pará,
importante área de mineração do país, de onde se extrai grande parte do minério de ferro
exportado, e o Amapá.
No que se refere à Amazônia brasileira, os dados econômicos são bastante
singelos, se comparados com a grandeza territorial da região. Dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, de 1999, apontam a produção de
aproximadamente 223 mil toneladas de pescado, uma safra de grãos de 2,18 milhões de
toneladas e um rebanho pecuário em torno de 25,9 milhões de cabeças.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e
Indústrias de Base (ABDIB), a região ocupa o segundo lugar nos investimentos
programados para o ano de 2005. Espera-se que sejam injetados nos estados do Norte do
Brasil cerca de 43 bilhões de dólares, com grande parte dos investimentos concentrada na
agroindústria.
Atualmente, a região tem priorizado a oferta e a distribuição de energia
elétrica para seus estados. No estado do Amazonas, a planície da bacia amazônica
inviabiliza a construção de hidrelétricas. Assim, a decisão das autoridades locais foi de
investir na produção de gás natural de Urucu, na bacia do rio Solimões. O projeto,
quando concluído, terá como grandes consumidores as geradoras de energia elétrica, que

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passarão a usar o novo combustível no lugar de óleo diesel para movimentar as turbinas
de suas termelétricas.
No rio Tocantins, estado do Pará, encontra-se a usina hidrelétrica de
Tucuruí, a maior da região Norte. Existem, ainda, usinas menores, como Balbina, no rio
Uatumã (AM), e Samuel, no rio Madeira (RO).
A questão mais evidente da Amazônia é o descompasso entre a sua grande
área e sua escassa população. Área de domínio da natureza constitui-se no menos
ocupado e mais extenso território dos Trópicos Úmidos de todo o planeta.
A Amazônia se integra de forma desigual em todos os países de que é
parte, tendo em vista sua vasta extensão territorial e as peculiaridades da área que
requerem conhecimento e planejamento específico para o trato da região. É importante
lembrar que o domínio amazônico é, ao mesmo tempo, um dos últimos grandes e ricos
espaços pouco povoados do planeta e um dos ecossistemas mais complexos e vulneráveis
da Terra, o "que torna o seu desenvolvimento uma incógnita e um desafio às ciências
mundial e nacional" (Becker, 1996) 1 . Os problemas ecológicos e de pobreza que se
configuraram no recorte territorial da Amazônia Legal não existem em função do nível de
desenvolvimento, mas sim do modelo adotado. É essencial, portanto, a busca de um estilo
de desenvolvimento que nos seja desejável.
Nesse sentido, fica aqui colocado o questionamento que deve estar
presente em qualquer fórum de discussão e em todo pesquisador e tomador de decisão
que se dedique ao estudo da Amazônia: qual é a concepção de desenvolvimento que
desejamos e propomos para a Amazônia e qual a estratégia produtiva, de preservação e
de melhoria de qualidade de vida que, integradas, tornam sustentável esse patrimônio
nacional? Não havemos de querer dar continuidade a políticas científicas que, a cada
momento, escolheram um tema, um bem ou um produto como o fomentador da grande
redenção desse espaço.
Na mídia e no senso comum, o Estado é o mais importante ator presente
na Amazônica, com grande capacidade de influenciar no seu futuro, em particular os

1
BECKER, Bertha K.; MIRANDA, Mariana. A geografia política do desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 1996.

18
órgãos federais de desenvolvimento e as empresas estatais. Porém, em uma análise mais
refinada, em que a figura do Estado é excluída, porque representa a expressão de
interesses particulares, emerge a verdadeira estrutura de poder regional. Nesta, os
empresários internacionais, nacionais e regionais jogam o verdadeiro papel de decisores.
De toda forma, os atores externos conservam o maior poder de influência.
Esses diversos atores tendem a conformar alianças políticas entre si,
algumas de caráter mais estrutural, outras de natureza puramente conjuntural. Entre as
alianças mais prováveis, duradouras e de impacto sobre o futuro destacam-se três,
relativamente distintas e mesmo antagônicas em suas proposições básicas, embora
possam ter pontos em comuns:
• Pacto desenvolvimentista;
• Aliança conservacionista; e
• Aliança integradora e modernizadora.
Se essas alianças, na medida em que se construam e se consolidem,
influenciam o desenvolvimento futuro da Região, quais são os condicionantes mais
incisivos, aqueles que representam verdadeiras Incertezas Críticas?
No plano internacional as grandes Incertezas Críticas mais gerais são
conformadas, inicialmente, por três grandes possibilidades bipolares:
• Liberalização versus regularização do sistema;
• Fragmentação versus integração dos mercados, e
• Instabilidade versus estabilidade do sistema financeiro.
Mas, as incertezas críticas do espaço internacional, que terão impacto mais
direto sobre o futuro da Amazônia são: a redução do conteúdo de matérias-primas e
energéticos com aumento do conteúdo de tecnologia e conhecimento, e a expansão
mundial do turismo, em especial do ecoturismo. Variáveis que poderão assumir as
configurações de processos acelerados, moderados ou lentos.
Além dessas Incertezas, que se localizam essencialmente no espaço
internacional, com incidência mais ou menos direta sobre a evolução da Amazônia,
considerou-se também aquelas de natureza endógena, também em número de três:

19
• Desenvolvimento de tecnologias para aproveitamento sustentável dos
recursos naturais da Amazônia, que poderá ser acelerado, moderado ou
lento.
• Degradação dos recursos naturais e dos ecossistemas da Amazônia, cujos
condicionantes externos demonstram que poderão vir a ser de baixo
impacto, ou alto impacto; e, finalmente,
• Integração Pan-amazônica, que diz do grau de relações que serão
estabelecidas com os países vizinhos, de maneira ampla, moderada ou
restrita.
Entretanto, alguns aspectos ou questões sobre a região devem receber um
destaque dentro do atual cenário amazônico em virtude de sua importância no contexto
nacional e internacional: a questão sócio-antropológica indígena; a questão ecológico-
ambiental da Amazônia; a questão do garimpo, a questão dos ilícitos transnacionais, entre
outros.
Estimativas recentes da Agencia de Desenvolvimento da Amazônia
apontam para a existência de, aproximadamente, 346 mil índios no Brasil, embora não
incorpore dados sobre grupos que não mantêm relações diretas com agentes da sociedade.
Até no maior grupo étnico primitivo da América do Sul – o yanomani ou
yanomami _ verifica-se distintos graus de cultura, de modus vivendi e de contato com a
civilização branca, não caracterizando em nenhuma hipótese o que articulistas e
organizações não governamentais costumam rotular como nação yanomami.
Ao Rotular como “Nação Yanomami” traz a possibilidade de
reconhecimento mundial, da criação de um estado enquistado dentro do Brasil, ensejando
assim, até mesmo, a intervenção de outra Nação, pretensamente em auxílio da "Nação
Yanomami".
A adoção do livre arbítrio para que os próprios povos indígenas optem
pela integração gradual ou pela conservação do isolamento em suas reservas se apresenta
como uma solução factível, particularmente pelos grupos que já sofrem a influência
inexorável da presença do homem branco.
Apesar do atrativo apelo sentimental que essas questões suscitam, pois
procuram seu fundamento em direito natural de conservação para o desfrute das gerações

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futuras, infelizmente subjacentes a elas, figuram às palavras dos dirigentes políticos
mundiais, transparecendo em suas idéias, que as futuras gerações, não serão
necessariamente, as brasileiras, transformando assim, toda a beleza do direito natural, em
apenas intenção espúria de transformação da Amazônia em simples repositório de valor,
fato que nos parece demonstrar cabalmente, a cobiça internacional pela região.

21
CAPITULO II

PRESSÃO INTERNACIONAL

“Caso o Brasil resolva fazer uso da


Amazônia que ponha em risco o meio ambiente
nos EUA, temos que estar prontos para
interromper esse processo imediatamente”

(Patrick Hugels, Washington 2001. Chefe do


Órgão de Informações das Forças Armadas
Americanas, em palestra proferida para o
Congresso dos EUA.)

2-1. Pressão Política

A questão Amazônia leva indubitavelmente à questão do meio ambiente.


Nela preside um dos nossos maiores desafios. Desenvolvê-la sem agredir o seu habitat
natural, ou seja, o que tanto apregoamos de desenvolvimento sustentável ou sustentado.
Desafio esse que o mundo desenvolvido não conseguiu vencer, pois para se
desenvolverem, devastaram tudo que encontravam pela frente, em especial o seu próprio
meio ambiente e a exploração de seus recursos naturais.
As pressões internacionais estão cada dia mais fortes e evidentes, e se
manifestam de forma indireta, através de temas como meio ambiente, missões indígenas,
clima, narcotráfico e desflorestamento. O mais recente, a água, o problema da escassez
no mundo, aumentará mais ainda a cobiça pela Amazônia.

Imagina-se, em princípio, ser exagero, mas vejamos algumas


manifestações de autoridades internacionais:

• “Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas


externas, que vendam suas riquezas, seus territórios e suas fábricas”
(Margareth Tatcher – Primeira Ministra da Inglaterra).

22
• “Ao contrário do que os brasileiros pensam a Amazônia não é deles,
mas de todos nós”
(Al Gore – Vice-Presidente dos E.U.A).

• “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a


Amazônia.”
(Françoise Mitterrand – Presidente da França).

• “As nações desenvolvidas devem estender o domínio da Lei ao que é


comum de todo mundo. As campanhas ecologistas internacionais
sobre a região Amazônica estão deixando a fase propagandistas para
dar início a uma fase operativa que pode definitivamente ensejar
intervenções militares diretas sobre a região”
(John Major – Primeiro Ministro da Inglaterra).

• “É nosso dever garantir a preservação da Amazônia e de seus


habitantes aborígines, para o desfrute das grandes civilizações
européias, cujas áreas estejam reduzidas a um limite crítico”.
(Conselho Mundial de Igrejas Cristãs. Genebra, 1994)

• “Os países em desenvolvimento com imensas dívidas externas devem


pagá-las com suas riquezas. Vendam suas florestas Tropicais”.
(George W. Bush. Washington, 2000. (Durante a campanha presidencial)

Não são raras notícias recebidas pela internet de várias partes do mundo,
com manifestações e abaixo-assinados, para impedir que projetos sejam executados na
Amazônia. Para compreender todas essas manifestações, nos cabe avaliar o seguinte: a
real riqueza da região ainda é pouco conhecida, porém sabe-se que o subsolo é rico em
minerais, como, ouro, bauxita, manganês, ferro, nióbio, titânio, cobre, estanho, caulim,
diamante, chumbo, níquel, sem contar os não conhecidos ainda. A fauna e a flora, quase
que inexploradas, onde muitas espécies sequer foram catalogadas, a riqueza de peixes e
outras já anteriormente citadas.
Em um mundo que valoriza demais tudo que é natural, a Amazônia se
torna o alvo de atenção. Somente no meio farmacêutico, estima-se que 40% dos remédios
sejam dessa origem e a expectativa é de que esse percentual cresça muito mais, fazendo
crescer, ainda mais, a cobiça internacional.
É preciso entender que o objetivo da internacionalização da Amazônia,

23
não significa necessariamente ocupação, obter o controle físico, mas sim, a busca da
ingerência, obter o poder de decisão, em questões que somente ao Brasil dizem respeito.
É necessário entender ainda, que esse poder de decisão, poderá ser
alcançado por outros meios, tais como: subjugar as forças produtivas nacionais com
interesses na região, inviabilizar a exploração local das riquezas, e outras.
Assim, para contraposição às idéias conservacionistas, devemos cultivar as
idéias preservacionistas, pois preservar significa usar, mas usar bem, usar sem destruir,
usar de forma sustentada.
Cabe ao estado brasileiro, equacionar as respostas necessárias para a
implantação de um modelo de desenvolvimento sustentável, que alie desenvolvimento
regional, à preservação dos recursos ambientais.

2-2. Crimes Transnacionais

2.2.1 As Questões do Narcotráfico e da Narcoguerrilha na Amazônia

A origem da narcoguerrilha encontra-se no ilícito conhecido como


Narcotráfico. Crime transnacional de características transfronteiriças, cometido por
organizações que operam de modo a tornar irrelevantes os conceitos de Estado e
Soberania.
A narcoguerrilha nasce da ação dos narcotraficantes, quando, após a queda
do muro de Berlim, passam a raciocinar de maneira pragmática, não tendo,
portanto, mais interesse qual a origem de seu financiamento.
A alcunha narcoguerrilha foi exposta pela primeira vez pelo general
colombiano Gustavo Montamoros, ferrenho opositor das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC), referindo-se a essa junção do crime a
movimentos reformistas, classificando-a como a herança do século XX para a
América Latina.
Não há dúvida que a proximidade da Amazônia com os três maiores
produtores de coca do mundo, traz influências negativas para o País, pois tendo,
aproximadamente, onze mil quilômetros de fronteiras, grande parte delas, com os

24
países que se encontram no núcleo do problema: Colômbia com 1.644 km, Peru
com 2.995 km e Bolívia com 3.126 km.
É necessário observar que a baixa ocupação demográfica de nossas
fronteiras e sua limitada rede viária, conformam um grande vazio demográfico,
acabando por propiciar terreno fértil, para as atividades ilícitas.
A América Latina é o principal fornecedor de cocaína e maconha do
mundo, enviando 270 toneladas de cocaína por ano ao mercado mundial, detendo
ainda, 15% do mercado de heroína.
A coca ocupa área de 200 mil hectares na Colômbia, Peru e Bolívia,
empregando 5 milhões de pessoas. Calcula-se que entram nesses países, só com o
comércio da coca, a impressionante cifra de US$ 2,90 bilhões de dólares.
Só na Colômbia, estima-se que as exportações de cocaína alcançam 10%
do PIB, ou seja, três vezes mais que as vendas da Empresa Colombiana de Petróleo
ECOPETROL, de longe a maior empresa do país.
Na Bolívia, igualmente, o valor das exportações relacionadas com a
cocaína supera todos os demais ramos econômicos e no Peru, a produção alcançou
8% do PIB, empregando 7% da população economicamente ativa.
Até o momento o Brasil tem sido visto pelos narcotraficantes apenas,
como país de trânsito para as drogas produzidas, como fornecedor de insumos
químicos utilizados no refino da droga, e ainda, como praça de lavagem de dinheiro
e mercado consumidor secundário.

25
Figura 2 – Rede de Tráfico de Drogas – 2002.
Fonte: Departamento de Geografia – UFRJ. (Organizado por Lia Osório
Machado)
Não há dúvida que o narcotráfico é hoje, de longe, o negócio criminal
mais rentável do mundo, produzindo, nas palavras do professor Ricardo Vélez 2
Rodriguez (2003), mais divisas aos seus países, que a exportação de seus produtos
tradicionais.
Conforme ainda, o professor Vélez 3 (2003), tamanho volume de recursos
concentrados nas mãos dos narcotraficantes, produziu sérias distorções na
economia dos países produtores de drogas, favorecendo o esfacelamento
econômico, com conseqüente retraimento do “PIB formal” e forte crescimento do
"PIB informal", aprofundando a dependência econômica desses Estados ao
ingresso dos narcodólares.
Assim, se de um lado, a droga é um excelente negócio para os
narcotraficantes, por outro lado é um péssimo investimento para os países
produtores, pois seus efeitos sobre o resto da economia são nefastos. Atividades
econômicas outrora prósperas, como o turismo, praticamente faliram.
Se o narcotráfico representa uma força econômica poderosíssima nos

2
Ricardo Vélez Rodrigues, coordenador do Centro de Estudos Estratégicos – UFJF, em palestra na ESG –
2003.
3
Idem

26
países produtores, é também um negócio de proporções gigantescas nos países
consumidores, especialmente nos EUA.
Segundo Vélez 4 (2003) ainda, "(...) a maioria dos especialistas americanos
concorda em identificar a cocaína como a droga que coloca o problema social
mais sério dos anos oitenta, (...) no final do segundo governo Clinton, a Casa
Branca estimava em 12 milhões o número de narcodependentes".
As maiores margens do lucro do empreendimento, que são abocanhados
pelos atravessadores da droga e pelos seus vendedores mundiais, acabam
beneficiando, via lavagem de dinheiro, o mercado financeiro estadunidense.
Acredita-se que através desta curta panorâmica, consegue-se demonstrar o
quanto o narcotráfico e a narcoguerrilha são problemas de difícil solução,
principalmente, dado os vultosos recursos disponíveis e pela mobilidade adquirida
pelos produtores de drogas, não se limitando a atuar em um único país, buscam
sempre novas fronteiras, na medida em que a produção é atacada em determinado
local.
Pode-se então caracterizar que as ameaças à Soberania Nacional, advindas
do narcotráfico e da narcoguerrilha, merecem dois enfoques: o da Soberania
Interna e o da Soberania Externa.
O enfoque da Soberania Interna está relacionado ao controle da fronteira
ocidental da Amazônia, local em que a retomada da repressão a narcoguerrilha
colombiana, com a aprovação do Plano Colômbia e a volta das ações militares na
área desmilitarizada cedida por André Pastrana, aliadas aos diversos programas de
combate ao narcotráfico desenvolvido pelos demais países fronteiriços, tem
tendido a empurrar os narcotraficantes e a narcoguerrilha, para países vizinhos.
No caso do Brasil, a permeabilidade das fronteiras ao tráfico, à migração
dos laboratórios de refino e à guerrilha deverão ser objetos de constantes
preocupações do Estado brasileiro.
Sob o enfoque da Soberania Externa, devemos observar no contexto
mundial, que a convivência com as "Novas Ameaças" (proliferação de armas de
destruição em massa, conflitos éticos nacionalistas, o terrorismo, o narcotráfico, o

4
Idem

27
tráfico de armas, as migrações ilegais), especialmente nos EUA, tem demonstrado
tendências a direcionar as ações daquele país, no sentido da utilização de pressões
para garantia do dito Dever de Ingerência, ocasionando como efeito visível, a
militarização americana, no entorno da Amazônia.
Logo, o enfoque da Soberania Externa está inserido no contexto dos novos
conceitos mundiais de Soberania Limitada e do Dever Ingerência.
Assim, quanto maior for o comprometimento da Soberania Interna,
maiores serão as pressões externas para a aplicação desses conceitos, afetando
diretamente a Soberania Nacional Brasileira.

CAPITULO III

A PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NA AMAZÔNIA

“Árdua é a missão de desenvolver e defender


a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de
nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la.”

(General Rodrigo Octávio Jordão Ramos)

3.1 As Forcas Armadas na Amazônia

Segundo Samuel (1991) 5 , a ocupação militar iniciou-se com a expedição


de Pedro Teixeira, em 1637, e continuou, ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX,
período em que os militares portugueses estabeleceram trinta e sete fortificações, das
quais podemos citar os fortes de São Joaquim (Roraima), São José das Marabitanas (no
alto Rio Negro), Tabatinga (no Solimões) e Príncipe da Beira (no Mamoré).

No século XIX foram criadas as Colônias Militares que eram


estabelecimentos compostos por contingentes destinados a defendê-las e um núcleo civil
que era o principal efetivo demográfico.

5
SAMUEL, Álvares de Oliveira. A Articulação das Forças Armadas na Amazônia. Trabalho Especial.
ESG, 1991. 23 p.

28
A primeira Colônia Militar foi fundada em 1840, na região do Rio
Araguaí, no Amapá. Seguiu-se o estabelecimento das Colônias de São João do Araguaia
(1850) e São Pedro de Alcântara (1853) no Maranhão e Óbidos (1854) no Pará. Mais
recentemente, criaram-se as Colônias Militares do Oiapoque (1964), no Amapá e
Tabatinga (1967), no Amazonas, transformadas, atualmente, em unidades militares.

Hoje, as Forças Armadas fixadas na Amazônia Brasileira, além da missão


primordial de manter a sua integridade e garantir a sua segurança, cumprem missões
complementares de assistência às populações carentes, particularmente às que habitam
áreas de fronteiras e ribeirinhas”.

3.1.1 A Marinha na Amazônia Ocidental

Segundo o Comandante do Comando Naval da Amazônia Ocidental (CNAO)


em palestra proferida para a Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica
(2004),”a presença da Marinha na Amazônia remonta ao ano de 1728, com a criação
da DIVISÃO NAVAL DO NORTE, sediada em Belém do Grão-Pará, de onde
exercia o controle do acesso de navios ao Rio Amazonas. Foi instituída em 1878 a
FLOTILHA DO AMAZONAS (FLOTAM), em substituição a DIVISÃO NAVAL
DO NORTE, em conseqüência da abertura da navegação no Rio Amazonas as nações
amigas em 1867, com o propósito de prover a proteção do litoral, como também das
hidrovias.”

MISSÃO do Comando Naval da Amazônia Ocidental atribuída pelo


Comandante do 4° Distrito Naval com sede em Belém - PA:

"Contribuir para o cumprimento das tarefas de responsabilidade do


Comando do 4° Distrito Naval, na Amazônia Ocidental."

Para a consecução do seu propósito, cabe ao CNAO as tarefas de operações


navais e terrestres, bem como apóia as Unidades e Forças Navais, Aeronavais e de
Fuzileiros Navais, não subordinadas, em operação na Amazônia Ocidental, dentre outras
ações.

Atualmente, as seguintes ações são ali desenvolvidas, de acordo com o


Comandante do CNAO:

- operações ribeirinhas com os fuzileiros navais da região;

- operações de patrulha naval no litoral e nos rios navegáveis;

- presença naval, visitando portos de países amazônicos;

- apoio às unidades do Exército situadas na fronteira;

29
- operações combinadas com o Exército e a Força Aérea, como a
Operação Timbó, realizada a cada dois anos;

- operações conjuntas com as Marinhas da Colômbia, Peru e Guiana; e

- operações de assistência hospitalar.

A Marinha de Guerra Brasileira possui na Amazônia, Capitanias navais,


Delegacias navais, Agências navais, meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais.

No que se refere à atuação das forças militares navais na região, o cenário


envolve dois ambientes: o marítimo e o terrestre (incluindo o fluvial), sendo a
hidrovia a principal via de transporte da Amazônia, é fundamental que as forças
navais controlem seus acessos.

O desenvolvimento das ações no cenário terrestre será extremamente


facilitado se for negado, ao possível oponente, o acesso ao Rio Amazonas e a seus
afluentes, ao mesmo tempo em que o controle das calhas dos rios seja exercido por
forças navais brasileiras.

A Marinha, de acordo com o seu Comandante Geral (2004), entende que


um eventual teatro de operações na Região Amazônica seja predominantemente
terrestre, com demanda razoável de apoio aéreo e de transporte fluvial. No ambiente
terrestre, os empregos do Exército e da Aeronáutica serão preponderantes e o da
Marinha será complementar.

O Poder Naval sempre esteve e estará presente na Amazônia.


Continuamente seus navios cortam as águas dessa imensa bacia hidrográfica,
preservando a soberania nacional e levando apoio, de toda espécie, às populações das
margens dos rios, igarapés, furos e paranás, habituadas, ao longo de várias gerações, a
ter nos navios da Frotilha do Amazonas o mais significativo, senão o único, sinal da
presença do Estado. Essa nobre empreitada, embora pouco conhecida nas suas
verdadeiras dimensões pelos próprios brasileiros, tem contribuído, inequivocamente,
para a manutenção da identidade nacional.

A população amazônica vive numa das regiões mais ricas do mundo, onde
não faltam alimentos extraídos da mata, pescados ou caçados. A despeito disso, os
pequenos e rarefeitos aglomerados humanos, encontrados em inúmeros rios da
Amazônia, vivem à espera da ajuda que vem do rio por meio dos navios da Marinha,
os "navios da esperança".

Cumprindo a honrosa tarefa de atuar no campo humanitário, em apoio


àquelas longínquas localidades, a Marinha utiliza Navios Patrulha e Corvetas.
Emprega, também, contando com o suporte técnico e financeiro do Ministério da
Saúde, Navios de Assistência Hospitalar.

30
A fim de propiciar o atendimento a locais onde a pequena profundidade
impede a aproximação, os Navios de Assistência Hospitalar são dotados de
helicóptero e lanchas rápidas. Esses recursos permitem que se realize pronta
assistência a pacientes impossibilitados de locomoção até o navio ou, ainda, realizar
uma evacuação para centros médicos mais bem aparelhados em recursos técnicos.

Os noticiários da Rádio Nacional de Brasília e da Amazônia divulgam


informações, por intermédio das quais os ribeirinhos e os indígenas tomam
conhecimento da programação a ser cumprida pelos "navios da esperança". A notícia,
então, é disseminada na região e a população acorre maciçamente.

Todos os marinheiros que, em qualquer época de suas vidas, navegaram


pelas águas da Amazônia são tomados pela emoção ao ouvirem, daquela gente
esquecida pela maioria dos brasileiros, depoimentos tais como:

- de uma dona-de-casa, mãe de cinco filhos, que vive da pesca e do


roçado, nas margens do Rio Juruá: “A chegada da Marinha é aguardada
com ansiedade;”

- do seu marido: “Não sei o que seria de nós se não fossem vocês. Graças
a Deus, a Marinha não esquece da gente;”

- de um comerciante, no município de Beruri, no alto Purus: “Estes navios


trazem ao povo mais do que a saúde, dão a alegria e a certeza de que não
estamos abandonados neste fim-de-mundo;” e

- de um velho índio Ticuna nas barrancas do alto Solimões: “Graças Deus,


filho não morre mais.”

3.1.2 O Exército na Amazônia.

A presença do Exercito brasileiro nessa região vem do início do século XVII,


quando os portugueses efetivamente passaram a desbravá-la e a consolidar sua posse.

O embrião do Comando Militar da Amazônia (CMA) remonta ao ano de


1956, com o então Grupamento de Elementos de Fronteira, em Belém do Pará, porta
de entrada para a conquista da Amazônia e, hoje, ponto de partida para o seu
desenvolvimento, mudou-se para Manaus em 1969, sede atual.

Com o passar dos anos, o CMA cresceu de importância no cenário nacional,


atualmente englobando organizações militares de todas as armas e todos os serviços,
participando do processo de consolidação da defesa do território nacional,
guarnecendo mais de 11 mil Km de fronteiras com sete países sul-americanos, fator
que impõe ao CMA preocupação constante com o adestramento de seu contingente.

31
O CMA está organizado com quatro brigadas de infantaria de selva:

1a Brigada de Infantaria de Infantaria de Selva (1a Bda Inf Sl) – Boa


Vista- RR;

17a Brigada de Infantaria de Selva (17a Bda Inf Sl) – Porto Velho – RO;

16a Brigada de Infantaria de Selva (16a Bda Inf Sl) – Tefé - AM;

23a Brigada de Infantaria de Selva (23a Bda Inf Sl) – Marabá – PA.

Além dessas grandes unidades operacionais, dispõe, ainda, da 8ª e 12ª


Regiões Militar, a primeira em Belém - PA e a segunda em Manaus - AM, que são
grandes comandos logísticos-administrativos.

O CMA conta também, com organizações militares diretamente subordinadas


que completam os meios necessários para o apoio ao Comando. Pode operar em uma
estrutura combinada 6 com a Marinha, por meio do Comando Naval da Amazônia
Ocidental e do 4º Distrito Naval, e com a Força Aérea, por intermédio do I e VII
Comando Aéreo Regional. Com esses meios, o CMA pode projetar o poder militar
em toda a área amazônica, em curtíssimo espaço de tempo, e sustentar o apoio
logístico a grandes distâncias.

Por conseguinte, está em condições de oferecer pronta resposta às possíveis


ameaças de quaisquer procedências, fazendo da trilogia VIDA, COMBATE e
TRABALHO, o esteio do pensamento e das atividades diuturnas nos quartéis.

O CMA é, na região amazônica, o mais importante vetor de colonização,


ocupação dos grandes espaços e vazios demográficos ainda existentes. Cumprindo
seu papel social, coopera na modernização e no progresso de todas as comunidades da
área, não só com componente militar, mas, também, na saúde, educação, nos estudos
e nas pesquisas científicas e em muitos outros campos. Presta inestimável ajuda às
populações indígenas ribeirinhas, principalmente pelo atendimento médico nos
hospitais militares. É importante ator, no Projeto Calha Norte, de revitalização e
vivificação da fronteira e desfruta excelentes relações com as Forças Armadas dos
países lindeiros.

O CMA conhece as dificuldades presentes e, por isso não se afasta do legado


de luta de seus predecessores e antepassados, para conquistar e manter esse imenso
território amazônico para o Brasil, não vem medindo esforços para colaborar no seu
desenvolvimento e na sua preservação. Todos os seus integrantes estão conscientes de
que a missão de defender e preservar a Amazônia é árdua, porém dignificante.

6
Sob um comando único.

32
Por tudo isso, o Exército Brasileiro está presente e permanecerá usando
BRAÇO FORTE e oferecendo a MÃO AMIGA àqueles que, irmanados aos ideais de
PEDRO TEIXEIRA, queiram transformar esta Região em pólo de desenvolvimento e
modernidade.

De acordo com o seu comandante, atualmente o Comando Militar da


Amazônia tem, sob o seu comando, um efetivo aproximado de 26 mil homens, numa
área de responsabilidade que se estende pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas,
Pará, de Rondônia, Roraima e partes do Tocantins e Maranhão.

A Força Terrestre está presente em 62 localidades da Amazônia Brasileira.

Certamente, não existe uma área do Brasil onde a presença do Exército seja
tão significativa, quanto na Região Amazônica. O Exército é um promotor de
desenvolvimento e catalisador dos valores necessários à integração dessa região ao
restante do País, particularmente, em localidades cujos nomes são, ainda,
desconhecidos pela grande maioria dos brasileiros.

O incessante trabalho de construção levado a efeito pelo Exército já produziu


milhares de quilômetros de estradas, dezenas de pistas de pouso, quartéis, casas,
pontes de concreto e de madeira, além de importantes demarcações topográficas.

Os convênios assinados com as administrações Federal e Estadual permitem


realizar obras públicas em locais onde a iniciativa privada não se interessa ou não tem
condições de executá-las.

Dessa maneira, trabalhando para permitir que aquelas localidades distantes


liguem-se a outras regiões mais adiantadas, o Exército preserva a tradição dos
desbravadores da Amazônia, contribuindo para integrá-la ao resto do País.

Desde meados do século XVIII, os portugueses, estrategistas por vocação,


instalaram as primeiras guarnições militares na Amazônia Ocidental, naquela ocasião,
o local estratégico para garantir o patrimônio da área a ser defendida e preservada.

Na figura abaixo podemos ver que, em conseqüência direta do Projeto Calha


Norte, importante projeto interministerial, voltado para a Amazônia e considerando os
conceitos de segurança, desenvolvimento e integração nacional, foram criados
diversos Pelotões Especiais de Fronteiras (PEF) ao longo das fronteiras norte e
ocidental do Brasil, permitindo, com isso, melhor distribuição dos efetivos militares.

33
Figura 3 – Posicionamento dos Pelotões Especiais de Fronteira

Fonte: Ministério da Defesa (2004)

3.1.3 A Aeronáutica na Amazônia Legal

“Com a criação do Correio Aéreo Militar (CAM), nos idos de 1931, iniciou-se
uma nova era de integração nacional, assegurando a presença do Governo Federal nos
mais diversos rincões do Brasil. Hoje denominado Correio Aéreo Nacional (CAN),
encontra-se inserido na Constituição, como competência da União, cabendo, portanto
a Aeronáutica, por meio da Força Aérea, a continuidade de sua operação
(Carminati 7 ,2001).”

Dessa forma pode-se afirmar que a própria história da Aeronáutica está ligada
com a história da Amazônia. Quando esta região era quase que totalmente
desconhecida para o restante do país, a Aeronáutica estava presente, apoiando sua
população nos pontos mais inacessíveis, participando de sua integração e
desenvolvimento nas asas das aeronaves da Força Aérea Brasileira.

Em consonância com a necessidade da implantação de uma malha aeroviária


na região, o então Ministério da Aeronáutica criou a Comissão de Aeroportos da
Região Amazônica (COMARA), com a finalidade de projetar, construir e equipar
aeroportos na região. A multiplicação de seus feitos deixou marcada sua presença
pela implantação de 150 aeródromos e mais de 70 obras civis em diferentes
localidades.

Na Amazônia Ocidental, o Comando da Aeronáutica faz-se representar pelo


Sétimo Comando Aéreo Regional (VII COMAR), tendo como sede á cidade de
Manaus-AM e na Amazônia Oriental pelo Primeiro Comando Aéreo Regional (I
COMAR), tendo como sede a cidade de Belém-PA.

7
Cel Av Nilson Soilet Carminati Ex-Vice-presidente da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica
(COMARA)

34
Nas suas organizações, o VII COMAR e o I COMAR têm sob seus comandos
direto organizações militares de Apoio a Força, que são suas Bases Aéreas: de
Manaus (BAMN) – AM, de Boa Vista (BABV) – RR, de Porto Velho (BAPV) – RO
e de Belém (BABE) - PA. Dando prosseguimento a estratégia de ampliação da
infraestrutura de apoio, bem como da presença da Força Aérea na região, o Comando
da Aeronáutica está implantando os seguintes Núcleos de Base Aérea: de Ualpés
(NuBAUA)-AM, de Eirunepé (NuBAEI) – AM e de Vilhena (NuBAVI) - RO

O VII COMAR e o I COMAR têm ainda sob suas responsabilidades órgãos


sistêmicos que são: o Serviço Regional de Aviação Civil (SERAC), que trata dos
assuntos referentes a aviação civil na região e o Serviço Regional de Proteção ao Vôo
(SRPV) que trata dos assuntos relacionados ao controle do espaço aéreo da região,
sendo o SRPV - MN o embrião do 4o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle
do Espaço Aéreo (CINDACTA 4).

Na área da saúde, tem ainda o VII COMAR o Hospital de Aeronáutica de


Manaus (HAMN) e o I COMAR o Hospital de Aeronáutica de Belém (HABE).

O braço armado da Aeronáutica na Região é a gama de vetores aéreos


distribuídos em suas Bases Aéreas, a saber:

BAMN – o Sétimo Esquadrão de Transporte Aéreo (7o ETA) com aeronaves


Bandeirante cargueiro C-95B, Brasília C-97, que pode ser utilizado
como “UTI no AR” e Caravan C-98, o Primeiro Esquadrão do Nono
Grupo de Aviação (1o/9o Gav) com aeronaves Búfalo C-115 e o
Sétimo Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação (7o/8o Gav) com
helicópteros UH-IH;

BABV - o Primeiro Esquadrão do Terceiro Grupo de Aviação (1o/3o Gav) com


aeronaves TUCANO T-27 e Caravan C-98;

BAPV - o Segundo Esquadrão do Terceiro Grupo de Aviação (2o/3o Gav) com


aeronaves TUCANO T-27 e Caravan C-98.

BABE – o Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo (1o ETA) com aeronaves


Bandeirante cargueiro C95B e Caravan C-98 e o Primeiro
Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação (1o/8o Gav) com
helicópteros UH-1H;

Na Amazônia, a Aeronáutica não tem se limitado a agir sobre os efeitos


sociais resultantes de carências de todas as naturezas, fornecendo, apenas,
medicamentos, agasalhos e mantimentos. Procura, também, combater as causas
dessas carências, na medida em que o socorro é complementado pela orientação
sanitária transmitida por equipes médicas da Aeronáutica ou dos órgãos de saúde
federais, estaduais ou municipais.

35
Para as comunidades indígenas, as aeronaves não são mais os "pássaros
metálicos", barulhentos e ameaçadores. Elas já se integraram aos hábitos e à
paisagem das aldeias, em efetiva contribuição para a melhoria de vida, sem modificar
os usos e os costumes da cultura indígena.

Outro fator social, de grande importância para essa região, é o Serviço Militar.
Jovens vindos dos mais diversos pontos da Amazônia se apresentam, anualmente,
para a prestação do Serviço Militar. Além da prática do civismo, a Força Aérea
contribui para a elevação do seu nível cultural, oferecendo cursos profissionalizantes.
Quando do retorno à vida civil, já de posse daqueles ensinamentos, o cidadão entrará
no mercado de trabalho bem mais qualificado, elevando, assim, o nível da mão-de-
obra local.

As Forças Armadas também cooperam decisivamente para o êxito das


principais iniciativas governamentais na região, atuando em vários projetos nas áreas
da Saúde, Educação, Defesa Civil, Ambiental etc.

3.2 – O Projeto SIPAM/SIVAM

3.2.1 - O Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM

O SIPAM baseia-se em um grande banco de dados sobre a região e na


montagem de um sistema de comunicações eficaz, que poderá ser utilizado por
todos os órgãos e instituições que dele fazem parte, e que permita a troca de
informações entre todos os elos que compõem o Sistema, bem como os paises
vizinhos à Amazônia Legal Brasileira.

Desde o surgimento do Projeto, “parceiros essenciais” foram envolvidos.


Todos esses parceiros apresentavam um ponto em comum: tinham atuação na
Amazônia. A vasta gama de partícipes reúne desde a Casa Civil da Presidência da
República, as Forças Armadas, diversos Ministérios, Universidades e centros de
pesquisa, até órgãos estaduais e municipais, além de empresas públicas e agências
reguladoras, proporcionando, por meio de seu sistema de comunicações, o
intercâmbio rápido dos dados coletados e a avaliação das ações desenvolvidas,
num esforço integrado e, idealmente, uníssono das políticas implementadas pelo
Poder Público, em seus diferentes níveis, federal, estadual e municipal.

Desta forma, a presença do Estado na Amazônia, ampliada pela


quantidade, qualidade e integração das informações fornecidas e ações
desenvolvidas, abrirá uma nova fronteira de oportunidades e progresso para o
Brasil. Em última análise, é lícito afirmar que o maior beneficiário do Sistema
será o povo brasileiro como um todo e, em especial, a população amazônica. Com

36
esse novo modelo, a região estará integrada ao restante do território nacional e o
Brasil demonstrará, de forma inequívoca, sua capacidade de planejar, executar,
controlar e proteger suas riquezas.

O Sistema, na verdade, constitui um novo modelo dentro da


Administração Pública brasileira, caracterizado pela participação articulada de
instituições governamentais de diferentes níveis, fazendo convergir esforços
setoriais na busca de soluções compatíveis com as reais necessidades da região.
Prevê a participação de diversos setores da administração, reunidos sob a forma
de conselhos e comitês técnicos, que prestam assessoramento, e de órgãos
executivos, com atuação em áreas específicas. A organização colegiada do
Conselho Deliberativo do Sistema de Proteção da Amazônia (CONSIPAM),
permite a participação de representantes dos diferentes órgãos que compartilham
informações e ações, dentro do conceito de parceria. Realmente, esta é a palavra
chave, parceria.

Na primeira fase do processo de construção do SIPAM/SIVAM, todas as


organizações que têm ações na Amazônia foram consultadas e tiveram a
oportunidade de apontar o que consideravam ser necessário, em termos de
informações coletadas, para que sua missão constitucional fosse melhor cumprida.

Na fase seguinte, foram firmados acordos de cooperação e convênios com


estas entidades e órgãos do governo, caracterizando assim o envolvimento direto
de toda a sociedade brasileira na missão de proteger a Amazônia.

A centralização das ações dos diferentes órgãos que atuam na região,


disponibilizando conhecimentos e a eliminação das longas distâncias, através da
telemática, permitem tornar efetivas as ações do Estado na proteção da região e de
seu meio ambiente e asseguram o desenvolvimento sustentado da região.

Após a idealização e desenho do projeto, passou-se à fase de execução.


Como não se conhecia um modelo similar no mundo, optou-se pela
operacionalização gradual, modular, que apontasse as modificações necessárias
em sua configuração, e permitisse o seu aperfeiçoamento.

Desde o início foi importante assegurar a perfeita coordenação entre os


dois braços do Sistema: a Comissão Integradora do Projeto SIPAM - CISIPAM e
seu braço de vigilância, a Comissão Coordenadora do Projeto SIVAM -
CCSIVAM. A primeiro ficou encarregado da preparação e treinamento dos
recursos humanos que atuarão no projeto, no estabelecimento do cronograma das
ações e nos acordos com os parceiros. Coube a CCSIVAM a coordenação da
implantação dos meios técnicos que assegurassem o levantamento e a troca das
informações entre os diferentes parceiros.

Assegurada a coordenação de ações, o Sistema proporcionará a integração


em diversas áreas como a vigilância ambiental, o controle da ocupação e do uso

37
do solo, o controle das fronteiras, o incremento das pesquisas em diferentes
campos, a rápida e eficaz atuação dos órgãos públicos na região, a identificação e
combate a atividades ilícitas, a proteção das terras indígenas, a vigilância e o
controle do tráfego aéreo e o apoio ao controle da circulação fluvial.

Aprofundando um pouco mais a questão ambiental, o SIPAM permitirá a


organização e gerência de um banco de dados com informações sobre a
biodiversidade da Amazônia, cabendo lembrar que, na região, encontram-se cerca
de 30% do estoque genético do planeta, constituindo a maior fonte natural
existente de produtos farmacêuticos, bioquímicos e agronômicos.

Em síntese, o Sistema tem um objetivo básico, qual seja, integrar, avaliar e


difundir informações, de modo a permitir o planejamento e a coordenação das
ações entre os organismos de governo com atuação na Amazônia.

Visa otimizar os resultados das diretrizes políticas estabelecidas para a


região, respeitando a competência institucional de cada um dos parceiros
envolvidos. Este modelo proporcionará as condições essenciais para o alcance das
metas fixadas para o desenvolvimento da Amazônia, bem como sua proteção, de
acordo com os interesses da sociedade brasileira e com as práticas internacionais
de convivência com a natureza.

3.2.2 - O Sistema de Vigilância da Amazônia – SIVAM

Poderíamos conceituar o SIVAM como a infra-estrutura de meios técnicos


e operacionais com o objetivo de coletar, processar, produzir e difundir os dados
de interesse das organizações integrantes do SIPAM. Em outras palavras, caberia
dizer que constitui uma rede de coleta e processamento de dados, por diversos
órgãos que trabalham na Amazônia, que são levantadas, tratadas e integradas.

Para levantar os dados, o SIVAM conta com um considerável aparato de


equipamentos que inclui: satélites e aeronaves de vigilância e sensoriamento,
estações e radares meteorológicos, plataformas de coleta de dados, radares de
vigilância fixos e transportáveis e sensores de monitoração de comunicações,
entre outros.

Consegue, assim, montar uma grande base de dados e todos os “órgãos


parceiros” podem compartilhar desse conhecimento, eliminando a duplicação de
esforços e adequando a utilização dos meios disponíveis para a realização de
tarefas, sempre respeitando as competências institucionais.

38
O Sistema têm como principal missão o conhecimento da Região
Amazônica e a vigilância de toda a sua área.

As ações estratégicas que foram desenvolvidas durante a implantação do


Sistema, estão baseadas na Exposição de Motivos no 194, de 21 de setembro de
1990, que fixava os seguintes objetivos:

• gerar conhecimentos atualizados sobre a Amazônia brasileira;


• criar condições para que os órgãos setoriais do Governo se
integrem na busca de soluções para a proteção da Amazônia;
• sistematizar o controle, a fiscalização, a monitoração e a vigilância
da região;
• expandir e aprimorar os meios de comunicações; e
• integrar diferentes recursos técnicos com o objetivo de reduzir o
esforço, assegurar a dinâmica do processo e a eficácia dos
resultados.

Ao mencionarmos a abrangência do Projeto, cabe ressaltar que, desde o


primeiro momento, foi necessário garantir a atuação dos órgãos participantes, de
modo a viabilizar a coleta e o tratamento das informações necessárias para o
preenchimento da base de dados que alimenta o Sistema.

Na primeira fase foi assegurada a participação das Forças Armadas


(Marinha, Exército e Aeronáutica), da Agência Nacional de Águas (ANA), da
Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), da Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL), da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
(CPRM), do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do
Departamento de Polícia Federal (DPF), da Fundação Nacional do Índio
(FUNAI), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).

Por reunir órgãos que são regidos por legislações próprias, o


relacionamento jurídico para a celebração de acordos técnico-operacionais
mostrou-se bastante difícil, o que levou a Coordenação do Projeto a lançar mão de
Convenções Operacionais, modelo que já havia sido testado, com sucesso, no
âmbito da aviação civil. Estas Convenções foram celebradas com a participação
de representantes dos diferentes órgãos, que trabalharam em conjunto, de modo a
salvaguardar os interesses envolvidos.

39
Após a apresentação inicial do conceito do Sistema, podemos aprofundar
sua constituição. O Sistema é composto por três subsistemas:

1- Aquisição de Dados, por meio de uma rede de sensores (satélites,


radares fixos e móveis, estações meteorológicas, plataformas de coleta de dados
ambientais, auxílios à navegação aérea e de superfície, aeronaves de vigilância e
de sensoriamento remoto, antenas de monitoração de comunicações, entre outros)
destinados à busca de dados do ecossistema, das condições hídricas e
climatológicas, dos recursos minerais, dos movimentos aéreos e de superfície, das
atividades ilícitas e das comunicações clandestinas, entre outros;

2- Telecomunicações, por intermédio de um conjunto de equipamentos,


antenas, transmissores e repetidores que permitem o trânsito de texto, voz, dados
e imagens, de interesse dos usuários do SIVAM; e

3- Tratamento e Visualização de Dados e Imagens, utilizando uma


variada gama de recursos computacionais necessários à integração e interpretação
das informações coletadas, constitui-se na inteligência artificial do Sistema, dando
condições de visualização e operação. O programa utilizado para o gerenciamento
e a integração dos dados foi desenvolvido por uma equipe de técnicos brasileiros,
empregando recursos de computação, colocados à disposição pela empresa norte-
americana contratada para fornecer equipamentos e serviços – a Raytheon
Company. O programa é de arquitetura aberta e permite a incorporação ou o
aprimoramento de novos equipamentos, buscando o melhor desempenho.

Desta forma, as organizações participantes do SIPAM têm acesso às


informações produzidas pelo SIVAM, por meio de uma Rede de Serviços
Integrados, que utiliza recursos próprios de comunicações ou do Sistema Nacional
de Telecomunicações (SNT).
As principais funções do Sistema de Vigilância podem ser assim
resumidas:
a) Controle do Tráfego Aéreo e Defesa Aérea
Na vertente destinada à vigilância, o SIVAM possui forte interação com o
sistema de controle de tráfego aéreo. Antes da implantação do Sistema, somente
48% do território nacional recebia cobertura radar, correspondendo às áreas de
atuação dos Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
(CINDACTA) I, II e III.
De modo a proporcionar a ampliação da cobertura do restante do país,
foram utilizados pelo Projeto 19 radares fixos e 6 transportáveis, 5 aeronaves de

40
vigilância aérea, além de uma série de outros equipamentos e sistemas de auxílio
à navegação aérea que, somados aos já existentes na área, formam um novo
conjunto integrado de controle e proteção do espaço aéreo amazônico.
b) Monitoramento Ambiental
Trata-se de um aspecto de extrema importância para que o SIVAM atinja
plenamente seus objetivos. O Monitoramento Ambiental está baseado em radares
meteorológicos, estações de pesquisas climatológicas de superfície e altitude e
plataformas de coletas de dados, que medem e analisam, entre outras coisas, a
qualidade do ar e das águas, indicando níveis e prováveis fontes de poluição.
O Sistema, ao permitir o controle e vigilância da região, colabora na
defesa do meio ambiente, permitindo a precisa identificação das áreas que estejam
sofrendo ação predatória, por queimadas, derrame de mercúrio nos rios ou por
desflorestamento.
c) Vigilância de Atividades Ilícitas
A Vigilância constitui outra importante função do SIVAM, pois viabiliza
a segurança das fronteiras, o controle e o combate às ações clandestinas de
qualquer natureza, a prevenção e a repressão aos ilícitos, seja o narcotráfico ou o
garimpo ilegal, abrindo novas possibilidades para a cooperação civil-militar, em
programas que ultrapassam as fronteiras burocráticas e corporativas.
Ainda dentro da função Vigilância, o Projeto permitirá coibir a prática de
crimes ambientais, e poderá fornecer dados sobre queimadas, destruição de
recursos naturais, desflorestamento indiscriminado e poluição dos rios, permitindo
que os órgãos responsáveis possam agir oportunamente, antes que o mal se
agrave.
Em síntese, o material coletado proporcionará a produção e difusão de
informações, entre os vários órgãos públicos que desenvolvem ações de combate
aos ilícitos na região, em áreas como:
9 proteção ambiental;
9 controle da ocupação e uso do solo;
9 vigilância e controle de fronteiras;
9 identificação e combate ao crime (tráfico de drogas, armas e

41
contrabando); e
9 proteção de terras indígenas.
Sem dúvida, a extensa e pródiga rede de coleta, processamento e rápida
difusão de informações, abastecida dia-a-dia e em tempo real, representa para a
Amazônia um formidável avanço.

3.3 O PROGRAMA CALHA NORTE

O Programa Calha Norte (PCN) foi criado em 1985, pelo Governo Federal, para
atender à necessidade de promover a ocupação e o desenvolvimento ordenado da
Amazônia Setentrional, respeitando as características regionais, as diferenças culturais e
o meio ambiente, em harmonia com os interesses nacionais.

O Calha Norte tem se constituído na “menina dos olhos” da presença do Estado


na Amazônia, em que pese ter a sua ação limitada a determinados municípios, apesar das
restrições orçamentárias que tem enfrentado e a omissão política, excetuando as Forças
Armadas, de instituições estatais diversas.

Desde a sua criação tem sido um dos principais vetores do Estado Brasileiro para
a manutenção e ocupação do espaço e da Soberania Nacional e Integridade Territorial e
para a promoção do desenvolvimento regional e da Região Amazônica, numa área que,
originalmente, se estendia das calhas do Rio Solimões/Amazonas até as fronteiras com a
Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, enquadrando os Estados do
Amapá e de Roraima e partes dos Estados do Amazonas e do Pará, num total de 74
municípios e de 7.413 km de linha fronteiriça. (Figura 4)

42
Figura 4 – Área original do PCN

Fonte: Ministério da Defesa (2004)

Nos primeiros anos da sua existência, eram seus objetivos: aumentar a presença
governamental na área; ampliar as relações bilaterais com os países vizinhos; promover a
assistência e a proteção às populações indígenas; e intensificar as campanhas
demarcatórias.

Atualmente, para o período 2004-2007, seu objetivo pode ser resumido em


aumentar a presença do poder público na região de atuação do Programa Calha Norte:
contribuindo para a defesa nacional; proporcionando assistência às suas populações; e
fixando o homem na área.

Com a expansão de sua área de atuação, a partir do primeiro semestre de 2004, as


cifras que lhe dizem respeito são impressionantes, na medida em que passou a abranger
(Figura 5): 25% do território nacional; 3,5 milhões de habitantes; 25% da população
indígena do Brasil; 151 municípios, 95 na faixa de fronteira, mais os municípios
localizados na margem esquerda do Rio Juruá/AM e os municípios da Ilha do
Marajó/PA; 6 Estados: Amazonas, Amapá, Pará, Roraima, Acre e Rondônia; fronteira
com 7 países: Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia;
e quase 11 mil dos 15.719 quilômetros de fronteiras-terrestres do País.

43
Figura 5 – Área atual do PCN

Fonte: Ministério da Defesa (2004)

O Calha Norte, que na sua etapa pioneira era prioritariamente dirigido para a
Faixa de Fronteira, já esteve vinculado a diversos órgãos do Governo Federal e, hoje, está
subordinado ao Ministério da Defesa.

Segundo o Gerente do Projeto Calha Norte, a sua missão é resumida em duas


vertentes de atuação:

• uma militar, a de contribuir para a manutenção da soberania nacional


e da integridade territorial da Região da Calha Norte; e
• outra, civil, a de contribuir para a promoção do desenvolvimento
regional na sua área de atuação.

44
Para assegurar a manutenção da soberania nacional e da integridade territorial o
Calha Norte transfere recursos complementares aos orçamentos aprovados para a
Marinha, Exército e Aeronáutica, como instituições executoras das Ações do Programa
diretamente ligadas a vertente militar.

Para implementar a vertente civil, que busca a promoção do desenvolvimento


regional na sua área de atuação, o Calha Norte:

• transfere, mediante a realização de convênios, recursos para os


Municípios realizarem pequenas obras de infra-estrutura na Região;
• transfere recursos para os Batalhões de Engenharia e Construção do
Exército, para a Comissão de Aeroportos da Região Amazônica da
Aeronáutica (COMARA) e demais unidades militares capacitadas a
executar obras em prol das populações carentes; e
• promove a elaboração de estudos prospectivos para atender as
demandas da Região.

No que diz respeito às ações voltadas para o desenvolvimento regional, as


atividades do Programa visam a atender a necessidade de promover a ocupação e o
desenvolvimento da Amazônia Setentrional de forma ordenada, respeitando as
características regionais, as diferenças culturais e o meio ambiente, em harmonia com os
interesses nacionais.

O Calha Norte busca fortalecer a cidadania dos brasileiros desassistidos e


contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da região, por intermédio de obras
sociais e de infra-estrutura básica.

É a seguinte a situação atual do Calha Norte, segundo o seu Gerente:

“O processo revitalizador do PCN, desencadeado em 1997, vem se concretizando


pela introdução progressiva de metodologia na gestão do Programa, rigorosamente
afinada com o propósito governamental de integração de suas ações na Amazônia,
consubstanciadas no Plano Plurianual 2004-2007, reconhecendo, assim, as dimensões e o
alcance social do Programa para a região da Calha Norte.”

O Programa Calha Norte, atualmente, conta com 41 parceiros, como o Comando


da Marinha, o Comando do Exército, o Comando da Aeronáutica todos os Estados da
Federação que compõem o projeto, quase todos os ministérios e vários outros.

Varias obras já estão concluídas ou encontram-se em andamento, significando um


investimento na ordem de 180 milhões de dólares com recursos do PCN:

45
Por fim, é necessário que se entenda que o programa Calha Norte transcende em
muito o aspecto de vigilância daquela região de relevante interesse político-estratégico,
para se mostrar como um programa governamental arrojado e multidisciplinar, de
considerável alcance social para os brasileiros, cuja presença em áreas inóspitas é um
fator importante para assegurar a jurisdição brasileira sobre a região.

CAPITULO IV

DESENVOLVIMENTO E SEGURANÇA REGIONAIS PROMOVIDOS


PELAS AÇÕES DAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS NA AMAZÔNIA
“Soberania é o atributo essencial do
Estado-Nação, de decidir, com liberdade
plena, sobre a busca e manutenção dos seus
objetivos.”
(Celso Amorim)
4.1 Ações Conjuntas dos Países Amazônicos

Por décadas, o governo brasileiro tem atuado na região Amazônica de forma


isolada e diversos organismos voltam-se para a mesma realização do mesmo tipo de
tarefa, sem a necessária coordenação das ações, compartilhamento de conhecimentos
obtidos e nem na otimização de recursos públicos empregados. Como resultado é o
reconhecimento, por parte do país, de que pouco sabia sobre a vasta região e, também,

46
que não havia controle eficaz sobre as ações que ali eram praticadas.
A Região Amazônica com seu imenso arco setentrional, desde Tabatinga, na
fronteira com a Colômbia, até o Amapá, na fronteira com a Guiana, apresenta uma
vulnerabilidade apreciável às questões de invasão de áreas indígenas, ocupação
desordenada de terras, ações predatória, principalmente por parte de madeireiras e dos
garimpos, do narcotráfico e contrabando em geral que se desdobram, principalmente, a
partir dos países vizinhos para o território brasileiro.
Com as facilidades que o transporte aéreo oferece em razão da incipiente infra-

estrutura do transporte terrestre e de algumas limitações impostas ao transporte fluvial,

essas atividades ilícitas passaram a usar, ostensivamente, aeronaves de pequeno porte

como apoio principal. Estes vôos irregulares apresentam-se como um dos mais

importantes desafios a serem enfrentados naquela área. Este expediente, além de

representar uma séria ameaça à soberania e à integridade do território nacional, também é

responsável por prejuízos econômicos e sociais consideráveis para o país.

Não obstante o empenho dos diversos órgãos governamentais na busca de

soluções para os problemas da Amazônia, ainda não foi possível alcançar as metas

almejadas, em virtude da carência de ações capazes de oferecer respaldo às tarefas de

controle e defesa em toda a imensa área em questão.

Portanto, vencida a etapa pioneira de implantação de projetos voltados para a

defesa e monitoramento do espaço Amazônico, cresce a importância do encontro de

soluções diplomáticas para enfrentar os novos desafios que se apresentam, tendo em vista

o agravamento de certas tendências presentes na região.

Destaque deve ser feito ao Tratado de Cooperação Amazônico – TCA, ou Pacto


Amazônico, que, sob inspiração da diplomacia brasileira, foi assinado em julho de 1978,
pelos países condôminos da imensa bacia hidrográfica do rio Amazonas, quais sejam:

47
Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
Tem por objetivo promover o desenvolvimento sustentável da região, através do
estreitamento das relações bi e multilaterais entre os países signatários, com a
intensificação comercial, cultural, científica e tecnológica entre as partes. Sua estratégia
baseia-se no incremento dos contatos entre governantes, abrindo caminho para a
aproximação entre os povos amazônicos, a fim de que, juntos, possam estabelecer uma
colaboração diversificada para o aproveitamento dos seus recursos naturais e promover a
integração econômica, política e social da área ao restante de seus territórios. Essa
colaboração recíproca tem o intento de eliminar o caráter episódico e descontinuado que,
até agora, tem marcado e prejudicado o crescimento e a segurança regional.
Dos seus vinte e oito artigos, podemos destacar os seguintes princípios:
− a soberania de cada país-membro na promoção do desenvolvimento
sócio-econômico, na preservação do meio-ambiente e na exploração dos
recursos naturais dos territórios amazônicos sob sua jurisdição;
− a igualdade absoluta entre todos os signatários do pacto; e
− a competência exclusiva dos países da área no desenvolvimento e na
proteção da Amazônia.
Em reunião realizada, em 1995, em Lima, Peru, entre os Ministros das Relações
Exteriores dos países da região, foi reafirmada a importância da Amazônia como fonte
essencial de matéria-prima para as indústrias alimentar, química e farmacêutica, bem
como recomendada a formulação de planos e estratégias para a preservação do meio
ambiente e a promoção do desenvolvimento sustentável da região. Na mesma
oportunidade, ficou decidido que à luz dos compromissos firmados na Conferência Rio-
92, os Países Partes deveriam aprofundar a cooperação voltada para a pesquisa e gestão
nas áreas de diversidade biológica, recursos hídricos e hidrobiológicos, transportes,
comunicações, populações indígenas, turismo, educação e cultura.
A Amazônia, em face de sua grandeza e potencialidade, deve merecer grande
atenção por parte dos países condôminos, sendo natural, portanto, a união desses países
em um bloco regional, procurando adotar soluções comuns para seus problemas, com a
finalidade de promover a integração e o desenvolvimento sustentado da área,
contribuindo para o aumento de sua segurança.

48
Como já vimos, o uso do espaço aéreo amazônico por aeronaves em vôos

clandestinos, em sua grande maioria envolvidas em atividades nocivas aos interesses

nacionais, apresenta-se como um sério problema e tornou-se uma prática comum entre as

atividades desenvolvidas por grupos criminosos, devido à certeza da impunidade, uma

vez que, quando interceptada, a aeronave deixa o espaço aéreo brasileiro, retornando ao

aeródromo de origem fora do País.

Diante destas circunstâncias, torna-se fundamental a importância da articulação


entre os países limítrofes com a Amazônia para a construção de uma visão estratégica
comum, na busca de novas soluções para os seus desafios. No intuito de restringir a
prática dos vôos clandestinos, esta articulação seria materializada na forma de acordos
diplomáticos entre estes países, de tal maneira que permitissem ações coordenadas entre
suas Forças Aéreas. Assim, qualquer aeronave em situação irregular, uma vez
interceptada, seria acompanhada em cada um deles, por um caça de sua força aérea, até
que, não restando outra alternativa, fosse obrigada a pousar. Esta atitude possibilitaria a
atuação efetiva das autoridades competentes e a conseqüente punição dos envolvidos na
prática daquele ilícito, permitindo que fossem tomadas as providências que se fizessem
necessárias. Além disso, coibiria o uso da Amazônia como rota para o tráfico de drogas e
outras práticas nocivas aos interesses nacionais.
A proposta de se promover acordos com os países amazônicos, para solucionar

o problema do uso do espaço aéreo por aeronaves em vôos clandestinos naquela área,

valoriza o sincronismo entre a ação diplomática e a ação militar, cada uma na sua esfera

de atuação, na busca de soluções para garantir a soberania e a integridade do território

numa das regiões mais cobiçadas do planeta.

Para se estabelecer acordos de cooperação militar na área de defesa do espaço

aéreo da Amazônia, faz-se necessário, primeiramente, uma certa convergência de

entendimentos na busca de um perfil estratégico comum para a região. A partir deste

49
consenso, serão estabelecidas as diretrizes que deverão nortear os caminhos para o

estabelecimento dos acordos.

Neste contexto, um importante trabalho de aproximação regional é aquele


iniciado com o Primeiro Encontro de Comandantes das Forças Aéreas da América do
Sul, ocorrido no Brasil em 2001. Nesta ocasião, os debates versaram sobre a
possibilidade do emprego conjunto dos poderes aéreos na região. Do mesmo modo,
em mais uma atitude de aproximação demonstrada, os Ministros da Defesa da
América do Sul reuniram-se no Rio de Janeiro, no dia 23 de abril de 2003, por ocasião
da Feira de Defesa da América Latina. O encontro demonstrou a necessidade de se
concentrar esforços nas tentativas de corrigir os desequilíbrios sociais que afetam o
continente.

O desejo de maior entrosamento entre os Governos da América do Sul já se


espelha em uma agenda de encontros, de freqüência raramente vista, com os líderes
dos países da região, além, naturalmente, do diálogo permanente entre suas
Chancelarias. Estes fatos demonstram que a região já atingiu maturidade suficiente
para alcançar uma identidade política e estratégica própria. Estes países compartilham
os mesmos problemas e a perspectiva de união constitui-se numa oportunidade ímpar
de se encontrar melhores soluções para eles.

No contexto da crescente integração latino-americana, o Brasil tem procurado

expandir e aprimorar os laços de cooperação com os países amazônicos. A crescente

presença do país no cenário internacional e a conseqüente intensificação dos contatos

geraram, nos últimos anos, um aumento significativo de atos internacionais negociados e

concluídos sobre as mais diversas matérias.

Atualmente, busca promover o fortalecimento do TCA como instrumento multilateral

em favor do desenvolvimento sustentável da região. Ao longo dos anos, estes países

têm percebido que possuem problemas comuns diante dos quais estão unidos, tais

50
como, a luta pelo desenvolvimento econômico social e a proteção de seus territórios e

de suas instituições contra as atividades do crime organizado transnacional.

A indicação da solvência do problema, que retrata o propósito de eliminar os

seus efeitos adversos, convergiu para a implementação de acordos com os países

amazônicos, a fim de se vencer os óbices que a faixa de fronteira impõe aos meios de

defesa e, conseqüentemente, à perfeita consecução dos projetos de integração da região

ao restante do país. O esforço de vigilância do espaço aéreo não se justifica, se não

houver uma atitude positiva do controle do espaço aéreo, qual seja o cerceamento de

atividade aérea ilícita.

A execução de uma costura diplomática e militar, no desenvolvimento de

instrumentos que fortaleçam as ações de controle e defesa e assegurem a soberania

nacional, produzirá resultados benéficos para o país, sem trazer custos adicionais. Além

disso, influenciará diretamente no resultado das ações da Forças Armadas Brasileira para

a manutenção da soberania e integridade da região Amazônica, contribuindo para

erradicar o problema existente hoje naquela área.

A partir destas constatações, verifica-se que a implementação destes acordos

constitui a própria solução do problema, sendo esta adequada (produz benefícios),

praticável (pela existência de meios – recursos humanos) e aceitável (os benefícios

auferidos compensam os custos, considerando também os riscos envolvidos).

No caso dos Projetos sob a responsabilidade das Forcas Armadas na Região

Amazônica, a concepção integrada faculta vislumbrar que, em diversas áreas e de varias

maneiras, será possível ocorrer a participação dos paises amazônicos em modalidades de

interação e cooperação nas áreas de meteorologia, sensoriamento remoto, cartografia,

51
preservação da flora e da fauna, proteção de áreas indígenas, controle do espaço aéreo,

controle de atividades ilícitas, planejamento e controle de operações conjuntas, etc.

Alguns acordos já foram assinados e ratificados pelo governo brasileiro, como é

o caso do acordo Brasil/Peru para cooperação na proteção e vigilância da Amazônia, em

2003, que prevê o compartilhamento de dados e informações produzidos pelo SIPAM e

sistema similar existente no Peru.

A Amazônia, na atual conjuntura mundial, vem se mostrando uma terra de

porvir e, sobretudo, de desafios. Em um mundo baseado cada vez mais na

competitividade econômica e na capacitação tecnológica, mas que ao mesmo tempo dá

extraordinária importância à proteção ambiental, a Amazônia cresce como potencial e

como oportunidade para os países que sobre ela detêm soberania e responsabilidade.

Estas considerações, acerca da importância da Região quanto aos aspectos

naturais, econômicos e tecnológicos, permitem vislumbrar outros fatores positivos.

Pode-se antever, em virtude da dinâmica de relações que ela vai provocar, um maior

aproveitamento do enorme potencial da Região em benefício das populações locais,

estimulando um maior desenvolvimento regional, baseado numa estrutura que não seja

depredadora dos recursos naturais da floresta e que utilize tecnologias que evitem

danos ao ecossistema.

Além disso, o estreitamento das relações com os países vizinhos é de

fundamental importância para a projeção e concretização dos interesses brasileiros,

superando as barreiras que contribuem para que a Região permaneça uma área isolada

do Poder Central, à mercê de atividades nocivas aos seus interesses, será possível,

52
através de um desenvolvimento sustentado, promover a sua inserção na economia

nacional e, conseqüentemente, sua plena integração ao restante do país.

Muito, ainda, deverá ser realizado futuramente, e, portanto, algumas

providências deverão ser tomadas. Atualmente, o Brasil é o único país da Região que

possui um sistema de proteção implantado, capaz de monitorar a área. Assim, deverão ser

discutidas formas de obter acesso rápido às informações produzidas pelo SIPAM e, por

conta disto, criar instrumentos que permitam o uso comum destes dados pelos países

contratantes dos acordos, de modo que seja possível uma rápida troca das informações

geradas, viabilizando, assim, a consecução dos objetivos e das metas almejadas.

Estes estudos poderão ser definidos em negociações com a participação dos

Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores. Poderão, ainda, ocorrer reuniões de

periodicidade semestral ou anual, com o objetivo de discutir assuntos técnicos,

acontecimentos, novidades e necessidades de reajustes que a solução poderá requerer.

Além disso, promoverá a imperiosa necessidade de uma eficaz coordenação de todos os

órgãos de fiscalização competentes, cada um na sua esfera de atuação, que estarão

envolvidos na conquista das metas desejadas.

O estreitamento das relações entre os diversos órgãos dos Governos Federal,

Estadual e Municipal, por meio de Termo de Cooperação já existente entre a União e os

Estados do Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia e Roraima, proporcionará um aumento na

eficácia das ações que se fizerem necessárias para a consecução dos objetivos almejados.

Deverão ser definidas as estratégias que irão nortear as ações conjuntas dos

representantes do Poder Público Federal. É necessário atentar para a perenidade das

operações da Polícia Federal, do IBAMA e da Receita Federal. Este será um fator

53
fundamental, visto que são autoridades competentes para a abordagem dos envolvidos na

prática dos delitos e crimes transnacionais mais comuns na Amazônia.

Neste sentido, ficará evidenciada a presença do Estado na Região, oferecendo

argumentos irrefutáveis à opinião internacional, caracterizando o interesse do país no

trato dos assuntos amazônicos, promovendo a efetiva manutenção da integridade e

soberania do território, contribuindo para o esvaziamento de manobras contrárias aos

interesses nacionais na área.

Paralelamente a este contexto, o estabelecimento dos acordos sugeridos

proporcionará uma maior agilidade no desenvolvimento de programas em torno de um

interesse comum, que é a preservação da integridade do espaço aéreo amazônico e o

aproveitamento racional das riquezas da Região pelos países que sobre ela detêm

soberania. Estas questões exigem uma perspectiva de integração. Desta forma, será

possível promover uma cooperação mais eficaz por meio de ações conjuntas e troca de

experiências nos campos do desenvolvimento regional e da pesquisa científica e

tecnológica, com vistas ao desenvolvimento harmônico de seus respectivos territórios

amazônicos.

Será uma resposta corajosa e adequada aos desafios contemporâneos que se


vêm somar ao imperativo de defender e desenvolver a Amazônia em bases sustentáveis,
respeitando e protegendo o extraordinário patrimônio ambiental que ela oferece aos
países que sobre ela têm soberania e responsabilidade.

4.2 Forças Armadas em Ações de Desenvolvimento e Segurança Regionais


O Governo tem priorizado a atuação das Forças Armadas em iniciativas de
apoio ao desenvolvimento econômico e social do País, sem comprometimento de sua
missão principal de manutenção da soberania e da integridade territorial.

54
Em 2005, o Governo, por intermédio do Ministério da Defesa, apresentou à
sociedade a nova Política de Defesa Nacional (PDN), documento condicionante de mais
alto nível de planejamento de defesa, e que tem por finalidade estabelecer os objetivos e
as diretrizes para o preparo e o emprego da capacitação nacional, com o envolvimento
dos setores civil e militar, em todas as esferas do Poder Nacional. A PDN anterior datava
de 1996 e já não mais se adequava às necessidades do País.
Em 2006, deverá ser concluída a revisão da “Política Militar de Defesa” e da
“Estratégia Militar de Defesa”, documentos que delinearão a arquitetura militar que o
País requer, a fim de atender as suas demandas nessa área nas próximas décadas.
Na Amazônia, o Exército Brasileiro deu continuidade à transferência da 2ª
Brigada de Infantaria de Selva, de Niterói/RJ para São Gabriel da Cachoeira/AM, o que
aumentará o efetivo militar na região em cerca de 2.400 homens. Prevê-se para o final de
2008 a transferência e implantação definitiva dessa unidade de selva, perfazendo um total
de 29.000 homens na Região.
Ainda com esse objetivo, parceria entre o Ministério da Defesa e os Ministérios
da Saúde e da Educação incentivou profissionais da área de saúde a prestarem o serviço
militar na Amazônia, facilitando a implementação de programas de educação continuada
à distância e a participação em pesquisas científicas, além de viabilizar programas locais
de residência médica em medicina comunitária e de médico da família. O grupo de
profissionais envolvidos no programa é composto de 1.071 efetivos, contemplando
médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários de várias especialidades.
Foi ampliada, como já vimos, a área de abrangência do Programa Calha Norte,
que passou a contemplar a Ilha de Marajó (16 Municípios) e os Estados de Rondônia (27
Municípios) e Acre (22 Municípios). Dessa forma, o Calha Norte, anteriormente com 74,
agora cobre 151 Municípios, sendo 95 deles na faixa de fronteira, em seis Estados da
Federação, com uma população de cerca de 5.300.000 pessoas, aí incluindo 30% da
população indígena do Brasil.
Ao final de 2005, foram celebrados 43 convênios com Municípios integrantes
do Programa Calha Norte, atingindo a cifra de R$60,2 milhões. Esses recursos permitirão
atendimento a demandas essenciais nas áreas de educação, saneamento básico e infra-
estrutura em 21 Municípios carentes.

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Para 2006, estão reservados cerca de R$40 milhões, destinados a obras de infra-
estrutura básica nos Municípios mais carentes da região.
Por sua vez, o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) foi concluído, em
julho de 2005, antes do término do prazo contratual e com economia superior a US$50
milhões do valor financiado. A implementação do SIPAM propiciará uma nova era no
trabalho integrado das instituições governamentais no monitoramento da Região
Amazônica.
Conforme estabelece a nova Política de Defesa Nacional, foi intensificada a
realização de exercícios de adestramento combinados, envolvendo as três Forças
Armadas, possibilitando a elevação do grau de integração entre elas e, principalmente,
dinamizando a eficiência operacional dos meios militares brasileiros na Região. Além
disso, essas operações foram sempre direcionadas para as faixas prioritárias do território
brasileiro no combate aos delitos transnacionais, como é o caso da Amazônia. Ressalte-
se, ainda, que nessas operações os meios de comunicação, comando e controle das Forças
Armadas foram intensivamente testados, relativamente aos seus atributos de segurança e
efetividade. Para 2006, estão previstas diversas operações militares, pelos diversos
Comandos Militares, principalmente e prioritariamente no CMA.
O Projeto Rondon, projeto da área de Educação, com apoio da Forca Aérea e do
Exercito, foi retomado em janeiro de 2005, depois de permanecer desativado por 14 anos.
Foram realizadas três operações nos Estados do Acre, Amazonas e Minas Gerais.
Participaram dessas operações 700 estudantes universitários de diversas instituições de
ensino superior do País, em 40 Municípios brasileiros. A missão do Rondon é levar,
durante o período de férias escolares, estudantes universitários a regiões carentes do País,
possibilitando a esses jovens brasileiros o conhecimento da realidade nacional e a
formação de mentalidade cívica e solidária.
Merece destaque, também, a ativação das linhas do Correio Aéreo Nacional
(CAN) no Acre e ao longo dos rios Juruá e Purus, levando apoio às comunidades carentes
e integrando, cada vez mais, o nosso território e o nosso povo. Subsidiariamente a essa
atividade, já foram realizados mais de 10.000 atendimentos médicos e odontológicos
àquelas populações. Para 2006, pretende-se priorizar o atendimento e o apoio a essas
comunidades carentes. Além das linhas nacionais, foi reativada a linha internacional do

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CAN, que atende a todas as embaixadas brasileiras na América do Sul, contribuindo para
a integração e para a aproximação dos países sul-americanos, dando prosseguimento à
política vista no item anterior
Também cabe mencionar a criação de três bases aéreas no arco amazônico, em
São Gabriel da Cachoeira, Eirunepé e Vilhena. Essas bases aumentarão a presença da
Aeronáutica e do Estado Brasileiro na Amazônia, trarão desenvolvimento e possibilitarão
uma maior vigilância e controle de nosso espaço aéreo próximo à fronteira oeste,
aumentando a seguranca na Região.
Assim, como pudemos verificar, o governo brasileiro tem investido de forma
gradativa na Região Amazônica e isso é mais claramente percebido quando verificamos
que cerca de 50% dos macro-objetivos do Plano Plurianual 2004-2007 (PPA) estão
contidos dentro do conjunto de 40 programas e das 302 ações dirigidas à região
Amazônica e devem se transformar em vetores dinâmicos sobre este espaço.
As Forcas Armadas Brasileiras, dentro desses programas, participam de forma
completa em nove deles, como já vimos o exemplo do SIPAM, SIVAM e Calha Norte e
na forma de ações, em parceria com outros Ministérios e Órgãos do governo, em mais
catorze deles, mobilizando um montante de recursos em torno de 7,71 bilhões de dólares
no período de aplicação do PPA(2004-2007).
Essa visão, ainda que superficial, da atuação das Forças Armadas na Região
Amazônica deve servir de estímulo e incentivo para uma análise abrangente da Questão
Nacional, formando uma consciência no âmbito da sociedade, do imenso acervo que nos
foi legado por nossos antepassados e pelo qual temos o dever patriótico de defendê-lo e
preservá-lo para as futuras gerações desse nosso país continente, não sendo isto um
privilégio das Forças Armadas, mas um dever de toda a sociedade brasileira.
As ameaças históricas permanecem vivas e nesse limiar do Século XXI se
apresentam sob os mais variados disfarces e com conotações especiais habilmente
formuladas por Organismos Internacionais, implantados e manipulados pelo poder
hegemônico alienígena, ressaltando em repetidas oportunidades os interesses da
humanidade e o direito de usufruto das nossas riquezas naturais.
Para a formulação dos Objetivos Nacionais e como fundamento da Questão
Nacional, mais do que nunca fazem-se atuais as colocações do saudoso Embaixador

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Araújo Castro, que em 1971, em Washington, falando aos Estagiários da Escola Superior
de Guerra, alertava para uma clara intenção de cerceamento ao desenvolvimento das
nações e afirmava que "em várias oportunidades, no cenário das Nações Unidas, perante
a Assembléia Geral e perante o Conselho Econômico e Social, o Brasil tem procurado
caracterizar o que agora se delineia claramente como firme e indisfarçada tendência no
sentido do Congelamento do Poder Mundial. E quando falamos de poder", prossegue o
Embaixador, "não falamos apenas de poder militar, mas também de poder político, poder
econômico, poder científico e tecnológico".
E concluía esse grande expoente da nossa diplomacia: “Nenhum país escapa ao
seu destino e, feliz ou infelizmente, o Brasil está condenado à grandeza. A ela condenado
por vários motivos, por sua extensão territorial, por sua massa demográfica, por sua
composição étnica, pelo seu ordenamento socioeconômico e, sobretudo, por sua incontida
vontade de progresso e desenvolvimento.
As soluções medíocres e pequenas não convêm nem interessam ao Brasil.
Temos de pensar grande e planejar em grande escala, com audácia de
planejamento e isto simplesmente porque o Brasil, ainda que a isso nos conformasse, não
seria viável como país pequeno ou mesmo como país médio. Ou aceitamos nosso destino
como um país grande, livre e generoso, sem ressentimentos e sem preconceitos, ou
corremos o risco de permanecer à margem da história, como povo e como
nacionalidade.".

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BIBLIOGRAFIA

• Amazônia: uma abordagem multidisciplinar/ texto e coordenação Renato


Vanderlei Anselmi, São Paulo, Editora Iconi, 2004.
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