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Mas a relao castigo-corpo no idntica ao que ela era nos suplcios.

. O corpo encontra se a em posio de instrumento ou de intermedirio; qualquer interveno sobre ele pelo enclausuramento, pelo trabalho obrigatrio visa privar o indivduo de sua liberdade considerada ao mesmo tempo como um direito e como um bem. Segundo essa penalidade, o corpo colocado num sistema de coao e de privao, de obrigaes e de interdies. O sofrimento fsico, a dor do corpo no so mais os elementos constitutivos da pena. O castigo passou de uma arte das sensaes insuportveis a uma economia dos direitos suspensos. Se a justia ainda tiver que manipular e tocar o corpo dos justiveis, tal se far distncia, propriamente, segundo regras rgidas e visando a um objetivo bem mais elevado.

Desaparece, destarte, em princpios do sculo XIX, o grande espetculo da punio fsica: o corpo supliciado escamoteado; exclui-se do castigo a encenao da dor. Penetramos na poca da sobriedade punitiva. Podemos considerar o desaparecimento dos suplcios como um objetivo mais ou menos alcanado, no perodo compreendido entre 1830 e 1848. Claro, tal afirmao em termos globais deve ser bem entendida.

A reduo do suplcio uma tendncia com razes na grande transformao de 1760-1840, mas que no chegou ao termo. E podemos dizer que a prtica da tortura se fixou por muito tempo e ainda continua no sistema penal francs.

O poder sobre o corpo, por outro lado, tampouco deixou de existir totalmente at meados do sculo XIX. Sem dvida, a pena no mais se centralizava no suplcio como tcnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou de um direito. Porm castigos como trabalhos forados ou priso privao pura e simples da liberdade nunca funcionaram sem certos complementos punitivos referentes ao corpo: reduo alimentar, privao sexual, expiao fsica, masmorra.

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