Técnica ao longo da história • Introdução: No decorrer da história, como sabemos, o homem dominou o fogo, cultivou a terra, domesticou os animais, construiu cidades, dominou a energia, implementou indústrias, encurtou caminhos, conquistou o espaço, transformou átomos em bits. Durante esse tempo a técnica e a tecnologia ganharam significações e representações diferentes. • Para entender essa técnica que molda o homem e que é moldado por esse próprio ser, vamos resgatar a gênese, a origem da técnica e as suas significações ao longo da história. Vamos perceber que essa técnica é um fenômeno que nasce com o homem, pois o homem é um ser técnico por essência. Para os gregos • A palavra técnica tem a origem etimológica do grego: tekhnè – que significa arte. Compreende as atividades práticas, desde a elaboração de leis e as funções de um artesão ou um padeiro. Também integram essa tekhnè, as belas artes, consideradas pelos gregos como a mais alta expressão da tecnicidade do homem. Tekhnè • Saber fazer humano, a ação de transformação feita pelo homem; Phusys • Princípio de geração das coisas naturais. O fazer de transformação da própria natureza; Poièsis • Tanto a tekhnè quanto a phusys fazem parte do processo de vir a ser, de passagem da ausência a presença, daquilo que não era e passa a ser, ao que os gregos chamavam de Poièsis. • Para os gregos todo ato humano é tekhnè e toda tekhnè tem por característica fazer nascer uma obra. Por tanto, a tekhnè é uma arte que coloca o homem no centro do fazer poiètico. A tekhnè é uma poièsis no sentido de revelar o fazer humano. DEFINIÇÃO TÉCNICA PELA VISÃO ETNOZOOLOGICA • O termo Etnozoologia surgiu nos Estados Unidos em 1899, tendo sido referido por Mason e por este definido como “a zoologia da região tal como é contada pelo selvagem”. • Complementa Marques (2002), a etnozoologia pode ser definida como o estudo transdisciplinar dos pensamentos e percepções (conhecimentos e crenças), dos sentimentos (representações afetivas) e dos comportamentos (atitudes) que intermedeiam as relações entre as populações humanas com as espécies de animais dos ecossistemas que as incluem. • Ao longo da história percebemos que as capacidades técnicas acabam diferenciando o homem dos outros animais. O homem é um ser técnico por definição, pois é a técnica que define o homem. • Segundo André Leroi-Gourhan – a técnica é uma tendência natural e determinante da evolução humana. TÉCNICA • É uma solução zoológica da espécie humana na confrontação com a natureza. É a primeira característica do fenômeno humano. • Processo de simbiose – Córtex – Ferramenta (técnica) – Sílex - Neurônios • Até aqui tem-se a evolução da técnica de cunho zoológico. Mas quando o homem passa a dominar a técnica e é dominado por ela é como se a técnica ganha-se liberdade e tivesse sua independência e seguisse o seu curso próprio. Para Leroi-Gourhan • “a aparição do homem é a aparição da técnica. É a ferramenta, isto é, a tekhnè, que inventa o homem e não o homem que inventa a técnica”. Segundo ele, é pela exteriorização tecnológica do corpo que a mão vai pedir a ferramenta. Portanto as ferramentas são a prolongação do corpo humano. Por exemplo, o martelo é a prolongação do braço, da mão. ESSÊNCIA DO HOMEM • A essência da natureza humana situa-se no que podemos chamar de processo de desnaturalização do homem, na sua simbiose com a técnica e na formação da cultura com o surgimento da linguagem. É esta genealogia da tecnicidade que vai interessar a Gilbert Simondon, que vai tratar da GÊNESE E O MODO DE EXISTÊNCIA DOS OBJETOS TÉCNICOS. • Eis um ponto importante a ser retratado. Precisamos entender o que é essa desnaturalização do homem. Vamos buscar o entendimento do Homem, Cultura, Linguagem e Técnica. CARACTERÍSTICAS DO HOMEM • Ser Técnico • Ser Racional • Ser Social • Ser Comunicativo • Ser Cultural CULTURA – O QUE É? • No cotidiano • - pessoa que tem cultura leu bons livros, boas escolas, conhecimento científico. • Edward B. Tylor, cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade” Cultura • A cultura é um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais artificiais (isto é, não naturais ou biológicos) aprendidos de geração em geração por meio da vida em sociedade.
• Características de um grupo. Característica comum
• - desenvolvimento, formação ou realização;
• - conjunto de conceitos, símbolos, valores e atitudes que modelam a sociedade • - o que pensamos, fazemos e temos. • - as sociedades possuem uma cultura • - valores e verdades • uma cultura é própria de um conjunto de povos com características comuns; Tipos de cultura • Nação – Brasileira ou chinesa • Religiosa – cristã ou muçulmana • Instituição – empresarial ou familiar • Etc. – mas cada qual tem seus valores e suas próprias verdades Características Gerais da Cultura • Para o Arqueólogo Norte-americano Robert Braidwood: – Adquirida pela aprendizagem e não herdada pelos instintos; – Transmitida de geração a geração, através da linguagem, nas diferentes sociedades; – Criação exclusiva dos seres-humanos, incluindo produção material e a não material; – Multiplicada e variável, no tempo e no espaço, de sociedade para sociedade; Cultura e Cotidiano • Recebemos diariamente influência dos diversos grupos culturais em que pertencemos – faculdade, igreja, família, trabalho – Influência direta no modo de agir, sentir e pensar – Somos também uma criação diária e constante da cultura em que vivemos Cultura invisível • Só percebemos quando confrontada com uma cultura diferente; – Ficamos bitolados a nossa cultura, tomamos aquilo como verdade, como o que realmente é precisa ser; – Sotaque Apreende-se o certo o errado, o possível e o impossível – juízos de valores de cada sociedade. HOMEM X ANIMAL • Habilidades – Força, visão, velocidade, habilidades, tipo de pele • Natureza e instinto? – Animal - repetição de padrão - Comportamento: Os insetos são praticamente iguais hoje e sempre. – Homem – mudança. Rompe o passado, questiona o passado e cria o futuro. Não vivemos do mesmo modo dos nossos pais, nem fizemos as mesmas coisas. O que difere o humano do animal? • Ponto de vista biológico – sistema nervoso e o cérebro; • Cultura – Mudança no mundo – mundo novo • Biosfera (parte do planeta que reúne condições para o desenvolvimento da vida) • Antroposfera (a parte do mundo que resulta do ajustamento da natureza às necessidades humanas) • Onde termina a natureza no homem e começa a cultura? • Em que momento aconteceu essa transição? • Para alguns estudiosos entendem que o fator determinante desta transição natureza-cultura é a linguagem. História da linguagem • Alfabeto (700 a.C) – facilitou a linguagem escrita, e possibilitou a transmissão de conhecimento, mitos e história através dos escritos deixados de geração para geração. (Reflexão e não somente exemplos – Sábio Ulisses, corajoso Aquiles – o que é a coragem, o que é a sabedoria?) História da linguagem • Imprensa de Gutemberg (Século XV) – Revolucionou a difusão dos escritos (livros) antes manuscritos podiam ser impressos, facilitando a educação e divulgação das idéias filosóficas e científicas. História da linguagem • - Linguagem eletrônica – Telégrafos, telefones, fax, rádio, televisão, cinema, vídeo, fotocopiadora, computador, Internet e telefone celular. Deu a possibilidade do homem viajar no espaço e no tempo. Estar em dois lugares ao mesmo tempo. Rever o passado através do vídeo, por exemplo. Encurtou distâncias, ou simplesmente derrubou barreiras. Transformando o mundo numa aldeia global. ESSÊNCIA DO HOMEM • Voltamos a essa questão – A essência da natureza humana situa-se no que podemos chamar de processo de desnaturalização do homem, na sua simbiose com a técnica e na formação da cultura com o surgimento da linguagem. É esta genealogia da tecnicidade que vai interessar a Gilbert Simondon, que vai tratar da GÊNESE E O MODO DE EXISTÊNCIA DOS OBJETOS TÉCNICOS. • Portanto, o que é produzido pela phusys é natural e o que produzido pela tekhnè é não-natural (artificial). Deixou de ser natural pois é reprodutor de cultura e transformador do meio: antroposfera, que se distanciou cada vez mais do natural com a mudança cultural que deu um passo muito grande com o desenvolvimento da linguagem.