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Unidade 1

Português, 11.º Ano


Ficha de Avaliação

1. Leia o excerto do Capítulo IV do «Sermão de Santo António» que se apresenta de seguida.

A primeira cousa que me desedifica1 peixes, de vós é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é
este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem
os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um
grande para muitos pequenos; mas, como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem
mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho: 2 Homines pravis, praeversisque
cupiditatibus facti sunt velut pisces invicem se devorantes: Os homens, com suas más e perversas cobiças,
vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma
natureza, que, sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente
irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste
escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é,
quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós
virais os olhos para os matos e para o Sertão? Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de olhar. Cuidais
que só os Tapuias3 se comem uns aos outros? Muito maior açougue 4 é o de cá, muito mais se comem os
Brancos. Vedes vós todo aquele bulir,5 vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as
ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação 6 nem sossego? Pois
tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer.
Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros,
comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários,7 comem-no os credores;8 comem-no os oficiais dos
órfãos e os dos defuntos e ausentes; come-o o Médico, que o curou ou ajudou a morrer; come-o o
sangrador9 que lhe tirou o sangue; come-o a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha 10 o
lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange 11 os sinos, e os que, cantando, o
levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra. 12 Já se
os homens se comeram somente depois de mortos, parece que era menos horror e menos matéria de
sentimento.

(1) desedifica: antónimo de «edifica»; escandaliza; ofende.


(2) Santo Agostinho: 350-430 d. C.; pensador cristão, doutor da Igreja, bispo de Hipona (na atual Argélia).
(3) Tapuias: tribo de índios do Norte do Brasil que, nos rituais fúnebres, devoravam os seus mortos.
(4) açougue: matadouro; carnificina; matança; metáfora para a exploração que os poderosos exercem sobre
os desfavorecidos.
(5) bulir: mudar de posição; mexer; movimentar.
(6) quietação: quietude; calma.
(7) legatários: herdeiros; pessoas que recebem o seu legado.
(8) credores: pessoas que emprestaram dinheiro.
(9) sangrador: pessoa que, como prática curativa, extraía o sangue a um doente.
(10) mortalha: lençol ou traje com que se cobre um cadáver.
(11) tange: soa; toca.
(12) toda a terra: todas as pessoas.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

A. O excerto apresentado marca o início da apresentação dos defeitos gerais dos peixes. Identifique o defeito
dos peixes que é apresentado no excerto. Transcreva a expressão que se refere diretamente ao defeito
criticado.

Proposta de solução:O defeito dos peixes que é apresentado no excerto é o seu canibalismo (ictiofagia), o
facto de se devorarem uns aos outros. Além de se comerem uns aos outros, os maiores comem os pequenos.

«[…] é que vos comeis uns aos outros» (linha 1) e «Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes
comem os pequenos» (linhas 2-3).

B. Explique o simbolismo presente na apresentação do defeito identificado na questão anterior.

Proposta de solução:O canibalismo dos peixes é um símbolo da antropofagia dos homens. Tal como os
peixes, os homens tentam dominar-se uns aos outros, oprimem e exploram os seus semelhantes,
funcionando, assim, como um espelho dos peixes.
C. Considere a passagem do texto: «Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior
açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos.» (linhas 12-13)

Tendo em conta que o defeito dos peixes é exemplificado com a referência ao comportamento dos homens,
explique o valor semântico das formas verbais «comem» na frase transcrita.

Proposta de solução:Na primeira ocorrência, a forma verbal «comem» é utilizada no seu significado literal e
restrito, isto é, significa «alimentar» e refere-se ao ato de canibalismo praticado pelos índios Tapuias. Na
segunda ocorrência, a forma verbal «comem» é utilizada no seu sentido figurado (alegórico ou metafórico) e
refere-se ao facto de os cidadãos da cidade (os colonos) viverem numa sociedade em que os seres humanos
se exploravam uns aos outros, se aproveitavam das fraquezas de alguns para os oprimir e retirar sempre
lucro de qualquer circunstância.

D. Identifique o recurso estilístico presente nas linhas 13-15 e comente o seu valor expressivo.

Proposta de solução:Nas linhas 13-15, podemos observar uma repetição da forma verbal «vedes», que
acentua a insistência do orador na sua chamada de atenção: é importante que os peixes visualizem os
colonos no seu quotidiano atarefado, no seu constante movimento, para perceberem as origens da
exploração e das injustiças sociais que existem na cidade.
A repetição da forma verbal é uma estratégia retórica para convocar a atenção da audiência.

2. Leia as estâncias 84-86 do Canto VII d’«Os Lusíadas» de Luís de Camões.

84
Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse
A quem ao bem comum e do seu Rei
Antepuser seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso que quisesse
Subir a altos cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;

85
Nenhum que use de seu poder bastante
Pera servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Se muda em mais figuras que Proteio.1
Nem, Camenas,2 também cuideis que cante
Quem, com hábito3 honesto e grave, veio,
Por contentar o Rei, no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo!

86
Nem quem acha que é justo e que é direito
Guardar-se a lei do Rei severamente,
E não acha que é justo e bom respeito
Que se pague o suor da servil gente;
Nem quem sempre, com pouco experto4 peito,
Razões aprende, e cuida que é prudente,
Pera taxar, com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios que não passa.

Luís de Camões, Os Lusíadas, leitura, prefácio e notas de Álvaro Júlio da Costa Pimpão, apresentação de
Aníbal Pinto de Castro, 5.ª ed., Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto Camões, 2003.

(1) Divindade marinha com a capacidade de se disfarçar.


(2) Musas.
(3) Aspeto; aparência; imagem exterior.
(4) Experiente.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

A. Nas estâncias apresentadas, o Poeta enumera os comportamentos que não são dignos de serem louvados
pelo seu canto. Identifique os vários alvos da sua crítica.

Proposta de solução:Nas estâncias apresentadas, podemos verificar que o Poeta se recusa a louvar aqueles
que têm comportamentos indignos, em termos sociais, centrando o seu comportamento no seu próprio
interesse e não no bem comum.
O Poeta não cantará: aqueles que apenas se centram no seu próprio interesse, esquecendo o respeito ao seu
rei e ao seu país (estância 84, vv. 2-3); aqueles que são ambiciosos e desejam atingir cargos elevados para se
tornarem ditadores (estância 84, vv. 5-7); aqueles que são corruptos, manipuladores e falsos (estância 85, vv.
1-4); aqueles que são dissimulados e usurpam o povo dos seus meios de subsistência (estância 85, vv. 6-8);
aqueles que aplicam a lei conforme a classe social dos destinatários (estância 86, vv. 1-4); aqueles que não
pagam ao povo trabalhador (estância 86, vv. 1-4); aqueles que não têm experiência e julgam os trabalhos dos
outros de forma injusta (estância 86, vv. 5-8).
B. Transcreva, das estâncias apresentadas, duas expressões utilizadas pelo Poeta para se referir à camada da
sociedade que é explorada e comente a expressividade dos adjetivos usados.

Proposta de solução:O Poeta utiliza duas expressões para se referir à camada da sociedade que é explorada
pelos ambiciosos e exploradores: «pobre povo» (estância 85, v. 8) e «servil gente» (estância 86, v. 4). Os
adjetivos utilizados nestas expressões («pobre» e «servil») caracterizam, claramente, o Povo como um grupo
sem poder económico e prisioneiro da sua condição de servo das classes mais abastadas, sendo alvo das
injustiças cometidas. Os adjetivos realçam a sua miséria e a sua condição de servo.

3. Leia o excerto do Capítulo I do «Sermão de Santo António» que se apresenta de seguida.

Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra 1: e chama-lhes sal da terra
porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se
vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a
causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal
não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os
ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os
Pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem
antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam
a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a
seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.
Suposto, pois, que, ou o sal não salgue, ou a terra se não deixe salgar, que se há de fazer a este sal, e que se
há de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit,
in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab hominibus.2 Se o sal perder a
substância e a virtude, e o Pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há de fazer é lançá-lo fora
como inútil, para que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não
pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça 3 que o
Pregador que ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos
pés o que com a palavra ou com a vida prega o contrário.
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há de fazer? Este
ponto não resolveu Cristo, Senhor nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso grande
português S. António, que hoje celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum Santo
tomou. […] Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria
porventura a prudência, ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se
rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da
doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que
me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes.

(1) Vós […] sois o sal da terra: Vos estis sal terrae (Mateus, 5: 13).
(2) Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab
hominibus: citação bíblica de Mateus, 5: 13; Vieira apresenta a tradução deste versículo logo a seguir.
(3) digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça: digno de admiração.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

A. O excerto apresentado constitui parte do exórdio do «Sermão de Santo António». Identifique a expressão
que apresenta o conceito predicável do sermão e explique a metáfora aí contida.

Proposta de solução:A expressão que apresenta o conceito predicável do sermão é «Vós […] sois o sal da
terra» (linha 1), retirada de Mateus, 5: 13. A metáfora que o orador recupera apresenta-nos o sal como
símbolo dos apóstolos, dos pregadores (isto é, dos representantes da Igreja e da sua doutrina), e mostra-nos
que a terra representa os fiéis, ou seja, aqueles que ouvem a mensagem dos apóstolos. Desta forma, uma vez
que o papel do sal é preservar os alimentos das bactérias que contribuem para o seu apodrecimento,
evitando a putrefação, podemos afirmar que os apóstolos e os pregadores são, assim, metaforicamente
referenciados como aqueles que preservam os fiéis, aqueles que impedem que os fiéis se
corrompam,aqueles que contribuem para a sua pureza.

B. Considere a passagem: «[…] qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?» (linhas 3-4)

Mostre que o orador recorre a uma estrutura paralelística para apresentar os motivos e a solução para o
problema exposto.

Proposta de solução:Ao apresentar os motivos para a existência simultânea de apóstolos/pregadores e


corrupção na terra, o orador recorre a uma estrutura paralelística ao utilizar a conjunção disjuntiva «ou», que
tem um valor de alternativa e marca o ritmo binário das frases do sermão. A identificação das causas para a
corrupção em que a terra se encontra vai oscilando entre a responsabilidade que se atribui ao sal que não
salga (ou seja, aos pregadores que cumprem mal a sua função) e o falhanço da terra que não se deixa salgar
(ou seja, os fiéis que não cumprem os preceitos e normas cristãs). Assim, o orador vai intercalando as
imputações: ou os pregadores não pregam a verdadeira doutrina ou os fiéis não a recebem; ou os pregadores
dão um mau exemplo ou os fiéis imitam os maus exemplos dos pregadores; ou os pregadores defendem os
seus próprios interesses ao pregar ou os próprios fiéis preferem defender os seus próprios apetites, a sua
própria vontade. Como solução para o problema apresentado, o orador utiliza um argumento de autoridade
citando Jesus Cristo e a Sagrada Escritura, mostrando que a solução para o sal que não salga é deitá-lo fora
porque é inútil, é afastar os maus pregadores. A solução para a terra que não se deixa salgar é indicada por
um argumento de exemplificação: relata-se a atitude de Santo António face a uma situação que comprova a
atitude a tomar: mudar de auditório (linhas 24-26).
C. Releia o excerto da linha 22 à linha 26. Identifique dois recursos estilísticos aí presentes e comente a sua
expressividade.

Proposta de solução:Nas linhas 22 a 26, podemos encontrar alguns recursos expressivos que são
característicos do discurso retórico e conferem dinamismo e vivacidade ao Sermão:
— as interrogações retóricas, «Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao
tempo?» (linha 22), curtas e conjugadas com a utilização das formas verbais no modo condicional, criam um
momento de incerteza e apresentam as várias hipóteses para a atitude de Santo António, mantendo os
ouvintes num estado de expectativa face à resposta final, acabando por cativar facilmente a atenção da
assembleia;
— a metáfora «o zelo da glória divina, que ardia naquele peito» (linha 23) estabelece, através de uma
imagem — algo que arde —, uma relação entre a dedicação, a paixão, o entusiasmo ao trabalho evangélico
de Santo António e um fogo que alastra e tudo domina (a metáfora do «fogo que arde no peito» era comum
na poesia barroca como símbolo do amor, da paixão);
— a repetição paralelística e a aliteração em «pra-», em «Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra, vai-
se ao mar» (linha 25), reforça a ideia de movimento do santo, confere vivacidade ao discurso, além de
constituir um excelente exemplo de ritmo, muito semelhante às estratégias métricas utilizadas no texto
poético.

4. Leia o excerto da «Farsa de Inês Pereira», de Gil Vicente.

MÃE: Lianor Vaz que é isso?


LIANOR: Venho eu mana amarela?
MÃE: Mais ruiva que ũa panela.
LIANOR: Nam sei como tenho siso.1
Jesu Jesu que farei?
Não sei se me vá a el rei
se me vá ao cardeal.
MÃE: E como? Tamanho2 é o mal?
LIANOR: Tamanho, eu to direi.

Vinha agora por ali


ò redor da minha vinha
e um clérigo mana minha
pardeos lançou mão de mi.
Nam me podia valer
diz que havia de saber
se eu era fêmea se macho.
MÃE: Ui seria algum mochacho3
que brincava por prazer.
Si mochacho sobejava.
Era um zote tamanhouço4
e eu andava no retouço5
tam rouca que nam falava.
Quando o vi pegar comigo
que me achei naquele perigo
assolverei não assolverás
tomarei nam tomarás6
Jesu homem que hás contigo?

LIANOR: Irmã eu te assolverei


c’o breviairo de Braga.7
Que breviairo ou que praga
que nam quero. Áque del rei.
Quando viu revolta a voda8
Foi e esfarrapou-me toda
O cabeção da camisa.
MÃE: Assi me fez dessa guisa9
Outro no tempo da poda.

(1) siso: juízo, bom senso.


(2) Tamanho: tão grande.
(3) mochacho: muchacho; jovem rapaz.
(4) zote amanhouço: homem de grande estatura mas pateta.
(5) eu andava no retouço: eu andava numa roda viva.
(6) Quando o vi pegar comigo […] tomarei nam tomarás: referências manhosas à tentativa e sedução do
clérigo.
(7) breviairo de Braga: Breviário — livro litúrgico; «bragas» é sinónimo de «calças».
(8) Quando viu revolta a voda: quando percebeu que o ataque não corria bem; quando viu o caso mal
parado.
(9) dessa guisa: dessa maneira.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
A. Releia os versos 2 e 3. Explique a simbologia que as cores referenciadas têm no contexto em que as
personagens se encontram.

Proposta de solução:Nos versos 2 e 3, Lianor Vaz e a mãe de Inês Pereira iniciam o seu diálogo, focando-se
na cor das faces de Lianor. Lianor pergunta se vem «amarela», o que significará que pensa estar pálida devido
ao pânico que teria sentido ao ser perseguida por um clérigo enquanto se dirigia até casa de Inês. Todavia, a
mãe de Inês explica-lhe que se encontra «mais ruiva que uma panela», ou seja, na realidade, a alcoviteira
estaria bastante vermelha, corada, ou por ter feito esforço para se libertar do clérigo importuno ou por se ter
deixado envolver por ele. A situação acaba por ser irónica: o amarelo significa o desejo que Lianor tem de
parecer frágil e apavorada e o vermelho simboliza a força que terá feito para se soltar ou o envolvimento que
terá, de facto, acontecido entre as duas personagens.

B. Explique de que forma se pode considerar este excerto uma crítica à corrupção dos costumes na Lisboa
quinhentista.

Proposta de solução:O excerto apresentado pode constituir uma crítica à corrupção dos costumes na Lisboa
quinhentista uma vez que é narrado o ataque de que Lianor Vaz é «vítima»: a personagem feminina é alvo do
assédio por um membro do clero — que claramente viola o seu voto de castidade —, mostrando que o
dramaturgo Gil Vicente pretende censurar ou denunciar a duplicidade e a corrupção moral que grassavam na
Igreja e na sociedade lisboeta. A descrição do ataque é feita com bastante dramatismo e vivacidade, com
exemplos das falas do clérigo na discussão que tem com Lianor. A denúncia é intensificada com a indicação
que a interlocutora de Lianor Vaz (a mãe de Inês Pereira) nos dá sobre um ataque de um clérigo que também
ela teria sofrido enquanto jovem, mostrando que este tipo de comportamento reprovável era algo comum na
época.

5. Leia o excerto do Capítulo I do «Sermão de Santo António» que se apresenta de seguida.

Vos estis sal terrae

Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra porque
quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão
corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa
desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não
salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os
ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os
Pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem
antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam
a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a
seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.
Suposto, pois, que, ou o sal não salgue, ou a terra se não deixe salgar, que se há de fazer a este sal, e que se
há de fazer a esta terra? O que se há de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit,
in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab hominibus. 1 Se o sal perder a
substância e a virtude, e o Pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há de fazer é lançá-lo fora
como inútil, para que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não
pronunciara? [...]
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há de fazer? Este
ponto não resolveu Cristo, Senhor nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso grande
português S. António, que hoje celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum Santo
tomou. Pregava S. António em Itália na cidade de Arímino 2, contra os Hereges, que nela eram muitos; e,
como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o Santo, mas chegou o Povo
a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo
generoso do grande António? [...] Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da
doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: já que
me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas do Altíssimo! Oh, poderes d’O que
criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os
pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava, e eles ouviam.

Padre António Vieira, Sermões, vol. II, edição crítica de Arnaldo do Espírito Santo (dir.), Lisboa, CEFi/IN-CM,
2008.

(1) Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab
hominibus.: Mateus, 5: 13 (nota de Vieira). Vieira apresenta, de seguida, uma tradução livre do excerto.
(2) Arímino: Arímino era o nome antigo da atual cidade de Rimini, em Itália.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

A. Enquadre este excerto nas estruturas externa e interna do «Sermão de Santo António», justificando.

Proposta de solução:O excerto corresponde ao início do Capítulo I e faz parte do Exórdio, em que o orador
apresenta o conceito predicável: «Vos estis sal terrae» («Vós sois o sal da terra»), a citação do Evangelho de
São Mateus que serve de ponto de partida para a prédica, isto é, a proposição a partir da qual vai
desenvolver o seu raciocínio.
B. Comente a expressividade da metáfora presente no conceito predicável, «Vós sois o sal da terra» (linha 2).

Proposta de solução:B. Comente a expressividade da metáfora presente no conceito predicável, «Vós sois o
sal da terra» (linha 1).

C. Recorrendo a uma estrutura paralelística e anafórica, o orador procura descobrir as causas da corrupção
terrena. Identifique as possíveis causas desta corrupção, segundo Vieira.

Proposta de solução:A corrupção terrena pode decorrer do facto de o sal não salgar, isto é, de os pregadores
não saberem pregar a doutrina cristã, não darem o exemplo ou pregarem os seus interesses, ou do facto de a
terra não se deixar salgar, ou seja, de os homens não quererem receber a doutrina cristã, preferirem imitar
os maus exemplos dos pregadores e porem os seus próprios interesses acima dos valores cristãos.

D. Comente o valor expressivo das interrogações retóricas presentes ao longo do discurso.

Proposta de solução:As interrogações retóricas visam uma interação com o auditório, levando-o a refletir
sobre o que é dito.

E. Justifique o recurso à citação bíblica presente no segundo parágrafo do texto.

Proposta de solução:A citação das palavras de Cristo, através do Evangelho de São Mateus, constitui um
argumento de autoridade, do foro do sagrado, conferindo maior credibilidade ao discurso.
F. Justifique a referência a Santo António e ao milagre deste santo em Arímino, no último parágrafo do texto,
tendo em conta a globalidade do «Sermão».

Proposta de solução:A referência a Santo António — que, por não ser ouvido pelos homens, decidiu pregar
aos peixes — e ao seu milagre em Arímino permite responder à questão que inicia o terceiro parágrafo: «E à
terra que se não deixa salgar, que se lhe há de fazer?» (linha 11). Quando o auditório não quer ouvir a
doutrina cristã, o pregador deverá, como Santo António, procurar outra audiência. A referência a este milagre
de Santo António possibilita ainda a alegoria em que assenta o Sermão, utilizada por Vieira para criticar
ferozmente os habitantes do Maranhão: perante a recusa do auditório em ouvi-lo, Vieira pregará aos peixes.

6. Considere a citação seguinte.

«[Padre António Vieira] Irrompeu na Tribuna Sagrada em torrentes de grande violência profética, a mostrar
que a palavra de Deus revelada, a fim de ser expressão de verdade, não podia ser agrilhoada, mas
libertadora. […] A agudeza das perífrases, antíteses, bem como a beleza das metáforas e alegorias e a
precisão vocabular — tudo que na imensidade do arsenal do estilo barroco se podia forragear —, a juntar a
filões doutrinários e argumentativos surpreendentes, fazem dos Sermões um tesouro cultural, retórico e
religioso único da língua portuguesa.»

João Francisco Marques, Jornal de Letras, 17 a 30 de abril de 2013, p. 26.

Escreva uma exposição em que mostre que o estilo e a linguagem do Sermão de Santo António aos peixes se
enquadram perfeitamente na retórica barroca.
Construa um texto bem estruturado (introdução, desenvolvimento e conclusão), com um mínimo de cento e
trinta (130) e um máximo de cento e setenta (170) palavras.

Proposta de solução:Construção de uma exposição que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. O
aluno deve fazer referência aos seguintes tópicos, entre outros:
• associação de conceitos através de metáforas e imagens (linguagem figurativa);
• construção frásica complexa;
• vocabulário cuidado;
• jogos de palavras;
• função apelativa da linguagem;
• interrogações retóricas;
• apóstrofes ao auditório.
7. Considere a citação seguinte.

«As posições corajosas do Padre António Vieira falam por si.»


Guilherme d’Oliveira Martins, Escritos sobre os Judeus e a Inquisição, Lisboa, Temas e Debates, 2015, p. 17.

Tendo em conta o estudo do Sermão de Santo António aos peixes e com base na sua experiência, escreva um
texto de opinião em que se refira à importância que as religiões têm na construção do pensamento ético e
moral das sociedades. Para comprovar o seu ponto de vista, apresente dois argumentos que claramente
mostrem a validade da sua perspetiva.
Construa um texto bem estruturado (introdução, desenvolvimento, conclusão), com um mínimo de duzentas
(200) e um máximo de trezentas (300) palavras.

Proposta de solução:Construção de um texto de opinião que considere a temática proposta e apresente os


argumentos necessários, que revele uma estrutura correta e respeite os limites indicados.

8. Considere a citação seguinte.

«O barroco é fruto duma atitude espiritual complexa, carregada de elementos renascentistas, evoluídos ou
alterados, atitude que leva o Homem a exprimir-se, na pintura, na arquitetura, na poesia, na oratória e na
vida, segundo um modo sui generis. Este modo concretiza-se na literatura por uma busca da perfeição
formal, uma aventura de arte pela arte.»

Maria de Lourdes Belchior, «Barroco», Dicionário de Literatura, Porto, Figueirinhas, 1997, p. 91.

Partindo da sua análise do Sermão de Santo António aos peixes, do Padre António Vieira, e da leitura de
alguns poemas do período barroco (como, por exemplo, poemas de Rodrigues Lobo ou poemas satíricos de
Gregório de Matos), redija um texto de apreciação crítica em que comente a sua visão da literatura barroca.
Tenha o cuidado de fundamentar o seu comentário com o recurso a citações dos textos analisados e
selecione um título sugestivo.
Construa um texto entre cento e trinta (130) e cento e setenta (170) palavras.
9. Com base na sua experiência de leitura do «Sermão de Santo António», desenvolva uma exposição sobre a
estrutura argumentativa deste discurso do Padre António Vieira. Construa um texto com um mínimo de
cento e trinta (130) e um máximo de cento e setenta (170) palavras.

Proposta de solução:Construção de uma exposição que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. O
aluno deve fazer referência aos seguintes tópicos, entre outros:
• Divisão em três partes: Exórdio (Capítulo I), Exposição e Confirmação (Capítulos II-V) e Peroração (Capítulo
VI);
• Exórdio: definição da tese e apresentação do conceito predicável; elogio a Santo António como modelo a
seguir; explicação do título do Sermão;
• Exposição: apresentação dos argumentos da tese e dos exemplos que os sustentam; louvores das virtudes
dos peixes, em geral; louvores das virtudes de alguns peixes, em particular (Peixe de Tobias, Rémora, Torpedo
e Quatro-Olhos); repreensões dos vícios dos peixes, em geral; repreensões dos vícios de alguns peixes, em
particular (Roncador, Pegador, Voador e Polvo);
• Peroração: síntese da crítica e autocrítica; exortação ao louvor a Deus.

Texto bem estruturado, respeitando as características do texto expositivo e a temática sugerida, bem como o
limite de palavras imposto.

10. Considerando o texto abaixo, responda às perguntas que se seguem.

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA1 DO PAPA FRANCISCO

Uma crítica profunda ao capitalismo

«Por isso, quero uma Igreja pobre para os pobres», escreve o Papa Francisco no parágrafo 198 da sua
primeira «Exortação apostólica» intitulada Evangelii Gaudium (ou, traduzido, A alegria do Evangelho). Este
documento não é um entre outros: constitui o programa da Igreja para os próximos anos, como o Papa
também diz, logo no primeiro parágrafo. Aliás, mais adiante, no n.º 25, Francisco afirma que este texto deve
ser entendido «num sentido programático e [com] consequências importantes.» Ora, do que este
documento trata é de reformas dentro da Igreja (que o Papa considera «inadiáveis» — n.º 27) e mudanças na
sociedade. Muito haveria a escrever sobre as reformas internas propostas por Francisco (espero poder fazê-
lo noutra ocasião).
Concentrar-me-ei, contudo, aqui, apenas na crítica profunda que o Papa faz às sociedades capitalistas, de
consumo, e ao próprio capitalismo. E começarei por dizer que me parece importante destacar que o Papa
não perspetiva as suas críticas à sociedade capitalista e de consumo no quadro de um pensamento que não
põe em causa o próprio sistema. Por isso, será, no mínimo, redutor e «silenciador» da novidade do
documento dizer que Francisco se limita a repetir o que a Igreja, na sua Doutrina Social, diz desde Leão XIII 2,
ou que é «maravilhoso» termos tido uma sequência de Papas que vêm sempre dizendo o mesmo.
Perdoar-me-ão o facto de este texto ser tão abundante em citações do documento (1). Faço-o
deliberadamente, como um pequeno contributo para divulgar a radicalidade de um pensamento que será,
provavelmente, incómodo para alguns (se não muitos), incluindo dentro da Igreja Católica.
É que do que Francisco fala é da necessidade de mudar o sistema estruturalmente. Aliás, a referência a esta
necessidade aparece cinco vezes no documento, desde logo, numa sequência de «nãos»: «não à economia
da exclusão» (n.º 53), que mata, porque serve a lógica do mais forte, na qual os excluídos «sobram»; «não à
nova idolatria do dinheiro» (n.º 55), que nega a primazia do ser humano sobre o consumo (contexto, aliás, no
qual o Papa refere a dívida e os seus interesses como impossibilitando os países de viabilizar as suas
economias e destituindo os cidadãos do poder aquisitivo real): «não ao dinheiro que governa em lugar de
servir» (n.º 57), isto é, a uma lógica que se esquece de que «não partilhar com os pobres os próprios bens é
roubá-los e tirar-lhes a vida», porque «os bens que possuímos não são nossos, são deles»; «não à iniquidade
que gera violência» (n.º 59), quer dizer, não à violência gerada por um sistema social injusto.
Face a tudo isto, o Papa afirma: «a necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode
esperar» (n.º 202). […]
Este documento programático, por muito que a dureza da sua linguagem custe, inclusivamente a muitos
católicos, afirma claramente que o lugar dos crentes ao lado dos pobres não é facultativo — é o sinal de uma
fé autêntica: «Uma fé autêntica — que nunca é cómoda e individualista — implica sempre um profundo
desejo de mudar o mundo» (n.º 183), isto é, «a Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela
justiça» (idem). […]
Rush Limbaugh, uma das figuras de proa do Tea Party 3, já veio acusar o Papa de ser marxista, por criticar
radicalmente o capitalismo. Segundo o Huffington Post, corre neste momento uma petição entre os católicos
americanos exigindo que Rush Limbaugh peça desculpa. A petição intitula-se: «Tell Rush Limbaugh: We
Support Pope Francis»4. Até agora, tenho visto pouca reação dos católicos portugueses ao documento.
Curiosamente, algumas das que tenho visto criticam as leituras ao mesmo que tempo realçam a
contundência do Papa no apelo às mudanças estruturais que aqui referi. Curioso, no mínimo…
(1) Cito a partir da versão espanhola do texto, disponível no site do Vaticano. A tradução é minha. [nota da
autora]

Teresa Toldy, «Uma crítica profunda ao capitalismo», Jornal de Letras, 11 a 24 de dezembro de 2013, pp. 28 e
29 (com adaptações).

A. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes seguintes.

a) «no primeiro parágrafo» (linha 5)


b) «do documento» (linha 15)
c) «Curiosamente» (linha 36)

Proposta de solução:a) Modificador do grupo verbal; b) Complemento do nome; c) Modificador da frase.


B. Identifique os processos fonológicos envolvidos na passagem dos vocábulos seguintes para o português
contemporâneo.

a) evangelium > evangelho


b) gaudium > gáudio

Proposta de solução:a) Palatalização de ‹li› em ‹lh›; b) Apócope do ‹m›.

C. Classifique as orações subordinadas que se apresentam.

a) «que não põe em causa o próprio sistema» (linhas 11-12)


b) «porque serve a lógica do mais forte» (linha 20)

Proposta de solução:a) Oração subordinada adjetiva relativa restritiva; b) Oração subordinada adverbial
causal.

11. Considerando o texto abaixo, responda às perguntas que se seguem.

CELEBRANDO UM FILME ÉPICO RODADO EM 1986

O que mudou no cinema popular? A pergunta está cheia de armadilhas, quanto mais não seja porque, em
diferentes discursos, o adjetivo «popular» surge envolvido com os mais contrastados contextos, significados e
valores. Limito-me, aqui, a repetir a questão a propósito de um grande sucesso que já tem quase trinta anos,
recentemente relançado no mercado do DVD: A missão (1986), filme épico de Roland Joffé sobre a missão de
um padre jesuíta na América do Sul, em meados do século XVIII, tentando proteger uma tribo ameaçada por
práticas esclavagistas, nomeadamente da coroa portuguesa.
Há duas ou três diferenças muito básicas de A missão em relação, por exemplo, a Os vingadores: a era de
Ultron (atualmente em exibição nas salas). E escusado será dizer que nenhuma dessas diferenças decorre do
facto de o trabalho de Joffé constituir um exemplo clássico de abordagem de factos históricos. A esse
propósito, importa contrariar o simplismo da ideologia (televisiva) que tende a considerar que a inspiração
«histórica» é uma espécie de caução automática para se fazer uma narrativa «séria».
A primeira e fundamental diferença tem que ver com o simples gosto de construir personagens. O confronto
entre o padre Gabriel (Jeremy Irons) e o mercador de escravos Rodrigo Mendoza (Robert De Niro) não é um
mero conflito maniqueísta1 para simbolizar a «história» — somos confrontados com figuras de invulgar
complexidade cuja inscrição naquele contexto é sempre dinâmica, em permanente processo de
transfiguração. Será preciso recordar que A missão é um filme escrito por um mestre chamado Robert Bolt
(1924-1995), argumentista de clássicos de David Lean como Lawrence da Arábia (1962) e Doutor Jivago
(1965)?
Produtos como Os vingadores, bem pelo contrário, reduziram as suas personagens a meros índices de
marketing. E também não será preciso repetir que nada disso resulta das suas raízes na BD — nenhuma
personagem é mais ou menos interessante em função do contexto (histórico ou ficcional) em que surgiu.
Acontece que uma personagem é algo mais do que um «boneco» capaz de dar origem a um cartaz apelativo:
a sua energia é indissociável das tensões que se estabelecem entre o seu programa de ação e as
componentes dramáticas do contexto em que se move.
Contexto [em que as personagens se movem], justamente — eis o que mudou de forma brutal. Em Os
vingadores, já não há qualquer conceção cenográfica: o espaço passou a ser tratado como uma digital que se
pode mudar de uma imagem para outra apenas para exibir os «poderes» da tecnologia. No polo oposto, A
missão é ainda um filme em que a aventura narrada se confunde com os riscos aventurosos da própria
rodagem (em exuberantes cenários naturais da Colômbia, Argentina, Brasil e Paraguai). As suas belíssimas
imagens valeram, aliás, o Óscar de Melhor Fotografia a Chris Menges, celebrando de forma exemplar a noção
básica segundo a qual o cinema é, antes de mais, uma revelação visual.

João Lopes, http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4559352&seccao=Jo%E3o%20Lopes,


publicado em 10 de maio de 2015; consultado em 27 de junho de 2015 (com adaptações).

A. Classifique os vocábulos «marketing» e «BD» (linha 19) quanto ao processo de formação.

Proposta de solução:«marketing»: empréstimo da língua inglesa; «BD»: sigla para «Banda Desenhada».

B. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes apresentados.

a) «de factos históricos» (linha 9)


b) «sempre dinâmica» (linha 15)
c) «argumentista de clássicos de David Lean como Lawrence da Arábia (1962) e Doutor Jivago (1965)» (linha
17)

Proposta de solução:a) Complemento do nome; b) Predicativo do sujeito; c) Modificador apositivo do nome.


C. Classifique as orações presentes nas expressões seguintes.

a) «porque, em diferentes discursos, o adjetivo «popular» surge envolvido com os mais contrastados
contextos, significados e valores» (linhas 1-3)
b) «que nenhuma dessas diferenças decorre do facto de o trabalho de Joffé constituir um exemplo clássico de
abordagem de factos históricos» (linhas 8-9)

Proposta de solução:b) Oração subordinada adverbial causal; b) Oração subordinada substantiva completiva.

12. Considerando o texto abaixo, responda às perguntas que se seguem.

«Ó mar salgado, quanto do teu sal...»

O mais conhecido dos poemas de Mensagem (1934), o único livro publicado em vida por Fernando Pessoa
(1888-1935), intitula-se «Mar português» e começa assim:

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Mas porque é que o mar é salgado? Porque a água do mar é rica em iões (átomos com eletrões a menos ou a
mais) de cloro e de sódio, os primeiros positivos e os segundos negativos. Esses iões, quando a água se
evapora, ligam-se facilmente para formar uma rede cristalina, com os dois tipos de iões regularmente
intercalados [...], conhecida por rede do cloreto de sódio, que é nada mais nada menos do que o vulgar sal de
cozinha com que temperamos a comida. Basta ir ao Núcleo Museológico do Sal, um pequeno mas curioso
museu à beira de uma salina na localidade de Armazéns de Lavos, perto da Figueira da Foz, na margem
esquerda do rio Mondego, para ver in loco como é que o sal se extrai, em salinas, da água do mar.
A expressão «rico em iões» pode ser quantificada. Em cada litro de água, encontram-se 3,5 gramas de iões,
dos quais a grande maioria (86 por cento) são iões de cloro e de sódio. Pode-se morrer de sede rodeado de
água no meio de um oceano, pois o nosso organismo não aguenta a ingestão de uma quantidade de sal tão
elevada. O sal é necessário à vida, mas apenas na devida conta. Todos os nossos fluidos corporais — sangue,
suor e lágrimas — possuem sal, mas numa proporção bem mais baixa do que aquela que se encontra na água
dos oceanos.
De onde vieram os iões do mar? Na sua maior parte, foram-se acumulando ao longo dos tempos a partir da
dissolução das rochas. A idade da Terra pode então ser calculada a partir da concentração de sal marinho.
A primeira pessoa a ter essa brilhante ideia foi, em 1715, Sir Edmond Halley (1656-1742). Sim, esse mesmo, o
astrónomo inglês que deu o nome ao cometa que, em Portugal, apareceu nas vésperas da República,
assustando as pessoas menos preparadas. Halley supôs que os iões eram retirados das rochas pelas águas
das chuvas e arrastados para o mar. Mas não fez as contas. Bastante mais tarde, em 1899, o físico irlandês
John Joly (1857-1933), estimando o valor do caudal dos rios e conhecendo o teor de sal na água do mar,
avaliou a idade da Terra em cem milhões de anos, um número bem maior do que aquele que se admitia até à
altura. Contudo, os erros desse processo vieram a revelar-se bastante grandes, pois o cálculo olvidava outras
origens (por exemplo, vulcões e fontes hidrotermais) dos iões presentes na massa oceânica, assim como o
destino de uma parte deles (depósitos em rochas). De facto, graças a outras técnicas, mais exatas,
designadamente assentes em medidas da radioatividade natural, sabe-se hoje que o nosso planeta, incluindo
tanto continentes como oceanos, é bastante mais velho do que foi estimado por Joly: tem cerca de 4,5 mil
milhões de anos. É praticamente da idade do Sol, cuja luz faz evaporar a água do mar nas salinas.

Carlos Fiolhais e David Marçal, Darwin aos tiros e outras histórias de ciência, Lisboa, Gradiva, 2011.

A. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes indicados.

a) «salgado» (linha 9)
b) «do mar» (linha 9)
c) «quando a água se evapora» (linhas 10-11)

Proposta de solução:a) Predicativo do sujeito. b) Modificador restritivo do nome. c) Modificador da frase.

B. Classifique as orações presentes nas expressões seguintes.

a) «que é nada mais nada menos do que o vulgar sal de cozinha com que temperamos a comida» (linha 12)
b) «que o nosso planeta [...] é bastante mais velho do que foi estimado por Joly » (linhas 33-34)
c) «cuja luz faz evaporar a água do mar nas salinas» (linha 35)

Proposta de solução:a) Oração subordinada adjetiva relativa explicativa. b) Oração subordinada substantiva
completiva. c) Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.

13. Leia o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulte as notas.

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA1 DO PAPA FRANCISCO

Uma crítica profunda ao capitalismo

«Por isso, quero uma Igreja pobre para os pobres», escreve o Papa Francisco no parágrafo 198 da sua
primeira «Exortação apostólica» intitulada Evangelii Gaudium (ou, traduzido, A alegria do Evangelho). Este
documento não é um entre outros: constitui o programa da Igreja para os próximos anos, como o Papa
também diz, logo no primeiro parágrafo. Aliás, mais adiante, no n.º 25, Francisco afirma que este texto deve
ser entendido «num sentido programático e [com] consequências importantes.» Ora, do que este
documento trata é de reformas dentro da Igreja (que o Papa considera «inadiáveis» — n.º 27) e mudanças na
sociedade. Muito haveria a escrever sobre as reformas internas propostas por Francisco (espero poder fazê-
lo noutra ocasião).
Concentrar-me-ei, contudo, aqui, apenas na crítica profunda que o Papa faz às sociedades capitalistas, de
consumo, e ao próprio capitalismo. E começarei por dizer que me parece importante destacar que o Papa
não perspetiva as suas críticas à sociedade capitalista e de consumo no quadro de um pensamento que não
põe em causa o próprio sistema. Por isso, será, no mínimo, redutor e «silenciador» da novidade do
documento dizer que Francisco se limita a repetir o que a Igreja, na sua Doutrina Social, diz desde Leão XIII 2,
ou que é «maravilhoso» termos tido uma sequência de Papas que vêm sempre dizendo o mesmo.
Perdoar-me-ão o facto de este texto ser tão abundante em citações do documento (1). Faço-o
deliberadamente, como um pequeno contributo para divulgar a radicalidade de um pensamento que será,
provavelmente, incómodo para alguns (se não muitos), incluindo dentro da Igreja Católica.
É que do que Francisco fala é da necessidade de mudar o sistema estruturalmente. Aliás, a referência a esta
necessidade aparece cinco vezes no documento, desde logo, numa sequência de «nãos»: «não à economia
da exclusão» (n.º 53), que mata, porque serve a lógica do mais forte, na qual os excluídos «sobram»; «não à
nova idolatria do dinheiro» (n.º 55), que nega a primazia do ser humano sobre o consumo (contexto, aliás, no
qual o Papa refere a dívida e os seus interesses como impossibilitando os países de viabilizar as suas
economias e destituindo os cidadãos do poder aquisitivo real): «não ao dinheiro que governa em lugar de
servir» (n.º 57), isto é, a uma lógica que se esquece de que «não partilhar com os pobres os próprios bens é
roubá-los e tirar-lhes a vida», porque «os bens que possuímos não são nossos, são deles»; «não à iniquidade
que gera violência» (n.º 59), quer dizer, não à violência gerada por um sistema social injusto.
Face a tudo isto, o Papa afirma: «a necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode
esperar» (n.º 202). […]
Este documento programático, por muito que a dureza da sua linguagem custe, inclusivamente a muitos
católicos, afirma claramente que o lugar dos crentes ao lado dos pobres não é facultativo — é o sinal de uma
fé autêntica: «Uma fé autêntica — que nunca é cómoda e individualista — implica sempre um profundo
desejo de mudar o mundo» (n.º 183), isto é, «a Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela
justiça» (idem). […]
Rush Limbaugh, uma das figuras de proa do Tea Party 3, já veio acusar o Papa de ser marxista, por criticar
radicalmente o capitalismo. Segundo o Huffington Post, corre neste momento uma petição entre os católicos
americanos exigindo que Rush Limbaugh peça desculpa. A petição intitula-se: «Tell Rush Limbaugh: We
Support Pope Francis»4. Até agora, tenho visto pouca reação dos católicos portugueses ao documento.
Curiosamente, algumas das que tenho visto criticam as leituras ao mesmo que tempo realçam a
contundência do Papa no apelo às mudanças estruturais que aqui referi. Curioso, no mínimo…
(1) Cito a partir da versão espanhola do texto, disponível no site do Vaticano. A tradução é minha. [nota da
autora]

Teresa Toldy, «Uma crítica profunda ao capitalismo», Jornal de Letras, 11 a 24 de dezembro de 2013, pp. 28 e
29 (com adaptações).

(1) Documento publicado por um Papa para esclarecer a sua comunidade de fiéis.
(2) Papa de 1878 a 1903.
(3) O Tea Party é um movimento político de natureza populista e conservadora que surgiu em 2009 nos
Estados Unidos.
(4) Digam a Rush Limbaugh: nós apoiamos o Papa Francisco.

Para responder a cada um dos itens, selecione a opção correta.

A. O excerto apresentado centra-se na apreciação ao documento «A alegria do Evangelho», escrito pelo Papa
Francisco, e que constitui

___ - (A) o programa da Igreja Católica.

X - (B) uma exortação apostólica.

___ - (C) uma listagem de mudanças de atitude por parte da Igreja.

___ - (D) um resumo da doutrina social da Igreja.

B. O subtítulo do artigo tem a intenção de

___ - (A) enfatizar que o autor da «Exortação» repreende a alta finança e os países capitalistas.

X - (B) mostrar que o documento apreciado pela autora constitui uma censura ao modelo económico
capitalista.

___ - (C) mostrar que os documentos da autoria do Papa Francisco constituem uma clara e estruturada
crítica à classe dos banqueiros.

___ - (D) mostrar que os documentos da autoria do Papa Francisco não se dirigem aos fiéis da Igreja.

C. O primeiro parágrafo do texto

___ - (A) é marcado pela explicação do título da «Exortação apostólica».

___ - (B) tem uma natureza objetiva.

___ - (C) não contém citações diretas da «Exortação apostólica».

X - (D) expõe os dois temas que o documento do Papa desenvolve.


D. O segundo parágrafo do texto sublinha que

X - (A) a apreciação da autora apenas se centrará nas observações que o Papa dedica às sociedades
capitalistas e ao capitalismo enquanto sistema.

___ - (B) o documento do Papa nada tem de inovador.

___ - (C) o documento do Papa se inspira em escritos de Leão XIII.

___ - (D) as críticas do Papa não põem em causa o sistema capitalista.

E. O advérbio «deliberadamente» (linha 16) refere-se

___ - (A) ao facto de o Papa estabelecer uma crítica incómoda.

___ - (B) ao facto de existirem muitas citações no texto de Teresa Toldy.

X - (C) ao facto de a abundância de citações no texto de Teresa Toldy ser intencional.

___ - (D) à vontade que Teresa Toldy tem de ser propositadamente incómoda com o seu texto.

F. A expressão «sequência de “nãos”» (linha 19) alude

___ - (A) a frases de forma negativa que surgem na «Exortação apostólica».

___ - (B) a várias críticas apresentadas na «Exortação apostólica», relacionadas essencialmente com a
atitude consumista dos cidadãos europeus.

X - (C) a cinco citações da «Exortação apostólica» que se referem à necessidade de mudança de sistema
estrutural apresentada pelo Papa Francisco.

___ - (D) à enumeração que é feita pela autora de expressões negativas utilizadas na «Exortação
apostólica».

G. O texto apresentado pode enquadrar-se no género

___ - (A) narrativo.

___ - (B) descritivo.

___ - (C) expositivo.

X - (D) argumentativo.

14. Leia o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulte as notas.

CELEBRANDO UM FILME ÉPICO RODADO EM 1986


O que mudou no cinema popular? A pergunta está cheia de armadilhas, quanto mais não seja porque, em
diferentes discursos, o adjetivo «popular» surge envolvido com os mais contrastados contextos, significados e
valores. Limito-me, aqui, a repetir a questão a propósito de um grande sucesso que já tem quase trinta anos,
recentemente relançado no mercado do DVD: A missão (1986), filme épico de Roland Joffé sobre a missão de
um padre jesuíta na América do Sul, em meados do século XVIII, tentando proteger uma tribo ameaçada por
práticas esclavagistas, nomeadamente da coroa portuguesa.
Há duas ou três diferenças muito básicas de A missão em relação, por exemplo, a Os vingadores: a era de
Ultron (atualmente em exibição nas salas). E escusado será dizer que nenhuma dessas diferenças decorre do
facto de o trabalho de Joffé constituir um exemplo clássico de abordagem de factos históricos. A esse
propósito, importa contrariar o simplismo da ideologia (televisiva) que tende a considerar que a inspiração
«histórica» é uma espécie de caução automática para se fazer uma narrativa «séria».
A primeira e fundamental diferença tem que ver com o simples gosto de construir personagens. O confronto
entre o padre Gabriel (Jeremy Irons) e o mercador de escravos Rodrigo Mendoza (Robert De Niro) não é um
mero conflito maniqueísta1 para simbolizar a «história» — somos confrontados com figuras de invulgar
complexidade cuja inscrição naquele contexto é sempre dinâmica, em permanente processo de
transfiguração. Será preciso recordar que A Missão é um filme escrito por um mestre chamado Robert Bolt
(1924-1995), argumentista de clássicos de David Lean como Lawrence da Arábia (1962) e Doutor Jivago
(1965)?
Produtos como Os vingadores, bem pelo contrário, reduziram as suas personagens a meros índices de
marketing. E também não será preciso repetir que nada disso resulta das suas raízes na BD — nenhuma
personagem é mais ou menos interessante em função do contexto (histórico ou ficcional) em que surgiu.
Acontece que uma personagem é algo mais do que um «boneco» capaz de dar origem a um cartaz apelativo:
a sua energia é indissociável das tensões que se estabelecem entre o seu programa de ação e as
componentes dramáticas do contexto em que se move.
Contexto [em que as personagens se movem], justamente — eis o que mudou de forma brutal. Em Os
vingadores, já não há qualquer conceção cenográfica: o espaço passou a ser tratado como uma digital que se
pode mudar de uma imagem para outra apenas para exibir os «poderes» da tecnologia. No polo oposto, A
missão é ainda um filme em que a aventura narrada se confunde com os riscos aventurosos da própria
rodagem (em exuberantes cenários naturais da Colômbia, Argentina, Brasil e Paraguai). As suas belíssimas
imagens valeram, aliás, o Óscar de Melhor Fotografia a Chris Menges, celebrando de forma exemplar a noção
básica segundo a qual o cinema é, antes de mais, uma revelação visual.

João Lopes, http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4559352&seccao=Jo%E3o%20Lopes,


publicado em 10 de maio de 2015; consultado em 27 de junho de 2015 (com adaptações).

(1) maniqueísta: alguém que considera que a realidade se organiza exclusivamente em torno de dois
princípios opostos.

Para responder a cada um dos itens, selecione a opção correta.


A. A omissão do nome do filme no título do artigo de apreciação crítica de João Lopes

___ - (A) contribui para o elogio traçado pelo crítico de cinema.

___ - (B) contribui para adensar o mistério em torno da obra que vai ser satirizada.

___ - (C) é uma forma simples e criativa de aludir à tipologia em que se enquadram os filmes de ação da
atualidade.

X - (D) é uma estratégia para prender a atenção do leitor.

B. Com a referência a «um filme épico» (título), João Lopes

___ - (A) alude à tipologia da obra cinematográfica a criticar.

X - (B) salienta a natureza narrativa e heroica do filme a criticar.

___ - (C) destaca a influência da poesia épica na realização de filmes americanos.

___ - (D) menciona o carácter histórico dos filmes que serão alvo da crítica.

C. No primeiro parágrafo da crítica, João Lopes comenta que a sua reflexão sobre o conceito de «cinema
popular» (linha 1)

X - (A) tem origem no relançamento no mercado do DVD do filme «A missão».

___ - (B) demonstra que há diferentes interpretações para o conflito que o filme «A missão» apresenta.

___ - (C) se centrará na análise de filmes de ação adaptados de livros de BD.

___ - (D) admite apenas um significado para o adjetivo «popular».

D. No segundo parágrafo do texto, o crítico de cinema defende que existem muitas diferenças entre «A
missão» e o filme de ação «Os vingadores: a era de Ultron»,

___ - (A) sobretudo no que diz respeito à abordagem de factos históricos.

___ - (B) e que a maior parte delas se relaciona com o facto de o filme de Roland Joffé ser uma fusão
entre ficção e realidade.

___ - (C) sendo que isso prova que o cinema de cariz popular se mantém inalterado em termos temáticos.

X - (D) mas nenhuma delas está relacionada com o facto de o filme de Roland Joffé ser de inspiração
histórica.
E. No terceiro parágrafo, o autor diz que uma das principais diferenças que parece existir entre filmes como
«A missão» e «Os vingadores» é

X - (A) o prazer na construção de personagens complexas e que se encontram em contínua


transformação.

___ - (B) o confronto entre personagens que representam o Bem e o Mal e que continuamente se opõem.

___ - (C) a construção de uma galeria de personagens complexas por guionistas de renome.

___ - (D) a participação do argumentista premiado, Robert Boll.

F. A resposta à questão «O que mudou no cinema popular?» (linha 1) encontra-se no quinto parágrafo, uma
vez que o crítico afirma que

___ - (A) a importância da cenografia é hoje bastante maior que na época em que o filme «A missão» foi
produzido.

___ - (B) as equipas de produção já não retratam as paisagens dos locais em que filmam com tanta
preocupação estética.

X - (C) o cenário em que as personagens atuam passou a ser tratado de forma descuidada, servindo
apenas para demonstrar as novas potencialidades tecnológicas.

___ - (D) o cenário que serve de palco às personagens já não é natural mas virtual.

G. O documento apresentado é

___ - (A) um texto narrativo.

X - (B) um texto argumentativo.

___ - (C) um texto descritivo.

___ - (D) uma apreciação crítica.

15. Leia o texto seguinte.

UM CAÇADOR QUE ACEITA SER CAÇADO

Sal da terra, documentário de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, estreia em 9 de abril

Quando alguém circula no espaço público com um trabalho que consiste em fixar a realidade, temos a ilusão
de conhecer a realidade dessa pessoa. Acontece frequentemente com a maneira como olhamos para os
fotógrafos, quando vemos o seu nome estampado nas páginas de jornais e revistas, em livros, nas exposições
— a natureza do seu ofício atira-os para a ribalta de forma explícita, quer queiram quer não. Vemos a
realidade pelo seu olhar. E, na verdade, sabemos tão pouco sobre eles.
Sebastião Salgado é um dos fotógrafos vivos mais reconhecidos (e reconhecíveis) do nosso tempo. As
imagens que captou ao longo dos últimos 40 anos tornaram-se parte da iconografia do fim do milénio,
cercam-nos por onde quer olhemos. E, no entanto, sabemos tão pouco sobre ele. Conhecemos a sua forma
de estar na fotografia, a dimensão dos ensaios que abraça, a estética das suas imagens. Mas só percebemos
recentemente a dimensão do abalo psicológico que sentiu quando saiu da tragédia relacionada com os vários
períodos de fome na Etiópia (no fim dos anos 80), do rescaldo do genocídio no Ruanda (meados dos anos 90)
e da guerra nos Balcãs (ao longo dos anos 90). Ou da importância que teve uma quinta da família no Vale do
Rio Doce (Aimorés, estado de Minas Gerais) na sua reconciliação com a fotografia e o regresso da sua fé na
humanidade. Ou ainda da importância de Lélia, sua mulher, companheira de todas as andanças na gestão e
no impulso do sua carreira.
Para lá das fotografias que o tornaram Sebastião Salgado famoso, é sobretudo a vida do homem atrás da
câmara fotográfica que fica na retina depois de vermos Sal da terra (2014), o documentário realizado a meias
entre Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado (filho de Sebastião) que se estreia a 9 de abril. O filme, que
tem tido um percurso com um sucesso assinalável (Menção Especial do Júri da secção Un certain regard no
último festival de Cannes, nomeação para Melhor Documentário nos Óscares 2015), ganha um élan especial
pela forma como Sebastião se expõe, pela intensidade com que conta as intermitências da sua vida (foram
muitas) e a postura literalmente frontal como o faz. Sebastião aparece quase sempre a falar de olhos postos
na direção da câmara que o filma. A serenidade consciente com que vai desfiando a sua existência é a de um
caçador que pousa a arma para aceitar ser caçado — para explicar, mais uma vez, muitas das suas opções na
fotografia e, finalmente, para dizer sem rodeios quem é e ao que veio.

Sérgio B. Gomes, Ípsilon, 27 de março de 2015, p. 8.

Para responder a cada um dos itens, selecione a opção correta.

A. O género textual em que o artigo apresentado se insere é

___ - (A) o discurso político.

X - (B) o comentário artístico.

___ - (C) a análise crítica.

___ - (D) a apreciação crítica.


B. O título do artigo utiliza a metáfora da caça para comparar

___ - (A) a profissão de fotógrafo à profissão de detetive.

___ - (B) a vida nómada dos fotógrafos com as dificuldades dos guias florestais.

X - (C) a profissão de fotógrafo com a vida dos caçadores.

___ - (D) a inconstância dos fotógrafos com a inconstância dos realizadores de cinema.

C. A expressão «Sal da terra» (subtítulo) refere-se

X - (A) ao título de um filme sobre Sebastião Salgado.

___ - (B) ao trabalho de Sebastião Salgado.

___ - (C) a um sermão do padre António Vieira.

___ - (D) a uma ideia que Wim Wenders defende no seu documentário.

D. O primeiro parágrafo do texto desenvolve a ideia de que

___ - (A) os fotógrafos desejam participar em atividades que os tornem celebridades.

___ - (B) as celebridades expõem a sua vida sem perceberem as consequências que advêm dessa
exposição.

X - (C) os fotógrafos necessitam da celebridade e da ribalta para sobreviver.

___ - (D) o público tem a ilusão de conhecer a intimidade da vida dos fotógrafos devido à essência da sua
profissão.

E. Na expressão «o seu nome» (linha 4), o determinante possessivo refere-se a

___ - (A) «livros» (linha 4).

___ - (B) «os fotógrafos» (linhas 3-4).

___ - (C) «alguém» (linha 2).

X - (D) «seu ofício» (linha 5).


F. A frase «Vemos a realidade pelo seu olhar.» (linhas 5-6) sublinha

___ - (A) o carácter de mediador entre a realidade e o espectador que as obras dos fotógrafos
comportam.

X - (B) o carácter de ilusão que as obras dos fotógrafos contemporâneos comportam.

___ - (C) a fidelidade com que os fotógrafos retratam a realidade da existência humana.

___ - (D) a profundidade emocional que a obra de Sebastião Salgado comporta.

G. Um exemplo de paralelismo sintático é utilizado nas frases «E, na verdade, sabemos tão pouco sobre
eles.» (linha 6) e «E, no entanto, sabemos tão pouco sobre ele.» (linha 9) com o intuito de

___ - (A) evidenciar o desejo de privacidade que é comum a todos os profissionais da fotografia artística.

X - (B) enfatiza a ignorância dos espetadores face ao trabalho dos fotógrafos.

___ - (C) provocar expectativa nos admiradores de reportagens fotográficas.

___ - (D) salientar a analogia entre os fotógrafos referidos no primeiro parágrafo e Sebastião Salgado.

H. No segundo parágrafo, o autor do artigo comprova que

X - (A) é possível conhecer a vida privada de um fotógrafo a partir das reportagens fotográficas que ele vai
construindo ao longo de várias décadas.

___ - (B) Sebastião Salgado prefere centrar a sua obra fotográfica no registar de conflitos bélicos.

___ - (C) é possível conhecer a obra e o percurso profissional de um fotógrafo, sem perceber a influência
que os acontecimentos retratados tiveram na sua vida privada.

___ - (D) é provável que, ao explorar a obra e o percurso profissional de um fotógrafo, se consiga
demonstrar a origem das suas depressões e ansiedades.

I. A expressão «ganha um élan especial» (linha 21) pretende

X - (A) realçar os aspetos negativos do documentário, sobretudo os que se relacionam com a exposição de
aspetos da vida privada de Sebastião Salgado.

___ - (B) demonstrar que a exposição dos acontecimentos da vida do fotógrafo confere um interesse
maior ao documentário.

___ - (C) demonstrar que o entusiamo em torno do filme é efémero, pois está centrado na exploração dos
seus dados biográficos.

___ - (D) estabelecer uma relação entre os locais fotografados pelo fotógrafo e as suas ideias políticas.
J. No último parágrafo do artigo de Sérgio B. Gomes, explica-se que Sebastião Salgado adota uma atitude
direta na forma como expõe as suas vivências e pensamentos,

X - (A) através da expressão «serenidade consciente» (linha 24).

___ - (B) ainda que se mantenha reservado no que diz respeito a aspetos mais íntimos.

___ - (C) através da expressão «falar de olhos postos na direção da câmara» (linhas 23-24).

___ - (D) mantendo, porém, uma postura de retração e intermitência.

16. Leia o excerto do discurso político de Emílio Castelar (1) pronunciado em 20 de junho de 1870 na sessão
das Cortes Constituintes. Discutia-se a abolição da escravatura nas colónias espanholas do continente
americano (Porto Rico e Cuba).

DISCURSO DE EMÍLIO CASTELAR A FAVOR DA ABOLIÇÃO IMEDIATA DA ESCRAVATURA

Senhores Deputados,

Para compreender-se a fundo o meu discurso, necessário é que se leia o texto da minha emenda. Deduz-se
que todos os artigos da lei, de todo o sentido, que o governo quer a abolição, porém a abolição gradual; e
nós também pedimos a abolição mas a abolição imediata. Já em outra tarde expliquei que o problema da
abolição da escravatura se coloca num terreno muito diverso daquele em que se estava antigamente. Dantes
havia inimigos da abolição; hoje, todos, absolutamente todos, queremos a abolição; porém, uns querem-na
gradual, que vale tanto como manter a escravatura e seus horrores, enquanto outros queremos a abolição
imediata, que significa estirpar de raiz essa chaga.
Está aqui toda a questão: não dou mais tempo ao governo que o necessário, atendida a distância que nos
separa das Antilhas, para levar à execução o grande ato de chamar à vida civil, de chamar à vida do Direito,
quatrocentos mil homens. Tenho dito, em muitas ocasiões, a causa que nos levou a guardar, neste triste
assunto, um silêncio que, muitas vezes, nos há pesado. No dia de hoje, ao levantar-me para pedir a abolição
imediata, declaro que alivio de um peso enorme meu coração e minha consciência. Sirva-me de desculpa por
haver calado tanto tempo, sirva-me de desculpa a frase do Sr. Figueras, magistral como todas as suas frases:
em frente de uma guerra, as inspirações do patriotismo.
Senhores, os que querem dar às nações grande influência e grande brilho, necessitam infundir-lhes uma
grande ideia.
Dai a um povo uma grande ideia e nela lhe tereis dado o poderio e a riqueza.
Pois bem: o que venho pedir hoje é que a nação espanhola se levante à altura dos grandes princípios sociais,
na certeza de que servindo à civilização, servindo ao progresso, encontrará a força, encontrará a riqueza,
encontrará o bem-estar, encontrará o influxo na humanidade a que por tantos títulos tem direito sua gloriosa
história.
Quando nós pedimos que se reconheça nos mais desgraçados de todos eles [os escravos] um direito que a
ninguém devem, que receberam da própria natureza, proclamais a nossa incompetência e pedis que venham
os brancos decidir da sorte dos negros, que venham os amos decidir a sorte dos escravos, ah! dos escravos,
livres sem eles e sem nós, livres apesar deles, apesar de nós, livres contra eles e contra nós, livres como filhos
de Deus, como soberanos na natureza, como membros da humanidade; e qualquer poder que desconheça
esses direitos primordiais, seja qual for a lei, ou o pretexto que invoque, comete o assassínio das
consciências, o assassínio das almas, crime que a cólera celeste castiga e que se expia com a infâmia eterna
no eterno inferno da história.
Aplausos
Porém, se nos dizem: «Esqueceis que esta lei deve ser uma lei de transações porque diz respeito à
propriedade». Propriedade! Propriedade de quem? Propriedade de quê? Propriedade como? Propriedade
com que títulos? Pois que o homem, o ser inteligente e livre, ativo e moral, pode ser propriedade de alguém?

Filhos deste século, este século reclama que o façais maior que o século XV, o primeiro da História Moderna
com seus descobrimentos, e maior que o século XVIII, o último da História Moderna com as suas revoluções.
Levantai-vos, legisladores espanhóis, e fazei do século XIX, vós, que podeis por sua cúspide, o século da
redenção definitiva e total de todos os escravos. Tenho dito.
Aplausos

Emílio Castelar, Discurso de Emílio Castelar a favor da abolição imediata da escravatura, Lisboa, Typographia
Livre, 1870, pp. 3-51 (com adaptações).

(1) Emílio Castelar — ministro e presidente durante o período da Primeira República espanhola (1873-1874),
foi um político de reconhecido valor que se destacou pelas suas qualidades oratórias. Tendo em conta que a
tradução do discurso deste político espanhol se encontra numa edição de 1870, procedeu-se à atualização da
ortografia e da pontuação.

Após a leitura atenta do texto, responda ao questionário apresentado. Para responder a cada um dos itens,
selecione a opção correta.

A. A fórmula de saudação «Senhores Deputados» (linha 1) mostra que o contexto em que o discurso foi
produzido

___ - (A) é de natureza informal e familiar.

X - (B) é o espaço institucional do exercício da política.

___ - (C) é um comício eleitoral.

___ - (D) é uma reunião de políticos.


B. A utilização reiterada da primeira pessoa do plural — «nós» (linha 4), «queremos» (linha 3), «nos separa»
(linhas 9-10) e «nos levou» (linha 11) — durante o discurso tem a intenção de

___ - (A) mostrar a visão dos políticos que se sentam próximo da bancada do orador.

___ - (B) partilhar a responsabilidade dos argumentos que estão a ser apresentados.

X - (C) reduzir a distância entre o orador e a audiência e conferir uma noção de unidade.

___ - D) referir um grupo com um passado histórico relevante para a questão debatida.

C. A repetição do vocábulo «todos» na expressão «todos, absolutamente todos» (linha 6) acentua

X - (A) a noção de que os deputados da Assembleia, sem exceção, defendem a abolição da escravatura.

___ - (B) ideia de que o passado histórico não deixou marcas no pensamento político vigente em 1870.

___ - (C) a importância que as opiniões parciais têm no debate político.

___ - (D) a noção de que toda a sociedade espanhola defende a abolição da escravatura.

D. A oração «que vale tanto como manter a escravatura e seus horrores» (linha 7) é um exemplo de

___ - (A) desvalorização da perspetiva dos oponentes políticos.

___ - (B) elogio à perspetiva dos oponentes políticos.

X - (C) crítica da perspetiva dos oponentes políticos.

___ - (D) compreensão para com a perspetiva dos oponentes políticos.

E. O segundo parágrafo inicia-se com uma expressão que pretende

___ - (A) concluir um raciocínio iniciado na última frase do parágrafo anterior.

___ - (B) explicitar os vários argumentos que legitimam a visão do orador.

___ - (C) marcar temporalmente a organização textual do discurso.

X - (D) chamar a atenção dos interlocutores para a informação que se segue.


F. Na expressão «ato de chamar à vida civil, de chamar à vida do Direito» (linha 10) estamos perante uma

___ - (A) construção comparativa.

X - (B) construção paralelística em termos sintáticos.

___ - (C) construção copulativa.

___ - (D) construção aditiva.

G. Com a frase «No dia de hoje, ao levantar-me para pedir a abolição imediata, declaro que alivio de um peso
enorme meu coração e minha consciência» (linhas 12-13), o orador apela

___ - (A) à racionalidade do auditório.

X - (B) às emoções do auditório.

___ - (C) à capacidade dedutiva do auditório.

___ - (D) ao perdão do auditório.

H. O conector «Pois bem» (linha 19) no início do parágrafo pretende

X - (A) dar início a uma explicitação do motivo pelo qual o orador defende a sua ideia.

___ - (B) concluir a tese que se apresentou no parágrafo anterior.

___ - (C) conferir uma ideia de urgência relativamente à mensagem que se pretende transmitir.

___ - (D) conceder uma ideia de dúvida à ideia que se vai apresentar.

I. Nas linhas 26 e 34, a repetição do adjetivo «livres» acentua

X - (A) a compreensão que o orador pede para com os escravos que desejam a liberdade.

___ - (B) o valor dos deputados espanhóis que aprovarem a lei da abolição imediata da escravatura.

___ - (C) a persistência com que o orador insiste na ideia de liberdade dos escravos.

___ - (D) o absurdo da situação dos escravos nas colónias espanholas.


J. A repetição do vocábulo «propriedade» (linhas 33-35), aliada às interrogações retóricas, enfatiza

X - (A) o paradoxo presente no argumento que defendia que um escravo era um bem transacionável.

___ - (B) a necessidade que os proprietários de escravos tinham de defender a sua posição.

___ - (C) o processo de captação do favor da audiência.

___ - (D) a construção de uma imagem de credibilidade por parte do orador.

17. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

«Ó mar salgado, quanto do teu sal...»

O mais conhecido dos poemas de Mensagem (1934), o único livro publicado em vida por Fernando Pessoa
(1888-1935), intitula-se «Mar português» e começa assim:

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Mas porque é que o mar é salgado? Porque a água do mar é rica em iões (átomos com eletrões a menos ou a
mais) de cloro e de sódio, os primeiros positivos e os segundos negativos. Esses iões, quando a água se
evapora, ligam-se facilmente para formar uma rede cristalina, com os dois tipos de iões regularmente
intercalados [...], conhecida por rede do cloreto de sódio, que é nada mais nada menos do que o vulgar sal de
cozinha com que temperamos a comida. Basta ir ao Núcleo Museológico do Sal, um pequeno mas curioso
museu à beira de uma salina na localidade de Armazéns de Lavos, perto da Figueira da Foz, na margem
esquerda do rio Mondego, para ver in loco como é que o sal se extrai, em salinas, da água do mar.

A expressão «rico em iões» pode ser quantificada. Em cada litro de água, encontram-se 3,5 gramas de iões,
dos quais a grande maioria (86 por cento) são iões de cloro e de sódio. Pode-se morrer de sede rodeado de
água no meio de um oceano, pois o nosso organismo não aguenta a ingestão de uma quantidade de sal tão
elevada. O sal é necessário à vida, mas apenas na devida conta. Todos os nossos fluidos corporais — sangue,
suor e lágrimas — possuem sal, mas numa proporção bem mais baixa do que aquela que se encontra na água
dos oceanos.

De onde vieram os iões do mar? Na sua maior parte, foram-se acumulando ao longo dos tempos a partir da
dissolução das rochas. A idade da Terra pode então ser calculada a partir da concentração de sal marinho.
A primeira pessoa a ter essa brilhante ideia foi, em 1715, Sir Edmond Halley (1656-1742). Sim, esse mesmo, o
astrónomo inglês que deu o nome ao cometa que, em Portugal, apareceu nas vésperas da República,
assustando as pessoas menos preparadas. Halley supôs que os iões eram retirados das rochas pelas águas
das chuvas e arrastados para o mar. Mas não fez as contas. Bastante mais tarde, em 1899, o físico irlandês
John Joly (1857-1933), estimando o valor do caudal dos rios e conhecendo o teor de sal na água do mar,
avaliou a idade da Terra em cem milhões de anos, um número bem maior do que aquele que se admitia até à
altura. Contudo, os erros desse processo vieram a revelar-se bastante grandes, pois o cálculo olvidava outras
origens
(por exemplo, vulcões e fontes hidrotermais) dos iões presentes na massa oceânica, assim como o destino de
uma parte deles (depósitos em rochas). De facto, graças a outras técnicas, mais exatas, designadamente
assentes em medidas da radioatividade natural, sabe-se hoje que o nosso planeta, incluindo tanto
continentes como oceanos, é bastante mais velho do que foi estimado por Joly: tem cerca de 4,5 mil milhões
de anos. É praticamente da idade do Sol, cuja luz faz evaporar a água do mar nas salinas.

Carlos Fiolhais e David Marçal, Darwin aos tiros e outras histórias de ciência, Lisboa, Gradiva, 2011.

A. A citação de Fernando Pessoa visa

___ - (A) fundamentar o interesse dos Portugueses pelo sal.

___ - (B) demonstrar a relevância do sal no dia a dia dos Portugueses.

___ - (C) dar a conhecer os mais importantes versos da literatura portuguesa sobre o sal.

X - (D) introduzir o assunto tratado no texto.

B. A expressão «De facto» (linha 32) relativamente ao conteúdo da frase anterior, corresponde à introdução
de

___ - (A) uma ideia nova, oposta à anterior.

X - (B) uma justificação da ideia anterior.

___ - (C) um esclarecimento da ideia anterior.

___ - (D) uma conclusão.

C. O planeta Terra

___ - (A) tem praticamente cem milhões de anos.

X - (B) tem, aproximadamente, 4,5 milhões de anos.

___ - (C) é muito mais velho do que o Sol.

___ - (D) é muito mais novo do que o Sol.


D. O texto apresenta características específicas

___ - (A) da apreciação crítica.

___ - (B) da exposição.

___ - (C) do artigo de opinião.

X - (D) do artigo de divulgação científica.

18. Proceda ao visionamento do discurso político da deputada Maria de Belém Roseira sobre os graves
problemas sociais que assolam a sociedade portuguesa atual, que pode encontrar aqui:
http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIntervencao.aspx?BID=194711. Este
discurso — «Sobre pobreza e desigualdades sociais» — foi pronunciado no encerramento do debate da
interpelação n.º 16/XII (3.ª), na sessão da Assembleia da República de 11 de abril de 2014. Depois, responda
às perguntas que se seguem.

A. Indique se as seguintes frases são verdadeiras ou falsas.

F - (A) O discurso de Maria de Belém Roseira é de carácter expositivo.

V - (B) O tema deste discurso é a discussão da situação social do país em abril de 2014.

F - (C) Este discurso tenta divulgar a ideia de que as políticas de empobrecimento contribuem para o
aumento de rendimento dos pensionistas.

F - (D) Ao ouvir o seu discurso, a audiência é levada a acreditar que a deputada Maria de Belém Roseira
discursa a favor das políticas governamentais.

V - (E) A referência às declarações da Caritas Portuguesa sobre a situação social do País confere
credibilidade à visão que o discurso defende.

V - (F) Maria de Belém Roseira advoga que a pobreza compromete o desenvolvimento económico do País.

V - (G) Os aplausos dos membros da Assembleia da República que concordam com o discurso da
deputada obrigam-na a parar várias vezes a sua comunicação e a repetir as suas frases.

F - (H) O registo da deputada é formal. É utilizado um nível de língua culto ou literário.

V - (I) As duas frases finais utilizam o paralelismo sintático como recurso retórico.

V - (J) O tom do discurso é de acusação.


B. Tendo em conta as afirmações anteriores, corrija as que são falsas.

Proposta de solução:(A) O discurso de Maria de Belém Roseira é de carácter persuasivo.


(C) Este discurso tenta divulgar a ideia de que as políticas de empobrecimento contribuem para a redução de
rendimento dos pensionistas portugueses.
(D) Ao ouvir o seu discurso, a audiência é levada a acreditar que a deputada Maria de Belém Roseira discursa
contra as políticas governamentais.
(H) O registo da deputada é formal. Esta utiliza um nível de língua cuidado.

C. Ouça novamente a intervenção da deputada Maria de Belém Roseira. Refira-se ao contexto de enunciação
deste discurso político, identificando o seu enunciador, o espaço em que foi proferido, o público-alvo e o seu
principal objetivo.

Proposta de solução:Este discurso político foi proferido por Maria de Belém Roseira, deputada do Partido
Socialista, a 11 de abril de 2014, na Assembleia da República, no fim de um debate parlamentar sobre a
pobreza e as desigualdades sociais.
O seu público-alvo é o conjunto de deputados, membros do Governo e da Assembleia e ainda o público que
assiste às sessões na Galeria do Parlamento. Uma vez que os debates são emitidos no Canal Parlamento e
são, com muita frequência, difundidos pelos serviços noticiosos dos diversos canais de televisão e rádio,
podemos afirmar que, com o seu discurso, a deputada pretendia também chegar à opinião pública em geral,
já que o seu principal objetivo consiste em levar o ouvinte a aderir à visão do mundo do locutor, ou seja,
conquistar o apoio para o seu partido, derrubando a influência dos que se opõem. Neste caso, é importante
salientar que esta deputada se encontrava num partido de oposição ao Governo em exercício de funções
(coligação PSD-PP), logo, o seu discurso centra-se na crítica às políticas governamentais.
D. Repare no esquema apresentado abaixo e mostre como este corresponde à estrutura do discurso político
em análise.

PARTE 1 — Introdução ao tema discutido


a) Saudação
b) Constatação da legitimidade da discussão; delimitação do problema
c) Formulação da tese inicial
d) Interpelação ao auditório

PARTE 2 — Desenvolvimento
a) Defesa da tese: apresentação de dois argumentos que apoiam a tese inicial
b) Confirmação através do recurso a citações/referência a autoridades
c) Síntese da defesa da tese

PARTE 3 — Conclusão
a) Proposta diferenciadora: solução para o problema
b) Exortação final

Proposta de solução:Podemos afirmar que o esquema apresentado corresponde à estrutura do discurso de


Maria de Belém Roseira, pois encontramos evidências que comprovam esta divisão.

PARTE 1 — Introdução ao tema discutido


a) Saudação: identificação dos destinatários imediatos do discurso
b) Constatação da legitimidade da discussão; delimitação do problema: «é ajustado discutir a situação social
a que chegámos», ou seja, tendo em conta o contexto de cortes no rendimento, é legítimo que se discuta a
temática do empobrecimento
c) Formulação da tese inicial: o Governo é responsável pela situação de pobreza e desigualdade social porque
segue uma política de empobrecimento da população que reduz os seus rendimentos
d) Interpelação ao auditório: problematização do tema em discussão através de uma interrogação retórica

PARTE 2 — Desenvolvimento

a) Defesa da tese: apresentação de dois argumentos que apoiam a tese inicial:


1. A política governamental falha as suas competências porque não defende o interesse comum;
2. A política governamental falha as suas competências porque a pobreza e a desigualdade geram novos
problemas sociais.

b) Confirmação através do recurso a citações/referência a autoridades:


1. Citação de informações da Caritas Portuguesa (organização da sociedade civil);
2. Citação de D. António Francisco dos Santos (bispo do Porto);
3. Citação de D. António Ferreira Gomes (bispo do Porto, exilado durante o Estado Novo);
4. Referência à Organização Mundial de Saúde;
5. Citação de Kenneth Rogoff;
6. Referência à rede de médicos Sentinela.

c) Síntese da defesa da tese: crítica à atuação do Governo por causa da resposta desadequada que dá ao
problema da pobreza.

PARTE 3 — Conclusão
a) Proposta diferenciadora: solução para o problema: solução para o problema — aposta no capital humano
e recusa dos cortes no rendimento;
b) Exortação final: desfecho vibrante para emocionar o auditório.

E. Um discurso político deve selecionar informação adequada e pertinente. Identifique dois argumentos que
ajudam a autora deste texto a suportar a sua posição face ao problema discutido.

Proposta de solução:O primeiro argumento consiste na afirmação de que o Governo não cumpre a sua
função política. Este argumento prende-se com o facto de a deputada afirmar que a missão da política é
defender o interesse comum, o bem e a justiça. No seu raciocínio, a deputada critica a política governamental
porque esta falha ao não defender o bem, a justiça e o interesse comum, falhando, então, a missão de que o
Governo foi incumbido quando foi eleito.
O segundo argumento da deputada relaciona-se com a incapacidade que o Governo tem de parar com o ciclo
de empobrecimento da população. Segundo a deputada, a política governamental falha porque, ao reduzir
os rendimentos dos cidadãos através dos cortes, gera novos problemas sociais que perpetuarão o ciclo da
pobreza e das desigualdades.
F. Classifique a performance da deputada, no que diz respeito à sua postura corporal, à articulação do
discurso (confusa ou nítida), à entoação (monocórdica ou enfática) e ao ritmo (lento ou rápido), justificando a
sua resposta com exemplos.

Proposta de solução:No que diz respeito à sua postura corporal, podemos reparar que a deputada mantém
uma posição algo rígida, uma vez que está a ler e não a proferir um discurso espontâneo, mexendo várias
vezes no microfone, segurando na tribuna ou colocando as mãos atrás das costas. A articulação do discurso
é, geralmente, nítida, apenas sendo algo confusa quando a deputada cita a frase atribuída a D. António
Ferreira Gomes ou Kenneth Rogoff.
A sua entoação é natural, tornando-se enfática quando há interrogações, quando cita autoridades ou dados
de organizações que comprovam a sua tese. Note-se a forma como pronuncia a frase «A pobreza vai direita
ao cérebro» ou como insiste na ideia de mudança nas frases finais. O ritmo começa por ser lento na
Introdução (até à Interrogação que interpela o auditório), sendo que a partir daí se vai tornando mais rápido,
mais entusiástico, sobretudo quando se verificam enumerações ou repetições ou quando a deputada se
refere às consequências da pobreza na saúde dos indivíduos.

G. Comente a referência que Maria de Belém Roseira faz a D. António Francisco dos Santos e a D. António
Ferreira Gomes, tendo em conta o assunto discutido.

Proposta de solução:A referência que Maria de Belém Roseira faz a D. António Francisco dos Santos e a D.
António Ferreira Gomes, bispos católicos portugueses, corresponde à utilização de um argumento de
autoridade, uma vez que estas entidades religiosas têm na sociedade portuguesa uma importância fulcral
por conhecerem muito bem a realidade e por se posicionarem, habitualmente, do lado dos que não têm
privilégios. D. António Ferreira Gomes foi um forte crítico do Estado Novo e manifestou-se sempre contra as
políticas de opressão.
H. «Urge inverter o caminho que tem vindo a ser seguido, que ofende a invocação da social-democracia e a
nobre tradição da democracia cristã.» Mostre que esta afirmação constitui uma crítica aos oponentes
políticos da deputada.

Proposta de solução:Esta afirmação constitui uma crítica aos oponentes políticos da deputada porque é uma
referência direta às ideologias que estão na base da fundação dos dois partidos da coligação do Governo que
está a ser criticada por Maria de Belém Roseira. O PSD é o Partido Social-Democrata (social-democracia) e o
PP (Partido Popular) corresponde ao anterior CDS (Centro Democrático e Social), que foi fundado segundo os
princípios dos movimentos democráticos orientados por ensinamentos cristãos.

19. Leia os itens abaixo apresentados. Depois, proceda ao visionamento do discurso do presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, na Casa de Portugal em São Paulo, no Brasil, em 7 de agosto de 2016,
que pode encontrar aqui: http://media.presidencia.pt/videos/mrs2016/PRMRS_160807_V02_FHD.mp4. Este
discurso foi proferido depois de uma visita do presidente da República ao Museu da Língua Portuguesa, em
obras de recuperação após um grande incêndio que destruiu quase por completo todo o edifício.

A. Agora, indique se as afirmações seguintes são verdadeiras ou falsas.

V - (A) O tema do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa é a ligação entre Portugal e o Brasil.

F - (B) O discursista refere-se à origem do Hino de Portugal, que, na sua génese, exprime a indignação dos
Portugueses em relação ao Ultimato Britânico, que exigia que Portugal abandonasse os seus territórios
em África, no fim do século XVII.

V - (C) É Marcelo Rebelo de Sousa que decide que o Dia de Portugal seja comemorado, alternadamente,
em Portugal e junto das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

F - (D) Quando afirma que, ao ir ao Brasil, está a realizar uma peregrinação espiritual, o discursista utiliza
uma hipérbole.

F - (E) O discurso de Marcelo Rebelo de Sousa não apresenta juízos de valor.

V - (F) O presidente da República utiliza um registo formal (nível de língua culto).

V - (G) Pontualmente, o discurso apresenta um tom leve e afetuoso, com o qual o discursista assegura o
interesse da audiência.

V - (H) O registo utilizado apresenta uma natureza argumentativa e expositiva.


B. Tendo em conta as afirmações anteriores, corrija as que são falsas.

Proposta de solução:(B) O discursista refere-se à origem do Hino de Portugal, que, na sua génese, exprime a
indignação dos Portugueses em relação ao Ultimato Britânico, que exigia que Portugal abandonasse os seus
territórios em África, no fim do século XIX.
(D) Quando afirma que, ao ir ao Brasil, está a realizar uma peregrinação espiritual, o discursista utiliza uma
metáfora.
(E) O discurso de Marcelo Rebelo de Sousa apresenta juízos de valor, nomeadamente quando tece
comentários sobre a forma como o Hino de Portugal é cantado por Fafá de Belém e quando se refere ao
lançamento, no Brasil, de uma fotobiografia do seu pai.

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