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Deontologia Profissional

Advogado = Aquele que é chamado para defender uma causa e cumpre o seu dever com
dignidade e competência. Procura mais a realização da justiça do que os honorários,
embora estes lhe sejam devidos.

O Novo Estatuto (aprovado pela Lei nº 15/2005)

Aspectos Positivos

Alterações meritórias:

Art.68 = É da exclusiva competência da O.A a «apreciação da conformidade com os


princípios deontológicos das clausulas de contrato celebrado com advogado» que
importe subordinação jurídico-laboral.

Art.92 = Clarifica melhor a relação de «confiança recíproca» que existe entre o


advogado e o cliente.

Art.99 = Impõe e define o seguro de responsabilidade civil.

Art.104 = Incorpora uma antiga praxe forense que proibia os contactos com
testemunhas.

Art.108 = Disciplina a correspondência entre advogados em termos já resultantes do


art.75/1 C.C.

Arts.192/2/a) e 193 = Permitem a inscrição de doutores em Ciências Jurídicas em


efectivo exercício de docência e de juristas de reconhecido mérito.

A criação de dois novos órgãos da O.A – Presidentes do Conselho Superior e dos


Conselhos de Deontologia (art.9) e a criação de Agrupamentos de Delegações
(art.59).

Imposição da Formação contínua como um dever da O.A (art.190).

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Erros, Desatenções, Vacuidades e Incongruências e Omissões

Erros e Desatenções

Arts.58/3/4 repetem o Art.56/4/5

Art.165/3 remete erradamente para o Art.164/1 em vez do Art.162/1.

Art.133/1 = Tem um erro palmar! Fala no plural relativamente às «penas disciplinares


inferiores às referidas no Art.126/3» quando este artigo apenas se refere à pena de
censura.
Poderia levar a concluir que a «suspensão de execução das penas» só se aplica à pena de
advertência, quando da leitura do Art.137/1 – suspensão efectiva – se pode concluir, ao
contrário, que a intenção do legislador seria manter a possibilidade prevista no Art.108
do anterior estatuto, ou seja, da suspensão de todas as penas excepto a de expulsão.

Vacuidades e Incongruências

As expressões «mover qualquer influência» do Art.78/2 ou «efeitos tidos por


convenientes» do Art.143, deviam de ser banidas da sintaxe legislativa.

O Art.155/6 manda notificar o acórdão em processo disciplinar ao arguido, ao


participante e ao Bastonário. Já o Art.158/1 confere legitimidade para recorrer aos
«interessados» e ao Bastonário. A incongruência resulta do facto de nem sempre o
participante ser o ofendido. A terminologia deveria de ser harmonizada.

O mesmo acontece com os Arts.39/1/d (velar) e 40/e (zelar).

Omissões

Na proposta de Estatuto, a Ordem, deveria de ter incorporado algumas normas


importantes para a dignidade e independência da advocacia que, embora
legislativamente consagradas, teriam mais sentido no Estatuto.
Assim, quando no art.154/3 C.P.C se estabelecem as fronteiras da liberdade crítica do
advogado e no art.144 da Lei nº 3/99 (L.O.F.T.J) que estabelece certas imunidades e
garante o «não sancionamento» pela prática de actos conformes ao estatuto da profissão,
isso faria melhor sentido se previsto no Estatuto.

Art.87 – Segredo Profissional = Seria importante que se equiparasse o parecer da


Ordem (exigido pelo art.135/5 C.P.P), para que um advogado deponha em Tribunal, a

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um parecer técnico, subtraído à livre apreciação do Julgador, conforme resulta do
art.163 C.P.P. Isto mesmo resulta da própria formulação do art.135/5 C.P.P que
remete para a legislação da Ordem. Acontece que os Tribunais assim não o entendem e,
de quando em vez, os advogados vêm-se na obrigação de revelar em juízo contra o
parecer da Ordem, factos sigilosos de que só tomaram conhecimento pela confiança
que merecem dos seus clientes e que constitui um valor de relevante interesse público.
Os advogados são «confidentes necessários» tanto ou mais do que os padres cujo
segredo goza de total inviolabilidade.

Lugar dos advogados em audiência = Comparando com o Ministério Público, é


frequente ver o procurador sentado ao lado ou mesmo na mesma bancada dos juízes, o
que cria confusão, enquanto que os advogados se sentam num plano muito inferior.
Para evitar situações deste tipo e mostrar que ambas as partes processuais são iguais e
dar cumprimento à dignidade constitucional da advocacia, bastava esclarecer o
Art.67/2, acrescentando que a bancada dos advogados se situa à esquerda dos juízes em
posição simétrica à do Ministério Público.

Aspectos Negativos

Art.89 = Confuso acasalamento entre «informação e publicidade».


A mediatização da vida moderna alterou os pressupostos em que se baseava a anterior
versão que apenas permitia a publicidade das tabuletas e anúncios nos jornais com a
simples menção do nome, endereço, horas de expediente e, a título meramente
informativo, a indicação de graus académicos, da sociedade profissional e a menção a
cargos exercidos na Ordem.
Entende-se o alargamento do campo informativo, em particular da referência à
especialização, as áreas jurídicas preferenciais, os idiomas falados e a indicação do seu
site na internet. O que não se pode compreender é o alargamento desbragado da
publicidade concedido pelo Art.89/3/h a l que permitem a menção a assuntos
profissionais em que o advogado tenha intervindo – processos mediáticos – a cargos
públicos ou privados exercidos, à composição do escritório e a inclusão de fotografias e
ilustrações.
Isto é uma transfiguração do paradigma do advogado! A parcimónia tradicional própria
de uma magistratura cívica foi subvertida por uma concepção industrial –
mercantilista da advocacia, muito pela influência das grandes sociedades de
advogados, cuja maioria de sócios nem sequer usa a toga.
Este novo tipo de publicidade lesa a dignidade da advocacia e constitui uma forma de
concorrência desleal entre as grandes sociedades de advogados e a grande maioria dos
advogados que nunca foram deputados, ministros, presidentes ou gestores de grandes
empresas, nem intervieram em processos mediáticos.
A argumentação contra esta visão baseia-se no Código da Publicidade e no regime
vigente em alguns países da Comunidade Europeia.
O primeiro argumento só vale para quem ignora a eminente dignidade da função
forense. O segundo é falacioso porque a posição que se defende não põe em causa a
«justa concorrência» com os advogados da União. Estes quando advoguem em Portugal
têm de se sujeitar às nossas regras – Art.199 – e quando os advogados portugueses

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advoguem em países que consideram a advocacia como uma actividade meramente
profissional podem aí publicitar o seu «produto».

Art.100 = Honorários
Legalizou-se um sub- género de quota - litis, embora atípico ou imperfeito.
Art.101 = Quota – Litis – Permite-se, agora, a «fixação prévia do montante de
honorários, ainda que em percentagem, em função do valor do assunto e não do
resultado obtido». Isto significa um perigoso desvio aos critérios do Art.100, entre eles
o de «serviços efectivamente prestados».
Foi mais uma norma pensada para as grandes sociedades de advogados.

O Advogado Tradicional e as Sociedades de Advogados

Advogado Tradicional = O ordenamento jurídico acompanhou a transformação


económico – cultural da sociedade, tornando-se mais efémero e complexo e a exigir
uma certa especialização em áreas até há pouco tempo desconhecidas, como sejam o
direito dos consumidores, o ambiente e a informática.
O advogado «artesão», a trabalhar isolado no seu escritório, dando consultas, aceitando
o patrocínio de todos os casos está em vias de extinção.
Hoje, um advogado já não pode, seriamente, abarcar todas as questões que se colocam
pela modernidade da sociedade em que vivemos.

Sociedades de Advogados e Especialização por áreas jurídicas = Parecem ser o


remédio para este novo paradigma. Só assim poderá um escritório dar respostas às
questões cada vez mais específicas e complexas que se colocam.
A troca de opiniões, o recíproco apoio e a distribuição dos casos por áreas definidas,
consoante a vocação de cada associado, é uma das vantagens das sociedades de
advogados.
Outra vantagem é de índole económico – funcional, por o apetrechamento do escritório
e as despesas correntes ficarem a cargo de todos os sócios.

A Inglaterra e os E.U.A têm grande tradição neste tipo de advocacia.

Decreto – lei nº 229/2004 = Regulamenta a criação e funcionamento das sociedades


de advogados.
Só os advogados podem constituir ou ingressar neste tipo de sociedades e estas só
podem ter por objecto o exercício da advocacia.
Os sócios só podem fazer parte de uma única sociedade e devem consagrar-lhe toda a
sua actividade profissional, excepto se obtiverem autorização de todos os sócios.
Respondem pessoal, ilimitada e solidariamente perante terceiros pelas dívidas da
sociedade. A responsabilidade decorrente dos actos profissionais já é individual.
O projecto de pacto social tem de ser submetido a aprovação na Ordem e a sociedade
deve de ser ali registada.

Princípios reguladores das Sociedades de Advogados

Princípio da liberdade contratual = Permite a escolha do regime de responsabilidade


civil – ilimitada (RI) ou limitada (RL). No caso da responsabilidade limitada o capital

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mínimo é de € 5000. É obrigatório o seguro de responsabilidade civil – Arts.7,8,33,35 e
37 do Decreto – lei nº 229/2004.
Princípio da natureza não mercantil = Caracteriza estas sociedades como sociedades
civis e manda aplicar supletivamente o C.C sobre o contrato de sociedade – Arts.1 e 2
do Decreto –lei nº 229/2004.

Princípio da institucionalização = Trata-se da consolidação como organismos


estáveis, pelo que a sociedade poderá manter o nome de ex-sócios mediante autorização.
Também devem estabelecer planos de carreira para os associados – Arts.10 e 62 do
Decreto – lei nº 229/2004.

Princípio da transparência e da credibilidade de exercício da profissão de


advogado = Implica a obrigatoriedade de depósito na Ordem das contas anuais das
sociedades Responsabilidade Limitada – Art.30 do Decreto –lei nº 229/2004.

Princípio legal – deontológico = Implica a subordinação dos sócios aos deveres ético –
deontológicos previstos no E.O.A e a sua exclusão da sociedade em caso de violação
grave – Arts.8/1 e 22/1/a do Decreto –lei nº 229/2004 e Art.203 E.O.A

Esteja integrado ou não numa sociedade, o advogado não deve perder as suas
características essenciais de consultor, confidente, patrono e servidor da justiça.
O cliente, mesmo quando vai a uma sociedade, procura um determinado advogado em
quem confia. Se este encarrega outro do seu escritório para tratar do caso, por não ser a
sua área, delega nesse seu colega esse capital de confiança. A este colega compete
encaminhar o processo e assistir o constituinte até ao final da questão.
O cliente não compreenderá ser atendido por vários advogados da sociedade, para o seu
caso, conforme a disponibilidade de agenda dos advogados que integram a dita
sociedade.

Grandes Princípios Deontológicos

Direitos e Deveres dos Advogados

Direitos e Garantias dos advogados:

Art.67 = Direito a tratamento compatível com a dignidade da advocacia e a condições


adequadas para o cabal desempenho do mandato.

Art.66 = Direito à protecção da Ordem na defesa de interesses legítimos, incluindo a


sua intervenção autónoma como assistente nos processos penais em que o advogado
intervenha como ofendido – Arts.5/2 e 45/1/u.

Art.74 = Direito à informação, exame de processos, pedidos de certidões, atendimento


preferencial e de ingresso nas secretarias.
O direito de requerer certidões sem necessidade de procuração, não prejudica o disposto
nos Arts.174 C.P.C e 89 e 90 C.P.P quanto às formalidades para a sua obtenção.

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O direito dos advogados poderem consultar os livros das Conservatórias prevalece sobre
a regra geral do Art.105 do Código de Registo Predial. A expressão «qualquer pessoa»
do Art.104 do Código de Registo Predial não abrange os advogados.

Arts.70 e 71 = Direito a regime especial na imposição de selos, arrolamentos e buscas


no escritório e proibição da apreensão da correspondência que respeite ao patrocínio.
A não verificação destas garantias implica a nulidade do acto, conforme decorre do
Art.201/1 C.P.C, não só pela omissão de uma formalidade essencial e que é ofensiva da
dignidade do advogado (estas diligências só podem ser decretadas e presididas por um
juiz) mas também porque sendo garantias expressamente asseguradas por lei, a sua
violação pode influir na decisão da causa.
No que se refere á correspondência (excepto no caso de respeitar a facto criminoso do
advogado) deve entender-se que se trata de toda e qualquer correspondência
profissional, quer esta se encontre no escritório, quer noutro local, incluindo terceiro. Só
assim se garante o segredo profissional vertido no Art.87.

Art.73 = Direito de comunicação pessoal e reservado com réus presos.


Como a grande maioria dos estabelecimentos prisionais não tem instalações condignas
para o efeito, deve o advogado reclamar urbanamente um compartimento reservado
onde o possa fazer. A autoridade competente tem o dever de assegurar ao advogado as
condições para o cabal desempenho do mandato, conforme dispõe o Art.67.

Art.75 = Direito de protesto


Trata-se de um direito que o advogado deve de usar com parcimónia e em qualquer acto
judicial em que entenda que lhe estão a ser coarctados e limitados os seus deveres e
direitos de patrocínio.
O protesto pode ser oral, embora seja mais frequente ser utilizado como requerimento
para a acta. O juiz é obrigado a conceder a palavra ao advogado para o efeito, sob pena
de incorrer em responsabilidade disciplinar por desobediência à lei – arts.4/2 e 82 da
Lei nº 21/85 – Estatuto dos Magistrados Judiciais.
O protesto equivale à arguição da nulidade.

Art.64 e Art.114 da Lei nº 3/99 (L.O.F.T.J) = Direito ao livre exercício de patrocínio


e ao não sancionamento pela prática de actos conformes ao Estatuto da profissão.
Reconhece ao advogado liberdade de actuação e de crítica ás decisões judiciais para o
cabal desempenho do mandato, sem prejuízo do respeito pelas normas legais e
deontológicas, conforme dispõe o Art.92/2 e o Art.154/3 C.P.C.

Deveres dos advogados: Arts.83 a 107

Art.83 = Dever geral de integridade.


Impõe um comportamento público e profissional « à dignidade e responsabilidades da
função que exerce» como elemento «indispensável à administração da justiça».
Compreende a honestidade, probidade, rectidão, lealdade, cortesia e sinceridade.

Art.85 = Deveres para com a Comunidade. Dever de defender os direitos, liberdades e


garantias do cidadão; pugnar pela boa aplicação das leis; pela rápida administração da
justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas.

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Significa isto que o advogado não se deve servir de meios ou expedientes ilegais ou
dilatórios ou distorcer o direito.
Estes deveres resultam da função ético – social da advocacia e são uma marca da
nobreza da profissão.
Deve, também, recusar-se a patrocinar questões injustas ou prestar serviços quando
suspeite seriamente que daí poderão advir resultados ilícitos.

Art.86 = Deveres para com a Ordem. Obrigação de não prejudicar os fins e o prestígio
da Ordem e colaborar na prossecução dos seus objectivos (elencados no Art.3) entre os
quais ressalta o de defender o Estado de direito e o de zelar pela «função social,
dignidade e prestígio da profissão».

Art.87 = Dever de guardar segredo profissional

Art.88 = Dever de não discutir em público questões profissionais. O advogado, por


decoro profissional e pela concepção da advocacia como uma magistratura cívica, não
deve pronunciar-se, nos meios de comunicação social, sobre questões pendentes,
excepto quando autorizado ou em casos de manifesta urgência conforme resulta dos nº
2 e 6. Deve de acautelar sempre o segredo de justiça e o segredo profissional sempre
que o fizer.

Art.89/1/4 = Dever de não fazer publicidade que afecte a dignidade da advocacia, de


conteúdo enganoso, persuasivo, ideológico, de auto – engrandecimento e de
comparação. Trata-se de salvaguardar o prestigio e dignidade da advocacia
reconhecidos pelos Arts.3/d, 67/1 e 83/1.

Arts.90 e 105 = Dever geral de urbanidade ou dever de correcção. É uma regra geral de
comportamento cívico – social. Para o advogado é também um dever específico em
relação a colegas, magistrados, funcionários, testemunhas e demais intervenientes
processuais.
Decorre de outros preceitos – Arts.83/2 e 107/a – e constitui o advogado na obrigação
de ser correcto para todos.
É reprovável o advogado que, às vezes para agradar ao seu cliente, invective as
testemunhas da parte contrária ou teça considerações desprimorosas para com o colega.

Art.91 = Dever de informar colegas e magistrados da intenção de aceitar patrocínio


contra eles. Decorre da regra da urbanidade. Deve de apresentar todas as explicações
necessárias.

Arts.92 a 96 = Deveres para com o cliente. O advogado deve de estudar e tratar com
zelo a questão confiada; dar ao cliente uma opinião conscienciosa; prestar contas
honestas; guardar segredo profissional e recusar mandato em causa conexa ou noutra
em que defenda a parte contrária.
Deve utilizar todos os meios legítimos, usando o seu saber e experiência, para defender
os interesses do cliente mas sempre respeitando as normas legais e deontológicas. Deve,
ainda, dar ao seu constituinte todo o apoio moral e a sua solidariedade.

Art.93 = Dever geral de patrocínio e de competência. A função social e a participação


para uma boa administração da justiça impõem um dever geral de aceitar todas as

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questões justas e viáveis, quer a pedido do cliente, quer por nomeação oficiosa –
Art.85/2/f – e de não cessar o patrocínio sem motivo justificado – Art.95/1/e/2.

Art.106 = Dever de solidariedade. Impõe uma relação de confiança e cooperação entre


os advogados em benefício dos clientes e a evitar litígios inúteis. É como que um dever
de conciliação – Art.95/1/c – que manda o advogado «aconselhar toda a composição
que ache justa e equitativa».

Art.107 = Deveres para com os colegas. A correcção e a urbanidade, a lealdade e a


confraternidade são a essência dos deveres recíprocos dos advogados.

Art.69 = Dever de usar a toga. O seu uso é obrigatório para todos os advogados e
advogados estagiários quando pleiteiem oralmente. Não permite ao juiz impedir o
advogado de intervir sem ela numa audiência, dado tratar-se de matéria de carácter
deontológico e não processual.

Art.104 = Dever de não contactar com testemunhas. É uma proibição que também se
aplica aos advogados de empresas, ainda que certas informações necessárias para o
patrocínio da causa só possam ser dadas por pessoas que possam vir a ser testemunhas.
Sendo este o caso deve de ser outro a obter essas informações de modo a que não seja o
mesmo advogado a falar com a testemunha e a interrogá-la em Tribunal. Evitam-se
riscos e suspeitas.

Imunidades dos Advogados

Falamos da liberdade – Art.61/3 e 64 – e da independência – Arts.76/1,83 e 84 – do


advogado. Trata-se mais de uma garantia para o cidadão e para a comunidade do que
para o advogado em nome do interesse público da profissão.
Art.208 C.R.P e Art.114 da Lei nº3/99 (L.O.F.T.J)
Art.45/1/d e Art.3/e.

Mediatização da Justiça

Ultimamente tem-se verificado um assédio aos Tribunais por parte da comunicação


social devido ao facto de muitos magistrados pretenderem romper com a tradicional
clausura forense e de alguns advogados procurarem um certo vedetismo.
Torna-se necessário encontrar um ponto de equilíbrio que concilie o direito à
informação com o direito ao bom nome, à reputação, à imagem e à reserva da vida
privada. Direitos, aliás, constitucionalmente garantidos – Arts.206 C.R.P e 87/2 C.P.P.
Arts.76/3;78/e;82/1 E.O.A.
Se a intromissão da comunicação social no quotidiano forense teve a virtude de
dessacralizar os Tribunais também tem o grande perigo de perturbar a boa
administração da justiça.

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Segredo Profissional

O dever de guardar segredo profissional é uma regra de ouro da advocacia e um dos


mais sagrados princípios deontológicos.
O cliente ou o simples consultante deve de ter absoluta confiança na descrição do
advogado para lhe poder revelar toda a verdade.

Art.87 = O advogado está obrigado a segredo profissional quanto a todos os factos de


que tenha conhecimento, directa ou indirectamente, no exercício da profissão, qualquer
que seja a fonte do seu conhecimento.

Fundamento ético – jurídico do segredo profissional = Princípio da confiança, dever


de lealdade para com o constituinte, tradição forense, dignidade da advocacia e função
de manifesto interesse público.
Arts.3/d;24;83 e85 E.O.A Arts.20/2 e 208 C.R.P e Arts.32 e 60 C.P.C e Arts.61/1/d;
62 e 64 C.P.P e Art.114 Lei nº 3/99 (L.O.F.T.J).
Art.340/1 C.C e Art.31 C.P.

Deste modo:

- O advogado está obrigado a segredo profissional relativamente a todos os factos ou


documentos de que tenha conhecimento por revelação do cliente ou por outrem a seu
mando; por virtude de desempenho de cargo na Ordem; por comunicação de colega
associado que lhe preste colaboração; do co-autor, co-réu ou co-interessado do cliente
ou seu representante e por causa de negociações relativas à pendência, malogradas ou
não.

- A obrigação existe quer o serviço solicitado ou prestado envolva ou não representação


judicial ou extrajudicial, quer deva ou não ser remunerado, quer haja ou não aceite o
serviço ou a representação.

- A obrigação estende-se a todos os advogados que, directa ou indirectamente, tenham


intervenção no serviço, que é o que pode suceder com um colega subestabelecido para
uma diligência, com os estagiários, empregados, colaboradores do escritório e juristas
ou peritos consultados sobre o caso, quer tenham ou não emitido parecer.

Regra = Absoluta confidencialidade dos factos e documentos de que o advogado tenha


conhecimento, directa ou indirectamente, no exercício das suas funções ou por causa
delas.

Não se incluem no dever de sigilo os factos notórios ou do domínio público, os que se


destinem a ser invocados ou alegados em defesa do cliente, os constantes de documento
autêntico e os que estiverem provados em juízo (Art.522 C.P.C).
Art.88

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Art.87/4 = Casos excepcionais em que pode ser concedida a dispensa ou
desvinculação do segredo profissional

Recurso para o Bastonário = Regulamento nº 94/2006 ( Arts.4; 5/1; 7/1 e 9).

Art.87/6 = Irrecorribilidade da decisão de deferimento


Art.108/2 = Não é possível pedir dispensa das comunicações confidenciais entre
advogados.
Art.135/3 C.P.P = Só o advogado e o Tribunal têm legitimidade para requerer ou
decretar a cessação do dever de sigilo (Art.3 Regulamento).

Requisitos para o advogado quebrar o segredo profissional (depondo como


testemunha ou exibindo um documento):
- Autorização prévia do Presidente do Conselho distrital respectivo, com recurso para o
Bastonário
- Alegação e prova de que a dispensa do sigilo é absoluta e inequivocamente
necessária à defesa da dignidade, direitos e interesses do próprio advogado, cliente ou
seus representantes.
A autorização nunca deverá ser concedida contra o próprio cliente ou para defesa de
interesses diferentes dos previstos neste artigo.

Recusa ou escusa = Arts.519/3 e 618/3 C.P.C e Art.135 C.P.P

Incompatibilidades e Impedimentos para o exercício da advocacia

Art.76 a 78

Art.76/2 = «O exercício da advocacia é inconciliável com qualquer cargo, função ou


actividade que possa afectar a isenção, independência e a dignidade da profissão».

Art.84 = Impõe ao advogado o dever de manter «sempre em quaisquer circunstâncias a


sua independência, devendo agir livre de qualquer pressão».
A isenção e a independência são o fundamento do regime das incompatibilidades e
impedimentos.

Incompatibilidades = Impedimentos absolutos – Art.77 a título enunciativo


Impedimentos = Impedimentos relativos – Art.78

Honorários

Critérios para a sua fixação – Art.100

Este artigo estabelece os critérios de cálculo tendo como princípio geral que os
honorários «devem corresponder a uma compensação económica pelos serviços
efectivamente prestados».

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Critérios a atender na fixação de honorários – Art.100/3:
- Importância dos serviços prestados
- Dificuldade e urgência do assunto
- Grau de criatividade intelectual da sua prestação
- Resultado obtido
- Tempo dispendido
- Responsabilidades assumidas
- Demais usos profissionais

- Importância dos serviços prestados = Elemento de conteúdo impreciso. O serviço


pode ser tecnicamente relevante mas não se repercutir no resultado obtido. Também
pode suceder que a causa seja tecnicamente simples e ter uma grande importância para o
cliente – é a sua causa!

- Dificuldade e urgência do assunto = Pressupõe uma indagação ou preparação


especializada e a prestação de serviços em condições de pressão temporal. O patrocínio
deve de ser adequadamente valorizado.

- Grau de criatividade = Não faz muito sentido. O advogado deve de ser sempre um
profissional competente – Art.53 – e deve «estudar com cuidado e tratar com zelo a
questão de que seja incumbido» - Art.95/1/b.

- Resultado obtido = Factor atendível, particularmente quando o cliente vê o seu


património aumentado significativamente ou, quando em processo criminal de certa
gravidade, seja absolvido ou condenado em pena não privativa da liberdade.

- Tempo dispendido = Factor mais importante. Qualquer remuneração deve de


corresponder ao trabalho efectivamente desenvolvido, o trabalho qualificado que é o
mandato forense.
Um advogado competente e experiente demorará menos tempo a estudar a questão do
que um advogado mais inexperiente. Isso não significa que essas qualidades não sejam
compensadas. O tempo a ter em conta não é só o despendido no exame da questão mas
o seu acompanhamento e este é igual para todos os advogados.
Como determinar:
- Custos fixos de manutenção e funcionamento do escritório
- Remuneração justa do trabalho desenvolvido pelo advogado no assunto
- Atender aos critérios referidos no Art.65/1

O advogado deve de afixar os valores mínimos e máximo da sua hora de trabalho


(imposição legal).

Estes critérios não são taxativos. O advogado deve de proceder conscientemente, com
moderação e especial sensibilidade, conjugando todos os factores, dando prevalência ao
tempo dispendido e não esquecer as posses do cliente.
Causas idênticas podem ter honorários diferentes.
Outro critério importante a ter em consideração é o valor da causa.

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Uma falta deontológica é a imoderação. Se houver queixa, o órgão competente –
Arts.54/a e 43/3/d - só pode exercer acção disciplinar após laudo desfavorável do
Conselho Superior – Art.43/3/e.

Laudo = Parecer técnico que pode ser solicitado pelo próprio advogado, pelos Tribunais
ou por quem tenha interesse legítimo na causa.

Convenção ou ajuste prévio – Art.100/2

Trata-se da possibilidade dos honorários serem fixados por convenção ou ajuste prévio.
O contrato tem de ser reduzido a escrito.
Os honorários devem de corresponder a uma compensação económica adequada aos
serviços efectivamente prestados. Visa salvaguardar os interesses do cliente que
pretenda saber quais os encargos que terá de suportar.

Quota – Litis

Quota – Litis = Fixação dos honorários em função exclusiva do resultado da lide. –


Art.101/2

Existe sempre que se estipule uma «certa percentagem sobre o montante de


indemnização» uma vez que «associa o advogado aos resultados do pleito, por o
advogado litigar simultaneamente por si e pelo cliente».
São formas de quota – litis os casos em que o advogado convenciona com o cliente o
pagamento de honorários acrescidos se forem favoráveis os resultados da demanda –
quota palmario. – Art.66

Análise ao nº 3 do Art.101:

Permite a fixação prévia do montante de honorários, ainda que em percentagem, em


função do valor do assunto.
Isto contraria os parâmetros estabelecidos para a quantificação dos honorários, pois
permite um pagamento que pode não corresponder aos serviços efectivamente
prestados.
Este sub – género é mais condenável que a quota – litis pura ou típica porque a
percentagem incide sobre o valor do assunto e não sobre o resultado. Significa que o
pagamento está sempre garantido, mesmo que o cliente perca a acção.

A segunda parte do nº 3 admite uma majoração em função do resultado obtido, o que


já é deontologicamente aceitável por se tratar de um dos elementos de ponderação.

Quota palmario = É um misto de quota - litis e de fixação prévia de honorários, pois


apenas uma parte destes fica sujeito ao resultado da demanda.
Continua a ser proibida.

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Questões Práticas – Provisão e Conta de Honorários

Art.98 – Provisão = Permite ao advogado exigir «quantias por conta dos honorários ou
para pagamento de despesas». Se o pedido não for satisfeito pode renunciar a ocupar-se
do assunto ou recusar aceitá-lo.
É prática corrente e aconselhável pedir provisão para despesas e por conta de
honorários.
Pode-se solicitar no início e no decorrer da causa.

Art.100/2 e Art.5 do Regulamento dos Laudos de Honorários = Deve-se apresentar a


conta de honorários ao cliente por escrito, com a descriminação dos serviços prestados
e a indicação do respectivo IVA.
O advogado deve de especificar e datar, separadamente, os serviços prestados, as
despesas realizadas e as provisões recebidas.
Em caso de conflito ou divergência com o cliente pode-se solicitar o respectivo laudo ao
Conselho Superior – Art.43/3/e

Art.109/2 = O pedido de cancelamento ou suspensão da inscrição na Ordem não faz


cessar a responsabilidade disciplinar por infracções anteriormente praticadas.

Art.110 = Admite o dolo e a negligência como forma de culpa. Contudo, basta a mera
culpa sem necessidade de intenção. Assim é possível aplicar as causas de exclusão da
culpa – Art.134 C.P

Responsabilidade Disciplinar do Advogado

Responsabilidade disciplinar = Visa assegurar o cumprimento dos deveres a que estão


vinculados os advogados, enquanto membros da Ordem, e a garantir a prossecução dos
seus objectivos.

A punição disciplinar não impede a acção criminal ou vice-versa mas os dois processos
são independentes e a condenação num não implica, necessariamente, a condenação no
outro.
A responsabilidade disciplinar dos advogados resulta da violação concreta de um dever
estatutário e o poder punitivo pertence em exclusivo à Ordem.

Art.110 = Comete infracção disciplinar o advogado que, por acção ou omissão, violar
culposamente algum dos deveres previstos no Estatuto, nos regulamentos internos ou
demais disposições aplicáveis.

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Infracção disciplinar = Qualquer comportamento merecedor de censura ético –
jurídica sob o ponto de vista da dignidade da advocacia e do prestígio institucional da
Ordem – Arts.83; 3/d;86/a

Tramitação Processual

A acção disciplinar encontra-se regulada nos Arts.109 a 173.

Art.118/1 = O processo disciplinar é instaurado «por decisão dos Presidentes dos


Conselhos com competência disciplinar ou por deliberação dos respectivos órgãos, com
base em participação dirigida aos órgãos da Ordem por qualquer pessoa devidamente
identificada».
Art.118/2 = O Bastonário e os Conselhos Superior, Geral, Distrital e de Deontologia,
podem, independentemente da participação, ordenar a instauração do processo
disciplinar.
Arts.116 e 117 = Os Tribunais e quaisquer autoridades devem dar conhecimento à
Ordem de todos os factos susceptíveis de constituir infracção disciplinar. No processo
podem intervir todas as pessoas que nele tenham um interesse pessoal e legítimo em
relação aos factos participados.
Arts.43 e 6/3
Arts.139 e 144
Art.150
Arts.125, 126 e segs., 137 e 157
Arts.162, 170, 171, 172 e 181/1/a

Responsabilidade Civil do Advogado

Art.483 C.C = De acordo com um princípio geral de equidade, aquele que, com dolo ou
mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal que
proteja interesses alheios, fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos que daí
resultem.
Se um advogado faltar culposamente aos deveres que resultam da aceitação de
mandato, prejudicando moral ou patrimonialmente o seu constituinte, pode incorrer em
responsabilidade penal, disciplinar e civil.
Art.99 E.O.A e 37 do Decreto - Lei nº 229/2004.
Arts.789 e 487 C.C – ónus da prova
Arts.309 e 498 C.C - prescrição

Pressupostos Cumulativos da responsabilidade Civil dos Advogados

- Facto voluntário e culposo do advogado


- Violação dos seus deveres deontológicos
- Dano e nexo de causalidade entre o dano e o facto

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