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Ao lado de minha casa havia uma vila. No fundo desta vila morava o Zelão, um
homem alegre que gostava de contar histórias e piadas. Ao redor dele todos viviam
rindo. Na verdade ele parecia um homem feliz, mas não era. Zelão era um alcoólico
e exalava quase sempre um forte cheiro de álcool.
Às vezes ficava tão embriagado que não conseguia voltar para casa. Uma vez eu vi
sua esposa e duas filhas virem pegá-lo caído na calçada. Elas disfarçavam, mas o
rosto delas era triste.
Quando estava sóbrio, sem beber, seu Zelão era um homem diferente: calado,
respeitador, educado e comedido. Mas ao beber, suas bochechas e nariz ficavam
vermelhos e ele se tornava o vacilante, falador e aparentemente alegre seu Zelão.
Nas quartas-feiras, a dona Heny, minha mãe, reunia em casa algumas mulheres da
igreja para fazer orações, cantar hinos e ler a Bíblia. A reunião era muito alegre.
Começava com muita oração e depois elas cantavam e liam a Bíblia. Tinha uma
mulher que tocava um órgão portátil com um pequeno teclado e dois pedais. Um
menino de uns nove anos, filho da dona Heny, tocava o violão acompanhando a
cantoria. No final, sempre tinha coisas gostosas para comer.
A verdade é que, quando as mulheres começavam a cantar, o som era tão alto que
todos que passavam na rua olhavam para dentro da casa. Quando alguém parava
no portão a dona Heny fazia questão de convidar a pessoa para entrar. A maioria
não aceitava. Diziam que voltariam outro dia. Mas ela não perdia a oportunidade de
sempre convidar os vizinhos.
Mas o Zelão se segurava no portão e ficava ouvindo. Minha mãe logo o trazia para
dentro e o fazia assentar-se no banco de madeira da varanda. Ali, cambaleante,
molhado e fedido ele ouvia os hinos, a pregação da Palavra e não saía sem que as
irmãs o rodeassem e fizessem por ele uma boa oração para que Deus o livrasse
daquele vício e o abençoasse.
Aí, então, ele chorava. Punha as mãos no rosto e chorava como uma criança. Na
semana seguinte lá estava o Zelão novamente bêbado, se arrastando, sujo,
machucado, falando alto e exalando de longe o forte cheiro de álcool. E isto
aconteceu várias vezes.
Muitos anos depois a dona Heny passava por uma rua cheia de lojas quando um
homem bem vestido de paletó e gravata, bem penteado, transparecendo no rosto
muita saúde, se aproximou dizendo:
– Irmã Heny, eu sou José Henrique, o Zelão! A senhora orava por mim nas reuniões de
oração em sua casa, lembra? Eu vivia bêbado!
- Irmã Heny, muito obrigado por ter insistido em orar por mim. Depois que a senhora
mudou, eu fui para a igreja. Jesus me livrou daquele maldito vício. Minha família
também conheceu a Jesus comigo. Veja, eu trabalho aqui!
Disse ele, apontando para uma grande loja brilhante, envidraçada, cheia de
motocicletas novinhas. Com alegria de verdade e gratidão se despediu.
Dona Heny, admirada, seguiu feliz dando glórias a Deus, certa de que nem mesmo
um vício destruidor como o do álcool pode resistir ao amor salvador de Jesus.
E eu que contei esta história para vocês sou o menino que tocava violão nas
reuniões de oração na quarta-feira, o filho da dona Heny. Eu conheci o “seu” Zelão e
vi tudo isto acontecer. Também sou testemunha de que o amor de Deus, pelo poder
de Jesus, pode fazer um prisioneiro do vício se tornar uma pessoa livre.