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Conceito,
princípios e atributos da jurisdição; 2. Direito Processual Constitucional; 3.
Instrumentos e medidas judiciais de busca da inclusão social pela jurisdição; 3.1.
Devido processo legal; 3.2. Razoabilidade na duração do processo; 3.3. Repúdio ao
formalismo exacerbado; 3.4. Assistência jurídica gratuita; 3.5. Tutelas de urgência:
cautelar e antecipada; 3.6. Tutelas específicas: inibitória, reintegratória (remoção do
ilícito) e ressarcitória específica; 3.7. Tutela de interesses transindividuais; 3.8. Casos de
inversão do ônus da prova; 3.9. Juizado Especial Cível; 3.10. Estímulo à conciliação e
transação; 4. Conclusão; 5. Bibliografia.
INTRODUÇÃO
Ubi societas, ibi jus. Já é conhecido o adágio romano. Basta, pois, haver
agrupamento de indivíduos, por mais rudimentar que seja, para que seja imperioso se
cogitar de regras de condutas e seu cumprimento.
A imposição de regras a certa sociedade não basta para que nela não existam
conflitos de interesses, pois, hodiernamente, a quantidade de seres suplanta o número de
bens e interesses.
A autotutela foi cedendo à medida que houve o fortalecimento dos Estados. Estes
passaram, pois, a assumir o dever-poder de solucionar os conflitos surgidos entre seus
membros.
O aumento das populações, mesmo nos grupos sociais primitivos, foi impondo,
gradativamente, a necessidade de que esses conflitos inter-individuais, naturais da
convivência social, passassem a ser regulados ou resolvidos por meio de atividade
estranha aos próprios esforços pessoais dos litigantes. No momento, porém, em que
surgem as necessidades de julgamentos externos às vontades das partes, vencidas as
etapas da autotutela e da autocomposição, vê-se o simultâneo aparecimento de
estruturas formais de poder, implicando, como é natural, a organização de mecanismos
também formais para pô-las em funcionamento e, ao mesmo tempo, de estilos
peculiares de conduta, inclusive de linguagem, para realizar o acesso
...foi a soberania, por sem dúvida, o grande princípio que inaugurou o Estado
Moderno, impossível de constituir-se se lhe falecesse a sólida doutrina de um poder
inabalável e inexpugnável, teorizado e concretizado na qualidade superlativa de
autoridade central, unitária, monopolizadora de coerção
De acordo com Fredie Didier Jr. (2007, p. 65), a jurisdição pode ser conceituada
como a realização do direito em uma situação concreta, por meio de terceiro
imparcial, de modo criativo e autoritativo.
Tradicionalmente, trata-se, pois, de uma das funções do Estado, típica do Poder
Judiciário, que aplicará o direito posto a uma situação concreta que lhe é submetida.
Diz-se que a decisão judicial é um ato jurídico que contém uma norma jurídica
individualizada, ou simplesmente norma individual, definida pelo Poder Judiciário, que
se diferencia das demais normas jurídicas (leis, por exemplo) em razão da possibilidade
de tornar-se indiscutível pela coisa julgada material. Para a formulação dessa norma
individualizada, contudo, não basta que o juiz promova, pura e simplesmente, a
aplicação da norma geral e abstrata ao caso concreto. Em virtude do chamado pós-
positivismo que caracteriza o atual Estado constitucional, exige-se do juiz uma postura
muito mais ativa, cumprindo-lhe compreender as particularidades do caso concreto e
encontrar, na norma geral e abstrata, uma solução que esteja em conformidade com as
disposições e princípios constitucionais, bem assim com os direitos fundamentais
No sentido do que acima foi exposto, pode-se dizer que o Direito Constitucional
figura no centro de todo o ordenamento jurídico, a fim de iluminar todos os outros
ramos do Direito, conferindo-lhes legitimidade, a partir de preceitos mais ou menos
abstratos e de alta carga axiológica. Trata-se do fenômeno denominado
constitucionalismo.
Nesse diapasão, deve haver grande esforço para a máxima aplicação das regras e
princípios constitucionais, mormente quando se tratar de comandos veiculadores de
direitos fundamentais. Regras constitucionais devem ser sempre satisfeitas, não havendo
espaço para possíveis conflitos entre elas, em atenção ao princípio da unidade.
Princípios, por sua vez, devem ser satisfeitos na maior medida possível, pois existe a
possibilidade de colidirem ou, ainda, por não haver possibilidade fática. Leciona Robert
Alexy o seguinte (2008, p. 90-91):
Saliente-se que toda a ciência processual gira em torno de quatro institutos básicos:
jurisdição, ação, defesa e processo. Todos eles, pois, devem ter arrimo na Constituição
da República, de modo que seus princípios básicos, em maioria, decorrem das garantias
fundamentais.
Dito isto, importa esclarecer que nossa Lei Maior, trouxe no rol de seu artigo 5º
alguns direitos e garantias que se aplicam diretamente ao processo. No inciso LIV
consta a exigência de observância ao devido processo legal. Por outro giro, no inciso
LXXVIII, recentemente acrescido pela Emenda Constitucional n. 45/2004, houve a
consagração explícita do princípio da razoável duração do processo. Cumpre destacar,
nessa ordem, o mandamento trazido pelo inciso XXXV, do mesmo artigo. Trata-se do
princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional: "A lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a direito".
Erige, pois, o acesso à justiça ao patamar de direito fundamental, o qual, bem por
isso, deve ser interpretado em sua máxima efetividade.
Ele não deve ser confundido como mero acesso ao Poder Judiciário ou, ainda,
direito a uma sentença de mérito. É mais que isto. Compreende, sobretudo, o direito à
tutela efetiva dos direitos.
Nessa esteira, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart escrevem (2006,
p. 32):
Como já foi visto, é pela atividade jurisdicional que o Poder Judiciário soluciona
conflitos de interesses que lhe são submetidos, atribuindo-se definitividade à decisão.
A jurisdição, dependendo da forma como for prestada, pode ser fator de exclusão
social ou de inclusão.
Será fator de exclusão quando não observar as peculiaridades e vicissitudes do
caso que se lhe apresenta, direcionando-se diante de tal ou qual situação da forma mais
efetiva possível.
Por outro giro, a atividade jurisdicional será fator de inegável inclusão social,
quando obedecer às exigências de nosso Estado Democrático de Direito, com o fito de
tutelar os direito de forma efetiva, mormente quando se tratar de direitos fundamentais.
O Poder Judiciário, pois, deve zelar pelo cumprimento desses preceitos, refutando
todas as condutas contrárias adotadas pelo Executivo e Legislativo, mediante o
afastamento de óbices indevidos de acesso à justiça, de modo a assegurar a ordem
jurídica justa, na medida do possível.
A atividade jurisdicional deve, pois, visar à inclusão. Isto se dá, justamente, pelo
combate à exclusão social. Deve franquear, pois, aos mais necessitados, às minorias e
aos sujeitos em condições especiais, meios especiais de acesso à justiça, para que as
mais variadas oportunidades apareçam também a essas camadas.
Desse modo, para que haja cerceamento de liberdade ou restrição aos bens, é
imprescindível a existência de seqüência de atos tendentes a esse mister, "iluminados"
pelos corolários do contraditório e ampla defesa, tanto em processos judiciais, quanto
administrativos. É o viés procedimental do princípio em pauta, ao lado do "substantial
due process", cuja marca é a observância da razoabilidade para os atos normativos em
geral.
Sobre ele, Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada P. Grinover e Cândido Rangel
Dinamarco afirmaram que se trata do (2006, p. 88):
Desse modo, qualquer punição ou restrição patrimonial sem que haja o respeito ao
devido processo legal é arbitrária e ilegítima, não merecendo subsistir, implicando
verdadeira exclusão social pela via do processo.
Há exceções previstas no próprio CPC, com a finalidade de evitar que a regra geral
possa ocasionar dificuldades de acesso à justiça ao presumivelmente mais "fraco" na
relação jurídica processual. Assim, por exemplo, o art. 100, CPC, contraria a regra geral
de competência do art. 94 ("domicílio do réu"), ao determinar a competência do foro da
residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em
divórcio, e para a anulação de casamento (inc. I); o foro do domicílio ou residência do
alimentando, para a ação em que se pedem alimentos (inc. II) e o foro do domicílio do
devedor, para a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos (inc. III).
Tutela cautelar e tutela antecipada são espécies do gênero tutela de urgência, por
terem como marca característica o fator tempo como aniquilador do direito que
procuram resguardar. Mas não se confundem. A tutela cautelar busca proteger a
efetividade do processo correlato, dito "principal". Tem cunho notadamente
instrumental e o escopo de viabilizar o implemento futuro do direito que se busca. A
tutela antecipada, por sua vez, concede à parte exatamente aquilo que pede, mas de
forma antecipada. Ela satisfaz o direito acautelado. Realiza, ao contrário da tutela
cautelar, o direito material afirmado pelo autor.
Por vezes, não é muito fácil distingui-las. Por esta razão, alteração legislativa
inseriu o parágrafo 7º ao art. 273, CPC, consagrando o "princípio da fungibilidade"
entre ambas as tutelas. Com relação a ele, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz
Arenhart sustentam (2006, p. 231):
Feitas essas observações, tem-se que ambas as tutelas, cautelar e antecipada, são
importantes instrumentos à efetividade da jurisdição e, conseqüentemente, fatores de
inclusão social, pois viabilizam a adequada tutela do direito material (no caso de tutela
antecipada) ou o resguardo da efetividade do processo correlato (no caso de tutela
cautelar).
A tutela inibitória é de cunho preventivo, pois atua justamente para impedir que
ocorra violação a direitos. Sobre ela, escrevem Nelson Nery Junior e Rosa Maria de
Andrade Nery (2006, p. 586):
Por outro lado, a tutela reintegratória, também chamada de remoção do ilícito, tem
cunho repressivo, pois atua após o ilícito ter sido praticado e consumado, mas não
exaurido, pois visa a impedir que ele continue. Didier, Rafael Oliveira e Paula Braga
lecionam (2007, p. 314-315):
Por final, existe a tutela ressarcitória específica. Ela se volta contra o dano já
causado, eliminando-o, para restabelecer a situação anterior. Pouco importa a existência
de ilícito, pois é cediço que o dano pode decorrer, inclusive, da prática de atos lícitos. O
que se questiona é a existência de dano e a viabilidade de seu desaparecimento. Os
últimos autores acima citados fornecem um bom exemplo (2007, p. 316):
Como se percebe, tratou-se de onda que abrangeu quase todo o mundo ocidental.
Nos exatos termos do dispositivo legal em tela, trata-se, pois, de questão atinente à
cognição judicial vertical superficial, baseando-se, pois, o magistrado, em mero juízo de
possibilidade para deferi-lo (DIDIER Jr.: 2007, p. 273). Em outras palavras, pela lei em
pauta, não há que se exigir que a parte comprove o fato de não poder arcar com as
custas e despesas processuais.
Ocorre que nossa Constituição da República, em seu artigo 5º, inc. LXXIV,
determinou a prestação jurídica gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos.
(..) A medida liminar ou sentença proferida em ação civil pública ou ação coletiva,
pela circunstância concreta, pode atingir número elevado de pessoas residentes por todo
o País, notadamente quanto aos efeitos erga omnes ou ultra partes da coisa julgada
(CDC 103). Neste caso, os efeitos subjetivos da sentença se produzirão onde quer que
seus destinatários se encontrem. É possível que, por exemplo, liminar ou sentença de
juiz estadual tenha de produzir efeitos em outro Estado da federação. Não se trata de
jurisdição nem de competência, mas de limites subjetivos da coisa julgada.
Dito isto, importa salientar que, tradicionalmente, o processo civil apresenta certos
dogmas. Dentre eles, a regra de que somente há coisa julgada entre aqueles que fizeram
parte da relação jurídica processual (princípio da relatividade). É o que se extrai da
redação da primeira parte do artigo 472, do Código de Processo Civil.
Inverteu-se, pois, a tradicional regra de que falar e não provar é mesma coisa que
não falar. Em certos casos, o consumidor não precisa provar suas alegações. O
fornecedor é quem tem de provar que elas não procedem. Cecília Matos, em dissertação
sobre o tema, citada por José Geraldo Brito Filomeno (2005, p. 143) destaca:
A hipótese de inversão constante do art. 6º, inc. VIII, do CDC, acima mencionada,
é caso de inversão ope judice. Ou seja, a verificação dos requisitos necessários para que
ela ocorra fica a critério do juiz. Por outra banda, existe um caso de inversão que
decorre da própria disposição legal, inexistindo, outrossim, qualquer porção de
liberdade ao julgador. É o que se denomina inversão ope legis. Ela está presente no art.
38, do CDC. Determina que incumbe ao fornecedor o ônus de provar a veracidade e
correção da informação ou comunicação publicitária que patrocina.
Assim, faz-se necessário que seja garantido aos consumidores o direito de acesso
substancial à Justiça. O juiz, sem perder sua indispensável imparcialidade, deve ser um
sujeito processual ativo, preocupando-se com a efetiva tutela de direitos básicos,
promovendo-se a indispensável inclusão social.
Nessa perspectiva, tem-se como outro fator de inclusão social a instituição dos
Juizados Especial Cíveis, o que ocorreu, nos moldes como hoje se apresenta, pelo
advento da Lei n. 9.099/95.
Neste rito, pois, as formalidades exigidas nos demais procedimentos devem ser
vistas com ressalvas. Dispensa-se, ademais, que nas causas não excedentes a vinte
salários mínimos, a presença de advogados (art. 9º, da mesma lei).
4. CONCLUSÃO
Muito se fez. No entanto, muito há de ser feito. Não se diz isto tão somente em se
tratando de ação legiferante, mas, sobretudo, refere-se a uma postura ativa do Poder
Judiciário como verdadeiro garantidor da ordem jurídica justa e responsável, com a
imprescindível colaboração do Ministério Público, da Advocacia e dos demais setores
da sociedade, pela efetiva tutela dos direitos, franqueando-se às minorias e às camadas
mais necessitadas da sociedade uma especial atenção, para que as mais variadas
oportunidades sejam garantidas também a estas pessoas, reflexo de inegável inclusão.
5. BIBLIOGRAFIA
ROCHA, Cesar Asfor. A luta pela efetividade da jurisdição. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2007.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo demonstrar os resultados obtidos em uma pesquisa
acerca da jurisdição. A pesquisa partiu das seguintes questões: O que é jurisdição? Qual
seu objetivo? E quais suas características? A resposta para esses questionamentos foi
encontrada nos livros de Teoria Geral do Processo de renomados autores como Ada
Pellegrini Grinover, Carlos Eduardo F. de Mattos Barroso, Moacyr Amaral Santos e
José de Albuquerque Rocha.
A eliminação desses conflitos ocorrentes na vida em sociedade pode ocorrer por obra de
um ou de ambos os sujeitos envolvidos no conflito, ou por intermediação de um
terceiro. Na primeira fase da civilização dos povos quando surgia um conflito, este era
resolvido entre as partes, vigorava nesse período lei do mais forte, onde as pessoas
faziam vingança com as próprias mãos. No mesmo sentido, os citados autores (2004, p.
23) asseveram que tal fato ocorria devido a “falta de um órgão estatal que com
soberania e autoridade, garantisse o comprimento do direito”. Assim, quem pretendesse
para si algo que outrem o impedisse de obter, usaria sua própria força para satisfazer sua
pretensão. Essa forma de resolução de conflito a doutrina denomina de autotutela, ou
seja, “quando inexistia um Estado organizado, com poder suficiente para coibir os
homens de buscar solução de suas lides através da lei do mais forte e subjugo forçado
do mais fraco”. (BARROSO, 2005, p. 21).
Quando o homem começou a viver em sociedade não havia a figura do Estado, este
ainda era embrionário. Por não existir o Estado para submeter coativamente os cidadãos
ás suas decisões, as partes do litígio passaram então a resolver amigavelmente suas
pendências. Esse tipo de solução é denominado de autocomposição, onde uma das
partes em conflito, ou ambos, abrem mão do interesse ou de parte dele.
Nesse sentido, frisa-se que a resolução de conflito por meio da autocomposição ainda
perdura em nosso direito moderno, no Código de Processo Civil artigo 269, incisos II,
III e V prevê as três formas de autocomposição:
2 - CONCEITO DE JURISDIÇÃO
Nesse sentido, Rocha (2006, p. 75) afirma que “o Estado é uma forma específica de
sociedade humana, e que se distingue das demais sociedades por ter fins políticos”.
Assim, tal conceito, definido por Moacyr é importante, pois enfatiza a função do
Estado, mais especificamente, a própria e exclusiva função do poder Judiciário:
(ius dicere) dicção do direito sempre foi considerada uma função estatal. Era exercido
pelo próprio rei, imperador, por seus delegados, ministros ou funcionários, como
sucedeu em Roma, ou pelo povo como acontecia entre os germânicos nas suas
assembléias Ding, fato que tais pessoas personificavam o poder soberano que
compreendia a jurisdição.
É inegável o seu caráter público bem como o interesse do estado em declarar e atuar o
direito objetivo em relação a uma concreta pretensão (LEITE, 2007).
Porém não se pode deixar de dizer que o Estado desempenha a função jurisdicional
sempre mediante o devido processo legal. Afirma Moacyr (2005, p. 68) que “jurisdição
é função provocada”, ou seja, ela só é exercida mediante um conflito de interesses e por
provocação de uma das partes.
Ou seja, conforme assevera Ovídio Batista, “o ato jurisdicional é praticado pelo Juiz,
que o realiza por dever de função” (2001, p.73) o que se dá através do devido processo
legal.
3 – FINALIDADES DA JURISDIÇÃO
4 - CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
Grande parte da doutrina afirma que uma das principais características da jurisdição é a
existência da lide, ou seja, um conflito. Se não há lide como poderia o Judiciário dizer
de quem é o direito. Afinal, é a existência do conflito de interesses que leva o
interessado a dirigir-se ao juiz e pedir-lhe uma solução.
Outra característica (bastante polemica) é a inércia, ou melhor, para que o juiz possa
“dizer de quem é o direito” é preciso provocá-lo.
Quanto à inércia, costuma-se afirmar que a jurisdição é inerte, pois, segundo algumas
teorias, não existe o exercício espontâneo da atividade jurisdicional. No entanto,
modernamente, ao magistrado são atribuídos amplos poderes de direção do processo,
tais como a possibilidade de determinar, sem provocação, a produção dos meios de
prova e de dar tutela sem pedido expresso pela parte (SCHMIDT, 2007). Assim, embora
permaneça a inércia como característica da jurisdição para a maioria da doutrina, esta,
para efeitos práticos, fica restrita à instauração de processo e a determinação do objeto
litigioso, sendo mais adequado, tecnicamente, tratá-la a como um princípio inerente a
jurisdição.
E por fim, o caráter substitutivo que consiste na substituição das partes no litígio pelo
Estado-juiz: é “uma atividade substitutiva porque se exerce em substituição à atividade
das partes”. (BARROSO, 2006, p. 70). Assim, característica da substitutividade
proposta por Chiovenda, consiste na substituição da vontade das partes, pela “vontade”
da norma jurídica aplicada no caso em concreto. O Estado substitui as atividades
daqueles que estão envolvidos no conflito trazido à apreciação.
5 - CONSIDERAÇÃOES FINAIS
Com base no que foi exposto pode-se concluir que jurisdição é o poder-dever que o
Estado tem para pacificar as pessoas conflitantes. Função esta que é exercida
tipicamente pelo Poder Judiciário através do devido processo legal.
Sua finalidade precípua, mas não única, é resguardar a ordem jurídica, mantendo a paz
social, por meio da aplicação das leis de forma justa. Já quanto às características da
Jurisdição, percebemos que hodiernamente não é tarefa fácil arrolá-las. Tal fato se deve
principalmente pela atual momento, onde se busca a própria alteração do paradigma de
processo, com a conseqüente adoção de novas teorias, sendo que, hodiernamente, ainda
se tem por características a lide, inércia, definitividade e substitutividade.
REFERÊNCIAS
BATISTA, Ovídio. Teoria geral do Processo Civil. São Paulo: RT, 2001.
NERY JUNIOR, Nelson, NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil
comentado, 8a ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 2004.
NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 19. ed., atual. São
Paulo: Saraiva, 1989.
ROCHA, José de Albuquerque. Teoria geral do processo. 8. ed., São Paulo: Atlas,
2006.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 24. ed., São
Paulo: Saraiva, 2005.
1 INTRODUÇÃO
2 ESBOÇO HISTÓRICO
Nos primórdios da civilização humana o direito era uma manifestação das leis de Deus,
apenas conhecidas e reveladas pelos sacerdotes. Em um outro estágio da civilização,
aquele que se visse envolvido em qualquer tipo de conflito intersubjetivo poderia
resolvê-lo por si mesmo, era chamada “justiça de mão própria”. Nesta justiça primitiva o
mais forte agia sobre o mais fraco utilizando da força ou da violência pra fazer valer seu
direito. Era aquilo que hoje chamamos de autotutela.
Num outro momento da civilização, a autotutela foi sendo substituída pela arbitragem
facultativa, chegando-se à solução dos conflitos entre sujeitos mediante o concurso de
terceiro desinteressado e imparcial. Com o passar do tempo, a arbitragem foi se
tornando obrigatória devido à necessidade de albergar para si toda solução de conflitos
de interesse (lide) como forma de buscar o bem comum e a paz social.
Atualmente a Jurisdição é tida como atividade provocada e pública, exercida por juiz
natural, não podendo este delegar suas atribuições nem se eximir de julgar, exceto nas
situações de incompetência, impedimento e suspeição.
A palavra Jurisdição origina-se da expressão latina dicere ius, ou seja, o poder de dizer o
direito, que hoje é função expressa do Estado. Ressalta-se, a seguir, a opinião de alguns
eminentes doutrinadores a respeito do conceito de Jurisdição.
Segundo CARREIRA ALIVIM (2006 p.55): “Jurisdição é uma função do Estado pela qual este
atua o direito objetivo na composição dos conflitos de interesses, com o fim de
resguardar a paz social e o império da norma de direito”. Observa ainda que “o Judiciário
não atua espontaneamente, ao contrário, deve ser provocado por quem tenha interesse
em lide”.
A Jurisdição é uma atividade provocada, pois sem provocação, através da ação, não há
Jurisdição, porque a inércia é uma de suas principais características. Ou seja, o juiz
aguarda que alguém lhe procure através da demanda ou pedido, via ação.
A Jurisdição também pode ser caracterizada pela sua forma, conteúdo e função. Por
forma, entende-se a presença das partes, do juiz e dos procedimentos previstos na lei.
Por conteúdo, considera-se a existência de uma lide com relevância jurídica, que deve
ser resolvida pelos órgãos da Jurisdição. Por função, entende-se a incumbência de
assegurar a justiça, a paz social e is demais valores jurídicos.
A função jurisdicional é composta por uma série de princípios que são universalmente
aceitos e reconhecidos. São eles: da investidura, da aderência ao território, da
indelegabilidade, da indeclinabilidade, da inércia, e o principio do juiz natural. O
primeiro é o mais importante, significa que a Jurisdição só será legitimamente exercida
por quem tenha sido dela investido por autoridade competente do Estado e de
conformidade com as normas legais. O segundo significa que a Jurisdição pressupõe um
território sobre o qual é exercida. O terceiro tem assento constitucional, pois o juiz é
investido das funções jurisdicionais como órgão do Estado, devendo exercê-las
pessoalmente. O quarto também tem assento constitucional, diz que nenhuma lesão do
direito deixará de ser apreciada pelo Poder Judiciário. O quinto põe em relevo que a
Jurisdição depende de provocação do interessado no seu exercício, não agindo de oficio,
ou seja, não pode haver Jurisdição sem ação. O último princípio a ser analisado é o do
juiz natural, significa que todos têm direito a um julgamento por juiz imparcial e
independente, não podendo haver tribunais ou juízes de exceção.
É um poder, por ser a ferramenta de que dispõe o Estado para controlar indivíduos, e, se
necessário, legitimar o uso da força física.
A atividade jurisdicional do Estado surgiu para regular as relações entre os indivíduos que
compõe a sociedade, tutelando os direitos que cada um destes já não pode mais
defender individualmente ou auto-tutelar.
É possível afirmar que são varias as situações na vida das pessoas em sociedade que
levam à busca espontânea do serviço jurisdicional, quer seja visto como instrumento de
aplicação da lei, suspensão do fato ou composição do litígio.
A crescente complexidade das relações sociais dos dias atuais vem gerando um
considerável aumento na procura da prestação da tutela jurisdicional, o que, por
conseguinte acaba por criar ou agravar um problema que gera conseqüências nefastas ao
cidadão que necessita com urgência dessa proteção, estamos a falar da demora da
atividade jurisdicional. Muitas das vezes o cidadão fica dependente do “socorro” estatal
para resguardas seus direitos e ao mesmo tempo proibido de recorrer a autotutela.
6. Conclusão
Antes de ter o Estado monopolizado a função de julgar, havia a justiça de mão própria,
mas essa ainda não era a aplicação da lei como função especifica.
A Jurisdição é uma das funções do Estado, mediante a qual este substitui os titulares dos
interesses em conflito para, imparcialmente, alcançar a pacificação do conflito que os
envolve, no pleno exercício da justiça. Essa pacificação é realizada através da atuação da
vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser
solucionado. Para finalizar, o Estado deverá desempenhar essa função sempre mediante o
processo, através de uma sentença de mérito ou através da execução forçada.
Referências
ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. v.1: parte geral. 9 ed. rev. e atual.e
ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005
ALVIM. José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
SILVA, Ovídio A. Baptista da. GAMA, Fabio Luiz. Teoria geral do processo civil. 4. ed. Ver.
E atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006
WAMBIER, Luiz Rodriguez. Curso avançado de processo civil. Vol.1. 8 ed. Ver., atual e
ampl. . São Paulo: Editora Revista
Tropa de Elite
Ficha Técnica
Brasil, 2007. Ação. 118 minutos. Direção: José Padilha. Com Wagner Moura, Caio
Junqueira, André Ramiro, Milhem Cortaz, Fernanda de Freitas, Fernanda Machado,
Fábio Lago.
Comentários
Afinal, qual é a surpresa? Alguém ainda duvida que o Rio de Janeiro vive em estado de
guerra? Alguém aí não sabe que os traficantes agem como um Estado dentro do Estado
de direito, muito mais poderoso e articulado que este, impondo sua lei e sua ordem por
meio da força?
"Só rico com consciência social é que não entende que guerra é guerra."
As críticas que ando lendo sobre Tropa de Elite assustam-me mais que o próprio filme.
Articulistas, teoricamente formadores de opinião, declararam-se chocados com a
vibração da platéia diante das ações drásticas do Capitão Nascimento, o protagonista
brilhantemente interpretado por Wagner Moura.
É necessário estar totalmente alheio à realidade – como não deveria estar um formador
de opinião – para não chocar-se com o comportamento dos espectadores. A violência
não é um fantasma. Também não é uma questão restrita ao Rio de Janeiro ou aos
morros. Quase todo mundo tem uma história de terror para contar, protagonizada por
algum criminoso e acontecida consigo ou com algum parente, amigo ou conhecido.
Ver num filme, a bandidagem ser punida, traz uma sensação de alívio e de justiça que
quase não é possível no mundo real. É isso que a platéia aplaude. Nascimento não
contemporiza, não negocia, não justifica. Simplesmente, age.
Não, o Cap. Nascimento não é um santo e Tropa de Elite não pretende canonizá-lo, bem
como, ao contrário do que mal-intencionados espalharam, não faz apologia da tortura. O
comportamento de Nascimento é criticado pelos seus pares e pela sua própria
consciência, embora ele se aferre à idéia de que "os fins justificam os meios".
"O curso do BOPE prepara os policiais para a guerra e não adianta me dizer que
isso é desumano.
Enquanto os traficantes tiverem dinheiro pra se armar, a guerra continua."
Será que, para extrair informações, restaria a Nascimento outra alternativa além da
tortura? Lembre-se de que os torturados são traficantes, a pior laia de gente que pode
existir. Seu idealismo é o dinheiro farto proporcionado pelas drogas. Armados até os
dentes, não pensam duas vezes antes de matar barbaramente quem os desafia (ninguém
mais se lembra de Tim Lopes?). Essa gente não tem escrúpulos e não hesita em eliminar
quem se põe em seu caminho, encarando policiais como inimigos e pessoas comuns
como peças de seu jogo de poder.
Não me venha com o discurso "eles não tiveram outra chance". Acreditar nisso é
assumir que todo pobre é bandido, o que está longe da verdade. Essa falácia, criada e
propagada aos quatro cantos com intenções nem sempre samaritanas, serve apenas para
aliviar a culpa das classes economicamente privilegiadas. O discurso torto "direitos
humanos" que temos ouvido nas últimas décadas, e em que muita gente boa tem
acreditado, transforma traficantes em vítimas e polícia em bandido. A hierarquia de
valores anda completamente deturpada.
"Quantas crianças a gente tem que perder pro tráfico só pra um playboy enrolar
um baseado?"
Tropa de Elite tem o grande mérito de bater em todo mundo. Nesse processo, não poupa
as classes mais favorecidas e a imprensa. A hipocrisia do discurso social "pela paz" e
"contra a violência" é desnudada várias e várias vezes, sem meias palavras. A visão
torta que a elite tem do que é certo ou errado, permitido ou proibido, é confrontada.
É dito com todas as letras: quem fuma maconha ajuda traficante; quem enrola baseado
financia a violência; quem cheira pó é culpado pela situação calamitosa a que chegou o
Rio de Janeiro. Esse discurso enfático atinge boa parte dos espectadores do filme que,
afinal, pertencem à classe privilegiada com poder aquisitivo para pagar uma entrada de
cinema.
Não sei aí na sua cidade, mas aqui em Brasília maconha é tão acessível quanto cigarro, e
quase tão consumida quanto. Por quem? Por secundaristas que vivem de mesada e
universitários que se acham gente grande, pelos cidadãos-de-bem com carro na garagem
e celular da moda. Pela mesma classe que fica furiosa quando tem o som do carro
roubado.
Tropa de Elite também bate na polícia militar carioca, responsável pela criação do tal
"sistema". Corrupto e corruptor até a medula, o "sistema" é uma intrincada rede de
propinas, subornos, adulteração de estatísticas, cumplicidade com criminosos. Ocupa os
espaços que o Estado e o tráfico deixam para trás. Atua em causa própria, tendo como
único fim a retroalimentação.
Por que arriscar sua vida para matar um traficante se, além de tudo, você ainda será
acusado de violentar os "direitos humanos"?
Se era a intenção de Padilha transformar Nascimento num herói ou não, pouco importa.
O que realmente me preocupa é o esforço de certos segmentos em demonizar o
protagonista. Sejamos maniqueístas, sim, mas conservemos a noção de certo e errado.
Um estado de guerra produz excessos e condutas condenáveis, mas não se deve
confundir os papéis: quem trafica é bandido; quem combate o tráfico é mocinho.
Afora a exclente história, que traz diversos pontos de reflexão, Tropa de Elite é uma
produção de primeiro nível. A atuação de Wagner Moura é irretocável, brilhante
mesmo. A direção é tensa, a trilha sonora é dramática, a cenografia é realista. A rápida
movimentação de câmera envolve o espectador, colocando-o dentro da ação.
Tropa de Elite merecia ser o candidato do Brasil ao Oscar 2008. Claro que jamais
conseguiria tal proeza. A elite de esquerda prefere criticar a ditadura militar, que se
encerrou há mais de 20 anos, a atacar reais inimigos.
Além da Tela
Tropa de Elite é baseado no livro A Elite da Tropa que, por sua vez, baseia-se em
relatos de policiais do BOPE.
A polícia militar anda bastante preocupada com o filme, a ponto de ter intimado para
depor seu diretor e um dos autores do livro. Deve ser falta de serviço.