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RESENHA

FOUCAULT, M. A ordem do Discurso. Sã o Paulo: Ediçõ es Loyola, 1996.

A ordem do Discurso consiste na aula inaugural de Michael Foucault presidida no


Collège de France. No livro, Foucault procura mostrar que os discursos que
permeiam na sociedade sã o controlados, perpassados por formas de poder e de
repressã o. "... suponho que em toda sociedade a produçã o do discurso é ao mesmo
tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo nú mero de
procedimentos que tem por funçã o conjurar seus poderes, dominar seu
conhecimento aleató rio [...]" (p.8-9)

Dando continuidade à discussã o, Foucault esclarece que existem diversos


procedimentos de repressã o do discurso. Inicialmente, o autor apresenta que todo
discurso é controlado pela interdiçã o a qual é vista como um recurso que limita a
enunciaçã o do discurso, ou seja, existem tabus para o discurso, tendo em vista que
nã o tudo que pode ser dito por qualquer pessoa, em qualquer lugar ou
circunstâ ncia. Segundo Foucault, a política e a sexualidade seriam os dois
principais tabus presentes na sociedade e revela ainda, que os discursos sã o
marcados pela busca de desejo e de poder, pela luta do controle daquilo que
enunciam, e acrescenta que "por mais que o discurso seja aparentemente bem
pouca coisa, as interdiçõ es que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligaçã o
com o desejo e com o poder." (p. 10)

Outro elemento que Foucault aborda é a exclusã o e a rejeiçã o e para explicar traz à
tona a oposiçã o entre razã o e loucura. A exclusã o é bem explicada a partir do
discurso do louco cujo discurso a sociedade nã o compreende, e é considerado nulo
porque nã o atende à s exigências sociais. Assim, temos a segregaçã o da loucura, já
que a sociedade nã o admite esse discurso como verdadeiro ou nã o tem interesse
em ouvi-lo, pois nã o era visto como uma palavra de verdade e, portanto, nã o tem
validade. É nesse contexto que Foucault promove uma discussã o sobre o fato de
que os discursos sofrem influências de regras sociais, institucionais e detentoras
de saber que, por sua vez, garantem aos discursos, o poder de ser aceito como
verdadeiro. Diante dessas reflexõ es, Foucault declara que "o discurso verdadeiro,
que a necessidade de sua forma liberta do desejo e libera do poder, nã o pode
reconhecer a vontade de verdade, essa que se impõ e a nó s há bastante tempo, é tal
que a verdade que ela quer nã o pode deixar de mascará -la.

Até aqui, são meios de controle que agem externamente.

O autor continua sua abordagem e apresenta outros meios de controle do discurso


que agem internamente. Foucault começa falando do comentá rio e defende que "o
comentá rio conjura o acaso do discurso fazendo-lhe sua parte: permite-lhe dizer
algo além do texto mesmo, mas com a condiçã o de que o texto mesmo seja dito e de
certo modo realizado". (p. 25-26) Outro elemento que limita internamente o
discurso é o autor, esse é visto como origem das significaçõ es presentes no
discurso. Para Foucault, o autor é um elemento que completa o comentá rio, pois "O
comentá rio limitava todo o acaso de uma identidade que teria a forma de repetiçã o
e do mesmo. O princípio do autor limita esse mesmo acaso pelo jogo de uma
identidade que tem a forma da individualidade e do eu" (p.29). Dentro desse grupo
se inclui a disciplina cujo controle do discurso é diferente do comentá rio e do
autor, ou seja, a disciplina exerce seu controle na produçã o dos discursos por meio
da imposiçã o de limites e de regras. Isso fica mais claro quando Foucault esclarece
que para que um discurso componha uma disciplina, ele precisa está no plano da
verdade, precisa ter validade.

Na terceira parte do livro, o autor determina condiçõ es para que os indivíduos


possam formular seus discursos. A primeira forma discutida é o ritual que
determina a qualificaçã o que os sujeitos que falam devem ter, define o
comportamento, as circunstâ ncias, como também a eficá cia desse discurso e o
efeito desse discurso sobre aqueles a quem é dirigido. A segunda forma sã o as
sociedades de discurso "cuja funçã o é conservar ou produzir discursos, mas para
fazê-los circular em um espaço fechado, distribuí-los somente segundo regras
estritas" (p.39). A doutrina, por sua vez (que também determina o modo como o
indivíduo criará seu discurso), procura difundir seu discurso para o maior nú mero
de pessoas, contudo, "a ú nica condiçã o requerida é o reconhecimento das mesmas
verdades e a aceitaçã o de certa regra – mais ou menos flexível – de conformidade
com os discursos validados". (p.42) E, por fim, o sistema de educaçã o que "é uma
maneira política de manter ou de modificar a apropriaçã o dos discursos, com os
saberes e os poderes que eles trazem consigo". (p.44)

Para finalizar, Foucault se assume como um seguidor das propostas hegelianas e


responde à s críticas daqueles que o julgavam estruturalista "E agora, os que têm
lacunas de vocabulá rio que digam – se isso lhes soar melhor – que isto é
estruturalismo". (p. 70)

Por fim, salientamos que essa obra é de grande significâ ncia para os estudos
filosó ficos, como também para aqueles que se dedicam a estudar o discurso, sua
criaçã o, seus modos de enunciaçã o e o jogo de aspectos repressores/controladores
do discurso.

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/22329/1/Resenha-do-livro-A-
ordem-do-Discurso-de-Michael-Foucault/pagina1.html#ixzz1Ji4P0qfy

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