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Zelão e a reunião de oração

Joubert de Oliveira Sobrinho


Outubro/2009
emfamilia23.blogspot.com

Ao lado de minha casa havia uma vila. No fundo desta vila morava o Zelão, um
homem alegre que gostava de contar histórias e piadas. Ao redor dele todos viviam
rindo. Na verdade ele parecia um homem feliz, mas não era. Zelão era um alcoólico
e exalava quase sempre um forte cheiro de álcool.

As crianças caçoavam dele porque de vez em quando o seu Zelão fazia as


necessidades nas calças e passava entre elas cambaleante, malcheiroso, rosto e
braços machucados de tanto cair. Elas não deviam rir dele. Zelão era um homem
doente. Não se caçoa de um doente.

Às vezes ficava tão embriagado que não conseguia voltar para casa. Uma vez eu vi
sua esposa e duas filhas virem pegá-lo caído na calçada. Elas disfarçavam, mas o
rosto delas era triste.

Quando estava sóbrio, sem beber, seu Zelão era um homem diferente: calado,
respeitador, educado e comedido. Mas ao beber, suas bochechas e nariz ficavam
vermelhos e ele se tornava o vacilante, falador e aparentemente alegre seu Zelão.
 
Nas quartas-feiras, a dona Heny, minha mãe, reunia em casa algumas mulheres da
igreja para fazer orações, cantar hinos e ler a Bíblia. A reunião era muito alegre.
Começava com muita oração e depois elas cantavam e liam a Bíblia. Tinha uma
mulher que tocava um órgão portátil com um pequeno teclado e dois pedais. Um
menino de uns nove anos, filho da dona Heny, tocava o violão acompanhando a
cantoria. No final, sempre tinha coisas gostosas para comer.

A verdade é que, quando as mulheres começavam a cantar, o som era tão alto que
todos que passavam na rua olhavam para dentro da casa. Quando alguém parava
no portão a dona Heny fazia questão de convidar a pessoa para entrar. A maioria
não aceitava. Diziam que voltariam outro dia. Mas ela não perdia a oportunidade de
sempre convidar os vizinhos.

Mas o Zelão se segurava no portão e ficava ouvindo. Minha mãe logo o trazia para
dentro e o fazia assentar-se no banco de madeira da varanda. Ali, cambaleante,
molhado e fedido ele ouvia os hinos, a pregação da Palavra e não saía sem que as
irmãs o rodeassem e fizessem por ele uma boa oração para que Deus o livrasse
daquele vício e o abençoasse.

Aí, então, ele chorava. Punha as mãos no rosto e chorava como uma criança. Na
semana seguinte lá estava o Zelão novamente bêbado, se arrastando, sujo,
machucado, falando alto e exalando de longe o forte cheiro de álcool. E isto
aconteceu várias vezes.
Muitos anos depois a dona Heny passava por uma rua cheia de lojas quando um
homem bem vestido de paletó e gravata, bem penteado, transparecendo no rosto
muita saúde, se aproximou dizendo: 

- A senhora se lembra de mim? 

O rosto era conhecido, mas ela não conseguia lembrar de onde.

– Irmã Heny, eu sou José Henrique, o Zelão! A senhora orava por mim nas reuniões de
oração em sua casa, lembra? Eu vivia bêbado! 

Então o Zelão abaixou a voz e serenamente segurou as mãos de minha mãe


dizendo:

-  Irmã Heny, muito obrigado por ter insistido em orar por mim. Depois que a senhora
mudou, eu fui para a igreja. Jesus me livrou daquele maldito vício. Minha família
também conheceu a Jesus comigo. Veja, eu trabalho aqui! 

Disse ele, apontando para uma grande loja brilhante, envidraçada, cheia de
motocicletas novinhas.  Com alegria de verdade e gratidão se despediu.

Dona Heny, admirada, seguiu feliz dando glórias a Deus, certa de que nem mesmo
um vício destruidor como o do álcool pode resistir ao amor salvador de Jesus.

E eu que contei esta história para vocês sou o menino que tocava violão nas
reuniões de oração na quarta-feira, o filho da dona Heny. Eu conheci o “seu” Zelão e
vi tudo isto acontecer. Também sou testemunha de que o amor de Deus, pelo poder
de Jesus, pode fazer um prisioneiro do vício se tornar uma pessoa livre.

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