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FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO,
ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE
SUBSTÂNCIA

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49.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

O art. 272 do Código Penal contém a norma incriminadora:

“corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício


destinado a consumo, tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-lhe o valor
nutritivo: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa”.

O § 1º-A incrimina a conduta de quem

“fabrica, vende, expõe a venda, importa, tem em depósito para vender ou, de
qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o
produto falsificado, corrompido ou adulterado”.

O § 1º inclui, como objeto material do crime as “bebidas, com ou sem teor


alcoólico”.

O bem jurídico protegido é a saúde pública. Sujeito ativo é qualquer pessoa que
realizar uma das condutas típicas. Sujeito passivo é o Estado.

49.2 TIPICIDADE

O caput contém o tipo básico. O § 1º-A contém figuras típicas equiparadas. O § 1º,
uma norma explicativa. O § 2º, a forma culposa. O art. 285 determina a incidência das
formas qualificadas pelo resultado previstas no art. 258.
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

49.2.1 Conduta, elementos objetivos e normativos

São várias as condutas incriminadas, tendo como objeto substância ou produto


alimentício ou bebidas, alcóolicas ou não.

Corromper é desnaturar, é estragar. Adulterar é modificar piorando. Falsificar é


imitar, é fraudar. Alterar é modificar, é desfigurar. Fabricar é elaborar, formar. O objeto é a
substância ou o produto alimentício, inclusive na forma líquida com ou sem teor alcóolico,
destinado ao consumo das pessoas.

As condutas devem tornar a substância ou o produto nocivo à saúde humana ou


reduzir seu valor nutritivo. Na primeira hipótese, há perigo de dano para a saúde das
pessoas. Na segunda, a substância ou o produto não contém a mesma qualidade
nutricional exigida.

Também são incriminadas condutas que têm como objeto material substância ou
produto alimentício, inclusive bebida, já falsificado, corrompido ou adulterado. Vender é
alienar mediante pagamento de um preço. Expor à venda é oferecer, anunciar a venda. Ter
em depósito para vender é armazenar, estocar com o fim de vender posteriormente.
Distribuir ou entregar, de qualquer modo, a consumo quer dizer colocar à disposição de
outrem, inclusive por doação, fornecer.

49.2.2 Elemento subjetivo

Em qualquer das modalidades típicas, deve o sujeito ativo atuar dolosamente.


Indispensável a consciência acerca da nocividade à saúde ou da redução do valor nutritivo
da substância ou do produto e a vontade livre de realizar a conduta. Necessário que ele
saiba que se trata de coisa destinada ao consumo de indeterminadas pessoas. A realização
do tipo na modalidade ter em depósito exige o elemento subjetivo que é o de vender.

49.2.3 Consumação e tentativa

As modalidades descritas no caput do art. 272 consumam-se no momento em que a


substância ou o produto é corrompido, alterado, adulterado ou falsificado, tornando-se,
por isso, nocivo à saúde ou com valor nutritivo reduzido.
Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de Substância - 3

Tratando-se de crime de perigo concreto, é indispensável a prova da nocividade ou


da redução do valor nutricional.

As figuras típicas do § 1º-A consumam-se com a fabricação, a venda efetiva, a


exposição à venda, a importação, a guarda ou a entrega da coisa a consumo.

A tentativa é possível em qualquer das figuras típicas.

49.2.4 Forma culposa

É possível que o agente realize o tipo por negligência, imprudência ou imperícia,


exceto na hipótese de falsificação, cuja conduta implica consciência e vontade de fraudar.

Pode agir culposamente por não alcançar a consciência da nocividade do produto


ou da substância ou da redução de seu valor nutricional, quando a fabrica ou altera.
Também por não saber que se trata de coisa destinada ao consumo humano. Assim, por
exemplo, quando o agente entrega substância adulterada imaginando que está entregando
outra em perfeito estado, por tê-las trocado, na prateleira onde eram guardadas.

Presente a previsibilidade objetiva e não agindo o sujeito ativo com dolo, deixando
de observar o dever de cuidado objetivo, o crime será culposo, cominada, para ele, a pena
de detenção de um a dois anos, e multa (§ 2º).

49.2.5 Formas qualificadas pelo resultado

Incidem, segundo o art. 285 do Código Penal, as formas qualificadas pelo resultado
descritas no art. 258. Se resultar lesão corporal de natureza grave, a pena será aumentada
de metade. Se resultar morte, será aplicada em dobro.

Se do crime culposo, em qualquer das modalidades típicas, resultar lesão corporal –


leve, grave ou gravíssima –, a pena será aumentada de metade. Se resultar morte, será
aplicada a pena do homicídio culposo, aumentada de um terço.

São crimes preterdolosos. Se o agente tiver realizado a conduta com a finalidade de


causar o resultado mais grave em relação a uma ou mais pessoas determinadas, haverá
crime de resultado contra a pessoa integralmente doloso.

Se o fizer com o fim de produzir o resultado mais grave em relação a um número


indeterminado de pessoas, haverá concurso formal imperfeito entre o crime de perigo e
4 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

tantos quantos sejam os crimes contra a pessoa.

49.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. A suspensão condicional do


processo penal será permitida apenas na hipótese de crime culposo, exclusivamente em
sua forma simples.

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