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DIA 19 DE MARÇO – DIA DO ARTESÃO

“O mito das três raças – índios, negros e brancos – é pouco para falar sobre um povo
e sua capacidade de misturar ou fazer conviverem, com diferenças e hierarquias,
muitas tradições culturais.
Na terra que cultiva o doce, na festa que colore as roupas, nos tachos que atiçam a
fome, nos cantos que celebram a vida e lamentam a morte, na fé que ora leva ao
terreiro de candomblé, ora à igreja, os brasileiros se encontram e se diferenciam, se
igualam e se distinguem.
Das nações indígenas que aqui vivem de longa data, das muitas Áfricas para cá
trazidas, de portugueses, alemães, turcos, libaneses, italianos, japoneses e muitos
outros que também chegaram, em épocas diversas e por motivos vários, se faz a
expressão ímpar de um povo plural.”

O ARTESANATO E A SUA IMPORTÂNCIA NA ECONOMIA


E NA CULTURA BRASILEIRA

A riqueza da diversidade cultural e natural brasileira é retratada pela arte e pelo


artesanato: flora, fauna, danças, religiosidade, questões étnicas, folclóricas ou as
marcas da cultura econômica de cada região, ressaltando a identidade do seu povo.
Além de materializar a alma da cultura brasileira, o artesanato é um setor da economia
cujo crescimento possui alto potencial de geração de trabalho e renda, merecendo
uma política de desenvolvimento sustentável voltada para o setor em loco ou
associada a projetos sociais e de desenvolvimento turístico, buscando estimular o
aproveitamento das vocações regionais, levando à preservação das culturas locais e à
formação de uma mentalidade empreendedora, por meio da preparação das
organizações e de seus artesãos para o mercado competitivo, focando a conquista do
mercado interno e externo.
Apesar da profissão de artesão não ser regulamentada e ainda ser encarada como
amadora, acredita-se que o ramo movimente, anualmente, cerca de R$ 28 bilhões no
Brasil, de acordo com o ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
esses valores, correspondem a 2,1 % do Produto Interno Bruto (PIB), estimando-se
que o artesanato, em toda a cadeia produtiva, emprega cerca de 8,5 milhões de
pessoas, o que caracteriza o artesanato como um setor da economia, habilitando o
artesão como um profissional qualificado e reconhecido dentre as demais categorias.

Na realidade, infelizmente, ainda são excluídos ou se encontram marginais dentro do


processo de cidadania, mostrando a necessidade de centrar objetivos e esforços em
um processo de desenvolvimento social, entendendo que isso se dá quando acontece
o desenvolvimento econômico e quando estão articulados.

Embora sua definição ainda gere controvérsias, para o Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae): “Artesanato é toda atividade produtiva que
resulta em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de
meios tradicionais, com habilidade, qualidade e criatividade.”

Por outro lado, para a Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades


(Sutaco): Os trabalhos artesanais se dividem em dois grupos:
No primeiro, estão os produtos ligados intimamente à cultura de uma comunidade,
influenciados pela tradição local e pelo “saber fazer”.
No segundo grupo, aparecem os chamados trabalhos manuais, que são
confeccionados com matéria-prima industrializada e não resultam diretamente de
heranças culturais.

Para Silveira Bueno - Artesão: s.m. Artífice; operário; pessoa que faz artesanato; para
Vera de Vives, em “O artesão tradicional e seu papel na sociedade contemporânea”: O
artesão tradicional é o agente que conhece o meio onde se situa, domina técnicas
para construir trabalhos manualmente e possui sensibilidade para criação.

Independente da matéria-prima utilizada (natural, reciclada ou industrializada) e da


técnica empregada, o produto artesanal é fruto da criatividade do artista/artesão e da
influência do seu meio.

Estes materiais ao receberem a marca do homem, tornam-se produtos culturais, que


se prestam a múltiplos usos, transformando-se em objetos por meio dos quais o
homem se expressa.

A variedade de “produtos” contempla inúmeras técnicas, materiais e segmentos,


influenciados pela vocação artesanal e artística local/regional e pela disponibilidade de
matéria prima, de cada região, que vai de sementes, fibras, cerâmica, madeira, renda,
couro, passando por diversos outros materiais tradicionais como pedrarias, fios,
metais, tecido; até inusitados e alternativos, como pet, ferragens, pvc, papel, entre
outros.
A criatividade que caracteriza o povo brasileiro, e os artesãos e artistas populares, em
particular, os materiais utilizados e as técnicas empregadas na confecção dos
produtos artesanais, traduzem a sua história e da sua nação.
Os atrativos naturais e turísticos, a simpatia do seu povo e a riqueza da sua cultural,
atraem e seduzem admiradores do mundo inteiro, transformando-os em
clientes/consumidores em potencial e colocando o Brasil na Moda.
Mas, não basta “ser um produto brasileiro” para se ter garantia de sucesso: um bom
termômetro para determinar a aceitação do produto é o padrão de qualidade e a
capacidade de produção.

A REALIDADE DO ARTESÃO NO BRASIL

O artesão, ator no processo de resgate, construção e preservação da cultura da nossa


nação, não tem o reconhecimento da sua importância e a valorização do seu trabalho
meio a sociedade de mercado, muitas vezes se encontrando excluído ou explorado.

Apesar de promissor, o setor ainda carece de investimentos e políticas culturais


específicas para combater o maior obstáculo ao desenvolvimento do artesão: a
informalidade.

A comercialização dos produtos artesanais sempre foi um grande desafio para o


artesanato, tanto no que se refere ao acesso ao mercado internacional quanto na
questão da apropriação do resultado financeiro deste processo pelo artesão.
Agravado, pela competição do industrianato, processo de industrialização plagiando a
produção artesanal, por conta da sua inclusão no ramo de atividades econômicas, que
descaracteriza os principais pontos de valorização deste produto. Assim sendo, faz-se
necessário estabelecer mecanismos que possibilitem ao artesão conquistar e se firmar
no mercado interno e ter acesso à exportação, desenvolvendo seu perfil
empreendedor e promovendo o fortalecimento dos grupos de cooperação e de micro e
pequenos negócios criativos/culturais, como forma de promover o desenvolvimento
integrado de maneira sincronizada às dimensões sociais, econômicas e cognitivas.

É necessário ações efetivas que valorizem o artesão brasileiro como responsável por
manter viva as tradições locais e como testemunha de sua época, que torna visível os
traços do cotidiano que referenciam as múltiplas identidades culturais.
Esta valorização passa por investimentos que contribuam para a elevação do seu nível
cultural, profissional e econômico, partindo de uma maior organização e investimento
em especialização, visando qualidade no método artesanal produtivo, através da
implantação ou implementação de unidades de processamento e/ou beneficiamento
de matérias-primas, melhoria da capacitação técnica, administrativa e organizacional
dos artesãos e/ou núcleos de produção e comercialização, reivindicação de legislação
fiscal e tributária de acordo com a realidade das associações e cooperativas, fomento
à exportação, criação de pólos de comercialização.

O reconhecimento da aproximação entre cultura, economia e políticas públicas para o


desenvolvimento, demanda por um apoio governamental que possibilite, além da
geração de ocupação e renda, a preservação e divulgação da cultura brasileira, o
resgate da história, constituída pela miscigenação cultural de uma nação rica em
matéria prima e criatividade, (des)valorizada pela pirataria e pelo contrabando, levada
ao mundo inteiro com o selo “Made in Brasil” e a ser “descoberta” pelo seu próprio
povo e lideres em diferentes áreas, como um caminho para a preservação desta
cultura, favorecendo o desenvolvimento sócio-econômico, já que o “Brasil está na
Moda”.

A concordância pela importância do diálogo entre setor público, privado, terceiro setor
e Instituições de ensino superior para melhorar a qualidade, diversificar a produção e
tornar um destino atrativo ao turismo cultural; considera a urgente atenção à
elaboração de políticas socioculturais para a promoção do desenvolvimento e a
democracia das expressões culturais, priorizando o trabalho artesanal, em toda cadeia
produtiva; desde o manejo da matéria prima, à divulgação e comercialização,
fundamentada na crença de que o talento, a identidade cultural e a criatividade podem
gerar produtos com valor agregado e divisas.

Os resultados, desta via de mão dupla, pode ser observado nas iniciativas em que o
setor das artes impulsiona e incentiva a gestão integrada com o social, fazendo surgir
novos tipos de relação entre os capitais social, cultural e econômico.
Cada vez mais envolvido com os grupos sociais, o setor das artes aponta soluções
para melhorar os indicadores da educação, impulsionar a percepção e proteção do
patrimônio através do turismo cultural, além de criar empregos e gerar renda.

“Os navios partem do Brasil pelo Oceano Atlântico, rompendo fronteiras e mostrando
nossa arte para povos de outros mares.”

Fátima Trombini
Professora / Artesã
Designer de Bijuterias
E-mail: jasmim-manga@hotmail.com

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