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Carta (desabafo) do Padre Leonardo

Holtz ao Arcebispo do Rio de Janeiro.

04.04.2011 - Nota de www.rainhamaria.com.br  -  por Dilson Kutscher


Peço aos católicos que reflitam de coraçäo nas palavras em tom de desabafo, do padre  Leonardo
Holtz. Este é o dilema de muitos religiosos, seguir as tradiçöes da Santa Igreja, seguir
verdadeiramente a Cristo ou seguir as modas e novidades do mundo?
Quem tem coragem de ser padre nos dias de hoje? Quem tem coragem de ir CONTRA A
CORRENTE DO MUNDO?
Quem tem coragem de combater a APOSTASIA que reina no mundo?
Diz na Sagrada Escritura
Mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a Terra?(Lucas 18, 8)
Os grifos da carta abaixo säo meus  - reflitam e boa leitura.
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Apresentamos a carta enviada em janeiro deste ano pelo Reverendíssimo Padre Leonardo Holtz
a Dom Orani João Tempesta, arcebispo metropolitano do Rio de Janeiro. Agradecemos ao
Padre Leonardo o envio para divulgação e a confiança depositada neste site.
***
Excia. Rev.ma
Dom Orani João Tempesta, O.Cist.,
Arcebispo do Rio de Janeiro
Pax!
“É, porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho
interesse em agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo
de Cristo.” (Gl 1,10)
Há muito que desejo dirigir a V. Excia. estas palavras, mas não julguei ter ainda chegado a hora.
Sei que V. Excia. já tem muitos assuntos com o que se ocupar e lamento profundamente ter que
trazer mais um peso a V. Excia., contudo, era necessário que eu o fizesse, pois o que está em
jogo é a minha vocação Sacerdotal e, até mesmo, a minha fé católica e a eterna salvação de
minha alma. Afinal, “de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?”
(Mt 16,26)
D. Orani, preciso deixar a Arquidiocese do Rio de Janeiro e, desta vez, será definitivamente.
Peço que V. Excia. não me julgue sem conhecer meus motivos.
Tenho atualmente trinta anos de idade e seis de ministério Sacerdotal. Vejo com clareza e
profunda tristeza a terrível crise que se instaurou na Santa Igreja e, principalmente, no clero de
uma forma geral. A disciplina eclesiástica foi deixada de lado e o que vigora hoje é um
relativismo que arrefece a fé. Perdemos fiéis, as vocações estão diminuindo… por quê?
Simples: porque o jovem deseja encontrar na vida religiosa aquilo que ele não encontra na vida
secular. Mas hoje se vê os religiosos agindo como os seculares, então, muitos jovens chegam à
seguinte conclusão: não preciso ser um religioso para fazer o que os religiosos de hoje em dia
fazem! Por que muitas congregações religiosas de hoje não tem mais vocações? Vamos culpar
os “tempos modernos”? Vamos dizer que “os jovens de hoje não querem mais compromisso”
como os jovens de outrora? Por que nossas paróquias e santuários estão repletos de fiéis nas
missas (especialmente nas missas-show), mas as pastorais estão vazias? Por que nossos fiéis não
sabem mais o catecismo? Por que as quadras de samba e as praias estão muito mais bem
freqüentadas do que nossas paróquias? Creio que muitos saibam as respostas dessas perguntas,
mas muito poucos tem a CORAGEM de admitir, pois é muito mais confortável colocar
remendos do que derrubar tudo e reconstruir.
Ingressei no Seminário Arquidiocesano de São José aos 12 dias do mês de Fevereiro de 1997.
Tinha acabado de completar 17 anos no dia anterior. Recebi a investidura da batina uma semana
antes de Cinzas. Que dia feliz! Recebemos a batina numa cerimônia bonita que foi feita pelo
padre Reitor, mas logo que acabou a cerimônia tivemos que tirá-la e guardá-la no armário.
Sempre me faço uma pergunta: Exatamente para que o nosso Seminário mantém uma cerimônia
de recepção de batinas, se ninguém pode usá-la depois como seu hábito cotidiano e sim como
um paramento ocasional? Sabe, D. Orani, eu sempre gostei de vestir minha batina. Sei que eu
não era muito bem visto no seminário por causa disso. Eu não usava batina direto dentro do
seminário, em parte para não causar problemas com meus superiores, e em parte por escrúpulo e
respeito humano. Há muitos que dizem o famigerado bordão “o hábito não faz o monge”, o que
é uma bela desculpa para a indisciplina dos padres de hoje. O mais interessante é que não vemos
uma muçulmana sem a burca, ou uma “mãe-de-santo” sem seus trajes ou mesmo um militar em
serviço sem seu uniforme, mas nossos clérigos insistem em se apresentar como leigos. É claro
que se nem os padres dão o exemplo, como os fiéis vão poder se portar bem? Tenho que
suportar as mulheres mal vestidas, os decotes e mini-saias dentro da igreja. Isso para não
falar que destruíram o piedoso uso do véu. Reina a vaidade! Os homens não ficam atrás. Deus
sabe como tenho vontade de negar a Santa Comunhão aos homens que vem de bermuda à
Igreja. A Santa Batina é o manto sagrado de Nosso Senhor que nos protege de muitos
males, sem falar que para nós, religiosos, ela é um constante lembrete de nossa
consagração e um excelente exercício da virtude da humildade e de mortificação. Nosso
Senhor já dizia: “o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41). Quanto bem a batina
pode fazer ao sacerdote! Um sacerdote de batina necessariamente vai ponderar melhor seus atos;
não pode freqüentar todos os ambientes; deve conter os olhares curiosos, as palavras ociosas, as
excessivas familiaridades. Ele deve portar-se bem SEMPRE, pois, carrega consigo a Imagem da
Igreja, Esposa do Cordeiro, sem ruga e sem mancha. Depois do Concílio foi feito um trabalho de
“destruição” da imagem do sacerdote. Querem convencer os católicos (e o mundo inteiro) de
que o padre é um homem comum e que, portanto, deve se vestir como um homem comum.
Disseram-me no seminário certa vez que o Concílio permitiu que os padres tirassem a batina
para “facilitar o ministério pastoral, pois vestindo uma veste comum, isso facilitaria a entrada do
padre em ambientes hostis à fé para que lá ele pudesse exercer o apostolado”. Quanta
ingenuidade (para não dizer leviandade)! Que sutil armadilha do demônio! Se isso fosse
verdade as praias, as boates, casas noturnas masculinas (gls), as casas de show eram para estar
mais que evangelizadas! Que diriam os jesuítas europeus que enfrentaram o calor, a mata, os
mosquitos e outros contratempos na evangelização da América Latina? E sem tirar seu hábito!
Por acaso eles ficaram nus para “dialogar” com os índios? Depois nós “choramos o leite
derramado” quando surgem os escândalos que mancham e envergonham o nome da Santa Igreja.
De que adianta Sua Santidade, Bento XVI, pedir perdão às vítimas dos abusos de pedofilia se
ele, que tem o poder das chaves, não impõe uma disciplina mais rígida aos padres e não exige
uma seleção mais severa e uma formação mais sólida nos seminários? Será que se esses padres
recebessem uma boa formação, se alguém lhes tivesse falado de sacrifício, mortificação, vida
espiritual, se alguém tivesse ensinado a eles que o ministério que receberam é sublime demais e
que eles, sem ser diferentes dos demais homens, não são exatamente iguais, será que teríamos
tantos escândalos? É triste, D. Orani, mas hoje temos de tudo: padres cantores, psicólogos,
jornalistas, artistas, mas temos poucos padres PADRES! Encontramos padres em todos os
ambientes hoje, mas, se bobearmos, só não os achamos nas paróquias. Soube que existe um
padre que não rezava a Missa da primeira sexta-feira do mês em sua paróquia; as senhoras do
Apostolado da Oração para obrigá-lo a rezar a Missa, fazem uma “vaquinha” todo mês e lhe dão
uma espórtula. Isso porque ele afirma que só celebra durante a semana se houver intenções
marcadas. Mas, mediante uma espórtula, abre-se uma exceção. Não vou consertar o mundo,
Excelência, mas fico perplexo com tanta hipocrisia!
No meu segundo ano de seminário, eu estava retornando da minha pastoral dominical e estava
usando minha batina. Encontrei-me na rua com um padre formador. O cumprimentei. Ele me
olhou, mas não acenou e nem fez o menor sinal de retribuição. Quando cheguei ao seminário,
recebi um recado de que o próprio queria me ver. Fui até o padre e ele me segurou pelo braço,
com agressividade e, me machucando, perguntou por que eu estava de batina na rua. Me disse
coisas horríveis, disse-me que eu gostava de “aparecer” e que eu era um “carreirista”. Que
atitude paternal, não? Digna de um formador de seminário! Um homem emocionalmente
desequilibrado, metido a psicólogo, com uma psicologia de porta de banheiro, formando os
futuros padres da nossa Arquidiocese! E pior: esse senhor, ainda por cima, é um herege! Ele
afirmava com todas as letras que a Santa Missa é apenas um “culto de louvor” e não um
sacrifício. Certa vez, após o ofertório, ele disse: “Orai irmãos para que o nosso culto de louvor
seja aceito por Deus Pai todo-poderoso”, eu me levantei me retirei da capela na mesma hora. Ele
foi atrás de mim logo depois para me perguntar por que eu saí da capela no meio da Missa. Eu
respondi: “Não, padre, eu não saí no meio da ‘Missa’, mas sim no meio do ‘culto de louvor’. Se
fosse a Missa eu teria ficado na capela”. O mesmo sacerdote afirmava também que os
Sacramentos não são sete, mas que são muito mais. Quando ele afirmou isso em sala de aula eu,
perplexo, levantei a mão e perguntei: “mas se o senhor perguntar na prova e eu responder o que
eu aprendi no catecismo, que os sacramentos são SETE, o senhor vai me descontar pontos?” Ele
mandou que eu me retirasse da sala de aula.
Sempre ouvia as histórias de minha avó que dizia que no tempo dela a Missa era em latim e que
o padre ficava de costas aos fiéis, mas eu não tinha a menor noção do quanto tinham mudado a
Santa Missa. Na minha cabeça pueril tratava-se apenas de uma questão estética e lingüística.
Como eu estava enganado! Esse assunto no seminário era uma espécie de TABU. Simplesmente
não se falava. Foi, então, numa bela tarde que a Graça Divina me conduziu à biblioteca do
seminário e ali encontrei um belo livro vermelho, grande, antigo e a lombada trazia em dourado
as palavras MISSALE ROMANUM. Pesquisei um pouco, mas não reconheci aquela Missa. Por
isso, retirei o Missal e o levei direto ao meu diretor espiritual para fazer algumas perguntas. As
únicas respostas que obtive foram: “Sim isso é um Missal antigo” e, logo depois, “coloca aonde
você pegou”. Encontrei na mesma sessão os breviários, os rituais e fiquei encantado. Mas afinal,
porque a Missa tinha mudado? Por que tudo aquilo estava ali abandonado? E comecei a
pesquisar cada vez mais. Mas, quando alguém percebeu meu repentino interesse (e o de alguns
outros colegas) pelos livros tradicionais, misticamente, um belo dia, a estante inteira
DESAPARECEU. Ainda assim conseguimos salvar um antigo breviário com o qual eu e mais
dois rapazes nos reuníamos à noite (escondidos) para rezar as Completas no rito de S. Pio V,
com medo de sermos vistos como se estivéssemos fazendo algo proibido ou vergonhoso. Fico
muito triste de constatar que hoje se fala tanto em “liberdade religiosa” e de “diálogo”, mas
quando se fala em Concílio de Trento aí todo o diálogo desaparece. Há uma profunda aversão a
tudo o que é antigo; há uma sede insaciável de novidade.
Outra coisa que me deixava furioso dentro do seminário era aquela SEMANA DE ORAÇÃO
PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS. Sempre achei isso uma aberração! Como pode um bando
de protestantes hereges serem convidados a pregar dentro de um seminário católico? O mais
engraçado da história (para não dizer ‘trágico’) é que se retirava o Santíssimo Sacramento do
Sacrário e as imagens de Nossa Senhora e S. José também iam parar na sacristia. Mas se o
protestante está vindo na MINHA CASA eu tenho que tirar as imagens e o Santíssimo
Sacramento por que? Eu preferia, nessas ocasiões, me retirar e ficar no meu quarto a presenciar
aquilo. Não entendo o ecumenismo. Não o entendo por que isso NUNCA nos levou a lugar
algum! Diziam que essa postura iria ajudar a trazer os hereges e os apóstatas à verdadeira fé,
mas o que temos visto é mais e mais apostasia. Quantos fiéis não abandonaram a fé e se uniram
a essas seitas? Contra fatos não há argumento e o FATO é que após o Vaticano II e seus
movimentos ecumênicos as seitas triplicaram como um estouro da boiada!
Também me incomodava o fato de que leigos estudavam filosofia e teologia com os
seminaristas; mulheres participavam da vida cotidiana dos seminaristas… muito impróprio. E os
“passeios” das turmas e as “convivências” em Itaipava? Eram ótimas ocasiões onde os
seminaristas mostravam REALMENTE quem eram; as músicas que se ouviam, as letras que se
cantavam, as palavras ociosas, as brincadeiras nem sempre inocentes e sem segundas
intenções… ali já estava um retrato do clero que viria depois: gente que tem SIM suas
qualidades humanas, mas que não receberam uma formação que os ajudasse a se exercitar nas
virtudes que um sacerdote deve ter. Tinha colegas que ficavam inquietos e impacientes nas
Missas, ofícios e outras orações na capela do seminário. Alguns resmungavam (de forma
audível) torcendo para que os ofícios terminassem logo. Nunca entendi bem aquilo. Se a pessoa
não gosta de rezar, se tem pressa que o ofício termine, vai ser padre pra quê?
Não sou nenhum santo, D. Orani, mas sempre tive consciência da grandeza que é o ministério
Sacerdotal, mesmo quando dava meus passos errados. Ainda os dou muitas vezes, mas me
confio no Sacramento da Confissão e nos exercícios de mortificação e luto para tentar ser um
sacerdote santo.
Em 2001 fui Ordenado Diácono por Dom Eusébio, mas sempre tive o desejo de ser Ordenado no
Rito Tradicional. Dom Eusébio sabia disso, pois eu mesmo disse a ele. Como naquele período as
negociações entre Campos dos Goytacazes (RJ) e a Santa Sé tinham acabado de acontecer, fui a
Campos conversar com Dom Fernando Arêas Rifan, bispo da Administração Apostólica Pessoal
S. João Maria Vianney. Tinha intenção de pedir transferência para a Administração Apostólica.
Mas voltei de lá muito triste, na verdade, decepcionado! Dom Rifan me disse: “É melhor o
senhor ficar onde está. Quem sabe com o seu pensamento tradicional o senhor não possa ser
uma influência positiva para o clero carioca?” (Sic!) Não entendia como ele podia rejeitar um
padre tradicional já que havia tão poucos.
Bem, como Diácono, ninguém podia me impedir de usar a batina em tempo integral, afinal eu já
era oficialmente um clérigo. Mas D. Eusébio me chamou para conversar e me pediu que eu a
tirasse. Tentei argumentar com o Cânone 284, mas, ainda assim, ele mandou que eu tirasse a
batina para “ficar igual aos outros”. É claro que, por obediência, eu a retirei. Dom Eusébio
ainda me disse que eu deveria ter algum problema de ordem psicológica e determinou que eu
fizesse sessões de terapia com Dom Wilson Tadeu Jönk, que é psicólogo, o que foi, obviamente,
uma grande perda de tempo tanto para mim, quanto para o bispo. Sempre no final das sessões,
deixávamos marcada a próxima. Certa vez Dom Wilson marcou numa terça-feira de carnaval.
Eu disse a ele “Mas é uma terça de carnaval!” e ele me respondeu: “Eu não vou sair no bloco,
você vai? Se não vai, então não vai encontrar problemas de vir até o palácio”. Todo mundo que
me conhece sabe como eu detesto sair à rua nos dias de carnaval, primeiramente por medo da
violência e depois porque as pessoas me vêem de batina e pensam se tratar de uma fantasia
ridícula de carnaval. Mas eu fui assim mesmo. NUNCA vou me esquecer desta cena: cheguei ao
palácio e Dom Wilson estava numa salinha do segundo andar com as pernas apoiadas numa
mesinha de centro assistindo TV. Tinha se esquecido por completo do nosso encontro e disse que
não era um dia apropriado para fazer isso, que eu deveria ter me enganado. Senti-me muito
humilhado, mas ofereci isso como sacrifício a Nosso Senhor pela conversão do clero (dele em
especial). Tanta gente fazendo coisa errada (desvio de dinheiro, problemas morais seríssimos) e
o arcebispo perdendo tempo com um diácono só porque ele queria ser um padre que reza a
Missa de Trento? Francamente! Nosso Senhor estava absolutamente certo quando disse:
“Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.” (Mt 23,24)
Fui Ordenado Sacerdote em 17 de Abril de 2004. Fui logo de cara enviado como coadjutor numa
paróquia onde o pároco era muito grosseiro com o povo e os fiéis tinham se afastado em sua
maioria. A desculpa dada era “porque ele era velho”. Então todo velho tem que ser grosseiro e
mal-amado? Ele queria a todo custo que eu imitasse os abusos que ele introduzia na Missa (ele
tinha mania de apagar as luzes da igreja e acender uns holofotes coloridos na hora da
consagração) ao que eu disse: “reze a Missa do jeito que o senhor quiser, mas eu a rezarei como
está no Missal!” Parece que os senhores bispos tem um enorme problema em transferir párocos
que estão há muitos anos numa comunidade, mesmo que estes estejam fazendo um mal
monumental às almas e afastando os fiéis da Igreja. Os bispos conseguem ter pena de UM, mas
são incapazes de ver que MUITOS estão a sofrer por causa daquele um.
Fui transferido para outra paróquia, para ser coadjutor de um sacerdote mais jovem. Fui bem
recebido pelo pároco. Cheguei no dia exato em que estava acontecendo o tradicional mutirão de
confissões preparatórias para a Páscoa. Atendemos até 1 hora da manhã mais ou menos. Após o
jantar os padres foram embora e, quando só restamos nós dois, então conversamos. Ele me
perguntou se eu tinha gostado da comunidade, e, então, me disse: “Bem, seja bem-vindo aqui
então. Vou logo te avisando, eu quero um coadjutor aqui pra trabalhar. O que você vai fazer com
seu tempo pessoal é problema seu desde que você cumpra suas obrigações. Você não vai morar
comigo aqui na casa paroquial. Temos uma capela que tem sua casa própria. Vou te dar as
chaves e você vai morar lá. Assim, se você quiser, pode ter suas visitas íntimas; Só toma cuidado
para não arrumar um filho.” Chorei o resto da madrugada inteira. Chorei, D. Orani, por que me
lembrei das palavras de Nosso Senhor ao Santo Padre Pio falando sobre os sacerdotes: “Vede
como me tratam como açougueiros?”. Uma vez, num sábado, eu estava sentado ao
confessionário e deveria ter umas dez pessoas na fila. O Pároco chegou de repente e pediu que
as pessoas voltassem outro dia, porque ele precisava muito de mim. Os fiéis foram embora e eu
o ajudei a fechar a igreja. Perguntei então aonde íamos e que tipo de ajuda ele precisava de mim.
Quando ouvi a resposta fiquei estarrecido, não acreditava no que eu estava ouvindo: “preciso
que você vá à concessionária comigo para me ajudar a escolher meu carro novo”. Pena que
muitos padres não acreditem mais no castigo dos Céus, porque ele veio: exatamente uma
semana depois ele capotou com o carro novo na Avenida Brasil. Graças a Deus não se feriu
gravemente, mas o carro deu perda total!
Em 2007 pedi a Dom Eusébio que me permitisse fazer uma experiência no recém-criado IBP
(Instituto Bom Pastor). Fui então para S. Paulo e morei lá um pouco tempo. A convivência lá era
muito boa, contudo, o que garantia a permanência do IBP em São Paulo, era o apoio econômico
do Professor Orlando Fedeli e da sua Associação Cultural Montfort. Chegou um período que os
padres e os seminaristas que lá estávamos, julgamos que a Montfort influenciava muito dentro
do seminário e que se fazia necessária uma clara distinção entre as duas instituições: Montfort e
IBP. Aliás, nós padres, muitas vezes sentíamos que só servíamos para ministrar sacramentos e
mais nada. Até nossos sermões foram muitas vezes submetidos a julgamentos. Outro fato que
me levou a desacreditar no IBP foi que o superior geral, o Padre Phillipe Laguérie, que deveria
tomar uma medida firme para diminuir a influência da Montfort dentro da casa do IBP, não o
fez, sobretudo depois de uma visita do Prof. Fedeli a Bordeaux (França) e uma conversa com Pe.
Laguérie. Bem, um superior geral que não toma medidas firmes e se deixa vencer pelo respeito
humano não é digno da minha confiança. Por esses e outros motivos, retornei ao Rio de Janeiro.
Vim para a Paróquia Bom Pastor, inicialmente como coadjutor do meu irmão e, depois, como
Pároco. Mas estou numa terrível crise de consciência desde então. D. Orani. Juro ao senhor que
eu tentei de TUDO para me enturmar com o clero daqui. Pensei comigo mesmo “E se eu estiver
sendo rígido demais? E se eu tentasse ser mais maleável para tentar me enturmar melhor?” Fiz
muitas tentativas para me entrosar com o restante do clero. Tirei minha batina e o senhor sabe
muito bem disso. O senhor mesmo já me viu sem batina algumas vezes… Cedi muitas vezes, me
calei muitas vezes quando eu não concordava com algo; como dizia São Paulo: “fiz-me tudo
para todos na esperança de salvar alguns” (1Cor 9,22). Mas descobri uma coisa: cheguei à
conclusão de que com o MODERNISMO não existe diálogo! É inútil! É o mesmo que “pôr um
remendo novo em roupa velha” (cf. Mt 9,16). Eu abri mão do que é justo, bom e honroso, mas
não há reciprocidade… ninguém ficou mais tradicional nem obedeceu mais à disciplina da
Igreja por causa disso. No final, eu é que estava virando um progressista! Ouvi este sábio
pensamento uma vez: Dez laranjas boas não CURAM uma que está podre, mas é precisamente a
ÚNICA PODRE que vai contaminar TODAS as outras dez. Coisas ruins sempre se aprende com
mais rapidez e facilidade que as coisas boas. Destruir é bem mais rápido que (re)construir. É por
esse motivo que eu não posso mais ficar aqui, D. Orani. Não pense que faço isso sem dor na
consciência. Mas chegou a hora (e já até passou) de eu deixar de lado o respeito humano e dizer
o que eu realmente penso e ficar em paz com minha consciência.
Primeiramente, como católico, eu não estou obrigado a aceitar o Concílio Vaticano II, uma vez
que este foi um concílio pastoral e não um concílio dogmático.
- Quanto à Missa, não nego a validade da nova missa, contudo afirmo que ela é ambígua e não
expressa, como a de S. Pio V, os principais dogmas católicos. Confesso que celebro com muita
relutância a missa segundo o Novus Ordo (de Paulo VI). Não posso aceitar o ofertório do Novus
Ordo que é uma berakah judaica. É claramente uma ceia e não um sacrifício! Há muito tempo
que eu o substituo pelo Ofertório Tradicional. Faço esta e outras modificações para que a missa
nova seja o mais suportável possível para mim e possa expressar o mais possível os nossos
dogmas de fé. Contudo isso me incomoda muitíssimo, pois sei que não tenho a graça de estado
para modificar um rito. Mas em consciência, não posso continuar a celebrar esse rito!
- Também quanto aos Sacramentos (Batismo, Confissão, Matrimônio e Extrema Unção) e o
Breviário eu faço no rito antigo já faz algum tempo.
- Não compreendo e não aceito a concelebração eucarística! Enfim, D. Orani, minha presença
aqui mais atrapalha do que ajuda esta Arquidiocese. E atrapalha também a mim e ao meu
crescimento espiritual, pois é muito cansativo viver num eterno conflito. Cada reunião do clero é
uma nova batalha. Tenho evitado ir às cerimônias e encontros da Arquidiocese, pois assim eu
peco menos. Fui ao aniversário de 90 anos de Dom Eugênio exclusivamente para pecar: “você
meu amigo de fé, meu irmão camarada” cantado para um Cardeal, durante a Santa Missa numa
Catedral? Elba Ramalho cantando “Asa Branca” no presbitério? Desculpe, Dom Orani, é demais
para mim. Perdoe meu desabafo. Desculpe o transtorno. Não me queira mal. Sinto-me uma ave
solitária aqui… pelo menos se eu for, poderei ajuntar-me ao bando dos de minha espécie.
Estou me unindo à Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX). Devo passar algum tempo no
seminário na Argentina para refazer algumas matérias da Teologia (principalmente da teologia
moral que é muito fraca no seminário do Rio) e, depois seguir, como missionário, onde os
senhores bispos da Fraternidade me enviarem.
Não me tome por cismático e nem herege. Afinal, como Mons. Lefèbvre dizia: “não fundamos
uma religião nova, não criamos novos sacramentos, não criamos uma nova missa, não
inventamos liturgia própria, apenas queremos conservar, seguir e ensinar aquilo que a
Igreja SEMPRE ensinou”.
Mais uma vez peço perdão pelo transtorno e humildemente peço vossa bênção e vossas orações.
In Iesu et Maria,
Rio de Janeiro, 25 de Janeiro de 2011
Festa da Conversão de São Paulo
 Pe. Leonardo Holtz Peixoto
Fonte: http://fratresinunum.com/
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