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Iamim Noraim

Elul, o último mês do calendário judaico, é um momento muito especial para os judeus, pois
encerra um ciclo e conseqüentemente inaugura outro. Este é um momento propício para fazer um
balanço do ano que está se encerrando com uma reflexão dos próprios atos. É quando todos devem
se prepara para o ano novo que se anuncia. Rosh Hashaná é a festa que comemora o ano novo
judaico, esta festa é conhecida por este nome somente na Mishná, a Torá denomina-a como Dia do
Toque do Shofar (Yom Teruá) e a liturgia denomina-a como Dia da Recordação (Yom Hazikaron)
ou Dia do Julgamento (Yom Hadin). Destes nomes, o termo Rosh Hashaná é o mais popular,
porém cada um dos outros termos expressam uma característica da festa. O ano novo começa com
os feriados mais sagrados que são comemorados num período de dez dias denominados Iamim
Noraim, sendo que no primeiro dia do ano, em 1º de Tishrei, comemora-se o Rosh Hashaná e no
10º dia comemora-se o Yom Kipur.

Rosh Hashaná significa, literalmente, “cabeça do ano” em hebraico. De acordo com a tradição,
Rosh Hashaná marca o começo do calendário, comemorando o aniversário da criação do mundo e
a aceitação da soberania de Deus sobre o mundo. Acredita-se que, no 6º dia da criação, Deus criou
Adão e Eva e os dotou com o livre arbítrio, ou seja, a opção de obedecer-lhe ou não. Portanto, a
criação do homem foi o que determinou o aniversário da criação do mundo e sua comemoração
destaca a relação do homem com Deus ou, mais especificamente, a aceitação do Reino de Deus.
Pois não pode haver um Rei/Criador até que suas criaturas O proclamem. Deus, ao mesmo tempo
em que é proclamado Rei, revê a situação de sua criação e determina quem merece mais um ano
neste mundo. Rosh Hashaná, o dia em que Deus criou o homem, Sua mais preciosa criação, é o dia
em que todos são julgados de acordo com seus atos.

Yom Teruá, Dia do Toque do Shofar, dia em que seu som deve servir como “alarme” da solene
temporada que se aproxima, a fim de despertar os judeus às preces e ao arrependimento. Segundo
a tradição, Moshé estava no Monte Sinai recebendo as Tábuas da Lei, quando ficou sabendo que o
povo havia criado um bezerro de ouro, em sua ausência, para servir como objeto de adoração. Ele
desceu do Monte decepcionado com a atitude das pessoas e quebrou as Tábuas. Mas voltou para o
Sinai e orou durante quarenta dias e quarenta noites pedindo o perdão para o povo, na tentativa de
evitar a ira de Deus contra os idólatras. Ao final dos quarenta dias, no 10º dia de Tishrei, Moshe
retornou do Monte Sinai com as novas Tábuas da Lei e o perdão de Deus. Os 40 dias, durante os
quais ele suplicou a Deus em favor de seu povo, tiveram início no 1ºdia do mês de Elul e
terminaram no dia dez do mês de Tishrei, quando todo o povo foi perdoado.

Deus atendeu as orações de Moshé em favor do povo, mas ordenou que esse dia fosse lembrado
como um dia especial na vida de todo judeu dizendo: “Fala aos filhos de Israel, dizendo: No 7°
mês, o 1° dia do mês será para vós descansos solenes, memoriais de toque de Shofar,
convocação de santidade. Nenhuma obra servil fareis, e oferecereis oferta queimada ao Eterno”. E
falou o Eterno a Moisés, dizendo: “mas aos 10 dias deste 7° mês é o Dia das Expiações (Yom
Hakipurim); convocação de santidade será para vós, e afligireis as vossas almas e oferecereis
oferta queimada ao Eterno. E nenhuma obra fareis neste mesmo dia, porque é Dia das Expiações,
para expiar por vós diante do Eterno, vosso Deus. Porque toda alma que não se afligir neste
mesmo dia será banida de seu povo. E toda alma que fizer alguma obra neste mesmo dia, destruirei
aquela alma do meio de seu povo. Nenhuma obra fareis; estatuto perpétuo será para vossas
gerações, em todas as vossa habitações. Dia de descanso solene é para vós, e afligireis as vossas
almas; aos nove dias do mês à tarde, de uma tarde à outra, celebrareis o vosso dia de descanso.”
(Levítico cap 23: v 24- 32).
Yom Hadin, Dia do Julgamento, dia em que Deus manifesta seu poder de Rei e Juiz supremo.
Acredita-se que em Rosh Hashaná o destino da humanidade, para o próximo ano, seja registrado
por Deus no Livro da Vida e que em Yom Kipur Deus feche o Livro selando o destino de cada um.
Nesta data o ser humano se coloca diante do Criador, tomando consciência da sua condição de
criatura pecadora e pede perdão ao Rei do Universo, pedindo também para que seu nome seja
inscrito no Livro da Vida. Neste dia todas as criaturas são julgadas pelo Criador, que fica mais
acessível e mais disposto a oferecer Seu perdão a quem se aproximar arrependido. Porém, o
perdão só será concedido em Yom Kipur, quando o Livro da Vida será fechado. A sentença de
Deus fica suspensa durante estes 10 dias, a fim de dar chance a quem se proponha pedir perdão.
Deus perdoa apenas os pecados cometidos contra Ele, no entanto, quando a falta é cometida contra
uma pessoa, o pedido de perdão deve ser dirigido diretamente à pessoa que sofreu a injustiça.

A pessoa precisa se arrepender de seus erros para pedir perdão, pois o arrependimento não ocorre
como conseqüência natural dos erros, na verdade, ocorre como conseqüência de um processo. Este
processo é denominado de teshuvá (arrependimento, retorno ao bem) e fundamenta-se em três
elementos: arrependimento, confissão do pecado e seu abandono. Como demanda uma profunda
reflexão, o processo deve ter início no mês de Elul, para dar tempo de se arrepender até Yom
Kipur, dia em que Deus sela o destino e inscreve o nome de quem é perdoado no Livro da Vida.

Entre Rosh Hashaná e Yom Kipur celebra-se o Shabat Shuvá (Shabat do arrependimento), que
recebe este nome por ser o Shabat dos Iamim Noraim. Outro motivo para este nome é devido a
Haftará lida neste Shabat. Nesta Haftará o profeta Hoshea pede ao povo que havia se afastado do
Criador que se arrependa, abandone a idolatria e volte para Deus. “Retorna, ó Israel, ao Eterno, teu
Deus... Busca palavras sinceras e com elas retorna ao Eterno”. (Hoshea cap14, v 2-3).

Yom Kipur é considerado o dia mais solene do calendário judaico, essa data é citada na Torá como
o Dia da Expiação dos pecados. Nesse dia é proibido e a realização de certos atos que reflitam
comodidade ou prazer físico, tais como: comer, beber, manter relações conjugais, banhar-se, untar
o corpo com óleos ou cosméticos, calçar calçados de couro, pois a principal preocupação deve ser
espiritual. O jejum de Yom Kipur é o único não protelado, quando coincide com o Shabat.
Enquanto o Yom Kipur é dedicado ao jejum, o dia anterior é dedicado a comer. De acordo com o
Talmud, a pessoa “que come no nono dia de Tishrei e jejua no décimo, é como se tivesse jejuado
em ambos os dias, o nono e o décimo”.

O livro de rezas utilizado durante o Iamim Noraim é o Machzor, que consiste numa seleção de
paráfrases da Torá, da Mishná, da Gmará, dos Midrashim e do Zohar, direcionado à penitência e
ao arrependimento. Os principais temas das preces de Rosh Hashaná e de Yom Kipur são: a
Majestade de Deus o Criador do universo, a fragilidade do homem e sua dependência da piedade
Divina, a teshuvá, o sofrimento do povo judeu, o perdão e a confissão dos pecados.

No final do mês de Elul e durante o Iamim Noraim são recitadas as orações denominadas Selichot,
que é um conjunto de súplicas e rezas que tem origem no costume de se preparar para Rosh
Hashaná. O texto tradicional de Selichot tem como objetivo nos despertar para Teshuvá e para a
misericórdia Divina. A comunidade pede, que da mesma forma como Deus perdoou o pecado do
bezerro e entregou as segundas Tábuas naquele Yom Kipur, que hoje Deus perdoe a todos
novamente.

Em Yom Kipur a congregação reúne-se na sinagoga para um dia dedicado às orações. A primeira e
a última oração são exclusivas do Yom Kipur e não são recitadas em nenhuma outra data. A
primeira chama-se Kol Nidrei e a última chama-se Neilá.
No início do serviço noturno de Yom Kipur, a comunidade se reúne para o Kol Nidrei. Trata-se de
uma declaração recitata na sinagoga que permite aos presentes anular promessas feitas e não
cumpridas. Kol Nidrei significa todos os votos.

Uma parte importante do serviço de Yom Kipur é o Vidui e o Al Chet. O Vidui é uma confissão e
o Al Chet é uma lista de transgressões entre o homem e Deus e entre o homem e seu semelhante.
Ambos estão no plural, o que pretende transmitir a idéia de que o povo judeu é um povo
"entrelaçado" e todos devem ser responsáveis uns pelos outros. Alguns costumam bater com o
punho sobre seu coração ao recitar as preces de confissão (Vidui). Esta prática pretende simbolizar
que o arrependimento deve modificar o coração do indivíduo.

No final do Yom Kipur, um serviço chamado Neilá oferece uma última oportunidade para o
arrependimento. É o único serviço durante o qual as portas do Aron kodesh permanecem abertas
do princípio ao fim, simbolizando que as portas do céu estão abertas naquele momento. A Neilá
significa trancar ou fechar e encerra o dia. É o momento em que Deus pronunciar a sentença para
cada pessoa, inscrevendo ou não seu nome no Livro da Vida. O serviço se encerra repetindo sete
vezes o versículo “O Senhor é nosso Deus”. O Shofar é tocado e seu som anuncia a vitória sobre
os pecados e tentações. A congregação proclama: “No ano que vem em Jerusalém”.

Relatório dos Serviços da Manhã (Shacharit)

1º) Em 20 de junho de 2009. Sábado.

O Shacharit de Shabat deste dia foi muito emocionante, talvez por não estar habituada a freqüentá-
lo ou talvez por ser este um serviço, em que compartilhamos de momentos muito significativos nas
vidas das pessoas. Neste dia foi o Bar Mitsva do Artur. Fiquei feliz por estar ali participando, foi
muito emocionante compartilhar com sua família.

2º) Em 2 de julho de 2009. Quinta.

O serviço nas quintas é na Sinagoga Peres, acho muito mais agradável, pois proporciona um clima
de mais intimidade. Foi feita a leitura da Parashá da vaca vermelha e depois tivemos a discussão a
seu respeito.

3º) Em 4 de julho de 2009. Sábado.

Neste Shacharit foi comemorado o Bat da Deborah. O Serviço foi mais demorado. Gostei muito do
que o rabino Dario falou sobre os dois caminhos que podemos escolher, ou seja, um de maldição
para os outros ou um de bênçãos para nós mesmos.

4º) Em 18 de julho de 2009. Sábado.

Este serviço foi celebrado na Sinagoga Peres. Foi lida a última parashá do livro de Bamidbar,
traduzida por Números. Porém o Rabino Sérgio nos explicou que na verdade significa “no
deserto” e também “lugar das palavras”. Interessante notar que o deserto é um lugar árido e foi lá
que o povo recebeu a palavra. Este dia foi muito especial para mim, pois tive um sentimento muito
forte de vinculação com a Torá. Não sei explicar, mais, de repente, todo aquele cuidado, respeito e
carinho que as pessoas possuem ao manipular a Torá começou a fazer muito sentido para mim
também.
5º) Em 23 de julho de 2009. Quinta.

Iniciamos o livro de Devarim, que significa repetir ou contar outra vez. A discussão da Parashá foi
conduzida pelo Raul, ele fez observações muito interessantes a respeito do Livro de Devarim,
comentou que o Livro encontrado pelo Rei Josias no Templo poderia, talvez, ter sido o Livro de
Devarim.

6º) Em 9 de julho de 2009. Sábado.

Neste dia meu marido foi comigo, nós chegamos atrasados, quase no final. A discussão a respeito
da Parashá foi conduzida pelo rabino Dario, ele ressaltou as pequenas diferenças entre os Livro ao
narrarem os mesmos fatos. Observou que o Livro do Êxodo é considerado uma narrativa histórica
e o Livro de Devarim uma narrativa das memórias. A diferença destacada foi o fato de que só em
Devarim Moshe relatou o pedido que fez a Deus para que perdoasse Arão pelo pecado de ter
construído o bezerro de ouro. Ficou claro para mim que no Livro do Êxodo Moshe focou no
contexto e que em Devarim o foco foi na pessoa.

Com estes relatórios termino a tarefa que foi exigida a fim de efetivar minha conversão. Quero
agradecer a sensibilidade que vocês tiveram ao exigir esta condição, pois me proporcionou uma
experiência muito construtiva de aproximação e respeito à RELIGIÃO judaica.

Muito obrigada de todo coração,

André Bessler.

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