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Biohidrogênio uma nova opção

Frank Danner Rodrigues Silva1

Introdução

É conhecida a devida preocupação com a atmosfera do planeta; e muito se tem


discutido a respeito de medidas que podem diminuir ou anular a eliminação de gases
nocivos á camada de ozônio; e a células a combustível alimentadas por hidrogênio tem
se mostrado como uma boa alternativa já que os únicos produtos seriam vapor d água e
energia na forma de calor; porem este tipo de combustível apresenta certas dificuldades;
uma delas seria sua obtenção de forma mais pura, outra esta no armazenamento e
transporte, já que depende de grandes recursos tecnológicos e financeiros. Os
microorganismos fotossintetizantes podem ser uma alternativa viável na obtenção deste
gás. O presente trabalho visa apresentar a produção de H2(gasoso) através de
microrganismos e o funcionamento de uma célula o combustível em automóveis.

Os microrganismos e a produção de H2

As bactérias fotossintéticas, as microalgas e as cianobactérias são organismos


capazes de liberar H2 ao ambiente em condições de anaerobiose; além de apresentarem
muitas outras aplicações.
...as cianobactérias representam um importante papel,
consistindo uma fonte rica em proteínas, carboidratos, lipídeos, vitaminas, enzimas
e outros compostos. {Outros usos correntes e potenciais incluem: a} inoculante
para o solo; b) produção de energia pela produção do biogás metano e conversão da
energia solar através da biofotólise;c) fornecimento de produtos especiais como por
exemplo: corantes para alimentos e indústrias de cosméticos, ácidos graxos
essenciais e agentes marcadores fluorescentes; d) tratamento de águas residuárias;
e) remoção de metais pesados; e)na piscicultura, como alimento para peixes, ostras,
mariscos, etc. (PINOTTI 1991)

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Graduando em Ciências Biológicas pela Unifemm; revisão apresentada a disciplina de Fisiologia dos
vegetais.

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Para Paula as cianobactérias encontram-se entre os candidatos ideais já que se
utiliza de fontes nutricionais comuns ao ambiente terrestre como N2 e CO2 atmosféricos,
carbono, a água como fonte de eletros e a luz solar como fonte de energia e poder
redutor.
Atualmente, as cianobactérias têm uma ampla
distribuição geográfica ocupando habitats terrestres, aquáticos (água doce e
salgada), e ambientes extremos (nascentes termais e lagos gelados). Apesar de
denominadas azuis-verdes, as cianobactérias apresentam uma variedade de cores
que inclui o vermelho, o castanho, o amarelo, até mesmo o preto, devido às
diferentes combinações dos pigmentos fotossintéticos: clorofila a, carotenóides e fi
cobiliproteínas. (TAMAGNINI 2003)
As pesquisas de obtenção de H2 segundo Ana se destacam a dois gêneros de
organismos Nostoc e Chlamydomonas. As cianobactérias grupo a que pertence o gênero
Nostoc, utilizam para o efeito a enzima nitrogenase relacionada com a fixação de anoto ao passo
que as algas verdes unicelulares recorrem a uma enzima relacionada com a fotossíntese e se
mostram mais eficientes na produção do gás.
As enzimas envolvidas no processo de produção das cianobactérias são:

1. um complexo enzimático designado por nitrogenase, que catalisa a redução de


N2 a NH4 +com libertação obrigatória de H2.

2. Uma hidrogenase de assimilação que recicla o H2 libertado pela nitrogenase;

3. Uma hidrogenase bidireccional e que pode funcionar no sentido da produção ou


do consumo de H2. (TAMAGNINI 2003)
Pesquisa mais atuais demonstram que algas verdes unicelulares são capazes de produzir
hidrogênio molecular a partir da água. Esta reação é dependente da enzima – [Fd] hidrogenase –
codificada no núcleo pelo gene hydA, sintetizada no citosol e importada pelo estroma do
cloroplasto; que podemos chegar a uma equação geral reversível: ( CORTÉS 2007)

Figura1 :retirado de ANDRADE 2005.


Trabalhos recentes mostram que a remoção de enxofre do meio de cultura de C.
reinhardtii provoca um decréscimo reversível nas taxas de fotossíntese e uma pequena
redução da atividade respiratória. Em culturas fechadas (reatores) verifica-se que esta
privação de enxofre tem como conseqüência o consumo do oxigênio e uma passagem a

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anaerobiose no meio de cultura. Estes microorganismos passam então a realizar uma
fotossíntese alternativa que utiliza a luz e a hidrogenase para a produção de H 2. Após 22
horas em anaerobiose as taxas de produção de H2 chegam ao máximo. (ANDRADE
2005)
Segundo ANDRADE 2005, a produção de H 2 pela privação de enxofre envolve uma
coordenação de quatro fatores importantes:
(a) fotossíntese: atividade residual do fotossistema II produz uma pequena
quantidade de elétrons que vão contribuir para a produção de hidrogênio pela
hidrogenase;
(b) respiração mitocondrial: gasta o oxigênio resultante da atividade residual do
fotossistema II, mantendo a anaerobiose;
(c) catabolismo de substratos como amido, proteínas e lipídios: proporcionam
substratos adequados para a fosforilação oxidativa nas mitocôndrias e para o transporte
de elétrons dependente do NADPH nos cloroplastos;
(d) transporte de elétrons via hidrogenase: garante a libertação de hidrogênio
molecular e a produção de ATP que permite a sobrevivência das algas em condições de
stress.

Figura 2 – Vias de transporte de elétrons relacionadas com a hidrogenase em algas verdes. Os elétrons
podem ter origem na fotólise da água ou na plastoquinona pela oxidação de substratos celulares via
glicólise ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos (ciclo de krebs)(retirado de ANDRADE 2005)

Porém LONGO 2008 ressalta que sob condições naturais, em que o oxigênio é
subproduto da fotossíntese, a produção de hidrogênio não pode ser mantida por mais
que alguns minutos, pois o oxigênio é um poderoso inibidor da Fe-hidrogenase, enzima
a qual catalisa o processo de liberação de H 2. A inativação da enzima ocorre pela reação
do oxigênio com o ferro localizado no centro catalítico da enzima.
Para ANDRADE 2005 e LONGO 2008 pesquisas com uma espécie de algas
verdes microscópicas, a Chlamydomonas reinhardtii, dispõe de um "interruptor"
especial que lhe permite fabricar hidrogênio utilizando a luz do sol.
Estas pesquisas realizadas Universidade da Califórnia, em Berkeley vem
desenvolvendo tecnologias na manipulação destas algas.

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A equipe, segundo o seu próprio relato, cria primeiro
as algas duma forma natural, deixando-as utilizar a luz do Sol para o
processo de fotossíntese. "Depois fazemos com que elas passem fome". São
necessárias cerca de 20 horas para as microalgas ligarem o interruptor para a
produção de hidrogênio. Cinco dias depois, quando elas começam a comer
as próprias proteínas, os cientistas deixam-nas voltar ao processo de
fotossíntese. E assim por diante. Os ciclos sucedem-se sem limitações,
garantem os investigadores. O que significa que este método de produção de
hidrogênio é virtualmente eterno. (LONGO 2008).
No caso das bactérias fotossintetizantes também são apresentadas na literatura
como candidatas a um sistema microbiológico de produção de hidrogênio por
apresentarem vantagens como:
1. Alta conversão de hidrogênio,

2. Habilidade de usar amplo espectro de luz,

3. Habilidade de consumir substratos orgânicos derivados de resíduos, o


que favorece o uso dessas bactérias num sistema produtor de hidrogênio
em associação com o tratamento de efluentes. (LONGO 2008)
Por usarem a luz, nutrientes comuns e simples também caracteriza como uma
vantagem biológica. A figura a seguir retirada de LONGO 2008 em sua pesquisa
representa de forma simplificada a produção de H2 por bactérias.

Figura 3: Retirado de LONGO


2008.
Algumas das bactérias fotossintetizantes encontradas na literatura são as
seguintes: Rhodobacter sphaeroides, Rhodobacter capsulatus, Rhodobacter
sulidophilus, Rhodopsuedomonas sphaeroides, Rhodopsuedomonas palustris,
Rhodopsuedomonas capsulate, Rhodospirillum rubrum, Chromation sp. Miami
PSB1071, Chlorobium limicola, Thiocapsa roseopersicina e Halabacterium halobium.
(LONGO 2008).

As células a de combustível

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As células a combustível são dispositivos eletroquímicos que convertem em
reação química em energia elétrica, calor e água; sem uma combustão na reação. Nelas
são utilizados o hidrogênio, um elemento com a proporção de 90% da atmosfera
terrestre. SERPA 2004.

Figura 4: Esquema básico de uma célula combustível


Estas células chamadas de Eletrólito polimérico (PEMFC): são montadas usando
uma membrana de troca protônica como eletrólito, sendo suas características similares
às da célula alcalina, com a vantagem de não exigirem combustível puro e com a
desvantagem de exigirem metais nobres nos eletrodos. (TICIANELLI 2005). Porem
este autor também ressalta que a pureza e importante já que pode interferir na eficiência;
pois quantidades de 0,1% de enxofre podem aderir a parece de platina das células.

Discussão

Em relação ao H2 como combustível fica claro sua eficácia quando se relaciona


como uma fonte ecológica de reabastecimento de automóveis, já que quando queimado
com oxigênio puro (O2), os únicos produtos são calor e água (H2O).
O hidrogênio (H2) é o mais simples e mais comum
elemento de todo o universo. Ele compõe 75% da sua massa, e 90% de
todas as suas moléculas. Possui a maior quantidade de energia por unidade
de massa que qualquer outro combustível conhecido, aproximadamente
52.000 BTU (British Thermal Units - Unidades Térmicas Britânicas) por
libra (120,7 kilojoules por grama), cerca de três vezes mais calor por libra
que o petróleo estando em seu estado líquido. Quando resfriado ao estado
líquido, o hidrogênio de baixo peso molecular ocupa um espaço equivalente
a 1/700 daquele que ocuparia no estado gasoso, sendo possível então o seu
armazenamento e transporte. (VARGAS 2006).
Para VARGAS 2006, o hidrogênio apesar de apresentar alta taxa volume/energia
comparados aos combustíveis atuais como gasolina, diesel ou álcool se torna uma
desvantagem grande por apresentarem alto peso quando amarzenado em um volume

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ideal. Mas já há projetos que utilizam materiais de carbono ultra-resistentes e mais leves
para estes propósitos.
O autor ressalta que o hidrogênio é muito mais seguro do que se imagina, é tão
seguro quanto a utilização de outros combustíveis líquidos ou gasosos. No caso de um
acidente, o hidrogênio tem diversas propriedades vantajosas quando comparado aos
combustíveis convencionais. Ele dispersa rapidamente na atmosfera, enquanto os
combustíveis líquidos se espalham pela superfície e queimam por muito mais tempo,
além disso, o hidrogênio não é tóxico.
VARGAS 2006 também ressalta a importância do H2 como combustível
automotivo. “O Hidrogênio deverá ser uma importante fonte de energia da indústria
automotiva dentro de mais ou menos dez anos. Uma das principais razões de não termos
em algum lugar no mundo automóveis sendo abastecidos por hidrogênio é exatamente
pela falta de infra estrutura”. TAMAGNINI 2003 exemplifica que no caso do
Hydrogen3 da Opel baseado no modelo Zafira, a velocidade máxima atingida ronda os
150 km/h e apresenta uma autonomia de 400 km, sem necessidade de re-abastecimento
do reservatório de H2.
Os microrganismos representam uma possibilidade relevante na produção de H 2;
mas é importante incentivar novas pesquisas na área e desenvolvimento de tecnologias
que possibilitem a utilização de microrganismos fotossintetizantes. Quando comparadas
com outros microrganismos como bactérias, leveduras e fungos, observa-se uma falta de
informação detalhada sobre o cultivo de cianobactérias, assim como de microalgas em
geral, principalmente em conseqüência de seu cultivo não convencional. PINOTTI
1991.
A biotecnologia dos organismos pode desenvolver cepas mutantes que
especializadas na produção do gás e a criação de materiais e recursos que possibilitem o
armazenamento e transporte podem transformar o H2 em um combustível extremamente
eficaz.
Referências:

ANDRADE Ana Cristina Ribeiro Meneses de; A produção de hidrogénio por


Chlamydomonas reinhardtii. As algas verdes como fonte de energia; Complementos de
Ecologia (Ecologia Microbiana); 2004/05.

1
CORTÈS, Orlando Ernesto Jorquera; SALES, E. A.; GHIRARDI, M. ; Kiperstok,
Asher ; Embiruçu, M. . Modelagem matemática das rotas metabólicas de produção de
hidrogênio por microalgas. In: Brasil H2 Fuel Cell Expo/Seminar 2007, 2007, Recife.
Proceedings of Brasil H2 Fuel Cell Expo/Seminário 2007, 2007. p. 1-7.

LONGO Maria Amália Volpato, LAZZARIN Nayane, MIGUEZ Tamara Agner,


Produçãobiológica de hidrogênio; UFSC, Brasil, Florianópolis,pag. 09-15 setembro,
2008.

PINOTTI, M.H.P. & SEGATO, R. Cianobactérias: importância econômica. Semina, v.


12, n. 4, p.27S-280, dez. 1991.

SERPA, Leonardo Augusto; Estudo e implementação de um sistema gerador de energia


empregando células a combustível. Dissertação apresentada a UFSC, Florianópolis,
Janeiro, 2004.

TAMAGNINI Paula, LEITÃO Elsa, OLIVEIRA Paulo; Biohidrogénio: produção de H2


utilizando cianobactérias; Boletim de biotecnologia; Sociedade portuguesa de
biotecnologia; n 75; pag. 03; Agosto; 2003.

TICIANELLI Edson A., CAMARA Giuseppe A. e SANTOS Luís G. R. A,


Eletrocatálise das reações de oxidação de hidrogênio e de redução de oxigênio; Quim.
Nova, Vol. 28, No. 4, 664-669, 2005.

VARGAS Reinaldo A., CHIBA Rubens, FRANCO Egberto G., SEO Emília S. M.
Hidrogênio: O Vetor Energético do Futuro? IPEN, São Paulo, SP, 2006.

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