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Autores
1
Mauricio Malavasi Ganança
2
Heloisa Helena Caovilla
Publicação: Jan-2007
O equilíbrio é uma função sensório-motora que visa estabilizar o campo visual e manter a
postura ereta. O equilíbrio corporal estável no meio ambiente é determinado pela integração
funcional de informações das estruturas sensoriais dos sistemas vestibular (formado pelo
labirinto, nervo vestibular e suas vias, núcleos e inter-relações no sistema nervoso central),
visual e proprioceptivo, nos núcleos vestibulares do tronco encefálico, sob a coordenação do
cerebelo.
3 - O que é tontura?
1
Professor Titular de Otorrinolaringologia da UNIFESP;
Coordenador do Programa de Mestrado em Ciências do Movimento Corporal da UNIBAN.
2
Professora Livre Docente da Disciplina de Otoneurologia da UNIFESP.
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• doenças metabólicas: hiper ou hipoglicemia, hiper ou hipoinsulinemia, hiper ou
hipotireoidismo, hipercolesterolemia;
• anemia;
• afecções cervicais;
• doenças do sistema nervoso central;
• alergias;
• distúrbios psiquiátricos.
5 - O que é vertigem?
Competindo com cefaléia e “dor nas costas”, tontura é um sintoma muito comum em
consultórios médicos. O sexo feminino é o mais acometido. Cerca de 40% dos adultos relatam
tontura em alguma ocasião de suas vidas. Os diferentes tipos de tontura podem ocorrer em
crianças, adolescentes e adultos, sendo mais freqüentes em idosos. Algumas estatísticas
evidenciam a queixa de tontura em 81% a 91% dos idosos atendidos em ambulatórios de
geriatria e em 1% das crianças atendidas em ambulatórios de neuropediatria.
Crianças com doença do sistema vestibular geralmente têm dificuldade de descrever o que
sentem. Um mal-estar ou desconforto indefinido pode ser o equivalente da tontura. Mau
rendimento escolar e atraso ou distúrbio da linguagem escrita ou falada podem indicar a
presença de labirintopatia.
A tontura freqüentemente gera insegurança física e psíquica, que podem levar a ansiedade,
depressão e medo. O paciente com tontura poderá ter dificuldades para efetuar atividades
domésticas, sociais ou profissionais. Há quadros clínicos incapacitantes.
10 - Como são conhecidas as doenças do labirinto que provocam vertigem e outros tipos
de tontura?
As doenças do labirinto que provocam vertigem e outros tipos de tontura são popularmente
conhecidas como “labirintites”. Esta designação é imprópria, porque nem sempre o substrato
fisiopatológico é de natureza inflamatória. Labirintopatia é o termo correto para designar uma
doença do labirinto. Vestibulopatia é o termo adequado para indicar a afecção do sistema
vestibular, que inclui labirinto, nervo vestibular, núcleos e inter-relações no sistema nervoso
central.
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12 - Quais são as principais avaliações complementares na busca da etiologia das
tonturas?
As doenças do labirinto e/ou do ramo vestibular do oitavo nervo craniano são denominadas de
vestibulopatias periféricas e as que comprometem estruturas vestibulares no sistema nervoso
central (núcleos, vias e inter-relações) são chamadas de vestibulopatias centrais.
Vestibulopatias podem ser primárias, quando as alterações funcionais originam-se nas
estruturas do sistema vestibular ou podem ser secundárias a problemas clínicos em outros
órgãos ou sistemas.
As crises vertiginosas intensas costumam ter início súbito e podem durar segundos, minutos,
horas ou vários dias. Habitualmente são acompanhadas de náuseas e vômitos, além de suor,
palidez, mãos frias, palpitações, impressão de desmaio ou perdas fugazes de consciência.
Crises mais severas podem provocar diarréia ou micção espontânea. Nas crises intensas pode
ser impossível ficar de pé ou andar. As modificações de posição da cabeça ou do corpo
agravam os sintomas.
A anamnese deve incluir a caracterização do início da tontura e dos sintomas associados, sua
duração, intensidade, constância ou intermitência, progressão, estabilização ou regressão,
fatores de melhora ou agravamento, concomitância com outras doenças. Antecedentes
pessoais e familiares devem ser investigados. O exame otorrinolaringológico pode encontrar ou
afastar causas na garganta, nariz e ouvidos.
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vectoelectronistagmografia ou videonistagmografia) é o procedimento de registro do nistagmo e
outros movimentos oculares.
18 - O que é nistagmo?
O nistagmo espontâneo é pesquisado no olhar frontal, com olhos abertos e depois fechados. A
pesquisa do nistagmo semi-espontâneo é realizada ao desvio do olhar inferior a 30 graus da
linha média, para a direita, para a esquerda, para cima e para baixo. A identificação da direção
destes movimentos oculares é o parâmetro mais importante de avaliação.
A prova calórica pode ser realizada por meio de estimulação térmica fria e quente, com ar ou
com água, em cada ouvido separadamente. O paciente é deitado em posição supina com a
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cabeça inclinada 30 graus em relação ao plano horizontal, para a estimulação dos canais
semicirculares laterais. Os parâmetros de análise são direção e velocidade do nistagmo pós-
calórico, com olhos fechados. O efeito inibidor da fixação ocular é investigado à comparação da
intensidade do nistagmo pós-calórico com olhos fechados e abertos.
Fora da crise vertiginosa, os pacientes com disfunção vestibular periférica podem apresentar
alterações de uma ou mais provas da avaliação otoneurológica, em comparação com o padrão
normal. Além disso, não apresentam sinais sugestivos de comprometimento vestibular central.
Os achados anormais mais comuns, que podem ocorrer isoladamente ou em diferentes tipos
de combinação, são: nistagmo de posicionamento e/ou posicional com vertigem, latência,
paroxismo e fatigabilidade; nistagmo espontâneo com os olhos fechados; preponderância
direcional na prova rotatória pendular decrescente; hipo ou hiperexcitabilidade na prova
calórica, e alterações dos reflexos vestíbulo-oculares horizontal e/ou vertical na prova de auto-
rotação cefálica.
Os pacientes com disfunção vestibular central podem apresentar alterações de uma ou mais
provas, em comparação com o padrão normal e apresentam sinais sugestivos de lesão
vestibular central. Os achados anormais mais comuns, que podem ocorrer isoladamente ou em
combinação, são: nistagmo de posicionamento e/ou posicional sem vertigem, latência,
paroxismo e fatigabilidade; nistagmo espontâneo com olhos abertos, não estando o paciente
em crise vertiginosa; nistagmo espontâneo dissociado, em que um olho bate de forma diferente
do outro olho; nistagmo espontâneo alternante, que muda de direção a intervalos geralmente
regulares; nistagmo semi-espontâneo em mais de uma direção cardinal do olhar; alterações
relevantes dos movimentos sacádicos, rastreio pendular e nistagmo optocinético; nistagmo
pós-calórico invertido (nas direções contrárias às esperadas), pervertido (de direção vertical ao
invés de horizontal), dissociado, abolição da componente rápida, com bloqueio do olho no olhar
extremo, durante o efeito da estimulação térmica. A ausência do efeito inibidor da fixação
ocular pode ser observada à comparação da intensidade do nistagmo espontâneo e pós-
calórico com olhos abertos e fechados.
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29 - Quais são os quadros clínicos que freqüentemente apresentam vertigem e outros
tipos de tontura?
Quadros clínicos que freqüentemente apresentam vertigem e outros tipos de tontura são:
• afecções da orelha média e/ou da tuba auditiva,
• cinetose e mal do desembarque,
• doença autoimune da orelha interna,
• doença de Menière e outras formas de hidropisia endolinfática,
• esclerose múltipla,
• fístula perilinfática,
• fobias,
• insuficiência vertebrobasilar,
• isquemia cerebral transitória,
• labirintopatias de origem vascular,
• labirintopatias de origem metabólica,
• migrânea,
• neurite vestibular ou cocleovestibular,
• ototoxicoses,
• presbivertigem ou presbiataxia,
• schwannoma vestibular e outros tumores do ângulo pontocerebelar,
• síndromes cervicais,
• síndrome do pânico,
• trauma labiríntico,
• vertigem paroxística benigna infantil,
• vertigem postural paroxística benigna,
• vertigem psicossomática,
• vertigem recorrente benigna.
31 - Qual é a história clínica dos pacientes com vertigem posicional paroxística benigna?
A afecção pode ter diferentes causas, como trauma craniano, distúrbios metabólicos e/ou
cardiovasculares, infecções, pós-cirurgia geral ou otológica, ototoxicidade, otite média,
insuficiência vertebrobasilar ou outras doenças labirínticas como doença de Menière e neurite
vestibular. No entanto, é idiopática na maioria dos casos.
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33 - Qual é o achado fundamental à avaliação otoneurológica na vertigem posicional
paroxística benigna?
O diagnóstico da vertigem posicional paroxística benigna é feito pela história clínica e pela
avaliação otoneurológica. O achado fundamental é um nistagmo posicional ou de
posicionamento, com latência, paroxismo (de curta duração, com intensidade crescente e a
seguir decrescente) e fatigabilidade (desaparece ou diminui de intensidade com a repetição do
posicionamento desencadeante), acompanhado de vertigem.
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distensões, rupturas e cicatrizações da membrana de Reissner alteram e atrofiam o ducto
coclear e outras estruturas do labirinto, causando danos progressivos para a audição e para o
equilíbrio corporal.
O termo síndrome de Menière aplica-se quando é possível identificar uma etiologia em casos
com os sintomas e/ou sinais sugestivos de hidropisia endolinfática.
Vertigem e outras tonturas costumam ser sensíveis a tratamento coerente com a hipótese
diagnóstica. Depois de estabelecido o diagnóstico, o quadro clínico deve ser claramente
explicado ao paciente, para que ele compreenda o que tem e como será efetuado o tratamento
para a tontura e sintomas associados. A participação ativa do paciente, esperança e vontade
de curar-se, confiança no médico e otimismo auxiliam na resolução do problema. Adesão às
instruções médicas, persistência e paciência para esperar pelos resultados, que podem
demorar algum tempo para surgirem, também são fundamentais.
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Os supressores vestibulares têm ação sedativa sobre o sistema vestibular, reduzindo a
intensidade das crises vertiginosas, mas podem ser insuficientes para evitá-las. Em doses
adequadas, os eventos adversos destas substâncias costumam ser mínimos e destituídos de
importância. Os médicos devem conhecer as ações positivas ou negativas da medicação
antivertiginosa e respeitar possíveis restrições e contra-indicações.
A melhora geralmente ocorre após algumas semanas de tratamento. Para não interferir na
compensação vestibular, a dose do antivertiginoso deve ser reduzida assim que houver
melhora dos sintomas. Doses altas por prazo prolongado podem prejudicar a compensação. No
entanto, em alguns casos especiais, uma medicação prolongada ou mesmo permanente pode
ser necessária.
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45 - Leitura recomendada
Baloh RW, Halmagyi GM. Disorders of the vestibular system. New York: Oxford University;
1996, pp. 541-50.
Brandt T. Vertigo: its multisensorial syndromes. 2nd ed. London: Springer; 1999.
Caovilla HH, Ganança MM, Munhoz MSL, Silva MLG. Equilibriometria clínica. São Paulo:
Atheneu; 1999.
Caovilla HH, Silva MLG, Munhoz MSL, Ganança MM. Entendendo as tonturas. São Paulo:
Atheneu; 1999. pp. 27-51.
Committee on hearing and equilibrium guidelines for the diagnosis and evaluation of therapy in
Meniere's disease. American Academy of Otolaryngology-Head and Neck Foundation, Inc.
Otolaryngol Head Neck Surg 1995;113:181-185.
Ganança MM. Vertigem tem cura? São Paulo: Lemos; 1998. 302 p.
Ganança MM. Tratamento dos distúrbios equilibratórios por comprometimento vascular central.
In: Lavinsky L. Tratamento em otologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2006. p6. 611-616.
Ganança MM, Caovilla HH, Ganança FF, Peluso E.TP. Vertigem. In: Lopes AC. Tópicos em
clínica médica. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. pp. 668-674.
Ganança MM, Caovilla HH, Munhoz MSL, Silva MLG. Estratégias terapêuticas em
otoneurologia. São Paulo: Atheneu; 2000.
Ganança MM, Munhoz MSL, Caovilla HH, Silva MLG. Condutas na vertigem. São Paulo:
Moreira Júnior; 2004.
Ganança MM, Caovilla HH. Tratamento clínico da vertigem. In: Lavinsky L. Tratamento em
otologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2006. pp. 553-556.
Ganança MM, Munhoz MSL, Caovilla HH, Silva MLG, Ganança FF. Distúrbios do equilíbrio
corporal. In: Lopes AC, editor. Diagnóstico e tratamento. São Paulo: Manole; 2006. pp. 782-
796.
Ganança MM, Munhoz MSL, Caovilla HH, Silva MLG. Managing vertigo. Hannover: Solvay;
2006.
Goebel JA. Practical management of the dizzy patient. Philadelphia: Lippincott Williams &
Wilkins; 2001.
Munhoz MSL, Caovilla HH, Silva MLG, Ganança MM. Audiologia clínica. São Paulo: Atheneu;
2000.
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