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Floriandpolis, 23/10/83 N20 = Cr 150,00 Estamos aqui. Finalmente saiu 0 Croqui, breve esbogo do que real. ‘mente gostariamos de fazer. Ndo vamos gastar 0 precioso espaco deste edi torial discorrendo, como usualmente se faz, sobre 0s “esforgos desmedidos” {spends para produit este pasuim, nem fazer quaisuer apresntaees ‘ou agradecimentos a todos aqueles que direta ou indiretamente tiveram al ‘guma participago em sua realizaga, Estamos vivendo um periodo de grande efervescéncia politica em | n0Ss0 eu1s0, haja vista os uitimos acontecimentos que presenciamos. Fala- remos sobre um assunto em especial, mas que de certa forma envolve toda a discussfo que se vem levando no departamento e na universidade como um todo. Tratase do polémico caso Luiz A. Fuganti. Disse certa vez Berthold Bretch sobre 0 sentimento de optessa0: “Do rio que tudo arrasta 2 diz violento, mas no se dizem violentas as margens que o oprime Perguniariamos entgo sobre Fuganti, o que significa a violéncia de um indi- viduo sufocado pela rigidez dogmética dos regimentos comparada a violén- cia insana, truculenta de um sisiema educacional fundado na aprendizagem autoritéria, que transforma a universidade numa maquina de adestratamen- to de quadros técnicos profissionais para a manutenga0.e aperfeigoamento status quo? Nao queremos respirar uma universidade despedagada, colcha de ® retalhos moldada pela concep¢d0 empresarialista de progresso criada pe- 10s apotogistas do fascismo como Harbison e Myers — “Education Manpower and Economic Growth”. O que queremos ¢ respirar uma universidade so- bretudo humanizada, construida sobte 0s alicerces fecundos da criativida- de, do ndo-conformismo ¢ das transformagGes qualitativas e isto implica, necessariamente em educagfo politica, c Ousamos falar em fascismo? Sim, e saibam que fascismo nfo é uma ® palavra de “baixo calao”, como querem alguns nem uma pégina da histria , Virada hd 38 anos, Estd mais presente do que nunca na atual sociedade cor- porativa do capitalismo monopolista, sob a mascara das democracias cons. titucionais. Vimos paulatinamente, todas as formas de protesto e negagio se- rem eliminadas ov facilmente filtradas e digeridas como parte de sua dieta salutar; Vimos a criaggo de um universo verdadeiramente totalitério onde os opostos conveigem para um mesmo ponto, omnando 0s partidos, pro gramas e ideologias indiferencitveis entre si. Sob 0 jogo de um todo tepressivo, a propria liberdade ¢ transforma- 44a em mais ma decepcionante faceta da civilizaedo mercantil: A iberdade de escolher enire 0 maior nimero possivel de bugigangas oferecidas pela sociedade de consumo. Seja 0 deleite de uma obra de arte ou os horrores a arquitetura funcional, Perguntariamos por ultimo aos nossos orientadores, pessoas ditas de grande saber e bom senso, conhecedoras de Marx, Freud e até Nietzsche, como podem ser coniventes com ume situacdo to flagrante de castragao da liberdade de pensamento, palavra e consciéncia, sabendo que esta se re- produz do vértice mais alto do sistema até nossos ateliés? ou os senhores| ainda créem que devemos aceitar nossa ignoréncia como justificativa de sua existéncia? CROQUI - pagina 2 we Um Cursoem Agonia Em pelo sée, XX, épocaem que ohomem pisou o solo lunar e a ciéncia atinge graus de onhecimentos inimaginaveis, vive numa grande ilha do oceano Atlantico, uma peque- na comunidade que todos os diss, tateia pa- redes de tiolos aparentes, & procura de uma sada, ou pelo menos, de uma luz que orien- te Mere coincidéncia ou puro propésito, es st analogia aparentemente infantil, reflete (@ talvez ndo tao visivel), a situsgfo’em que se encontra a maioria dos estudantes de ar- quitetura Colegas, analisemos profundamente a si- tuapio em que se encontra nossa escolaenos- sas condigdes de ensino, E urgente que nos Preparemos para a discussfo da escola, que realmente nos interessa ¢ que soja Util (pelo ‘menos um pouco), 8 comunidade. O semindrio de arquitetura vem af, © partisipagao de todos nas dscussbes ¢ Funda- mental, nfo com 0 intuito de descobrir ‘uma formula salvadora, mas pelo menos, com a esperanga de resgatar e salvar o pou: 0 que restou de nosso curso, Reforma Universitaria LUIZ ALBERTO AA reforma universtitia tem por objetivo, direcionar a Universidade as necessidades das andes empress mulacionsy,aividads Jniciada com a “REVOLUGAO” de 1964, Com base nos acordos MEC-USAID, plano elaborado pelo professor norte-ameri. cano Rudolf Acton, ressaltamos abaixo al- ‘guns pontos desta politica: “1--Criagao de um organism centralizador capaz de desenvolver uma filosofia edu- cacional para o continente; 2. Transformagdo da Universidade Estatal em Universidade Privada; 3- Bliminaggo de interferéncia estudantil na Administracdo, tanto colegiada como ‘gremial; 4- Colocagz0 do ensino superior em bases rentéveis, cobrando matriculas crescen- tes durante 0 periodo de dez anos, 5-Estruturagio em moldes empresariais, adotando a Universidade administrado. tes para postos/chave.”” ESPACO & ARQUITETURA. Universidade em debate. Porto Alegre, Coojornal (1978), 9p, EXPEDIENTE CROQUE publicagzo do Centro, Académico Livre da Arquiteturs (CALA), Parcitiparam desta cdicdos Cesar Refosco, Chavis Medeiron, Gilson Wexsler Michels, Luis Alberto de Souse, Luis Antonio Fuganti, Marco Tedoro Kohler, Mario César Coslho, Nereu Frustine Cent, Prat cila de Olivers Novo, Roberts Fiippi INTERFASE—— Equipes campeds dos 3.%s jogos internos arg: ) Medallas indviduais futsal masc, 9 « Masturbirds hond. fem. area tigia\Birdelle) fut sal fem. -P3-P5 ol, menos vasada = Chiestina (Birdelle) Volet mase 29 =x had mas auiteino Walter (P| Wolel fem. Birdeie - Ps oleiro menos vasedo - Roberto (F9) basq. mase. - P9 = Peathelhos basa, fem cesuinha = Lita \P9 basa, fem. - P3 - Bidelle basq. mase.eestinia Raul (09) hand. mac. - PS © Penthethos ut sala mast. aitheio » Alcimir (Equigesso) hand: fem. - Bindelle = P3 fol. menos vaste “cilber (P9) mada: PS Ta Tudo Bem, Mas Ta 0 fato deo sistema de atelier vertical coletivo nfo haver funcionado, faz com que todas as propostas de trabalho dos estudantes sejam simplemente avatiadas por um corpo decente, que por também ser (ragmentado, leva somente a juvzos de lei, nao eneaminhado 20 coletivo. Por sua vez, o momento estudantil na arquitetura dispersou-se, e seria duvidoso _apontar as causas (que nfo sf0 somente internas ou ithoas); falta de espago fisico adequado, pouca postura critica de nossa sdugdo de conhecimento e de quem nos cobra esta producdo, além do excessivo fechamento da universidade em si mesma, Se no hé uma discussfo no ambito escolar, a verdade € que também ndo 0 hé a0 nivel das fases e dos grupos. Cada pro- jeto labora o seu método de avaliagio, a sua forma de trabalho, imposto ou nfo, com razo ou sem razao, numa represen: tagZo mestre aluno, que faz com que a cada fase. o estudante se adapte a cada Manifesto (... .) Nao se pode fazer arquiterura se ela ndo for una extensdo da nossa carne criada @ registrada no tempo, ndo reduzida ao ‘espaco tridimensional mas extendida e pro- Jetada para 0 expaco do sentido, 0 segun- do espago. Ndo obstante, é espantosa a ft- tilidade que ganhou o espaco humano quan- do a chvilizagdo sucumbiu as poténcias rea- tivas dos fracos e 0 capitalismo e 0 posttt- vismo tomaram-se hegemdnicos no univer 30 humano. Vivemos em espagos mercado- rias, espagos disciplinares, espagos admi- nnistradores, espagos como inimigos carn voros, espasos antropofigicos que sfo par. tes motoras da maquinaria da cultura oct dental. (...) (...] O que esta em julgamento aqui é ain- da algo mais nojeto. E essa perversa vonta-| de de assegurar 0 espaco arbitrdrio, “impe-| nemdvel"” e justiceiro desses ditos profes- Esquisito Mario Cesar Coetho “personalidade” ou “ideologia‘; como se Jf no bastasse o joguete da dispariedade ‘obrigat6ria de Algebra integral com maio- nese plistica urbanistica a nivel de um projeto qualquer, Em suma, em cada proposta de traba- Iho nfo hé um compromisso com a escola ‘em geral, mas com uma parcela muito pe- quena, de avaliadores e grupelhos, institu. cionalmente constitufdos, Neste sentido, a discussifo passa de ‘mesa em mesa, as pranchetas servem de apoio a0s cotovelos e as sufocantes en: ‘tregas finals, O espago torna.se de sugagdo de ener. ia, competigdes mediocres e algum pon- to de encontro, que poucas vezes termi nam em sim, As pessoas via escola sfo a escola ‘com todas as suas regras, suas normas de ‘bem estar e beleza que, além de todas as ‘nossas Iinguas, eu € vocés, s6 sabemos falar. de Guerra Luiz Antonio Fuganti sores que julgam terem para sio direito de iseiplinar e bestializar as suas vitimas: os cestudantes,(...) (....) Nada hd de mais pernicioso ecomupto que esse sentimento de dependéncia judi- cial que finca suas raizes da departamenta- zagdo, na fragmentacdo e na superespecia- lizacdo' de bestas umanas que comem er- vas da ninhas para apodrecerem nos des- campados sem sentido dos esgotos espa- ciais, Recuso-me a ser arquiteto (e até enver- gonho-me deste insulto) se chamam a is- So estes instintos subterineos que criam ‘gaiolas e fossas sépticas que limpam e puri- | ficam 0 que jamais deixard de feder: A civi- lizaedo rastejante e 0 inomindvet: a histéria de um erro, a histéria do triunfo da fraque- 2a, € 0 que é pior:0 culto a fraqueza.... (balada de fragmentos paraartigo vindouro) CROQUI- pagina 3 Aspectos da colonizacao alema em Santa Catarina GILSON WESSLER MICHELS Qs alemaes que vieram para o sul do Brasil durante todo 0 séeulo XIX provinhem de uma série de regides distintas da Europa Central. Tendo herdado as diversidades e he- terogeneidades de um meio extremamente segmentado tanto seja politica quanto social- mente, compunham uma demanda muito di. versificada, Oriundos, em grande parte, de peque- ‘nas vilas escassamente interligadas e donos de peculiaridades advindas dessa pouca liga (¢f0, desenvolveram, além de uma vida extre- ‘mamente introvertida, um admirdvel leque de simbolos culturais e sociais. Simbolos es- tes que serviram, j4 no Brasil, para 0 desen- volvimento de um sentimento aparentemen- te paradoxal - 0 controvertido Deutschtum teuto-brasileiro -, que acabaria por se confi gurar numa ideologia étnica incentivada so- bretudo a partir da segunda metade do sécu lo XIX; periodo este que marca o incremen- to € solidificagZo do processo de fixago das coldnias e também o aparecimento de publi- cages de lingua alem#, editadasno Rio Gran- de do Sul, Santa Catarina e Sa0 Paulo. Foram estas. publicagdes, na verdade que divulgaram eficazmente esse nacionalis- mo teuto-brasileiro que procuraya unir 0 apego 4 nova terra ao sentimento de fideli- dade aos velhos costumes e tradigdes do aus- ‘ero Destschtum europeu - termo sob 0 qual se abriga 0 conceito de germanidade (nes- te ponto poderfamos introduzir uma série de conceitos reativos a nacionalismo, nacionali- dade, cidadania e etnia, mas isto fugiria aos ‘objetivos presentes). Na arquitetura tals fatos se configuram como condicionantes importantes. Se por um lado havia uma origem comum, por outro a segmentaeZo dos povos de lingua germani- ‘eana Europa fez com que fossem desenvolvi- dos gradativamente modelos construtivos di- ferentes. E alguns desses modelos, devido & diversidade imigratoria, foram trazidos ps © Brasil, fazendo com que as colOnias se pe- caliarizassem e pudessem expressar suas ori- gens e costumes. Assim & que podemos no- tar imimeras diferengas entre a arquitetura de colonizagao alemé existente no Rio Gran- de do Sul e Santa Catarina, por exemplo. Se neste estado as construg6es ganharam um as ecto mais urbano, naquele ela jé 0 fot de eunho rural; por aqui houve mais verticaliza- go e valorizapzo do tijolo aparente, o que praticamente nZo aprece por If, Mas no pre- cisamos ir tfo longe para verificarmos tais diferengas; se quisermos reduzir 0 problema a uma microescala, elas também aparecem em colonias préximas como as de Blumenaut eJoinville, Mas nem tudo é heranga. Muito do que se tem hoje de significativo nio se restringe ao enxaimel de caracteristica européia, NZ hhouve apenas transplantagio, Houve, ¢ isso em maior escala, adaptagdo. Tanto € assim que podemos encontrar também construgses em pedras e outros tipos de tijolos com dis- pposigdes e configurayGes internas reformula- das, tendo j4, pouca ligagocom a Alemanha, Mas todo 0 processo de adaptago, em todo 05 nfveis, se deu antes em cima de uma cultura da qual osalemtes jamais abriram mao © que 86 comegou a se maleabiizar a partir do momento em que ficou claro, para eles ‘mesmos, que tinham uma nova pitria e que, ‘bem ou mal, seria ela que thes daria seus no- vos filhos, Hoje ainda nfo ¢ diffeil sentir — em al- gumas regides mais que em outras — todo 0 vigor dessa cultura. Podemos, por exemplo, it @ Blumenau ¢ conhecer uma das muitas Sociedades de Caga ¢ Tiro que sobrevivem, desafiando, com tudo que representam, 0 tempo. Pena, no entanto, que a mem6ria nfo seja cultivada e que, por falta de iniciativa incisivas a njvel de pesquisa, tenha de ficar sendo dirigida por uma iniciativa oficial que cia legislagdes absurdas, com algumas boas intengOes, mas formuladas em cima de pre- ‘missas totalmente equivocadas, A aquioscén- cia popular, desafortunadamente, respalda tal procedimento, Em tempo: A maioria dos trabalhos que co- tnhego sobre a colonizacdo alemd tém se res- tringido analiséla nos lugares onde ela se desenvolveu com mais recursos — Vale do Itajaf e Norte, H4, no entanto, 0 Sul, com suts comunidades esparsas ¢ pobres implan- tadas nas proximidades ou incrustradas nas antebordas da Serra do Mar. Nao possuem ‘las importincia similar em termos de polari- zagio econdmica as colonias do norte, mas fo vestigios e prova de que as dificuldades cxistiram ~ num grau bem maior —e de que, apesar de esquecidas, representam outro seg- mento imigratério importante, CROQUL- pagina 4

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