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()Olhai, peixes, l do mar para a terra. No, no: no isso o que vos digo.

. Vs virais os olhos para os matos e para o serto? Para c, para c: para a cidade que haveis de olhar. Cuidais que s os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior aougue o de c, muito mais se comem os brancos. Vedes vs todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer s praas e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as caladas vedes aquele entrar e sair sem quietao nem sossego? Pois tudo aquilo andarem buscando os homens como ho de comer e como se ho de comer. () Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos os esto comendo. Come-o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivo, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o o inquiridor, come-o a testemunha, comeo o julgador, e ainda no est sentenciado, j est comido. So piores os homens que os corvos. O triste que foi forca, no o comem os corvos seno depois de executado e morto; e o que anda em juzo, ainda no est executado nem sentenciado, e j est comido. () A diferena que h entre o po e os outros comeres, que para a carne h dias de carne, e para o peixe dias de peixe, e para as frutas diferentes meses no ano; porm o po comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto o que padecem os pequenos. So o po quotidiano dos grandes. Padre Antonio Vieira em Sermo de Santo Antonio aos Peixes, pregado na cidade de So Lus do Maranho em 1654. As aes so as que do o ser () A definio do pregador a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho no o comparou ao semeador, seno ao que semeia. Reparai. No diz Cristo: Saiu a semear o semeador, seno, saiu a semear o que semeia Entre o semeador e o que semeia h muita diferena: uma coisa o soldado e outra cousa o que peleja, uma coisa o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa o semeador e outra o que semeia; uma coisa o pregador e outra o que prega. O semeador e o pregador nome; o que semeia e o que prega ao; e as aes so as que do o ser ao pregador. Trechos do Sermo da Sexagsima, pregado na Capela Real em 1655.

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