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Analise1
CORPOS ORDENADOS E O POS-
TULADO DE DEDEKIND
As aulas, a partir daqui, serão dedicadas àquilo que chamamos de
Análise Real que é, grosso modo, o estudo do Cálculo Diferencial e Integral Grosso modo. Locução la-
visto de maneira rigorosa. Quando o Cálculo surgiu ele estava repleto de tina. De modo grosseiro, im-
preciso; aproximadamente.
interpretações geométricas intuitivas, o que não é um fato negativo, muito
pelo contrário, que nos ajudam a entender os conceitos e este entendi-
mento se solidifica se nos afastarmos, nos estudos introdutórios, do excesso
de rigor. Tal fato se torna transparente quando estudamos o conceito de
derivada, e de modo subjacente o de limite, via noção de reta tangente, ou
a noção de integral motivada pelo o de cálculo de área. Muito embora as
motivações intuitivas sejam desejáveis e necessárias em um certo estágio
inicial, faz-se necessário colocar os conceitos em bases firmes. Isto foi o que
aconteceu com o Cálculo, principalmente ao longo do século XIX, quando
matemáticos, tais como Cauchy, Bolzano, Weierstrass e tantos outros, ve-
rificaram que os conceitos desenvolvidos no Cálculo e usados com muito
sucesso nas aplicações, precisavam de justificativas à luz do rigor que se
impunha no referido século. Assim, o conceito de limite, e os de conti-
nuidade, derivabilidade, integração, etc. e até mesmo a construção dos
números reais precisavam ser colocados de forma precisa. É que faremos
a seguir.
Começaremos com algumas considerações sobre os números reais, sendo
que para isso precisamos introduzir o conceito de Corpo.
Definição 1. Um corpo é um conjunto não-vazio F no qual se acham
definidas duas operações
+ : F × F → F,
que a cada (x, y) ∈ F × F → F associa um elemento x + y ∈ F e
· : F × F → F,
Outro fato que deve ser enfatizado é que a cada número racional pq
corresponde um único ponto sobre a reta. No entanto, a recı́proca disto
fato não é verdadeira, ou seja, não é verdade que a cada ponto da reta
esteja associado um número real. Isto era conhecido na Grécia Antiga
e, segundo se comenta, a descoberta deste fenômeno teria causado grande
impacto nas estruturas da Matemática Pitagórica. Mostremos que existem
números que não são racionais e que correspondem a pontos da reta. É o
que faremos no exemplo a seguir.
figura 1
Podemos supô-los positivos. Usando o Teorema de Pitágoras, obtém-
se 2
p
= 12 + 12 = 2
q
e daı́
p2 = 2q 2
o que nos diz que o numero p2 é par e daı́, verifique como exercı́cio, p é
par, ou seja, p = 2k, para algum inteiro positivo k. Donde
4k 2 = 2q 2 ⇒ q 2 = 2k 2
e então q 2 é par, o que implica que q é par. Portanto, p e q são pares. Sendo
p e q supostos primos eles não podem ser pares e isto é uma contradição.
(i) Se x, y ∈ K, então x + y ∈ K e xy ∈ K.
x ∈ K, −x ∈ K, x = 0.
x − y ∈ K, −(x − y) = y − x ∈ K, x − y = 0.
x = sup A.
x = inf A.
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A = {y ∈ Q; a ≤ y < b}
a = inf A e b = sup A.
(a) A1 = {1, 2, 3, . . . , n}
A = x ∈ Q; x2 < 2, x > 0
−A = {−a; a ∈ A}
sup(−A) = − inf A.
(1 + nr)(1 + r) ≤ (1 + r)n (1 + r)
⇓
1 + r + nr + nr2 ≤ (1 + r)n+1
⇓
1 + (n + 1)r ≤ (1 + r)n+1 ,
pois nr2 > 0, que é a desigualdade para n + 1. Pelo Princı́pio da Indução
a desigualdade de Bernoulli é válida para todo n ∈ N.
Aplicação 8. Se r ≥ 0, então
n(n − 1)r2
(1 + r)n ≥ 1 + nr + , para todo n ∈ N.
2
UFPA Cálculo 11
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
(a)
1 1 1 1 1 1 1 − ( 12 )(r−1)n
1+ + + · · · + ≤ 1 + + + · · · + ≤
2r 3r nr 2r 3r (2n − 1)r 1 − ( 12 )r−1
(b)
n(n + 1)
1 + 2 + ··· + n =
2
(c)
13 + 23 + · · · + n3 = (1 + 2 + · · · n)2
(d)
1
12 + 22 + · · · + n2 = (2n3 + 3n2 + n)
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Exercı́cio 3. Um tópico importante em Análise são as chamadas desi-
gualdades. Este exercı́cio abordará algumas desigualdades importantes
que surgirão em várias situações ao longo destas aulas. Comecemos de-
finindo módulo ou valor absoluto de um número real. Dado um número
real x, define-se seu módulo ou valor absoluto, designado por |x|, por
x se x ≥ 0,
|x| =
−x se x < 0.
Feito isto, demonstre as seguintes desigualdades. Se a, b ∈ R, então
(d) Se a, b ≥ 0, então
√
a+b
ab ≤
.
2
Esta desigualdade expressa o fato de que a média geométrica de dois
números nunca excede a sua média aritmética.
a2 + ab + b2 ≥ 0.
(a) |x + 1| < 3;
(d) |x − 2| · |x + 1| = 3.
Exercı́cio 5. Se x, y ∈ R, mostre que
|x + y| = |x| + |y| ⇔ xy ≥ 0.
|x − a| <
(c) Se α ∈ R, então
inf(A + α) = inf A + α
e
sup(A + α) = sup A + α.
∩∞
n=1 In = {a} .
∩∞
n=1 Jn = ∅.
1 1 1 1 1
+ + +·+ =1− .
1·2 2·3 3·4 n(n + 1) n+1
...
...
Quem nos ensinou a conhecer as analogias verdadeiras e
profundas, aquelas que os olhos não vêem, e que a razão adi-
vinha?
O espı́rito matemático, que desdenha a matéria, para só
se ater à forma pura. Foi ele que nos ensinou a chamar pelo
mesmo nome seres que só diferem pela matéria, a chamar pelo
mesmo nome, por exemplo, a multiplicação dos quatérnions e
a dos números inteiros.
...
São esses os serviços que o fı́sico deve esperar da Análise,
mas para que essa ciência possa prestar-lhe esses serviços, é
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preciso que ela seja cultivada do modo mais amplo, sem pre-
ocupação imediata de utilidade; é preciso que o matemático
tenha trabalhado como artista.
O que lhe pedimos é que nos ajude a ver, a discernir nosso
caminho no labirinto que se nos oferece. Ora, quem vê melhor
é aquele que mais ascendeu.
...
O único objeto natural do pensamento matemático é o
número inteiro. Foi o mundo exterior que nos impôs o contı́nuo;
sem dúvida o inventamos, mas esse mundo nos forçou a in-
ventá-lo.
Sem ele não haveria análise infinitesimal; toda a ciência
matemática se reduziria à aritmética ou nà teoria das substi-
tuições.
Ao contrário, dedicamos quase todo o nosso tempo e todas
as nossas forças ao estudo do contı́nuo. Quem será capaz de
lamentá-lo, quem julgará que esse tempo e essas forças foram
perdidos?
A Análise nos abre perspectivas infinitas, que a aritmética
não suspeita; num breve olhar mostra-nos um conjunto gran-
dioso, cuja ordem é simples e simétrica; ao contrário, na teoria
dos números, onde reina o imprevisto, a visão é, por assim
dizer, tolhida a cada passo.
...