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Resumo: Na atual divisão territorial do trabalho, o espaço rural está integrado a todos
as formas de produção e consumo da sociedade moderna. O desenvolvimento do meio
técnico-científico-informacional traz a implantação de novos fixos e, por sua vez, novos
fluxos se impõem às velhas formas espaciais. As mudanças nas formas espaciais são
muito rápidas e implicam em processos econômicos instáveis para parte considerável
das classes trabalhadoras e de setores produtivos de baixa renda ou excluídas do
mercado de trabalho. Este trabalho se propõe fazer uma breve análise da relação rural-
urbano na fronteira Mato-Grosso/Bolívia, objeto de estudo de minha dissertação de
mestrado.
Palavras-chave: Divisão do trabalho; Relações rural-urbano; fronteira; Mato Grosso-
Bolívia
Resumen: En la actual división del trabajo el espacio rural está integrado a todas las
formas de producción y consumo de la sociedad moderna. El desarrollo de los medios
técnicos científicos informacionales resultan en la implantación de nuevos fijos y, por
su vez, nuevos flujos se imponen a las viejas formas espaciales. Los cambios en las
formas espaciales son muy rápidas e implican en procesos económicos inestables
para sectores considerables de las clases trabajadoras y sectores productivos de baja
renta o excluídas del mercado de trabajo. Este trabajo se propone hacer un breve
análisis de la relación rural-urbano en la frontera Mato-Grosso/Bolívia, objeto de mi
tesina de maestria.
Palabras-clave: División del trabajo; Relaciones rural-urbano; frontera; Mato Grosso-
Bolivia
2 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BRANDÃO FILHO, J. B.
INTRODUÇÃO
A partir dos anos setenta começa a tornar-se visível uma nova investida do
capital no Centro-Oeste, abrindo-se novas fronteiras de expansão, tendo a soja como
carro-chefe do agronegócio. Esse processo não se dá isoladamente e contém no seu
âmago fortes alterações na divisão do trabalho, nos processos produtivos e, em
especial, nas relações cidade-campo. O Centro-Oeste, em especial o estado de Mato
Grosso, é exemplo dessas novas formas de organização do território.
Nesse novo processo as formas de acumulação do capital são diferentes, mas a
sua essência é a mesma: desigualdades territoriais e sociais para garantir a
concentração de capital nos centros hegemônicos, tanto ao nível espacial como de
classes sociais. O rural, com base na pequena produção ou na pecuária extensiva,
encolhe-se, e praticamente desaparecem do mapa as formas mais arcaicas.
Considere-se que o rural moderniza-se e a partir das preocupações
neomalthusianas da revolução verde e, não por acaso, um grande viés de acumulação
do capital, nos espaços de vantagens escalares, toma conta dos centros econômicos e
políticos regionais e nacionais. As empresas dirigem o olhar para uma nova forma de
acumulação que reúna articulações entre agregar valor aos recursos naturais, produzir,
transformar e vender aos grandes centros consumidores do mundo.
Neste sentido, este trabalho tem como proposta o estudo das relações rural-
urbano na fronteira do Estado de Mato Grosso com a Bolívia. O desenvolvimento do
trabalho compreende a seguinte estrutura: o rural e o urbano na acumulação do capital,
breve caracterização da área de estudo, evolução rural e urbana e mudanças no
trabalho formal.
MT
BOLIVIA
Fonte: Dados do IBGE (2000). Elaborado por Rafael Valente (2008) – Geografia/UFRJ
8 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BRANDÃO FILHO, J. B.
100000
90000
80000
70000 1970
60000 1980
50000 1991
40000 2000
30000 2007
20000
10000
0
e
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60.000 1996
2000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
Araputanga
Vila Bela da
Jauru
Mirasol do
Cáceres
Pontes e
Esperidião
dos Quatro
Lacerda
Santíssima
São José
Trindade
Marcos
Oeste
Porto
Municípios
também quase sempre é temporário e tende a seguir a lógica dos demais territórios,
objetos de expansão econômica em fases de colonização, em função de um
determinado ciclo ou implantação de modernização agropecuária e expansão de novas
fronteiras do capital.
30.000
25.000
1980
P o p u la ç ã o
20.000
1991
15.000
1996
10.000
2000
5.000
0
J auru
M ir a s o l d o
P o n te s e
E s p e r id iã o
d o s Q u a tr o
C ác eres
S a n tís s im a
A r a p u ta n g a
Lac erda
V ila B e la d a
São J osé
T r in d a d e
M arc os
O e s te
P o r to
Municípios
das terras baratas e das colonizações incentivadas pelo Estado ou pelas colonizadoras
privadas.
Um dos principais trunfos econômicos da região fronteiriça, no pantanal
matogrossense, é o desenvolvimento da produção agropecuária. Os dados mostram
que o Brasil produziu 204,5 milhões de bovinos em 2004, 207,15 milhões em 2005 e
205,88 milhões em 2006 (IBGE, 2006). Nessa evolução da produção nacional o estado
de Mato Grosso teve participação significativa, e nele a região de Cáceres. Por sua
vez, essa nova dinâmica implicou em rearranjos territoriais, principalmente em Cáceres
e Vila Bela da Santíssima Trindade.
Os dados no gráfico a seguir mostram a importância econômica da pecuária na
área de estudo.
1.200.000 Jauru
1.000.000
Pontes e Lacerda
800.000
Bovinos
Ano
Vale destacar que nos últimos anos o estado de Mato Grosso vem apresentando
evolução ascendente destacada na produção pecuária, colocando-se como o maior
produtor bovino do país. Em 2000 a sua produção foi de 12,5 milhões de cabeças, em
2004 passou para 25,9 milhões e, em 2006, 26 milhões.
Suzi Bonfim (2008) destaca que o Brasil é o 6o maior produtor de leite, com
aproximadamente 4,5% da produção mundial. Em 2007, o país produziu 26,7 bilhões
de litros de leite. A maior parte dos 35 mil produtores de leite encontra-se na região
oeste do estado de Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia. São 250 mil cabeças em
propriedades com até 100 hectares, o que por sua vez, caracteriza a forte presença de
pequenas propriedades modernizadas e altamente produtivas. Esse modelo se
Nova divisão do trabalho e mudanças nas relações rural-urbano na fronteira Mato 13
Grosso/Bolívia, pp.1-18
terra, como a comunidade “Mata Cavalo” e chiquitanos nas imediações de Vila Bela da
Santíssima Trindade.
Deve-se considerar, atualmente na agropecuária, a existência de um processo de
ocupação de terras na região, parcialmente sob o controle do INCRA. Alguns dessas
ocupações se constituíram em assentamentos parcialmente modernizados a exemplo
do assentamento Sadia, às margens da BR-070, o qual conta com cerca de mil
famílias, infra-estrutura interna e relações intensas com o núcleo urbano de Cáceres,
na prestação de serviços, compra de insumos e venda de produtos.
Pode-se dizer que o rural aí existente vive engessado ao urbano. As relações de
trabalho em sua maioria são informais e, portanto, não constam nos registros do
Ministério do Trabalho e do IBGE.
À medida que o capital também é mais flexível espacialmente, também a
população trabalhadora torna-se mais móvel nos espaços de reprodução do capital.
Torna-se, portanto, mais complexa a compreensão de sua mobilidade territorial. A sua
condição de sujeito de suas ações é cada vez mais abstrata. E a sua condição de
sujeito, nos princípios básicos do capitalismo e, portanto, da modernidade, está
relacionada à sua inserção na economia, no trabalho e na geração de renda.
A atual fase de modernização exige dos agentes espaciais condições de
competitividade e elevada produtividade, com articulações entre os territórios e as
classes sociais. Os processos de mudanças nos quadros demográficos, na evolução
da população natural e migrante, na reestruturação produtiva e espacial implicam em
novas estruturas que servem às novas funções locais ou regionais, que também por
sua vez alimentam os movimentos de reprodução do capital em outras escalas,
nacional ou global, também articuladas com as escalas de reprodução ao nível dos
blocos regionais, prioritários do modo de produção e circulação na fase atual de
globalização.
As hierarquias urbanas ou rurais regionais são parte de um macro sistema que
reproduz sub-sistemas locais ou microrregionais, cujos espaços necessitam também de
organização das funções em formas de hierarquias, horizontalidades e verticalidades,
na vida econômica, política e social que implicam na existência de pólos intermediários
de comando dos processos de produção e circulação.
Entretanto, na outra face do desenvolvimento regional, o jornal “A Gazeta”
Caderno Economia, 16 de julho de 2006, diz que “Cáceres lidera alta na faixa mais
pobre”. Cáceres lidera o número de famílias na classe E. Isolada pela crise da
16 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BRANDÃO FILHO, J. B.
pecuária, concentra este ano 923 famílias na classe E contra 464 famílias no ano
passado. Um incremento de 989,92%, muito acima da média regional de aumento de
6,01%, diz o artigo. Por outro lado, a alta mais virtuosa é verificada na outra ponta do
poder de consumo, com o crescimento de mais de 600% no numero de famílias na
classe A1 em Cáceres. A elite do consumo e renda na cidade é composta hoje por 163
domicílios contra apenas 23 famílias no ano anterior. A classe A1, segundo os critérios
do Instituto Target é a que possui renda familiar superior a R$11.070,00 por mês. O
estudo aponta a existência de 4.699 famílias na elite do consumo regional contra 3.407
famílias na mesma posição social em 2005, aumento de 37,92% ante o índice de alta
de 27,88% no país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho foi possível verificar alguns aspectos das relações entre o rural e
o urbano na região estudada. No campo teórico, sabe-se que há evidentes
divergências quanto à dicotomia rural-urbano. Essas servem para ocultar a essência
classista da formação do espaço urbano como matriz de poder e de gestão do capital,
sem considerar a essência das múltiplas relações que ocorrem na totalidade espacial.
As classes hegemônicas agem de acordo com as possibilidades dadas nos contextos
temporais e espaciais.
Neste sentido, observa-se que há singularidades nas questões urbanas e
regionais da área de estudo. Entretanto, as singularidades manifestadas servem como
oxigênio nas disputas entre os territórios e as classes, complementando-se nas suas
formas de acumulação. O nível de articulação entre o rural e o urbano, na fase atual,
depende do nível de desenvolvimento das forças sociais, tecnológicos e da
organização da produção no lugar.
As informações empíricas, confrontadas com o campo teórico conceitual sobre a
questão urbana e rural nos fazem compreender que numa região na qual o capital está
avançando e se consolidando enquanto forma produtiva moderna, aumentando o nível
de produtividade do espaço e sendo pólos logísticos de transportes, também aponta
para crises e, por sua vez, deslumbram-se novas alternativas de produtos de acordo
com as demandas do mercado mundial ou macro-regional.
Nos municípios da fronteira Mato Grosso-Bolívia, a atual reorganização do
espaço se insere na nova divisão territorial do trabalho, na qual o rural se moderniza,
Nova divisão do trabalho e mudanças nas relações rural-urbano na fronteira Mato 17
Grosso/Bolívia, pp.1-18
BIBLIOGRAFIA