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O e-book e os custos editoriais

Navegando por aí li um texto sobre o livro digital que me deixou intrigada. A princípio parecia
interessante, afirmando que estamos em uma fase “marcada pelo surgimento de grandes obras e
excelentes escritores, mas também por boas oportunidades de edição”. Depois o autor afirma que
será uma fase transitória e que aumentará, e muito, o número de escritores, sendo muito mais fácil e
barato apostar em um novo livro, pois os custos de edição vão desaparecer...

Então me perguntei como assim os custos de edição vão desaparecer?

Como é possível alguém afirmar que os custos de edição de um livro vão desaparecer,
simplesmente por eles terem outro formato, que não o impresso?

Alguém que afirma um absurdo desses provavelmente nunca publicou, nunca participou e nem
conhece o mínimo do que ocorre dentro de uma editora, antes de um livro ser realmente publicado.

Acredito que o conceito de livro digital esteja sendo distorcido. Há quem pense que para se ter um
livro digital basta digitalizar um impresso e o e-book está pronto, sem custo algum. Ou ainda pior,
pensa que qualquer pessoa que resolva escrever um “livro” pode já considerá-lo digital, ali mesmo
dentro do Word, ou, talvez, transformando-o em PDF. Mas quem é autor, que já publicou livros, sabe
que não é só isso. Há muito trabalho intelectual envolvido tanto do autor, quanto dos profissionais
que o apoiam na editora para a edição do seu texto.

Mesmo que se resolva digitalizar um livro impresso é necessário lembrar que aquele livro passou por
todo um processo de edição antes de ir para a gráfica.

Será que quem acredita naquele absurdo tem ideia do que seja o processo de edição de um livro,
em uma editora?

Publicar um livro não é simplesmente entregá-lo em Word para a editora colocar o nome dela e
mandá-lo para a gráfica lucrando com o trabalho do “pobre coitado” escritor.

Quem concorda com um absurdo desses não sabe que o trabalho de edição de um livro é composto
por várias etapas como: preparação de textos, avaliação do conteúdo, revisão da língua (seja
dialógico ou não), adequação ao público alvo, desenvolvimento de projeto gráfico por profissionais
especializados, aplicação do projeto por diagramadores, batidas e conferências, checklists, reuniões
com os autores para ajustes... (isso num processo resumido).

Muitos livros, ainda, demandam a contratação de ilustradores, a compra de direitos de banco de


imagens, de direitos de textos anteriormente publicados que estão sendo reproduzidos por algum
motivo na obra nova... em fim. É muito custo. E a pesquisa de plágio? Muitos autores infringem a lei
do direito autoral e as editoras precisam cuidar disso, envolvendo profissionais especializados no
assunto.

Digamos que um livro, que está sendo editado e preparado, nunca vá à gráfica e vire um e-book. E
mais, que se resolva ter um pouco mais de interatividade, pois será um e-book dentro do conceito de
interação com o leitor. Haverá a necessidade de outro tratamento, além dos citados acima. Precisará
de novos profissionais envolvidos para alcançar essa interatividade que se deseja, seja ela
hipertextos por meio de hiperlinks, seja uma apresentação de slides, ou até mesmo um vídeo.

E a despesa que a editora terá para a produção de cada item interativo que se deseja colocar no e-
book? Isso não tem preço? Sai de graça?

NÃO! Não sai de graça.

Podemos não ter esse livro impresso, evitando gastos com gráficas, mas o custo de “edição” dele
continua existindo e, dependendo do caso, pode encarecer ainda mais devida a tal “interatividade”.

Quem publica livros sabe: o original entregue a uma editora nunca está pronto para publicação. O
autor pode até ter pago para um revisor corrigir o texto, mas o trabalho de uma editora séria e
preocupada com seus leitores vai bem além de uma simples correção de erros ortográficos e
gramaticais de um texto.

Os custos de edição de um livro, seja ele digital ou impresso, continuam a existir e com a tendência
de o leitor querer interatividade (showzinhos no meio do texto) esses custos podem ser ainda
maiores.

O que resta é o leitor saber diferenciar a qualidade do e-book que está baixando e reconhecer
aqueles que passaram por processo editorial, valorizando o seu conteúdo.

Texto redigido para o meu blog.

Adriane Ianzen Machado.

Em 22-07-2010.

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